Han Solo - Uma História Star Wars

Leia a nossa crítica do mais novo derivado da saga!

Deadpool 2

Continuação tenta manter a subversão do original enquanto se rende às convenções hollywoodianas

Desejo de Matar

Eli Roth aterroriza ação do remake e não deixa os temas caírem na ingenuidade

Nos Cinemas #1

Nossos comentários sobre O Dia Depois, Submersão e Com Amor, Simon

Jogador N° 1

Spielberg faz seu comentário sobre o próprio legado em Hollywood sem esquecer do espetáculo no processo

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Crítica: Magic Mike XXL

Continuação abandona moralismo para tirar do fim de ciclo uma ode à felicidade.

Por Pedro Strazza.

É um exercício interessante comparar Magic Mike com sua sequência, Magic Mike XXL, sob o ponto de vista estrutural, pois apesar de tratarem de um mesmo tema - o fim de um ciclo - seus direcionamentos são radicalmente distintos. Dirigido por Steven Soderbergh, o original se vale da história de seus strippers masculinos para situar um arco comum de transição para a fase adulta nos tempos da crise econômica, e prega o prazer juvenil e todos os seus desenrolares como superficial e perigoso. Não à toa, seus dois protagonistas (interpretados por Alex Pettyfer e Channing Tatum) vivem o começo e o fim dessa fase considerada irresponsável, o primeiro entregando sua juventude à vida sem objetivos e o segundo se comprometendo com uma namorada e um trabalho "mais" respeitável.
Já a continuação comandada por Gregory Jacobs, parceiro de longa data de Soderbergh como diretor de segunda unidade, faz o caminho contrário sem medo de chocar sua mentalidade com o original, e isso se nota quando ele elimina (com algum humor) as potenciais figuras moralistas do primeiro e situa o restante dos personagens em uma narrativa típica de filme de road trip. Disfarçado sem muito esforço de conto de último trabalho, Magic Mike XXL é uma celebração do prazer universal e verdadeiro a partir dos heróis mais inusitados da sociedade contemporânea.
"Heróis", no caso, porque a produção equilibra o protagonismo antes total de Mike (Tatum) com o que resta dos Reis de Tampa, encontrando no grupo um campo maior para desenvolver a história de viagem de amigos, típica dos filmes sobre adolescência. Com suas ambições pós-stripping e limitações, o grupo formado por Richie (Joe Manganiello), Tarzan (Kevin Nash), Ken (Matt Bomer), Tito (Adam Rodriguez) e Mike serve como condutor melhor da trama que o último sozinho, e guia o espectador em sua exploração da felicidade através de sua viagem até Myrtle Beach, onde se dará uma convenção de strippers masculinos.
Mas qual será a face desse prazer nos tempos atuais? Essa é a grande questão do longa, que parte de uma realidade dura e problemática devido aos efeitos da crise - aqui mostrada no início sem maior destaque - para terminar no festival de felicidade carnal que é o destino e clímax do terceiro ato. Ao mesmo tempo, é durante esse caminho que o grupo se vê na tarefa de confrontar os seus maiores medos e de desconstruir a si mesmos, partes inevitáveis em sua jornada e eternizadas em metáforas literais, como a em que figurinos antigos (e representantes de profissões "sérias", como o exército ou o bombeiro) são jogados pela janela.
O maior acerto do filme, entretanto, é o de não imbuir seus protagonistas como únicos atrás dessa felicidade maior, vendo essa procura também nos ambientes encontrados ao longo do trajeto. Daí que transparece na obra um interessante viés feminista, que não só humaniza as mulheres em busca do entretenimento masculino oferecido por Mike e seus amigos como submete a figura masculina ao prazer da parceira no ato sexual, tornando o orgasmo da mulher em principal objetivo do homem na relação - as clientes, afinal, são chamadas de rainhas. Ao mesmo tempo, isso oferece ao roteiro de Reid Carolin personagens femininas mais interessantes e capazes de fazer frente aos rapazes, como a divorciada de Andie Macdowell ou a poderosa MC interpretada por Jada Pinkett Smith.
Em seu encerramento explosivo e movido ao delírio pelo corpo, Magic Mike XXL sintetiza muito bem o caráter auto-reflexivo que impõe à trama e seus protagonistas. Um a um, o show de despedida traz na performance dos artistas uma representação clara de seus destinos e de seus perfis, exaltando no processo o sucesso individual na jornada empreendida que será comemorado brevemente ao fim dos trabalhos. E é quando a câmera se movimenta em busca da apresentadora para abrir espaço à próxima atração e tira o artista do enquadramento para definir o fim de sua vida naquele meio é que se ressalta no filme a força do triste canto de cisne.

