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domingo, 31 de janeiro de 2016

Crítica: Anomalisa

O amor nos tempos da amargura.

Por Pedro Strazza.

Filmes que se usam da animação para contar suas histórias são famosos por possuírem um alto controle sob todo e qualquer tipo de elemento visual que empregam em cena, e isso tende a aumentar quando a metodologia é o stop-motion. Anomalisa, segundo longa-metragem do roteirista Charlie Kaufman como diretor e debute de Duke Johnson na função, segue à risca esse processo, aproveitando o perfeccionismo inerente à técnica para imprimir na narrativa o emocional instável de seu protagonista. A maneira como isso é realizado, porém, não necessariamente traz aquilo que os diretores planejam a princípio.

Baseado na peça de mesmo nome que Kaufman escreveu em 2005, o filme é protagonizado por Michael Stone (David Thewlis), um famoso escritor e analista de serviço de atendimento ao cliente que viaja a Cincinnati para dar uma palestra sobre o tema. Melancólico, Michael sente-se em um mundo uniforme e impessoal, onde todos à sua volta parecem ter a mesma atitude, rosto e voz, mas suas esperanças se reacendem quando conhece Lisa Hesselman (Jennifer Jason Leigh), uma típica garota do interior que parece ser a única a ter alguma personalidade no universo do hotel.

Levemente disfarçada de romance, a temática central da trama é trabalhada pelo filme com sutileza encantadora, e não apenas por causa de seus elementos de efeito mais imediato ao qual tanto se aproveita, como o fato de todos os personagens em cena à exceção do casal protagonista possuírem a mesma identidade visual e serem dublados por Tom Noonan. Kaufman e Johnson são simples na organização espacial dos cenários se comparados aos trabalhos de estúdios como a Aardman ou a Laika, mas se aproveitam muito bem do stop-motion para dar a estes a artificialidade necessária, que compõe o mundo paranoico de Michael nas coisas pequenas (o balde de gelo, a revista que vende chili na capa) e grandes (a sex shop e a divertida uniformidade de seus consolos).

É uma atmosfera delicada e impressionante, mas não tão bem utilizada pelo roteiro. Em muitos momentos soando como uma história curta que foi esticada para ocupar os noventa minutos de um longa-metragem, Anomalisa não demora muito a repetir sem criatividade os maneirismos de Kaufman, que refaz sua estética depressiva em um trabalho de maior controle. E se o maior domínio por um lado permite ao diretor executar seu roteiro como bem entende, ele também impede a obra de alçar voos maiores por estar preso a seus mecanismos.

Neste quesito de dominância, a comparação com Sinédoque, Nova York, primeiro trabalho do cineasta, permite uma maior elucidação do caso. Também um típico trabalho de roteirista no comando, o filme protagonizado por Philip Seymour Hoffman com velocidade se entrega a jogos metalinguísticos complexos, e o eventual descontrole que se sucede na narrativa é o que o permite se expandir em temáticas mais difíceis e existenciais. Em Anomalisa, o sufocamento provoca o contrário, particularizando a trama em temas que apesar de sugeridos nunca chegam a ser explorados de fato pelo roteiro.

E se o particular em outras obras trabalha a favor, aqui ele só ressalta o estranho viés adolescente de sua história de amor. Pois apesar de a todo momento posar e insistir na imagem de ser uma animação adulta - deve ser a primeira vez que um longa em stop-motion abusa tanto de cenas com cigarros, bebidas alcoólicas, partes sexuais do corpo humano e sexo oral - Anomalisa não consegue escapar de questões conhecidas da juventude, como a da busca da identidade na sociedade ou da procura pelo amor perfeito. E Charlie Kaufman, em uma síndrome ou de adolescente que se recusa a crescer ou de adulto amargurado e saudoso dos dilemas juvenis (que em ambos os casos traz fácil identificação com as gerações mais jovens), acaba por se comportar como uma espécie de John Green da depressão.

Nota: 6/10

sábado, 30 de janeiro de 2016

SAG Awards 2016: Indicados e Vencedores

Spotlight e diversidade são os grandes vencedores da noite.

Por Pedro Strazza.

A corrida pelo Oscar de Melhor Filme ficou ainda mais acirrada. O SAG Awards, prêmio concedido pelo sindicato de atores e atrizes de Hollywood e um dos grandes termômetros ao prêmio máximo e de atuação da Academia, concedeu sua a honraria de Melhor Elenco a Spotlight na última noite de sábado (30), confirmando o filme sobre jornalismo como um dos grandes favoritos do Oscar 2016. O resultado, porém, difere ao do sindicato de produtores, outro termômetro da estatueta e que deu a A Grande Aposta seu troféu de Melhor Filme, colocando um ponto de interrogação ainda maior na disputa do maior prêmio da indústria hollywoodiana.

O SAG também mostrou os primeiros sinais do impacto da polêmica do "Oscars So White", o debate sobre a predominância de brancos na produção cinematográfica e do pouco reconhecimento para o trabalho de atores e atrizes negros na indústria. Além dos vários discursos que fizeram referência ao assunto - principalmente nas categorias de série de comédia, que foram dados a uma negra (Uzo Aduba, Melhor Atriz em Série de Comédia por Orange is the New Black), um ator que faz o papel de um transsexual (Jeffrey Tambor, Melhor Ator em Série de Comédia por Transparent) e a um elenco de ampla diversidade étnica (Orange is the New Black, Melhor Elenco em Série de Comédia) - e do domínio de atrizes negras nas categorias femininas de televisão, a premiação surpreendeu ao dar dois SAGs de performance individual para o ator Idris Elba, que se torna o primeiro ator na história a realizar tal feito na mesma noite. Ausente no Oscar, Elba ganhou nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante (Beasts of No Nation) e Melhor Ator em Minissérie ou Telefilme (Luther).

Ainda em relação à Academia, o sindicato de atores confirmou os favoritos aos quatro prêmios de atuação na cerimônia do dia 28 de fevereiro: Brie Larson, Leonardo DiCaprio e Alicia Vikander ganharam em suas respectivas categorias, e com Mark Rylance e Christian Bale perdendo para Elba, o troféu de Melhor Ator Coadjuvante parece estar nas mãos de Sylvester Stallone. As surpresas podem acontecer, é claro, mas a cada dia que passa elas minguam mais e mais.

As grandes reviravoltas aconteceram mesmo na televisão. Com as produções da Netflix e da Amazon ampliando o domínio no prêmio (foram 3 para a primeira e 1 para a segunda), o SAG surpreendeu ao ignorar Jon Hamm - que nunca levou o trófeu por performance individual - e Mad Men para conceder Melhor Ator em Série Dramática e Melhor Elenco em Série Dramática a Kevin Spacey (House of Cards) e Downton Abbey, respectivamente.

