terça-feira, 26 de novembro de 2013

Crítica: Piteco - Ingá

Novos rumos e ideias para um personagem do passado

Por Pedro Strazza

Desde que foi anunciada em 2011, a Graphic MSP tem por objetivo fornecer personagens clássicos de Maurício de Sousa para roteiristas e desenhistas de quadrinhos de certo sucesso no mercado nacional criarem novas visões destes. Lançadas no ano passado e neste, as três primeiras obras - Astronauta: Magnetar, Turma da Mônica: Laços e Chico Bento: Pavor Espaciar - funcionaram notavelmente como uma maneira dos artistas convidados expressarem o carinho que eles tinham por esses protagonistas em sua infância.
Essa tendência ao nostálgico não é seguida, porém, por Piteco: Ingá, obra que encerra o primeiro ciclo de publicações do selo. Escrita e desenhada pelo paraibano Shiko, o volume é uma verdadeira reinterpretação do personagem principal e seu universo, ganhando traços mais adultos e realísticos. Mesmo assim, conservam-se aqui elementos da revista do homem das cavernas como a presença do folclore brasileiro e algumas de suas características.
A reformulação de Shiko começa já pelos próprios visuais dos personagens. As linhas "fofas" e arredondadas de Maurício desaparecem no desenho rústico e belo do autor, que remodela corpos, faces e cabelos para o ambiente desejado. E, por mais estranho que possam parecer a princípio, esses estilos tribais cabem perfeitamente a Piteco e seus companheiros. Principalmente para a Ogra, que deixou o estereótipo de mulher feia dos gibis infantis para ter o corpo próprio de uma guerreira.
O enredo é também bastante diferenciado das vistas nas revistinhas do protagonista. Escrito em um ritmo típico dos filmes de ação de Hollywood, Ingá realiza uma interessante jornada de herói em seu protagonista, que parte para resgatar Thuga da tribo dos homens-tigre em meio à migração do povo de Lem, enquanto desenvolve uma interessante história de amor entre Piteco e a xamã, virando ousadamente o clássico jogo de gato-e-rato dos dois.
O uso de seres fantásticos da mitologia brasileira funciona nesta estrutura com destaque. Adaptados da mesma maneira que os protagonistas e com nomes diferentes, criaturas mitológicas como a Caipora (também conhecido como Curupira) e o Boitatá criam em Ingá um ar ainda mais épico à história da mesma forma ao qual fortalecem o mistério mágico que é a misteriosa Pedra de Ingá., localidade real do agreste paraibano.
Preferindo refazer o universo estabelecido por Maurício de Sousa a realizar novamente uma viagem sentimental a seus personagens, Piteco: Ingá traz um sabor de novidade às publicações da Graphic MSP. Shiko presenteia seu leitor com uma dose equilibrada de aventura e romance, não caindo em nenhum momento no clichê exagerado e fácil ou na violência exacerbada, típica de obras desse gênero. Ao contrário, entrega-se aqui um belo conto de união, amor e amizade, características típicas da editora de Mônica e seu universo.
Nota: 10/10

0 comentários :

Postar um comentário