Nota: 9/10

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Crítica: Pixels

Invasão de ícones oitentistas vem para confirmar o nerd como novo valentão.

Por Pedro Strazza.

Se existe um tema que resume a carreira inteira de Chris Columbus - seja como diretor, roteirista ou mesmo produtor - este com certeza está personalizado na figura do garoto que é alvo de algum tipo de bullying. Quase sempre protagonistas nas produções dirigidas por ele, esse indivíduo ganha em tais histórias a tão esperada chance de redenção, oferecida por meio de uma aventura fantástica pela qual ele terá a oportunidade de deixar a sua incômoda posição de vítima para junto com os amigos salvar o dia e, se possível, conquistar a garota dos sonhos. Em última análise, essa estrutura une filmes como Goonies, os dois primeiros Harry Potter e, agora, Pixels.
No caso da adaptação do curta concebido por Patrick Jean para longa-metragem, entretanto, este arco clássico de crescimento é erroneamente submetido ao valor saudosista, dominante na obra pelo retorno de figuras antigas dos videogames e arcades como grandes vilões em uma invasão alienígena à Terra. Assim, o que era pra ser uma aventura simples e marcada por nostalgias pontuais torna-se uma viagem desesperada e de poucos disfarces ao passado, onde as supostas "únicas" glórias da vida foram alcançadas.
Este sentimento, muitas vezes atribuído ao colégio e à faculdade, é quase um código de ética da Happy Madison de Adam Sandler, que além de protagonizar o filme assina ao lado de Columbus como produtor. Uma combinação que se prova bastante perigosa, como bem expõe a narrativa rígida de Pixels e seus personagens derrotistas ao extremo. Temos ali o jovem adulto que vive em remorso das vitórias não obtidas na juventude (Sandler), o adulto infeliz com o casamento e o trabalho (Kevin James), o nerd estereótipo vindo diretamente dos anos 80 (Josh Gad), a workaholic divorciada e incapaz de seguir em frente emocionalmente sem um homem (Michelle Monaghan, em um papel no mínimo machista) e, por fim, o babaca "atleta" que sobrevive de glórias de um passado distante (Peter Dinklage). Todos unidos em torno da defesa do planeta, a sua tão sonhada segunda chance na vida.
Mas se essa oportunidade em outros longas de Columbus significava uma vitória nunca obtida, aqui ela é o momento de virada, a vez desse grupo castigar os adversários antigos e tomar o controle, como se os nerds de A Vingança dos Nerds não se bastassem apenas em obter sua vingança como também em humilhar. Não à toa, os "valentões" do roteiro escrito por Tim Herlihy e Timothy Dowling são retratados de maneira tão caricatural em figuras de autoridade interpretadas por Sean Bean e Brian Cox, gritando ameaças vazias a tudo e todos.
Esses temas e ideias já foram bastante elaborados em outras comédias protagonizadas por Sandler (Gente Grande e seus adultos para sempre crianças sendo o ápice dessa repetição nada disfarçada), e o que impede Pixels de se juntar a elas de fato é que aqui temos ação ao invés de mais e mais piadas. A aplicação, porém, traz o mesmo grau de decepção, ao passo que as maneiras como o roteiro encaixa os jogos em cidades se torna pouco interessante nas mãos de Columbus. Toda a situação envolvendo um gigante Pac-Man em Nova York, por exemplo, nunca deixa a situação convencional de perseguição de carros para talvez emular a estética e urgência do jogo clássico.
Ideias boas não faltam a Pixels. O material original, publicado em 2010 por Jean e equipe, aplicava com criatividade os conceitos dos jogos mais clássicos em um ambiente real, com um descompromisso divertido e ingênuo. Essa metodologia se perdeu na transposição para as telas, dando espaço a convenções que cheiram à naftalina e discursos bobos sobre como os jovens humilhados de outrora são os novos heróis da humanidade. E o mais triste é perceber que esses garotos parecem ter aprendido nada no processo.

