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sábado, 30 de agosto de 2014

Crítica: Magia ao Luar

Na Riviera Francesa, Woody Allen fala do ser humano e sua procura pela felicidade

Por Pedro Strazza

O debate "fé e razão" permeia as entranhas da História desde o início, e é encontrada nas mais diferentes situações. É nos meios culturais, porém, que esta discussão se faz mais visível: das obras clássicas do renascentismo até o embate entre Jack e Locke em Lost, a relação a princípio antagônica entre a crença e a ciência encontra nas artes um espaço pelo qual possa, em variados cenários, ter argumentos desenvolvidos pelos dois lados, mesmo sabendo que a resposta definitiva para o assunto nunca possa ser de fato encontrada.
Magia ao Luar, o novo filme do cineasta Woody Allen, tem como tema central esta questão humana, mas sob um olhar mais intimista do ser humano e suas emoções. Na história, o experiente mágico de palcos Stanley (Colin Firth), famoso por seus shows sob o alter-ego de Wei Ling Soo, é chamado por uma família de alta classe do sul da França para desmascarar Sophie (Emma Stone), uma suposta vidente que estaria encantando o ricaço Brice (Hamish Linklater) e sua mãe Grace (Jacki Weaver) com sua clarividência.
O relacionamento de Stanley com Sophie, a partir deste ponto, dá o tom à narrativa do filme. Apesar de ambos usarem da magia como meio de sobrevivência, os dois protagonizam discussões e cenas interessantes acerca da necessidade ou não da crença em eventos sem explicação racional, procurando no processo responder a questão realmente fundamental: até que ponto o ceticismo do ser humano deve ir?
Para Stanley, a fé é uma ilusão tão boba quanto os truques que realiza em suas apresentações. Alter-ego de Allen aqui, o mágico acredita na razão e na ciência como únicas formas do homem conseguir alcançar a real felicidade, mas seguindo esta metodologia ele próprio tem uma vida no fundo estressante e sem alegrias. Quando começa a conhecer Sophie e acreditar na existência da magia, porém, sua existência ganha um sentido novo, e sua atitude torna-se mais prazerosa e com mais esperanças. Mas esta mudança de fato é verdadeira? Ou seria apoiada em fundamentos completamente imaginários?
Esta discussão, novamente, não tem como ser resolvida por Allen, mas este procura trazê-la a um ambiente em que ela possa ganhar contornos mais definidos. A Riviera Francesa, local onde se desenrolam os acontecimentos da trama, é conhecido, afinal, por seu luxo e sofisticação, e o cineasta, junto do diretor de fotografia Darius Khondji, capta essa aura mítica com planos iluminados e agradáveis. Sem contar a trilha sonora, que usa de jazz e pedaços de sinfonias suaves para conceber este microverso leviano e adocicado (no bom sentido).
O cuidado de Allen como diretor em Magia ao Luar, entretanto, não se verifica com mesma qualidade no roteiro. Ainda que contenha um tema central interessante e personagens bem elaborados - além de boas atuações de Firth e Stone como protagonistas -, a trama do filme não consegue escapar da previsibilidade de seus acontecimentos, e quando toma um rumo não previsto faz de uma maneira abrupta e artificial demais em relação ao que acontece.
Nada que prejudique demais o filme, pelo menos. Doce e encantador, este Magia ao Luar de Woody Allen usa de um eterno debate humano para falar do próprio desejo do homem pela felicidade que talvez nunca seja alcançada por ele. E para o cineasta, o embate entre fé e razão, pelo menos na Riviera Francesa, possuem algum equilíbrio desconhecido e misterioso - para o desespero dos céticos.

Nota: 8/10

Crítica: Os Mercenários 3

Terceiro capítulo de nostalgia!

Por Alexandre Dias

Stallone e sua trupe estão de volta às telonas. Com novos integrantes, o terceiro filme dos Mercenários entrega o esperado: pancadaria, frases de efeito e as piadas de sempre. E apesar de uma ou outra falha inédita, é satisfatório e consegue divertir o espectador.
A história, como não seria diferente, é simples: Conrad Stonebanks (Mel Gibson) é um ex- Mercenário que Barney Ross (Sylvester Stallone) acreditava ter eliminado, e ele, para acabar com o inimigo de vez, precisa reunir uma nova equipe.
Os jovens matadores de aluguel saem perdendo. O grupo formado por Kellan Lutz, Glen Powell, o boxeador Victor Ortiz e a campeã do UFC Ronda Rousey não tem o menor carisma; mesmo com alguns bons momentos em ação (era o mínimo!), e são portanto dispensáveis.
Enquanto isso, tanto os antigos quanto os novos coroas estão ótimos. Dentre estes últimos estão: Wesley Snipes- recentemente solto da prisão- interpreta uma mistura de Lee Christmas (Jason Statham), pelo ego, e Gunnar Jensen (Dolph Lundgren), pela insanidade; Antonio Banderas é o espanhol tagarela, Galgo, rendendo boas risadas; Harrison Ford substitui Bruce Willis - que abandonou o projeto por considerar o salário insuficiente - como um outro chefão da CIA; Kelsey Grammer é um amigo do personagem de Stallone que ajuda a recrutar time moderno de brucutus; e, por fim, Mel Gibson, que faz o melhor vilão da franquia até aqui.
Um fato inusitado que prejudica o longa é a diminuição da censura, algo que não se encaixa neste tipo de filme. Realmente é uma incógnita que público o velho intérprete de John Rambo e Rocky Balboa, o produtor Avi Lerner e o diretor Patrick Hughes queiram conquistar mais aqui. No entanto, a intensa movimentação nas cenas de ação de certa forma ameniza esta questão.