Confira abaixo a lista completa de indicados e vencedores (em negrito) do SAG Awards 2016:

Cinema

Melhor elenco
  • Beasts of No Nation
  • A Grande Aposta
  • Spotlight: Segredos Revelados
  • Straight Outta Compton - A História do N.W.A.
  • Trumbo
Melhor atriz
  • Cate Blanchett - Carol
  • Brie Larson - O Quarto de Jack
  • Helen Mirren - A Dama Dourada
  • Saoirse Ronan - Brooklyn
  • Sarah Silverman - I Smile Back
Melhor ator
  • Bryan Cranston - Trumbo
  • Johnny Depp - Aliança do Crime
  • Leonardo DiCaprio - O Regresso
  • Michael Fassbender - Steve Jobs
  • Eddie Redmayne - A Garota Dinamarquesa
Melhor atriz coadjuvante
  • Rooney Mara - Carol
  • Rachel McAdams - Spotlight: Segredos Revelados
  • Helen Mirren - Trumbo
  • Alicia Vikander - A Garota Dinamarquesa
  • Kate Winslet - Steve Jobs
Melhor ator coadjuvante
  • Christian Bale - A Grande Aposta
  • Idris Elba - Beasts of No Nation
  • Mark Rylance - Ponte dos Espiões
  • Michael Shannon - 99 Homes
  • Jacob Tremblay - Room

Televisão

Melhor elenco de série dramática
  • Downton Abbey
  • Mad Men
  • Game of Thrones
  • Homeland
  • House of Cards
Melhor atriz de série dramática
  • Claire Danes - Homeland
  • Viola Davis - How to Get Away with Murder
  • Julianna Margulies - The Good Wife
  • Maggie Smith - Downton Abbey
  • Robin Wright - House of Cards
Melhor ator de série dramática
  • Jon Hamm - Mad Men
  • Peter Dinklage - Game of Thrones
  • Rami Malek - Mr. Robot
  • Bob Odenkirk - Better Call Saul
  • Kevin Spacey - House of Cards
Melhor elenco de série cômica
  • The Big Bang Theory
  • Key & Peele
  • Modern Family
  • Orange is the New Black
  • Veep
Melhor atriz de série cômica
  • Uzo Aduba - Orange is the New Black
  • Edie Falco - Nurse Jackie
  • Ellie Kemper - Unbreakable Kimmy Schmidt
  • Julia Louis-Dreyfus - Veep
  • Amy Poehler - Parks and Recreation
Melhor ator de série cômica
  • Ty Burrell - Modern Family
  • Louis C.K. - Louie
  • William H. Macy - Shameless
  • Jim Parsons - The Big Bang Theory
  • Jeffrey Tambor - Transparent
Melhor atriz em minissérie ou filme feito para a TV
  • Nicole Kidman - Grace of Monaco
  • Queen Latifah - Bessie
  • Christina Ricci - The Lizzie Borden Chronicles
  • Susan Sarandon - The Secret Life of Marilyn Monroe
  • Kristen Wiig - The Spoils Before Dying
Melhor ator em minissérie ou filme feito para a TV
  • Idris Elba - Luther
  • Ben Kingsley - Tut
  • Ray Liotta - Texas Rising
  • Bill Murray - A Very Murray Christmas
  • Mar Rylance - Wolf Hall

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Crítica: Joy - O Nome do Sucesso

David O. Russell brinca com a estrutura da novela para entregar mais uma atuação de excessos de Jennifer Lawrence.

Por Pedro Strazza.

Desde que voltou a trabalhar como diretor e se tornou peça-chave nas corridas anuais aos Oscar de atuação, David O. Russell tem mostrado cada vez mais interesse nas histórias que fizeram sucesso em Hollywood e a mantiveram como a indústria milionária que conhecemos. Do filme de boxe ao romance água-com-açúcar, além da trama de roubo, o cineasta tem demonstrado em seus trabalhos recentes uma predisposição incomum de repetir tais estruturas por pura admiração, como o típico adulto que, crescendo em meio a obras desse tipo, busca mantê-las vivas nos dias de hoje passando-as para a próxima geração. Mas ao invés de fazer isso pelos filhos, O. Russell trabalha essa necessidade através de seus filmes.

Com isso em mente, é mais fácil de entender algumas das escolhas do diretor com Joy - O Nome do Sucesso, relato da ascensão da inventora Joy Mangano como poderosa empresária no começo dos anos 90. Com clara inclinação ao novelesco conhecido das soap operas televisivas - presente desde o seu início com a reencenação de uma - o filme se aproveita da trajetória de sua protagonista para refazer o que talvez seja um dos maiores arcos do cinema estadunidenses: o de superação, da realização do sonho americano e no fim a história de transformação por essência.

E como em seus outros trabalhos, ele realiza esse caminho tão conhecido pela metodologia do exagero. Seja nos já famosos grandes espaços narrativos para overacting de seu elenco ou na fotografia inquieta e alternante entre a palidez fria e o estouro de cores de Linus Sandgren (também parceiro do cineasta em Trapaça), O. Russell mais uma vez dá a entender que opera pelo excesso para chamar mais atenção à trama, em um tipo de manobra que mais uma vez demonstra seu fascínio pelo cinema intenso de seu ídolo Martin Scorsese. Por consequência, o melodrama se torna em ferramenta primordial de execução narrativa.

Em uma primeira instância, essa visão do diretor soluciona algumas das problemáticas mais superficiais do longa, como a falta de nexo na conexão da dramaticidade exacerbada da soap opera com a cinebiografia ou o fato de Jennifer Lawrence ser dez anos mais nova para interpretar a protagonista. Mas conforme se aprofunda na história que conta, o exagero consegue aos poucos dar maior naturalidade aos exercícios narrativos que Joy ora ou outra se submete (os flashbacks ocasionais, por exemplo) e, principalmente, ao ato de revelação concedido à protagonista em sua metamorfose de dona-de-casa endividada à empresária, que alcança um primeiro clímax bastante funcional em sua visita ao estúdio de infomerciais do empresário vivido por Bradley Cooper.

O problema é que se Scorsese mostra-se sempre em controle das situações que proporciona em seus filmes, O. Russell parece não ter a mesma sorte. E se Trapaça acabava por ficar à deriva das próprias reviravoltas, aqui ele tenta solucionar essa dificuldade assegurando constantemente seu controle, mesmo quando não é necessário. Assim, por mais que ofereça aqui e ali alguns bons momentos, o arco de emancipação de Joy da família que a atrasa e a puxa para baixo nunca consegue alcançar o impacto necessário, muito em parte porque seu diretor não deixa de pesar a mão e torna o filme maciço sem precisar.

Mas se no geral o longa afunda conforme os eventos se desenrolam, na performance de sua protagonista ele parece encontrar algum ponto de equilíbrio. E no fundo, talvez seja o filme de ator que O. Russell tanto procure em suas produções extravagantes e agora entregues de fato ao novelesco, depositando em Lawrence as esperanças de uma grande performance. Para a atriz isso não incomoda tanto, já que permite a ela o espaço necessário para praticar seu overacting e (por enquanto) carimba sua visita às principais premiações da indústria cinematográfica estadunidense.