Nota: 4/10

sábado, 25 de julho de 2015

Crítica: A Forca

Terror aproveita ambiente teatral para compor seu monstro.

Por Pedro Strazza.

Como nos outros filmes de filmagens encontradas da Blumhouse Productions, A Forca inicia seu conto de terror com todas as limitações e vantagens típicas do subgênero. Protagonizada por um grupo de adolescentes interpretados por um elenco de principiantes (nesse caso específico, é hilário perceber como o nome dos personagens é o mesmo dos artistas) e com câmeras de qualidade adequada à realidade do cidadão comum dos Estados Unidos, o longa-metragem de estreia da dupla Travis Cluff e Chris Lofing na direção segue o caminho habitual da grande maioria de produções filmadas neste formato, mas com novidades interessantes aqui e ali para o rotineiro banho de sangue juvenil.
Tais fatores, porém, são elaborados de maneira muito despercebida pelos dois diretores, que em seu debute se preocupam muito mais em fazer o arroz-e-feijão do gênero a já introduzir perspectivas novas ao mesmo. Assim, o filme soa rígido em estrutura e preocupado demais em sua própria execução, mas isso não necessariamente o impede de se aproveitar de sua inductilidade para surpreender.
Passado 20 anos depois de uma tragédia se dar durante uma peça chamada The Gallows em um colégio localizado em Beatrice, Nebraska, quando um estudante chamado Charlie acabou morrendo enforcado sem querer durante a encenação, o filme conta a história de quatro adolescentes envolvidos na nova montagem da obra pela mesma instituição, realizada numa forma sinistra e pouco positiva de lembrar o passado. Invadindo o teatro do colégio à noite para tentar impedir que a produção aconteça por motivos puramente (e obviamente) egoístas, o grupo é emprisionado no local pela alma penada do garoto morto, que começa a matar cada um dos jovens como parte de sua vingança a tempos prolongada.
Essa restrições (geográfica e de elenco) impostas pelo roteiro escrito por Cluff e Lofing funciona muito bem para o longa, pois permite a ele que não se delongue muito em questões menores e importantes do subgênero. Com um tempo muito curto à sua disposição (são pouco mais de 80 minutos de duração), A Forca consegue ser dinâmico e bastante eficiente na maneira como apresenta o terreno de sua chacina e suas vítimas, estas últimas claras representações de estereótipos consagrados pelo terror slasher - o mocinho, o atleta, a CDF e a mulher sex-symbol. É na roda de introduções, por sinal, que os dois diretores provam suas capacidades, realizando-a com pequenas e orgânicas ações que sozinhas resumem bem as informações que o público necessita.
Abre-se então um espaço considerável na narrativa, ao qual o filme dedica-se a explorar o espírito maligno da história, e é daí que surge o grande diferencial do longa. Embora feito com clichês, o desenvolvimento das ações de Charlie é bem emaranhado pelos diretores à lógica teatral, e incumbe o assassino de uma missão purificadora distorcida de eliminar os detratores da arte. A vingança vinda do passado, presente em muitas produções do gênero, ganha então uma camada extra, deixando o fundo de cena para assumir com segurança o protagonismo.
O problema de A Forca, porém, é que seus realizadores não possuem a experiência necessária para dar bom destaque a seus pontos fortes ou se desprender o suficiente das regras básicas do subgênero. Talvez por medo de irem além na proposta, os dois realizadores se mantém demais à fórmula e apelam demais a resoluções fáceis para os mistérios de sua trama, e esvaziam o potencial criativo em uma conspiração que já parece ter se tornado marca do found footage. Não o bastante, a dupla ainda encontra dificuldades em trabalhar com duas câmeras, criando transições que quebram o ritmo na maioria das vezes somente para explicar acontecimentos paralelos.
São esses amadorismos que tiram do filme um impacto inicial maior, mas não o suficiente para ocultar por completo seus bons momentos. Por mais que tenham muito a aprender, os dois diretores mostram em A Forca uma promessa interessante em um subgênero cada vez mais esgotado, graças à sua capacidade de tirar de suas restrições uma obra intensa mesmo quando óbvia. Se conseguirem dar maior luz a suas próprias qualidades nos próximos trabalhos, é capaz de Cluff e Lofing terem um futuro bastante interessante pela frente.