O que se pode afirmar é que, assim como seus antecessores, Os Mercenários 3 tem o fator nostalgia. Está longe de relembrar o auge do cinema de ação dos anos 80, mas de maneira leve e despretensiosa consegue nos dar alguns vislumbres da época. Para quem cresceu vendo Arnold Schwarzenegger, Sylvester Stallone e muitos outros a empolgação acaba,portanto, por vir à tona mais uma vez.

Nota: 6/10

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Crítica: Sex Tape - Perdido na Nuvem

Cameron Diaz e Jason Segel esquecem o roteiro em prol do exagero performático

Por Pedro Strazza

Roteiro e elenco são dois aspectos tão igualmente fundamentais no cinema que uma melhor desenvoltura de somente um dos dois pode já garantir certo sucesso artístico à produção. Assim, um longa que opta por exclusivamente dedicar seus esforços na concepção de uma história de qualidade tem, quando comparado a um filme que prefere gastar seu orçamento na escalação de atores e atrizes brilhantes, as mesmas chances de obter um resultado positivo como obra.
Estes dois tipos de situação, entretanto, precisam evitar o erro de, no foco excessivo em um destes elementos, esquecer do outro, caso seguido pela comédia Sex Tape - Perdido na Nuvem. O filme, roteirizado por Kate Angelo e os competentes Nicholas Stoller e Jason Segel, tem uma proposta interessante que é razoavelmente desenvolvida conforme a história avança, mas não consegue entregar todo o seu potencial devido a um estranho envergonhamento de seu casal protagonista, vivido por Segel e Cameron Diaz.
A dupla, que repete a parceria originalmente feita no péssimo Professora Sem Classe, fracassa repetidas vezes em trazer para a realidade audiovisual os diálogos e o humor de seus papéis ao realizarem performances exageradas e descaracterizadas. Estranhamente sem qualquer tipo de timing cômico e incomodados com a nudez exigida por seus papéis, Diaz e Segel tentam constantemente conquistar o riso de seu público através de caras e bocas ao invés de procurar usar o perfil de seus personagens, confundindo talvez seu real papel cômico na produção. O roteiro, afinal, não é superficial o suficiente para que eles possam improvisar a bel prazer, mas possui características humorísticas próprias a serem utilizadas.
Percebe-se esta personalidade do texto nos momentos genuinamente cômicos de Sex Tape. Aqui, o riso do espectador não surge na postura exacerbada do elenco ou da maioria das situações que estes protagonizam, mas sim dos poucos diálogos que sozinhos funcionam bem - como as discussões entre Segel e Diaz sobre os reais atrativos da pornografia (e sua aparente queda de qualidade). Mérito este de Stoller, que, tal qual nos recentes Vizinhos e Muppets 2, tem sua participação criativa evidenciada na trama.
Mas nem mesmo o roteiro de Sex Tape consegue sair impune. Ainda que colocando em pauta um tema bastante importante nos dias de hoje - os problemas do excesso de compartilhamento pela nuvem -, a trama guia a narrativa de forma similar ao de filmes como Se Beber Não Case, mas de forma desinteressante e, em muitos momentos, irritante - além de mercandológica, a exemplo das sucessivas propagandas claras de produtos da Apple.
Sem um roteiro tão bem elaborado e com atuações que insistentemente procuram se por acima deste, Sex Tape - Perdido na Nuvem mostra, através de seus erros, o quão importante é aliar o processo criativo de história e elenco para realizar um bom filme. Prova maior disso ocorre quando, no intuito de provocar o riso, a trama por duas vezes evidencia que os esforços de seus protagonistas poderiam ser substituídos por ações mais simples, mas os atores não esboçam qualquer tipo de reação que justifique o humor de tais cenas.