Nota: 5/10

domingo, 17 de janeiro de 2016

Crítica: Carol

Todd Haynes traça história de amor pela sutileza da imagem.

Por Pedro Strazza.

Em determinado momento do primeiro ato de Carol, a protagonista Therese (Rooney Mara) conhece em uma sala de projeção de cinema um jornalista apaixonado por filmes românticos. Após confessar já ter visto mais de cinco vezes a película que ambos assistem, ele emenda afirmando que está estudando quais são as mensagens passadas pelos personagens em seus gestos e expressões faciais, a fim de desenvolver sua teoria de que o que o ser humano não consegue manifestar em palavras ele o realiza em tais movimentos. Muito mais tarde na história, Therese avista este mesmo personagem em uma festa, sentado de frente à uma televisão e anotando sobre possivelmente um filme em companhia de uma garota que descansa a cabeça em seu ombro.

Embora seja um personagem de nula importância à trama e quase figurante na narrativa, esse jornalista consegue resumir em pouquíssimos segundos de tela o objetivo central do diretor Todd Haynes com esta adaptação do livro homônimo de Patricia Highsmith. E apesar de a princípio parecer se comportar como uma obra cinematográfica de base literária, Carol logo se desfaz dessa contratualidade subjetiva de produções do tipo para abraçar as oportunidades que o cinema lhe oferece e contar a história do romance entre a trabalhadora Therese Belivet e a rica dos subúrbios Carol Aird (Cate Blanchett).

Isso se torna palpável na maneira gradual pela qual o longa revela o que privilegia em cena. Os diálogos roteirizados por Phyllis Nagy aos poucos se tornam em um palco na narrativa, pelo qual Haynes e o diretor de fotografia Edward Lachman filmam os personagens em busca do que estes realmente sentem naquele instante. Como o jornalista do cinema, o filme trabalha com frequência na diferenciação da expressão pela fala da pelo gesto corporal, com clara preferência ao último. Pois para o diretor e à produção, o que interessa é o que está sendo dito pelo corpo, como bem esclarece o uso do plano detalhe para destacar o olhar, o manuseio de um objeto ou, em particular, no toque entre pessoas.

Mas enquanto que em outras produções do tipo esta metodologia logo desemboca no exagero, que procura expor qualquer movimento como essencial, Carol se destaca por realizar o exato movimento contrário. Aproveitando-se da postura de interiorização adotada como bons modos dos anos 50, o longa parece impor ao elenco a prática do disfarce, do movimento de esconder os sentimentos e reais intenções dos personagens nos diálogos realizados. São raros as situações da obra em que um dos personagens explode e exprime suas sensações, mas quando estes o fazem (por um acesso de choro, de ira ou de paixão) seu impacto é devastador, de maneira a reforçá-lo sem maior alarde.

Aplicados com parcimônia, estes momentos de intensidade emocional, assim como seu constante aprisionamento, também são destacados na elaboração espacial das cenas. Estruturados como uma realidade onírica pela iluminação e a estética vintage do design de produção de Judy Becker, os cenários são compostos ou em linhas e ambientes que aprisionem os personagens e os separem do resto das pessoas com que contracenam, de forma a realçar seu sufocamento emocional, ou em duas ou mais camadas, que situando a ação no mais distante deles evidencia a distância entre os indivíduos retratados.

O resultado é um conjunto de relações que nos diálogos parecer soar fria e distante, mas nas ações mínimas se revela um filme de intensidade ímpar, e grande culpa disso recai no trabalho soberbo das duas atrizes que o protagonizam. Conscientes do poder da mínima demonstração corporal na obra, Mara e Blanchett trabalham seus papéis na sutileza, privilegiando com sabedoria as rápidas e pequenas interações físicas entre Therese e Carol com olhares cúmplices e a timidez necessária. E se a primeira acerta na composição centrada no eventual arco de amadurecimento que sua protagonista experimenta na história, Blanchett faz a sua característica pose sólida e típica do indivíduo privilegiado com a atitude de alguém que está no auge da carreira e sabe muito bem disso.

Mas por que compor o filme dessa maneira, se Carol nunca chega a se interessar ou entrar de fato na questão da relação homoafetiva em um parâmetro social (a única exceção talvez seja na cena em que Carol confronta no divórcio a postura de seu marido, muito bem trabalhado por Kyle Chandler)? Para Haynes, independente da forma pela qual se manifeste, o amor funciona como uma linguagem universal, cuja concepção pode ser expressa em qualquer forma de comunicação. Ao traduzir isso através da imagem e não do diálogo, porém, o diretor evidencia na tela o amor das duas protagonistas com sensibilidade impressionante, ao mesmo tempo em que demonstra no particular a confluência de sensações diferentes que o cinema abrange e o diferencia das outras artes, traduzido em um ápice tocante de uma troca de olhares rápida, incisiva e capaz de passar toda a emoção do momento sem dizer uma palavra.

Nota: 10/10

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Crítica: A Grande Aposta

Filme de desilusão encara crise de 2008 com humor e olhar documental.

Por Pedro Strazza.

Apesar de incluir um animal pra valer só no fim do primeiro ato de A Grande Aposta, é peculiar a maneira como o diretor Adam McKay e seu diretor de fotografia Barry Ackroyd estabelecem com velocidade na narrativa o seu viés de documentário típico do National Geographic. A alternância constante entre planos abertos e fechados em planos tremidos, auxiliados pela montagem esperta de Hank Corwin, serve para dar ao espectador a mesma sensação que ele experimenta ao assistir esses filmes sobre a natureza, em que o didatismo é peça central para ele entender as relações predatórias primordiais e "a beleza desses belos animais selvagens em seu habitat natural" enquanto as encara de longe. Mas ao invés de ferozes onças e gigantescos elefantes, ele oferece um tipo de fera bastante diferente.

Baseado em um livro escrito por Michael Lewis, o filme conta a história de vários grupos de especialistas econômicos que previram o advento da crise financeira e imobiliária de 2008 e tiraram proveito dela, investindo em inúmeros CDSs (Credit Default Swaps) que apostavam contra os bancos responsáveis pelo colapso. Recorrendo a exposições constantes nos diálogos exercidos pelos três principais núcleos - liderados por Steve Carell, Christian Bale, Ryan Gosling e Brad Pitt - a obra se comporta como tantas outras dispostas a se debruçar sobre o tema, explicando como foi possível que essa Grande Recessão mundial ocorresse.

A maior mudança, aqui, é de tom: ao invés de manter constante o tom de tragédia sobre os acontecimentos, o roteiro de McKay e Charles Randolph prefere empurrar essa consciência mais pesada para o terceiro ato, e ocupa os dois primeiros terços da trama de um humor sarcástico e focado nos absurdos que o longa apresenta ao longo do caminho. E como Nero tocando a harpa do alto de seu palácio enquanto Roma se consumia em chamas, o espectador rapidamente se diverte com os choques de realidade que ele e os protagonistas recebem ao se dispor a olhar o estado geral da economia estadunidense antes de tamanho desastre.