Nota: 7/10

domingo, 19 de julho de 2015

Crítica: Homem-Formiga

Herói diminuto se aproveita do caráter marginal para contar história de assalto.

Por Pedro Strazza.

Embora pregue a acessibilidade universal em todos os seus longa-metragens, é estranho que só em seu 12° trabalho a Marvel Studios use como tema principal as relações familiares. Em outros filmes abordado pelas beiradas - No primeiro Thor o conflito entre o protagonista e Odin era muito mais sobre a responsabilidade do primeiro que o relacionamento entre os dois, enquanto Homem de Ferro 2 traz o pai de Tony Stark apenas por este ser a representação mais imediata do passado -, o assunto "pais-e-filhos" ganha centralidade em Homem-Formiga, conduzindo a trama de assalto super-heroica em direção aos seus próprios objetivos.

Relação esta, a bem da verdade, muito mais sobre pais e filhas, já que ambos os personagens principais da ação tem mulheres como cria e centro de suas próprias crises. Enquanto o brilhante cientista Hank Pym (Michael Douglas) sofre pelo distanciamento auto-imposto de sua filha Hope (Evangeline Lilly), Scott Lang (Paul Rudd) sofre do mesmo problema com a pequena Cassie (Abby Ryder Fortson), afastado pela família e autoridades graças à sua atuação criminosa - mesmo que sendo para o bem, como lembra o roteiro de Edgar Wright, Joe Cornish, Rudd e Adam McKay. Quando os dois se unem para sabotar a recriação da partícula inventada por Pym antes que esta seja vendida às pessoas erradas por seu pupilo Darren Cross (Corey Stoll), é óbvio que o roubo servirá de base para eles resolverem seus problemas pessoais.

A trama de reparações, mesmo clichê em muitos momentos, funciona em parte pelo próprio alívio dado pelo diretor Peyton Reed ao seu inevitável peso sem que este seja sublimado de vez. Ao mesmo tempo que a relação de Pym com Hope e a de Lang com o padrasto de Cassie (Bobby Cannavale, ator experiente no papel de autoridade de contestação) trazem todos os embates de reaproximação necessário, o filme apresenta humor na mesma medida, distribuindo-a bem entre seus alívios cômicos (aos quais Michael Peña lidera bastante inspirado) e até na figura de Rudd, encarregado de criar o mesmo humor em cima da seriedade da situação que Chris Pratt faz em Guardiões da Galáxia.

Essa comédia que simultaneamente tira sarro e não desmerece a história, marca cada vez mais constante nas produções da Marvel Studios, é tão eficaz em Homem-Formiga quanto no longa de James Gunn, porém por motivos distintos. Se no épico espacial isso ocorre porque a obra encontra nos gêneros ao qual pertence um campo livre para piadas, aqui ela funciona pela própria percepção do filme em ser marginal ao seu próprio universo. Assim, o que se vê em tela não é a franquia Marvel guiando a trama para se encaixar à sua mitologia, mas sim a trama se valendo de personagens e acontecimentos dela para conceber sua narrativa, sem esquecer de fechar seu mundo a um determinado número de elementos que consiga controlar.