Nota: 4/10

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

HEY, Eu Quero uma Segunda Opinião!: As Tartarugas Ninja

O quarteto réptil está de volta aos cinemas

Por Alexandre Dias

O que se pode dizer sobre as Tartarugas Ninja? Os personagens, que já passaram pelo cinema, televisão, games e quadrinhos, tiveram diferentes versões suas ao longo dos anos, sendo a mais marcante a que se trata dos personagens carismáticos, que amam pizza e gritam Cowabunga!
De volta as telonas, os quelônios têm o seu reboot produzido por Michael Bay, da franquia Transformers, e dirigido por Jonathan Liebesman. Mesmo com a construção correta de visual e personalidade do quarteto, muitas das piores influências de Bay e Liebesman também estão presentes juntas de um roteiro fraco e repleto de falhas.
O primeiro medo dos fãs desde a contratação do elenco se concretiza: Megan Fox. Infelizmente a sua amizade com Bay não acabou, e o resultado disso no longa é uma atuação patética (pensar se é pior que ela como Mikaela é um verdadeiro enigma), porém mais do que isso: um papel absolutamente desprezível. Desprezível só em qualidade, porque em quantidade os fatos mudam. Ela como a jornalista April O’Neil é a grande protagonista, toda a trama gira ao redor dela.
Para piorar, Fox ainda é acompanhada de coadjuvantes fracos: Vernon Fenwick (Will Arnet) é o cameraman que serve de alívio cômico, mas é previsível e sem graça; Whoopi Goldberg em seu pouco tempo de aparição interpreta a habitual chefe do jornal; William Fichtner faz o papel do ricaço misterioso que era amigo do pai de April, mas também é colocado de forma padronizada; Splinter (dublagem feita por Tony Shalhoub e captura de movimentos por Danny Woodburn), o mestre roedor do quarteto, e o Destruidor (Tohoru Masamune), o chefe vilão do Clã do Pé, não conquistam o espectador, mesmo com algumas boas sequências de ação.
De fato, ninguém vai ao cinema ver um filme sobre tartarugas ninjas esperando uma história complexa. Entretanto, o roteiro escrito por Josh Appelbaum, André Nemec e Evan Daugherty é absolutamente burro, e não raso como seria o esperado. Ele se explica constantemente, é recheado de clichês entediantes e tenta tornar o enredo mais grandioso do que deve ser.
Com isso, o que há de melhor não é valorizado como deveria, que são os répteis mutantes. Os quelônios estão bem representados visualmente e cada um está com a sua característica natural: Leonardo (dublagem feita por Johnny Knoxville e captura de movimentos por Pete Ploszek) é o líder, Raphael (Alan Ritchson) é o do pavio curto, Donatello (Jeremy Howard) o cérebro e Michelangelo (Noel Fisher) o piadista. O tom de humor entre eles é bem conduzido e as cenas de ação, em sua maioria, empolgam, apesar da influência de Michael Bay, com explosões sem sentido vez ou outra, ocorrerem.
Devido ao sucesso nas bilheterias (o filme rendeu US$ 65 milhões em seu primeiro fim de semana nos Estados Unidos) uma sequência já foi confirmada. E o medo permanece por nossos amigos de casco, pois, assim como o desperdício de potencial que aconteceu aqui por causa dos equívocos do diretor, produtores e roteiristas, o caminho para um futuro de possível lucro pode ser o mesmo.

Nota: 4/10

No quadro HEY, Eu Quero uma Segunda Opinião!, O Nerd Contra Ataca abre espaço para que outros críticos deem suas opiniões acerca de um filme já comentado pelo site.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Crítica: Amantes Eternos