O curioso dessa abordagem é que A Grande Aposta parece reconhecer o universo que adentra com a mesma estranheza com a qual o homem da cidade encara a vida selvagem na televisão, e isso não acontece apenas pelos maneirismos documentais da fotografia. As constantes quebras de quarta parede para reafirmar a veracidade (ou não) dos fatos e o uso de estrelas conhecidas por atributos de valor imediato (Margot Robbie, Selena Gomez, o famoso chef de cozinha Anthony Bourdain) servem não só para o filme chamar a atenção do público para seu conteúdo e impedi-lo de ficar preso à sua estética dinâmica - em nenhum momento incômoda, vale acrescentar - como também funciona em seu esforço de mostrar a este o nível de delírio que a sociedade estadunidense chegou em sua eterna ambição pelo lucro, eternizadas nas intercalações rápidas de imagens de uma cultura dominada pelo irreal.

Talvez seja por essa motivação que ele se permita a se levar pelo contraponto traumático ao começar a mostrar os efeitos da crise na população. Seja quando o personagem de Pitt repreende a comemoração de seus parceiros (interpretados por John Magaro e Finn Wittrock) ou na depressão que abate o investidor interpretado por Carell e sua peruca sempre descabelada, essa mudança repentina na narrativa acaba reforçando no longa o impacto da ação devastadora da crise, e traumatiza o próprio espectador por rir da trajetória que levou àquilo.

E é isso que encanta. Mesmo que assuma no fim a sua estrutura de filme de desilusão, A Grande Aposta sabe diluir isso em uma de impacto, muito mais eficaz no choque em relação à melancolia, e promover uma mistura funcional de olhares quase antagônicos - humor, documental e dramático - em torno de uma trama quase de Alice no País das Maravilhas. E ainda que o espectador termine como o personagem de Carell, em um misto de arrependimento por seus atos e de revolta pela natureza do sistema, é fascinante a forma como McKay o prende sem este conseguir compreender mais de 50% do que é dito pelos personagens em cena.

Nota: 9/10

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Crítica: Steve Jobs

O personagem por trás do mito.

Por Pedro Strazza.

Ícone da tecnologia e responsável pelas maiores revoluções de nosso cotidiano, Steve Jobs tem se provado um objeto difícil de estudo no cinema. Muito em parte por causa da própria aura messiânica que ele e a Apple criaram em sua figura, os documentários sobre sua pessoa e as duas cinebiografias lançadas falharam na tentativa de traduzir para as telas tanto o motivo dele ser considerado por muitos um gênio quanto sua personalidade difícil, marcada por um comportamento agressivo e capaz de acreditar nas próprias verdades que inventava. No caso das obras ficcionais sobre sua pessoa, percebe-se uma predominância dessa primeira faceta: Jobs e Piratas da Informática nunca conseguiram se desviar de fato da idolatria, se perdendo na hora de mostrar (ou omitindo, no caso do primeiro) o outro lado da moeda.

No caso de Steve Jobs, essa é uma problemática que nunca chega a acontecer. Com base na biografia oficial do empresário e determinado a explorar o homem por trás do mito, o roteirista Aaron Sorkin busca estabelecer nesta terceira cinebiografia uma análise em cima da pessoa difícil que era Jobs, sem se preocupar contudo com a veracidade dos fatos. Pois a partir do momento que o protagonista de ascendência síria é interpretado por um alemão e o papel de seu pai cabe a um ator de traços sírios, o filme descola da realidade.

Isso fica claro já na estrutura adotada por Sorkin no roteiro e que é traduzida pelo diretor Danny Boyle da melhor maneira que ele acha ser possível. Inteiro passada nos bastidores de três apresentações de produtos lançados por Jobs (o Macintosh, o NeXT e o iMac), o filme assume o tempo todo um ar de teatralidade semelhante ao de Birdman, onde é mais importante assistir ao que acontece por trás dos panos que o espetáculo em si - algo reforçado pelo protagonista quando diz "Não gosto da estética circense". Ao invés do show, o longa apresenta o drama, centrado nas relações de Steve (Michael Fassbender) com sua diretora de marketing Joanna Hoffman (Kate Winslet) e sua filha Lisa (Makenzie Moss aos 5, Ripley Sobo aos 9 e Perla Haney-Jardine), além do antigo CEO da Apple John Sculley (Jeff Daniels), a mãe de Lisa (Katherine Waterston) e os colegas Steve Wozniak (Seth Rogen) e Andy Hertzfeld (Michael Stuhlbarg).

A princípio, a estratégia do roteiro mostra ser mais eficaz comparada a das outras duas cinebiografias. Ao abandonar a convencionalidade de retratos do tipo e apostar em um cenário mais dramatúrgico, partindo dos produtos que marcaram Jobs como ídolo dos entusiastas da tecnologia, a produção se desprende da necessidade de evidenciar o tempo todo a importância do protagonista e de sua genialidade, livre para explorar sua pessoa do jeito que preferir. E experiente no diálogo rápido e incisivo que o é, Sorkin é capaz de desconstruir Steve em seus pontos mais polêmicos, como na relação com a filha (que por um bom tempo negou ser sua) ou no tratamento dado aos empregados de sua empresa.

Mas é com velocidade que o filme logo começa a desandar em sua própria proposta, e prova-se limitado em questões importantes. Além da decisão equivocada de manter os mesmos personagens coadjuvantes em todos os três momentos do longa, insistindo em manter algumas participações que com o tempo se tornam irrelevantes ao invés de substituí-las por outras tão interessantes quanto (a interação de Sculley com Jobs no lançamento do iMac, por exemplo, acaba por ser uma gordura), Steve Jobs em muitos momentos hesita entre manter o tom de encenação - alterando e inventando fatos, ignorando figuras importantes ao longo do caminho - e o de provar seu realismo, e preenche falas inteiras de exposição com base no livro escrito por Walter Isaacson. E para quem leu a obra, é ainda mais claro como Sorkin parece transferir informações inteiras para os diálogos, realçando ainda mais o caráter artificial de seus cenários antissépticos.

Por outro lado, a produção se perde ainda mais na direção de Boyle, que não resiste à tentação de preencher o longa com seus exibicionismos típicos. Constantemente desequilibrado na trilha sonora, o filme exagera ao conferir dados e imagens de arquivo nas paredes dos anfiteatros e conferir closes desnecessários em objetos irrelevantes à narrativa, enquanto a montagem é ávida em dar o maior número de informações possíveis por segundo. Boyle, enquanto isso, tem dificuldades constantes de tornar palpável a tensão entre os personagens, investindo em planos abertos e inclinados ao bel prazer e sem motivo maior, tal qual sua decisão por diferentes câmeras para diferentes épocas.

