quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Crítica: Antes de Watchmen - Ozymandias

Len Wein investiga a mente do homem mais inteligente do mundo

Por Pedro Strazza

Das armas mais perigosas que existem no mundo, o conhecimento é a maior e mais importante. De posse do saber, vários integrantes da sociedade, seja por boas ou más intenções, conseguiram vencer importantes guerras, formaram ideais políticos de gerações e trouxeram o futuro para nossa realidade, definindo assim os rumos da humanidade. Mas, desses verdadeiros gênios das ciências da natureza, sociais e políticas, houve aqueles que tomaram as decisões mais difíceis em prol do bem-estar geral da população. Um deles é Adrian Veidt.
O fictício personagem criado por Alan Moore, que ao final de Watchmen matou uma grande parcela da população mundial para parar o relógio do Juízo Final, é uma figura das mais intrigantes no universo criado pelo inglês em 1986. Considerado na graphic novel como "o homem mais inteligente do mundo", "vilão" da história é o foco do roteirista Len Wein (criador do Monstro do Pântano) em Antes de Watchmen: Ozymandias, explorando sua vida e o porquê de sua decisão dramática.

A vida segundo o mais inteligente do mundo

De cara, um dos grandes pontos de diferenciação deste prelúdio com as outras minisséries lançadas pela DC Comics é a maneira como a trama é feita. Contada do ponto de vista de Veidt, o roteiro vira aqui uma espécie de autobiografia do protagonista, que relembra todos os pontos marcantes de sua vida antes de seu plano começar a se desenrolar. Essa escolha por uma narrativa mais "pessoal" foi uma decisão bastante acertada de Wein, pois o texto dito por Ozymandias torna-se muitas vezes tendencioso à sua pessoa, distorcendo assim os fatos por causa de seu ego extremamente exarcebado.
Essa parcialidade das palavras é auxiliada pela diagramação das páginas, que fogem do estilo quadrado e adotam frames em formatos de circunferências para dar à HQ um ritmo bastante fluído e agradável. Em cima disso, as belíssimas artes do experiente Jae Lee abusam da palheta de cores frias para criar um ambiente não muito convidativo ao protagonista, casando assim com os duros fatos contados na minissérie.

Uma investigação profunda de personalidade

O uso de um tom autobiográfico também fornece a Wein uma ferramenta esperta para entrar em detalhes sobre a história de Veidt. Através de suas palavras, o leitor descobre mais sobre os motivos que o levaram a abandonar a riqueza da família para conseguir a própria, além de evidenciar os momentos que formaram seu caráter e sua análise em relação a outros pessoas.
Nesse contexto, três figuras são a chave para compreender a complexa mente do protagonista: Alexandre da Macedônia, ao qual Ozymandias toma como ídolo e base de comparação; o Dr. Manhattan, que desperta nele fascínio e medo; e o Capitão Metrópole, cuja inocência em sua conversa com Adrian é a prova final de como o protagonista despreza a "burrice" da humanidade.
Outro importante personagem na trama é o Comediante, que serve aqui como um ser antagônico. Sua personalidade bruta e animal confronta o perfil calmo e tático do herói, criando em Veidt uma estranha relação de ódio e amizade. Dos vários encontros ocorridos entre os dois, o mais interessante é a luta travada entre os dois no cais.
Essa investigação do perfil de Ozymandias é com certeza o maior atrativo do prelúdio. Após uma leitura mais atenta dos seis capítulos que compõem a minissérie, é notável como Len Wein soube se aprofundar na mente de Veidt sem se perder em questões bobas ou tramas não muito interessantes, focando-se principalmente no crescimento e amadurecimento do protagonista. Ao final, a conclusão é de que ser o homem mais inteligente do mundo não significa que a vida possa ser mais fácil, mas sim repleta de duras atitudes e de um aprendizado constante. Dos erros dos outros, naturalmente.
Nota: 10/10

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