Sobre a imortalidade e o tempo

Por Pedro Strazza

Inicialmente concebidos pela ficção moderna como criaturas imortais de alta educação e com poderosa sede por sangue humano, os vampiros ganharam ao longo do tempo várias obras (sobretudo as de horror e suspense) que se dispunham a explorar primordialmente a selvageria e irracionalidade proporcionadas pela segunda característica. Amantes Eternos, novo filme do diretor e roteirista Jim Jarmusch, opta porém por centralizar sua narrativa sobre o outro aspecto básico de tais criaturas, concebendo uma história que prefere se guiar pela perpetuidade destes enigmáticos seres ao invés de por seus personagens ou trama.
Esta peculiar opção do cineasta se faz visível em diversos momentos do longa. Conforme o enredo (de curta duração temporal) vai sendo contado, vários eventos importantes se desenrolam nas vidas dos perpétuos Adam (Tom Hiddleston) e Eve (Tilda Swinton); suas atitudes, entretanto, em nada soam como se importassem com estes acontecimentos - e nem deveriam. Aqui, o espectador (tal qual o diretor) não possui interesse na maneira como estes seres reagirão às mudanças em suas vidas ou saber em que profundidade emocional ou física estas o afetarão. Estes episódios, afinal, são um pequeno ponto na extensa vida destes vampiros.
O grande foco do filme torna-se, então, saber o que estes dois indivíduos vivenciaram e o que pensam da humanidade - referida por eles sempre pela palavra "zumbis". Admiradores respectivamente da música e da literatura, Adam e Eve parecem estar a todo momento em um eterno estado de observação acerca dos feitos dos homens e de sua História (culturalmente interferida em alguns pontos por eles próprios), refletindo de forma pessimista sobre estes e seu futuro. E os momentos em que o casal protagonista exprime este sentimento não são poucos, a exemplo da inconformação de Adam com o fato de toda a sociedade não ter aceitado Darwin ou de o ser humano ter conseguido contaminar o próprio sangue - sem contar, claro, o fato do vampiro morar na falida e decadente Detroit.
A relação dos vampiros com este tecido do corpo humano parece, por sinal, ser o único aspecto destas criaturas que permanece visível no filme de Jarmusch. Lembrete notável da animalidade primordial de tais seres, o diretor realça em vários momentos sua tensão psicológica quando em contato visual direto com seu único alimento, que desperta uma notável impulsividade em seu interior. E quando estes finalmente bebem o "nutritivo" líquido, a câmera foca no prazer instantâneo proporcionado no animal interior e irracional de cada um.
Além das conversas entre si sobre a humanidade, o casal tem seu relacionamento saudosista com o mundo enriquecido pelas interações com os "zumbis" e outros de sua própria espécie. O jeito como Adam trata o jovem amigo humano Ian (Anton Yelchin), por exemplo, evidencia uma última tentativa do vampiro em, ainda que de forma depressiva, tentar se conectar com o homem, ao passo que os diálogos entre os protagonistas e a irmã de Eve, Ava (Mia Wasikowska) traz um paralelo interessante entre o passado rico e cada vez mais esquecido e o presente superficial e decadente.
Pautado ainda por uma trilha sonora eficaz e uma fotografia elaborada, Amantes Eternos é um filme que usa com excelência do tema da imortalidade para discutir os mais variados temas universais e atemporais como o amor, a vida e a passagem do tempo. Profundo em suas intenções, a história traz um lado que até o momento tinha sido pouco explorado na mitologia do vampiro moderno, que infelizmente vive nos tempos atuais uma superficialidade tão grande quanto a personalidade da irmã de Eve.

Nota: 10/10

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Crítica: Chef

Aliado à gastronomia e a música, Jon Favreau fala sobre a própria vida em novo filme

Por Pedro Strazza

Até o momento, o caminho tomado pelo comediante Jon Favreau como diretor não saiu tanto dos moldes clássicos. Inicialmente dirigindo trabalhos para a televisão, o comediante fez sua estréia nas telonas com filmes de baixo orçamento como Crime Desorganizado e Um Duende em Nova York, e, progredindo com certo sucesso entre público e crítica, acabou sendo responsável pelos dois primeiros capítulos da franquia Homem de Ferro, blockbusters que jogaram seu nome para o estrelato. Mas Favreau, descuidado devido à fama, errou a mão feio no grotesco Cowboys & Aliens, e, massacrado por tudo e todos, teve que recomeçar sua carreira de direção com algo mais simples.
Sob este aspecto, Chef, o nome desse projeto de reinício, possui todos os elementos e clichês de uma produção com tais objetivos. De orçamento pequeno e com roteiro simples - escrito por Favreau, que também produz e protagoniza seu novo trabalho de direção -, a aparentemente leve comédia gastronômica apresenta porém uma fina segunda camada, escondida por um diretor que usa com inteligência desta para transformar a trama superficial em um desabafo sobre sua carreira até aqui, sem contanto esquecer do perfil raso da história a ser contada.
Não à toa, portanto, que a vida do personagem vivido por Favreau remeta tanto a do próprio ator: Além de viver do sucesso de um passado não tão distante e estar separado de sua mulher e filho, o chef Carl Casper trabalha em um restaurante onde suas habilidades criativas culinárias não são postas à prova em nenhum momento - e para o dono (Dustin Hoffman), estas nunca precisarão. Frustrado, o mestre cozinheiro tem seu rumo mudado quando um famoso crítico gastronômico (Oliver Platt) escreve uma péssima resenha sobre sua comida, fazendo com que ele, após sofrer uma explosão emocional na internet, tenha que mudar sua vida radicalmente.
Em Chef, Favreau estrutura o filme em duas partes visivelmente distintas: Na primeira, dedica-se a apresentar o protagonista, as pessoas que o circundam e seu amor pela gastronomia - prática esta fotografada com verdadeira admiração por Kramer Morgenthau. A culinária, por sinal, é um elemento que junto com a música marca presença na narrativa. Em pouquíssimas cenas não vemos um prato sendo preparado e desgustado ou uma música tocando no fundo.
A segunda metade do filme, por outro lado, se dedica em, à partir do formato de um típico road-movie e com a culinária como pano de fundo, explorar o protagonista e suas falhas como pessoa e pai a partir do relacionamento que tem com seu filho (Emjay Anthony). O desenvolvimento desta relação parental, entretanto, é retratada no longa com certa simplicidade, expondo em consequência todo o problema que o roteiro tem no desenvolvimento dos personagens secundários. Construção típica do humor de stand-up, esta superficialização dos coadjuvantes cria deficiência no relacionamento destes com o protagonista por subvertê-los aos desejos e vontades de Casper - algo muito estranho se pensarmos, por exemplo na ex-mulher vivida por Sofía Vergara e sua simpatia exagerada por Casper.
Mas mesmo com este grave problema de roteiro Chef encanta pela simplicidade e, ao mesmo tempo, pela profundidade. Com o humor orgânico de Favreau afiado e bem distribuído ao longo da história, o filme cria, em sua narrativa deliciosa e musicalmente elaborada, um belo retorno do diretor às comédias leves e sem muitas pretensões, ainda que agora contenham uma centralidade importante e disfarçada. O prato final pode ter errado em alguns ingredientes, mas acerta no resultado geral.