O que salva a obra desse colapso geral são Fassbender, Winslet e as três intérpretes de Lisa, que graças ao espaço dado por Sorkin tem a capacidade de transformar um filme de roteiro em um de ator. Nos diálogos de Steve com Joanna e Lisa, percebe-se no texto de Sorkin uma propensão de evidenciar entre os três a formação de uma unidade familiar criada no trabalho, lugar onde o protagonista sempre manteve a cabeça. Para o roteirista, é essa propensão ao workaholic puro que torna Jobs, o "maestro da orquestra", em uma pessoa diferente das demais, incapaz de se conectar emocionalmente com os outros. O problema é que essa visão parece ser a única em Steve Jobs, no mais um filme sem a ambição necessária para ir mais fundo em seu retratado.

Nota: 6/10

As esnobadas do Oscar 2016

Os filmes e pessoas que não chegaram na lista final de indicados.

Por Pedro Strazza.

Enquanto premiação de cinema mais conhecida no mundo, o Oscar é conhecido em suas votações por ignorar certos candidatos em favor de outros. Os famosos esnobados do Oscar acabam nessa triste categoria pelos mais diferentes motivos: sua campanha para chegar na lista final de indicados não foi forte o suficiente, sua candidatura foi vista com ceticismo pelos votantes, haviam melhores candidatos na disputa ou mesmo suas brilhantes performances (artísticas ou técnicas) foram esquecidas em meio à anual avalanche de marketing que os estúdios provocam. 


Em 2016, isso não foi diferente. Os treze trabalhos e produções elencados a seguir acabaram de fora da lista final da 88° edição dos Academy Awards, mas em algum momento da corrida pelo prêmio (que começa lá pra meados de outubro e termina na cerimônia em si) sonharam com a possibilidade de serem indicados. Mas mesmo eles tendo sido esquecidos pela Academia, nós nos lembraremos deles.

No In Memoriam do Oscar 2016 temos:

  • Benicio Del Toro (Sicario - Terra de Ninguém)

Já com um Oscar em casa (por Traffic, em 2000), o porto riquenho Benicio Del Toro foi um dos poucos pontos fortes do fraco Sicario - Terra de Ninguém, fazendo um tipo John Wayne deturpado no faroeste contemporâneo de Denis Villeneuve. Com o filme aparecendo de última hora na disputa pelos prêmios principais, era de se esperar que ele conseguisse lugar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante, mas suas expectativas acabaram frustradas.

  • Charlize Theron (Mad Max - Estrada da Fúria)

Responsável por entregar a personagem mais marcante de 2015, Theron ainda assim corria por fora na disputa do prêmio de Melhor Atriz. Mas com Mad Max - Estrada da Fúria sendo o filme com o segundo maior número de indicações na premiação desse ano (dez, atrás apenas de O Regresso), é estranho que sua performance como Imperator Furiosa tenha acabado de fora da lista. 

  • Idris Elba (Beasts of No Nation)

Extremamente feliz em seu papel no filme de Cary Fukunaga, Elba poderia ter sido tanto o único a romper com a sequência de 20 atores e atrizes brancos nas categorias de atuação como também o "herói" da Netflix ao colocar pela primeira vez uma produção do canal de streaming entre as principais categorias do Oscar. Mas a Academia, aparentemente, ainda não está preparada para tamanha revolução.

  • Kristen Stewart (Acima das Nuvens)

Azarona por essência na disputa, Stewart dependia que sua ótima performance em Acima das Nuvens fosse lembrada nos indicados apenas pelo boca-a-boca dos votantes, já que não tinha campanha para impulsionar sua nomeação, além de torcer para que Alicia Vikander e Rooney Mara acabassem indicadas a Melhor Atriz. As variantes claramente não lhe foram favoráveis.

  • Maryse Alberti e Michael B. Jordan (Creed - Nascido Para Lutar)

Se B. Jordan é mais um ator negro que não rompeu com o "Oscars All White", Maryse Alberti não conseguiu acabar com uma falha histórica da Academia: O Oscar de fotografia nunca teve uma mulher entre seus indicados. E seu trabalho, assim como o do protagonista de Creed, é um primor.

  • "See You Again" (Velozes e Furiosos 7)

Vin Diesel até tentou, mas não foi dessa vez que ele consegue emplacar um filme seu na lista de indicados ao Oscar. E dessa vez ele até tinha chances, já que a canção "See You Again" mostrou popularidade suficiente para alcançar uma nomeação em Melhor Canção Original. Mas se em anos recentes a Academia foi mais popular em tal categoria, esse ano ela foi diferente. Azar.

  • O Bom Dinossauro/Snoopy e Charlie Brown - O Filme

Eles pareciam estar dentro, mas não contavam com a astúcia das animações de menor visibilidade. Antes fechada do princípio, a categoria de Melhor Animação surpreendeu excluindo o filme jurássico da Pixar e a nova adaptação de Peanuts às telonas para dar lugar ao último trabalho do Estúdio Ghibli (As Memórias de Marnie) e o brasileiro O Menino e o Mundo. E para falar a verdade, isso foi ótimo.

  • Colina Escarlate

Embora seja um filme mais fraco do diretor Guillermo del Toro, Colina Escarlate teve méritos suficientes para merecer indicações nas categorias de Melhor Design de Produção ou Melhor Figurino em sua construção eficaz de um terror gótico clássico. Mas o filme não contava com O Regresso, que praticamente roubou suas duas únicas chances de glória na premiação.

  • Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros/A Travessia

Um foi um inesperado fenômeno de bilheteria. O outro apostou com tudo nos efeitos visuais para contar sua história. Os dois apostaram que conseguiriam lugar na categoria de Melhores Efeitos Visuais. Ambos acabaram de fora.

  • Que Horas Ela Volta?

Representante brasileiro na disputa pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o filme de Anna Muylaert caiu fora do páreo ainda na pré-seleção da categoria, chocando a imprensa brasileira e estrangeira no processo. O filme, afinal, era tido como um dos únicos a ter chances de tirar o prêmio do húngaro Filho de Saul, cargo que agora fica com o francês Cinco Graças. O Brasil, pelo menos, não passará mais um Oscar de fora, graças à grata surpresa do Menino e o Mundo na categoria de Melhor Animação.

  • No Coração do Mar

Aqui a menção é válida a título de diversão. Previsto originalmente para disputar o Oscar do ano passado, o filme de Ron Howard sobre a origem de Moby Dick acabou se atrasando e marcando estreia para março de 2015. O estúdio, porém, ainda queria que o filme conquistasse algumas indicações na premiação, e acabou por adiar o filme para novembro do mesmo ano. A estratégia, pelo visto, não deu certo: No Coração do Mar nunca mostrou sinais de luta na corrida pelo Oscar em qualquer categoria, graças ao seu desagradável status de "Oscar bait".

Veja também!

Oscar 2016: Indicados

O Regresso lidera, e o Oscar continua retrógrado.

Por Pedro Strazza.

Na manhã desta quinta-feira (14), a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou a lista de indicados do Oscar 2016. Em sua 88° edição, a premiação confirmou várias expectativas, mas também surpreendeu com algumas escolhas inusitadas.

Em número de indicações, O Regresso, novo filme de Alejandro González Iñárritu, lidera com doze indicações, seguido de perto por Mad Max - Estrada da Fúria, que tem dez. Favorito ao prêmio de Melhor Filme, Spotlight - Segredos Revelados conquistou seis nomeações, uma à frente do por enquanto seu maior adversário, A Grande Aposta, com seis.

Além desses quatro, também foram indicados ao prêmio principal da cerimônia Perdido em Marte (7 nomeações), Ponte dos Espiões (6), Brooklyn e O Quarto de Jack (cada um com 3), totalizando oito filmes. Entre os que ficaram de fora, surpreende as esnobadas dadas a Carol (que tem seis menções na lista), Straight Outta Compton - A História do N.W.A. (1) e Sicario - Terra de Ninguém (3), esses dois últimos porque pareciam ter espaço na competição após suas nomeações no PGA Awards. Atual terceira maior bilheteria mundial, Star Wars - O Despertar da Força marca presença na disputa, com cinco indicações em categorias técnicas.

Apesar de Que Horas Ela Volta? ter ficado de fora da disputa de Melhor Filme Estrangeiro, o Brasil tem um representante na premiação desse ano: O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, foi indicado à categoria de Melhor Animação, desbancando junto do provável último filme do Estúdio Ghibli, As Memórias de Marnie, os favoritos O Bom Dinossauro e Snoopy e Charlie Brown - O Filme.

O Oscar, por outro lado, tem poucos motivos para festejar, já que continua a se mostrar cada vez mais retrógrado em suas listas. Pelo segundo ano consecutivo, a premiação nomeou apenas candidatos brancos nas categorias de atuação, ignorando atores como Benicio Del Toro, Idris Elba (que não conseguiu emplacar a primeira indicação da Netflix nos prêmios principais com seu Beasts of No Nation) e Michael B. Jordan. Além disso, a Academia continua a diferenciar os indicados a Melhor Filme das de atuação femininas: enquanto Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante possuem somados seis indicados presentes no prêmio máximo, as de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante possuem apenas três representantes.

Mais uma vez, a premiação faz por merecer o título "Oscar All White and All Men" (Oscar todo branco e masculino), e num ano tão importante para a discussão de gênero isso é grave.

A seguir, a lista final de indicados à 88° edição dos Academy Awards:

Melhor Filme

Melhor Ator
  • Bryan Cranston (Trumbo)
  • Eddie Redmayne (A Garota Dinamarquesa)
  • Leonardo DiCaprio (O Regresso)
  • Matt Damon (Perdido em Marte)
  • Michael Fassbender (Steve Jobs)

Melhor Ator Coadjuvante
  • Christian Bale (A Grande Aposta)
  • Mark Ruffalo (Spotlight – Segredos Revelados)
  • Mark Rylance (Ponte dos Espiões)
  • Sylvester Stallone (Creed – Nascido Para Lutar)
  • Tom Hardy (O Regresso)

Melhor Atriz
  • Brie Larson (O Quarto de Jack)
  • Cate Blanchett (Carol)
  • Charlotte Rampling (45 Anos)
  • Jennifer Lawrence (Joy – O Nome do Sucesso)
  • Saoirse Ronan (Brooklyn)

Melhor Atriz Coadjuvante
  • Alicia Vikander (A Garota Dinamarquesa)
  • Jennifer Jason Leigh (Os Oito Odiados)
  • Kate Winslet (Steve Jobs)
  • Rachel McAdams (Spotlight – Segredos Revelados)
  • Rooney Mara (Carol)

Melhor Animação
  • Anomalisa
  • Divertida Mente
  • As Memórias de Marnie
  • O Menino e o Mundo
  • Shaun, O Carneiro

Melhor Fotografia

Melhor Figurino
  • Carol
  • Cinderela
  • A Garota Dinamarquesa
  • Mad Max – Estrada da Fúria
  • O Regresso

Melhor Direção
  • Adam McKay (A Grande Aposta)
  • Alejandro González Iñárritu (O Regresso)
  • George Miller (Mad Max – Estrada da Fúria)
  • Lenny Abrahamson (O Quarto de Jack)
  • Thomas McCarthy (Spotlight – Segredos Revelados)

Melhor Documentário
  • Amy
  • Cartel Land
  • The Look of Silence
  • What Happened, Miss Simone?
  • Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom

Melhor Documentário em Curta-Metragem
  • Body Team 12
  • Chau: Beyond the Lines
  • Claude Lanzmann: Spectres of the Shoah
  • A Girl in the River: The Price of Forgiveness
  • Last Day of Freedom

Melhor Montagem

Melhor Filme Estrangeiro
  • O Abraço da Serpente (Colômbia)
  • Cinco Graças (França)
  • O Filho de Saul (Hungria)
  • Guerra (Dinamarca)
  • Theeb (Jordânia)

Melhor Maquiagem e Penteados
  • Mad Max – Estrada da Fúria
  • The 100-Year-Old Who Climbed Out the Window and Disappeared
  • O Regresso

Melhor Canção Original

Melhor Trilha Sonora
  • Carol
  • Os Oito Odiados
  • Ponte dos Espiões
  • Sicario – Terra de Ninguém
  • Star Wars – O Despertar da Força

Melhor Design de Produção
  • Garota Dinamarquesa
  • Mad Max – Estrada da Fúria
  • Perdido em Marte
  • Ponte dos Espiões
  • O Regresso

Melhor Animação em Curta-Metragem

Melhor Curta-Metragem
  • Ave Maria
  • Day One
  • Everything Will Be Okay
  • Shok
  • Stutterer

Melhor Som
  • Mad Max – Estrada da Fúria
  • Perdido em Marte
  • O Regresso
  • Sicario – Terra de Ninguém
  • Star Wars – O Despertar da Força

Melhor Mixagem de Som
  • Mad Max – Estrada da Fúria
  • Perdido em Marte
  • Ponte dos Espiões
  • O Regresso
  • Star Wars – O Despertar da Força

Melhores Efeitos Visuais
  • Ex Machina
  • Mad Max – Estrada da Fúria
  • Perdido em Marte
  • O Regresso
  • Star Wars – O Despertar da Força

Melhor Roteiro Adaptado
  • Brooklyn
  • Carol
  • A Grande Aposta
  • Perdido em Marte
  • O Quarto de Jack

Melhor Roteiro Original
  • Divertida Mente
  • Ex Machina
  • Ponte dos Espiões
  • Spotlight – Segredos Revelados
  • Straight Outta Compton

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Crítica: Creed - Nascido Para Lutar

Continuação e reboot, filme desafia a concepção de passado como homenagem ou fantasma.

Por Pedro Strazza.

Pode parecer dispensável, mas é importante tratar de contexto quando se fala do primeiro Rocky. Lançado em 1976, poucos anos depois do caso Watergate e da consequente renúncia do presidente Nixon, o filme vencedor do Oscar de Melhor Filme aproveitava (como tantos outros na época) do clima de desconfiança instaurado na sociedade após tal episódio para situar uma história de reconexões, protagonizada por um pugilista solitário e de ascendência europeia cuja missão era a de reunir as pessoas em torno de algo guiado puramente pelo emocional, o esporte. A cena final do longa, que traz Rocky e Adrian procurando um ao outro em meio ao caos do fim da luta, praticamente legitima esse processo da forma mais romântica possível, com um beijo que apesar de piegas se faz como solução ideal para essa crise.