Nota: 7/10

domingo, 17 de agosto de 2014

Crítica: As Tartarugas Ninja

Reinício dos quelônios no cinema é marcado por erros

Por Pedro Strazza

Ainda que possuam um início esteticamente e narrativamente violento nos quadrinhos, as Tartarugas Ninja sempre possuíram em seu perfil uma veia cômica. A ideia para sua criação, ao invés de planejada desde o princípio, surgiu enquanto os criadores Kevin Eastman e Peter Laird - antes de começarem a desenvolver seriamente a mitologia e seus conceitos - riam da imagem de um animal lento e desajeitado (a tartaruga) ter habilidades e capacidades físicas dignas de um guerreiro (os ninjas), uma impossibilidade da natureza. Este lado humorístico do quarteto, ao longo dos anos, foi utilizado das mais diversas formas por várias produções em diferentes formatos, alcançando o seu ápice nos produtos dos anos 80-90 - A época, não por acaso, de maior sucesso dos quelônios.
Após este período, porém, as tartarugas não encontraram mais tanto espaço na cultura pop, tentando sucessivamente alcançar o mesmo posto de antes. E depois de dois desenhos animados e uma animação para os cinemas, os "filhos" de Mestre Splinter procuram voltar à luz dos holofotes com a ajuda de Michael Bay, o produtor deste remake live-action da franquia. Mas apesar estarem visualmente reinventadas e contarem com algumas estrelas na produção, os quelônios não escapam dos maneirismos e problemas da "síndrome de Bay", exponenciados por um diretor que, não sendo o responsável pela franquia Transformers, procura copiá-lo de maneira porca e genérica (se isto é possível!!!).
E esses defeitos mostram-se visíveis já na primeira parte do roteiro de As Tartarugas Ninja. Depois de realizar uma introdução elaborada e eficiente em informar as origens dos quelônios e as propostas básicas da trama, a história prefere, na primeira meia hora, focar suas atenções na desinteressante (e irritante em vários momentos) April O'Neil (Megan Fox, novamente ineficiente em quesitos de atuação) a seguir acompanhando seus protagonistas. A intrépida jornalista do casaco amarelo, por sinal, ganha aqui o seu maior destaque em toda sua existência, tornando-se precariamente o ponto central de uma narrativa em que tudo está conectado - formato este bastante similar a de filmes como os recentes O Espetacular Homem-Aranha e Batman Begins.
A centralidade do papel de Fox na trama não é, porém, o maior erro do roteiro do remake, mas sim sua necessidade em procurar explicar a todo momento o que está acontecendo. De cinco em cinco minutos, a história parece estacionar seu ritmo no intuito de deixar claro ao espectador quais são as intenções dos mocinhos e dos bandidos, mesmo que para isso tenha que criar incoerências claras em sua continuidade, defasada também na fotografia.
A direção de Liebesman é também outro ponto bastante negativo neste retorno do quarteto aos cinemas. Novamente empregando em demasia sua preferência por travellings e planos holandeses, o diretor parece não conseguir tanto encontrar aqui o melhor ângulo e recurso possível para filmar as frenéticas cenas de ação (que Bay talvez tenha imposto) como entender o espaço onde elas ocorrem, tornando-as essas sequências confusas e chatas - à exceção, talvez, do clímax no alto da torre, onde a liberdade espacial permite um uso razoável da câmera. E se na pancadaria Jonathan fracassa repetidas vezes, o que dizer então dos momentos de humor, em que literalmente denota o tempo aonde o público deveria rir?
Apesar de errar demais em vários aspectos técnicos, contudo, o filme encontra relativo sucesso em seu próprio chamariz. Além de estarem visualmente fantásticas - aplausos pela ousadia em diferenciar o quarteto entre si pelos objetos que carregam e seus formatos -, Leonardo (Pete Ploszek na captura de movimentos, Johnny Knoxville na dublagem), Michelangelo (Noel Fisher), Rafael (Alan Ritchson) e Donatello (Jeremy Howard) apresentam a mesma química invejável e amabilidade que possuem desde o desenho animado dos anos 80, e criam no filme os pouquíssimos momentos genuinamente divertidos (como a curta cena no elevador).
Contando ainda com alívios cômicos sofríveis e vilões de planos nada coerentes, As Tartarugas Ninja realiza mais erros grotescos que acertos calibrados em seu recomeço nas telonas. Estas escolhas precárias, porém, não são feitas nas pedras fundamentais da nova franquia e podem ser repensadas na já confirmada sequência. A esperança pelo menos é esta.