Como na estrutura, o que Creed - Nascido Para Lutar aproveita desse raciocínio do original é a carcaça, mas no bom sentido. Conscientes do desafio que estabelecem a si mesmos, o diretor Ryan Coogler e seu parceiro no roteiro Aaron Covington aproveitam a noção de fundo histórico do original para mais uma vez costurarem os ânimos derrotados dos EUA em cima de um pugilista, só que tomando o cuidado de não transformar essa inclinação de respeito em reverencialismo descarado. Ao invés disso, o que se vê no longa é um esforço de estabelecer novos conceitos em cima de narrativas antigas.

É algo bastante natural, se considerarmos que o protagonista da vez é filho do antagonista do original. Além dessa troca de papéis - que também ocorre com o herói de antepassados europeus, agora um nêmesis estrangeiro - o filme também inverte a ascensão de riqueza de seu personagem principal. Para se tornar um grande lutador como seu falecido pai, Adonis Creed (Michael B. Jordan) deve abandonar o conforto da mansão da família em Hollywood para treinar com o aposentado Rocky Balboa (Sylvester Stallone) nas ruas frias de uma Filadélfia em recuperação dos efeitos da crise econômica.

Dessa forma, Coogler e a diretora de fotografia Maryse Alberti tem a oportunidade de mais uma vez filmar esses ambientes da mesma maneira deteriorada, com o diferencial desses espaços sugerirem um passado menos glorioso, em seus pôsteres acumulados e paredes descascadas. As locações também surgem como boa opção para a obra se estabelecer como um filme de empreendedorismo: ainda que faça o caminho idêntico de reunião com a sociedade que o cerca, Adonis também representa de certa maneira o futuro dos EUA, que com um legado tão pesado a carregar deve batalhar para honrá-lo e trazer novas glórias a este.

Porque no fundo Creed ainda é um filme de legado, seja como reboot disfarçado de continuação ou na relação que seu protagonista nutre com o pai ao qual nunca chegou a conhecer, mas ele continua a optar pelo novo sempre que possível, mesmo que para isso tenha de usar de elementos do passado. Se a trilha sonora de Ludwig Goransson aproveita de elementos das músicas de Bill Conti e as combina com elementos modernos (as batidas estridentes, sua rima aqui), Alberti investe nos longos planos para aumentar a euforia em cima de um Adonis emasculado nos momentos propícios, e Coogler se comprova como mestre na hora de juntar os dois e entregar a catarse pedida nas lutas.

Mas o elemento mais preso ao passado e que contribui para dar ao filme esse ar de nostalgia, claro, é o Rocky de Stallone. Sua função, porém, não é idêntica à vista em Rocky Balboa, no qual o antigo era visto com tristeza; mesmo que continue a ser figura trágica do sexto capítulo da franquia (ele é o único que não se foi), o personagem assume tanto o papel de mentor ao protagonista como serve de contraste - cômico ou dramático, graças a Stallone - com Creed, em uma maneira simples de botar em perspectiva as dificuldades de Adonis com as suas em 1976. É como se Coogler quisesse destacar na narrativa essa noção de que os EUA sempre se recuperam e dão a volta por cima dos piores momentos, sejam estes políticos ou econômicos.

É talvez nessa questão de comparação do antigo com o atual que Creed acabe por funcionar tão bem, e não apenas nas relações de pai e filho criadas na narrativa. Ao optar por refazer o arco de superação com pegada no legado, Coogler consegue tornar sua história mais legível para os fãs mais velhos e os que estão chegando agora, tirando o longa da mesmice ideológica de que o passado vem para nos assombrar. O fantasma de Apollo e Adrian, afinal, nunca aparecem para dificultar o caminho de Adonis ou de Rocky; eles são os motores ideais para que estes continuem a viver.

Nota: 8/10

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Crítica: Spotlight - Segredos Revelados

Relato  de processo jornalístico desconstrói os alicerces sociais à distância.

Por Pedro Strazza.

Dos vários choques de realidade proporcionados por Spotlight - Segredos Revelados, surpreende que o maior deles seja justamente aquele que se faz mais discreto na narrativa, o do real status quo do jornalismo. Apesar da história se passar entre os anos de 2001 e 2003 (há mais de dez anos!), a fotografia de Masanobu Takayanagi tem uma predisposição a filmar o vazio material das redações e o número pequeno de pessoas presentes nesses ambientes, enchendo-os ora ou outra de documentos e arquivos. É como se a tão alardeada crise do jornalismo dos dias de hoje fosse um fato atemporal, algo que mova a produção no meio da mesma forma que um burro é sempre chicoteado pelo dono para mover a carroça.

Esse fato ajuda a explicar alguma das escolhas feitas pelos roteiristas Tom McCarthy e Josh Singer para recontar nas telas a investigação realizada pela equipe Spotlight do jornal The Boston Globe sobre os abusos sexuais cometidos por uma rede de membros da Igreja. Pois mesmo que de início o filme se estabeleça como uma crítica dura à tal instituição religiosa, ele logo expande esse raciocínio para um panorama mais geral da coisa.

A lógica do longa dirigido por McCarthy é a mesma de uma fileira de dominós: se um cai, todos caem juntos. Da mesma forma que empresas e pontos turísticos derrubados (o outdoor da AOL, o pequeno televisor na redação reportando o 11 de setembro) o longa denuncia o declínio das instituições que formam a sociedade contemporânea, deterioradas pelo tempo e a cobiça do ser humano. Oriundo disso, é visível nos lugares e nas pessoas um ar de desilusão constante com o convívio social intenso, seja nos diversos planos que apresentam os personagens sozinhos ou mesmo nas multidões solitárias que discretamente ocupam os espaços públicos. A Igreja, claro, é ainda o maior antagonista da história, mas não passa despercebido o desencanto com profissões como o Direito e o Jornalismo - esta última bastante evidente na relação entre o chefe da Spotlight vivido por Michael Keaton e o antigo editor do jornal, interpretado por Jamey Sheridan.

Mas se Spotlight parece disposto a desfazer gigantescas organizações, ele tem dificuldades em posteriormente construir algo que as substitua, e em parte isso é culpa do próprio roteiro e do pouco que ele faz para estabelecer uma relação entre indivíduo e sistema. Esse elemento, vital em produções dispostas a analisar esta temática, sai atrapalhada no filme pela insistência de McCarthy em filmar a história com distância, em planos que valorizam mais o ambiente que a pessoa e esfriam o envolvimento do espectador com os protagonistas.