Nota: 3/10

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Crítica: The Rover - A Caçada

David Michôd analisa a dor de viver sem o próximo em western pós-apocalíptico australiano

Por Pedro Strazza

A maneira como o ser humano aborda o sentimento de perda pode variar de pessoa para pessoa, mas individualmente nunca muda. A partir do momento em que toma consciência de si mesmo, o homem é obrigado a conviver repetidamente com o falecimento de indivíduos a quem nutre um carinho profundo (sua família e seus amigos, por exemplo), tornando-se necessário nessas ocasiões a passagem por um procedimento de superação sobre aquilo - o luto. E mesmo que cresça, amadureça e envelheça, a humanidade nunca conseguirá alterar tão profundamente o jeito com o qual encara a morte, a certeza maior na vida de todo ser vivo.
Como lidar, então, com esse sentimento tão penoso e desgraçado, se ele continuará a voltar para nos atormentar? Este questionamento, no fundo, é o que faz girar a trama de The Rover - A Caçada. Em um mundo onde o apocalipse foi gerado por um colapso financeiro de proporções globais, o filme do diretor e roteirista David Michôd mostra, em vários momentos de sua história, o quanto as relações humanas foram reduzidas pela sociedade a um nível praticamente nulo, restrito apenas a necessidades básicas de sobrevivência. O motivo? No cenário tão árido e desolador em que vivem, os habitantes desse universo talvez queiram evitar qualquer sofrimento maior.
Como todos os outros, Eric (Guy Pearce) também se fechou. Procurando apenas sobreviver, o protagonista de The Rover tem seu carro roubado quando decide tomar um pouco de água em um estabelecimento local, fazendo com que ele, por apresentar uma inexplicável conexão sentimental com o veículo, decida perseguir os ladrões. Para isso, entretanto, Eric precisará da ajuda de Rey (Robert Pattinson), o irmão com problemas mentais de um dos membros da gangue que sabe aonde eles estão, e isso o obrigará a realizar, na sua visão, o pior ato possível: interagir com o outro.
É a partir desta forçada união de forças, então, que o filme desenvolve sua linha narrativa. A cada novo desafio ou obstáculo enfrentado pelos dois, o público é apresentado a novas faces destes personagens, entendendo cada vez mais suas ações atitudes em relação ao próximo. E este processo afeta também a maneira como encaramos a atuação do elenco: Se no ínicio as performances de Pearce e Pattinson parecem exarcebadas e caricatas, o espectador aos poucos vai compreendendo o porquê das personalidades de Eric e Rey serem tão desfiguradas - principalmente com o primeiro, que revela ser um homem despedaçado pelo próprio passado que o atormenta, como é possível observar, posteriormente, na cena no canil.
Mas se com o desenvolvimento de personagens The Rover é eficaz, na construção de seu universo e de sua história há falhas visíveis. Ambientado no poeirento e monocromático deserto australiano, o filme não faz questão de estabelecer em nenhum momento as regras que regem seu pós-apocalipse, e isso vem a ser um problema quando a trama, por exemplo, elabora a instituição dos militares como sobrevivente do desastre econômico-apocalíptico sem qualquer explicação aparente para sua permanência. O roteiro, por outro lado, usa e abusa de situações clichê para guiar a sua história, tornando o rumo de alguns acontecimentos previsíveis demais.
Ainda que aborde seu tema central com eficácia e se utilize bem da competência de seu elenco, The Rover - A Caçada falha em pontos vitais e básicos da narrativa, consequentemente tornando sua trama um tanto cansativa. Uma pena, visto a profundidade do assunto discutido.

Nota: 6/10

terça-feira, 5 de agosto de 2014

HEY, Eu Quero uma Segunda Opinião!: Guardiões da Galáxia

A expansão do Universo Marvel nos cinemas por meio de um filme divertidíssimo

Por Alexandre Dias


Depois de assistir Guardiões da Galáxia o que fica é o gosto de "quero mais". Divertido do primeiro ao último minuto, o filme é mais uma aposta arriscada (e certeira) da Marvel Studios, que expande o seu universo nas telonas por meio de uma equipe atípica de...perdedores!
Perdedores? Sim, perdedores, e são eles quem ganham totalmente o espectador: Peter Quill, o Senhor das Estrelas (Chris Pratt), é o líder totalmente oposto ao que seria o Capitão América: ladrāo, mulherengo e sem os princípios do Sentinela da Liberdade. Drax, O Destruidor (Dave Bautista, ótimo), é o brutamontes em busca de vingança; Gamora (Zoe Saldana) a letal assassina que mudou de lado; e, para completar, há as figuras peculiares do guaxinim, Rocket, e da árvore humanóide, Groot, dubladas de forma fantástica por, respectivamente, Bradley Cooper e Vin Diesel. E se Joss Whedon conseguiu juntar o super grupo dos vingadores, dando o tempo certo de cada integrante, o diretor e roteirista James Gunn realiza aqui o mesmo feitio junto da também roteirista Nicole Perlman.

Os vilões também merecem destaque: o líder dos kree, Ronan, O Acusador (Lee Pace), se assemelha ao Malekith, de Thor- O Mundo Sombrio, quanto aos objetivos e o próprio desenvolvimento do personagem; Nebula (Karen Gillan) também é ótima em ação e se sai bem no papel da filha renegada. Mas sem dúvida o maior impacto vilanesco é de Thanos (Josh Brolin), que nos poucos minutos em que aparece impõe toda autoridade que tem por meio do vozeirão e do visual evil, prometendo fazer história nos futuros filmes do estúdio.

Assim como a aparência de cada indivíduo é bem trabalhada (destaque para Rocket e Groot, que são uma mistura de CGI com captura de movimentos), o universo espacial também é digno de admiração. Cada detalhe de Xandar é magnífico e a aparição de Luganenhum é de tirar o folêgo pela extensão da estação espacial.

Todos os aspectos mencionados são agregados a uma diversão intensa: as cenas de ação são espetaculares e o humor é devidamente colocado para cada situação e personagem (um bônus para as awesome musics, que são apreciadas por Peter Quill e se transformam em piada várias vezes). Ainda vale afirmar que os poucos momentos dramáticos funcionam na medida certa.

Um filme repleto de efeitos especiais, com muito humor e que tem um roedor como protagonista pode parecer genérico. Não é o caso aqui, aonde a Marvel Studios é mais uma vez competente ao ampliar o seu mundo no cinema com as possibilidades que tem, afinal algumas figuras importantes dos quadrinhos como os X-Men e Homem Aranha estão na posse de outros estúdios. Os losers, como o Senhor das Estrelas os caracteriza, já não são mais tão losers.

Nota: 10/10

No quadro HEY, Eu Quero uma Segunda Opinião!, O Nerd Contra Ataca abre espaço para que outros críticos deem suas opiniões acerca de um filme já comentado pelo site.

sábado, 2 de agosto de 2014

Crítica: Guardiões da Galáxia

Uma introdução brilhante do universo espacial da Marvel

Por Pedro Strazza

Já fazia um bom tempo que a Marvel Studios não apostava tão alto em seus filmes. Depois de ter encerrado com excelência, em 2012, a sua primeira fase nos cinemas com Os Vingadores, o estúdio preferiu na segunda parte de seu planejamento desenvolver os seus heróis estabelecidos na telona ao invés de seguir introduzindo novos cenários e personagens de seu universo. No cronograma da empresa para a Fase 2, no entanto, surgiu como única novidade uma estranha e desconhecida (até para os fãs mais antigos!) equipe dos quadrinhos da Marvel: Os Guardiões da Galáxia.

Criados em 1969, o grupo de heróis que, no século 31, tomam como missão proteger a Terra de ameaças espaciais sofreu em seus quase cinquenta anos de existência diversas alterações e reformulações para alavancar a venda de seus gibis - e como nenhuma dessas mudanças não surtia efeito no mercado, eles foram com o tempo sendo relegados ao esquecimento pela editora da qual faz parte. O que parecia estar morto e enterrado, porém, revelou-se estar vivo e respirando (ainda que com a ajuda de aparelhos), e em 2008 a equipe voltou a dar as caras, agora completamente reinventada e anunciada de forma discreta nos efeitos do fim de mais uma mega-saga da Marvel.