A bem da verdade, interessa ao diretor a informação e não o ser humano: os closes do longa sempre se dão no ato da revelação, do relato de inocentes ou de pessoas envolvidas na rede, e nunca chegam a se interessar pelo impacto desta no indivíduo e na sociedade ao qual integra. De vez em quando, o filme até ensaia dar maior atenção aos efeitos da matéria em seus protagonistas jornalistas, como na reação do personagem de Brian d'Arcy James ao descobrir a proximidade de um centro de recuperação do clero de sua casa (uma das poucas sequências que se percebe um manejo humano da câmera) ou na de Rachel McAdams vendo sua avó mega-católica ler sobre o caso; mas à exceção das cenas com o personagem de Mark Ruffalo - o qual encontra um ápice maravilhoso em um momento em que ele pede um táxi e sai desesperado atrás deste, rompendo com a sistemática natural das coisas - é notável que Spotlight parece confortável em se comportar como filme puro de processo, a ponto de não se interessar em revelar o destino dos envolvidos na fabricação da matéria.

A cena que retrata o impacto da notícia do resultado de um julgamento explicita muito bem essa lógica fria da produção. Nela, McCarthy inicialmente estabelece todos os personagens envolvidos olhando para extremos do quadro, cujo centro é Keaton à mesa. Quando este último recebe a ligação que o informa da decisão sobre o caso, a câmera começa a dar um zoom lento e todos olham para seu cubículo interessados no fato, e quando o recebem, não demonstram qualquer reação a ele. É como se eles já fossem parte do sistema mesmo que o combatam com vigor, incapazes de esboçar um mínimo de humanidade que o tornem reais.

E para um filme que vê os poucos momentos de contato com um misto de estranheza e preciosidade, isso pode ser alarmante.

Nota: 6/10

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Crítica: Os Heróis de Sanjay

Sentimento é a estrela guia de curta que ensina tolerância.

Por Pedro Strazza.

Existem vários benefícios na decisão de tornar um arco íntimo de uma pessoa na essência de um filme, e muito provém do inevitável ato de aproximação que se gera entre público e autor. Trazer para a tela a relação de alguém com uma pessoa pela qual ela nutre carinho traz compaixão à obra, e quanto mais bem trabalhada melhor a obra se torna.

É o caso de Os Heróis de Sanjay, curta que antecede as exibições de O Bom Dinossauro e que conta uma história de fatos mais ou menos reais, como bem brinca nos créditos iniciais. A artimanha do estreante na direção Sanjay Patel é simples: das lições religiosas que seu pai insistia em passar pra ele quando pequeno, ele brinca com seu imaginário da época para fazer uma aventura que envolva tanto os super-heróis de sua infância quanto a religião de sua família.

O resultado é bonito, e funciona melhor que o esperado. Feito em cores vibrantes para dar o contraponto à dura realidade, mostrada no curta pelo número mínimo de móveis na sala de estar (uma decisão inesperada, vide que tais filmes são exibidos em dupla com os longas da Disney para já tirar o espectador da realidade), as cenas dentro da cabeça do garoto protagonista não só divertem pela criatividade do negócio - os deuses assumirem de vez o papel de super-herói é uma ideia simples mas bem executada - como também promovem diversidade e tolerância religiosa sem chamar muita atenção, desprovido de qualquer julgamento maior e descabido a uma produção do tipo. A combinação desses dois elementos sai satisfatória, em um equilíbrio difícil de se alcançar.

Mas o que dá liga a isso, a bem da verdade, é o próprio sentimentalismo inerente ao roteiro. O valor que Patel dá à sua relação com o pai, no filme figuras tão opostas para depois se unirem no meio do caminho, é capaz de trazer o espectador pra dentro da história de Os Heróis de Sanjay com velocidade, algo essencial para a estrutura pequena e breve do curta.

Nota: 8/10

Crítica: O Bom Dinossauro

Faroeste e animação não escondem reais problemas do filme em 16° projeto da Pixar.

Por Pedro Strazza.

Embora seja uma animação que se disponha a contar uma história em um mundo onde dinossauros e seres humanos coexistam - graças à ausência do meteoro que destruiu os primeiros - é curioso que O Bom Dinossauro se estabeleça em seus primeiros momentos como um filme sobre as fundações dos Estados Unidos. As primeiras cenas do 16° longa-metragem da Pixar, afinal, são exatamente sobre esse tema, mostrando o pai do protagonista Arlo formando com paciência sua fazenda e família.

É esse estranho espírito nacionalista, alinhado com a inesperada adequação aos trejeitos do faroeste, que torna o filme do diretor Peter Sohn em uma espécie de experiência já vivida pelo espectador, que ao mesmo tempo é procurada e rechaçada pela produção para contar a história do jovem apatossauro Arlo e sua inexplicável parceria com uma selvagem criança humana, Spot. Único a não conseguir provar seu valor para a família, o dinossauro acaba longe dela após uma estranha cadeia de eventos, e tendo como única companhia o pequeno selvagem ele parte então em uma longa jornada de volta para casa.

Daí em diante, o roteiro de Meg LeFauve segue sem maiores surpresas as diretrizes da Pixar, que tem no arco de amadurecimento o elemento universal para se conectar com adultos e crianças. A diferença aqui é que, se nos outros filmes do estúdio essa universalidade era seguida à risca, em O Bom Dinossauro ela parece se chocar constantemente com tom moralista ao qual ele se associa: pelo menos aos olhos de Sohn, LeFauve e o resto da equipe, a jornada de Arlo e Spot é nada mais que a de dois indivíduos em busca de suas respectivas unidades familiares, únicas capazes de prover a eles dos meios necessários para sobreviver. Para os menores isso talvez funcione, mas no plano geral esse discurso não poderia estar mais ultrapassado.

O que não está datado, porém, é o faroeste, e é ele que oferece ao longa os seus melhores momentos. Na trilha sonora característica de Jeff e Mychael Danna ou no design de todas as cenas envolvendo o trio de tiranossauros e sua procura pelo rebanho, os toques do gênero conseguem dar o estofo necessário ao arco principal quando tem a chance de realizar isso por justamente trazer um caráter atemporal à produção. Mesmo a crítica religiosa empreendida na figura dos pterodáctilos, a princípio tão fora das estrutura estabelecida, parece se tornar mais orgânica conforme esse processo se dá na narrativa.

O outro ponto que trabalha à favor da história e a salva do genérico é a própria animação, que encanta em seus aspectos mais detalhistas. Os efeitos de luz, sombra e água são quase realistas em sua proposta, dando vida aos ambientes e personagens (esses bastante estilizados). O truque, entretanto, é que eles nunca chamam a atenção para si além dos planos gerais, momento onde são chamados para tomar a frente do palco.

E é talvez aí que esteja o grande problema de O Bom Dinossauro. Se em outros filmes a Pixar chamava a atenção por criar histórias que brilhavam nos pequenos detalhes, falta à estreia em longas de Sohn uma trama sólida, e ele aposta somente no fator do "algo a mais" para substituí-la. Mas não importe o número de adereços que se ponha na superfície, esse vazio é sentido em toda a cavidade oca.

Nota: 6/10