E quando parecia que o time agora liderado pelo Senhor das Estrelas não receberia mais confiança de sua editora do que um título mensal (cancelado após algum tempo, por sinal), eis que a empresa nos surpreendeu novamente e anunciou um filme sobre àqueles personagens, colocando todas as suas fichas na concepção e divulgação da equipe e seus integrantes. E o mais curioso de todo este processo é saber que esta confiança exacerbada da Marvel provou-se ser um tiro certeiro.

Dirigido por James Gunn, Guardiões da Galáxia é um filme que se vale do humor e da homenagem aos anos 70 e começo dos 80 para conquistar o seu público - fórmulas de fácil acesso e uso por qualquer produção hollywoodiana. O que diferencia o roteiro escrito por Gunn e Nicole Perlman destas outros longas, no entanto, é a sabedoria da dupla em aplicar estes dois elementos a seu quinteto protagonista - o riso a todos, a nostalgia a Peter Quill (Chris Pratt) - ao invés de todo o universo, afastando assim sua história cômica-aventuresca da paródia fácil, boba e inofensiva. Os acontecimentos mostrados em Guardiões são tratados com seriedade por todos os personagens, mas o grupo de heróis (assim como o próprio filme) não hesitam em se divertir pelo caminho.

Nesse ínterim, o roteiro é sagaz no uso dos anos 70 e 80. Da trilha sonora repleta de hits da época às referências interminavéis de Quill, a nostalgia é empregada pelo filme não só em aspectos mais superficiais como também construtivos: A fita carregada pra lá e pra cá pelo Senhor das Estrelas, por exemplo, é ouvida pelos personagens em diversos momentos da narrativa e tem um valor emocional grande para o protagonista humano - é de sua falecida mãe, afinal, a escolha da lista de músicas.

O desenvolvimento dos Guardiões é também um ponto bastante acertado pela produção. Com tempos de tela equilibrados e interagindo entre si de forma hilária e natural (duas características já habituais da Marvel Studios), cada um dos cinco protagonistas apresenta, além de um determinado tipo e tempo de humor, um passado problemático e que envolve de alguma forma a família. Seus pesados dilemas pessoais, porém, são espertamente abordados com sutileza e sem banalizações pelo filme em determinados momentos da narrativa, de forma a não interferir no ritmo desta. Assim, dramas como o de Drax (Dave Bautista, inacreditavelmente excelente na composição emocional de seu papel) com a perda de sua mulher e filho ou de Gamora (Zoe Saldana) e sua relação com seu "pai" Thanos não precisam ganhar destaque óbvio no filme para que o  espectador entenda seus sofrimentos particulares, e a trama consegue progredir de forma orgânica.

E esta eficiência do roteiro não se restringe apenas aos protagonistas. Gunn e Perlman não fazem questão nenhuma de complicar sua trama, mas sim de explicar com clareza suficiente as intenções de cada personagem no enredo - incluindo aí o próprio vilão Ronan, o Acusador (Lee Pace), que nos primeiro minutos já divulga seus objetivos primários para o público, e coadjuvantes terciários como Yondu (Michael Rooker) e a tropa Nova. O uso da força policial espacial no filme, por sinal, é inteligente ao "desenvolver" alguns integrantes quaternários para que o espectador sinta medo por eles nas grandes batalhas do clímax.

Nenhuma dessas características, entretanto, funcionariam tão bem sem uma elaboração visual do universo em que se passa a história. Consciente desta necessidade, os departamentos de design de produção e maquiagem desempenham seus papéis com excelência, concebendo cenários e habitantes únicos e multicoloridos para tornar a ambientação palpável ao público. E os efeitos visuais do longa, além de fortalecerem esta relação visual público-filme, é vital para a composição física de Groot e Rocket (que recebem ainda um trabalho de dublagem brilhante por parte de Vin Diesel e Bradley Cooper), tornando-os suficientemente reais para o público a ponto deste vibrar e torcer por eles.

Leve e divertido nas medidas certas, Guardiões da Galáxia é um filme que é capaz de introduzir uma nova parte do universo Marvel ao mesmo tempo em que, assim como os recentes Círculo de Fogo e Os Vingadores, consegue trazer de volta ao espectador a sensação feliz e satisfatória que só um blockbuster aventuresco e descompromissado - tão raro na Hollywood dos dias de hoje - pode oferecer. Neste aspecto, a alta aposta inicial da Marvel Studios rendeu seu melhor fruto até aqui, e os Guardiões com isso conseguiram enfim ganhar algum espaço na concorrida e disputada cultura pop.

Nota: 10/10