O que o longa acerta em risadas e conexões, entretanto, ele peca na ação e antagonismo, muito em parte pela própria escalação de seu diretor. Bastante experiente com comédias, Reed se prova amador na hora de conduzir as cenas de combate e não aproveita o material em mãos da melhor forma possível, restringindo-se à fórmula da alternação rápida entre personagens e ambiente para brincar com os poderes encolhedores dos seus super-seres. Para piorar, graças ao tempo dado para desenvolver os relacionamentos dos protagonistas, o vilão Cross acaba sem espaço na narrativa para desempenhar qualquer tipo de arco de vilania ou enlouquecimento, e parte do início como figura de perigo para no final se revelar apenas um vendedor.

Considerado por muitos umas das produções mais complicadas da Marvel Studios - culpa em parte do caráter jocoso do herói e seus poderes, em parte do processo conturbado que foi a realização do filme -, Homem-Formiga acaba por sair bem de suas próprias adversidades, mas tropeça em erros menores ao se preocupar demais com as primeiras. Mas apesar destes problemas, o longa no fim entrega uma história pura em intenções e de execução funcional, não tendo medo de se atestar periférico em seu mundo para elaborar com calma os conflitos familiares ao qual se dispõe tanto a analisar.

Nota: 8/10

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Crítica: Cidades de Papel

Nova adaptação de John Green se salva na química entre atores.

Por Pedro Strazza.

A cultura estadunidense possui imenso fascínio pelas temáticas da adolescência, e já há tempos faz questão de não esconder isso na sétima arte. Seja nos terrores slasher ou nas comédias teen, a figura do jovem parece trazer ao espectador médio norte-americano um maior grau de identificação que outras representações, talvez pelo fato do sistema educacional ser por todo o território tão homogêneo em formato, execução e até hierarquia nos alunos e professores. Transportar a aparente complexidade de dramas que passa pela cabeça do indivíduo nesse estágio da vida e traduzi-la para o público em forma de histórias não é tarefa fácil, porém; entender o adolescente e seus problemas é complicado, e a abordagem daqueles que se arriscam varia muito entre si.
No caso de John Green, por exemplo, a metodologia se faz pela materialização do imaginário. Em suas obras, o escritor gosta de trazer os anseios e desejos da juventude para a realidade, em tramas que por meio da alegoria passam a mensagem de forma direta para o próprio público dessa idade, principalmente na forma do romance. Assim, se em A Culpa é das Estrelas vemos o amor trágico e extremo da adolescência ser levado ao primeiro plano com um casal atormentado pelo câncer, em Cidades de Papel, a segunda adaptação de uma obra do autor, o que está no centro é a conhecida relação platônica.
Este, pelo menos, é o tipo de paixão que Quentin (Nat Wolff) nutre por Margo (Cara Delevingne) desde a infância. Típico garoto de pensamento conformista e invisível para os outros (o famoso nerd, se é para definir em uma palavra), o garoto com o tempo acabou se distanciando da moça, que tem bastante popularidade no colégio onde estudam pelo caráter misterioso e lendário das histórias que protagoniza, repetidas à exaustão pelos colegas nos corredores. Certa noite, porém, Quentin acaba por se reaproximar de Margo ao ajudá-la na execução de uma vingança, e quando ela desaparece no dia seguinte ele entende que deve ir atrás dela.
Dessa maneira, se estabelece no filme escrito por Scott Neustadter e Michael H. Weber uma busca pelo amor perdido em caráter literal, que disfarçado de road movie na metade do segundo ato parte para aquela famosa jornada de auto-descoberta. É apenas quando Quentin e os amigos Ben (Austin Abrams), Radar (Justice Smith), Lacey (Halston Sage) e Angela (Jaz Sinclair) saem da rotina e vão atrás de Margo, afinal, é que em teoria eles conseguem resolver suas próprias pendências e entender o momento pelo qual passam.
O problema é que essa tomada de conhecimento sai no longa bastante atropelada, e não por causa do encurtamento da viagem - bom lembrar, é menos de uma hora para mostrar o trajeto. Enquanto filme sobre a juventude, Cidades de Papel é ironicamente juvenil, pois surge desesperado em abordar vários temas desta idade querendo atingir o maior número possível de pessoas, mas se esquece de trazer uma ordem de mínima coerência na narrativa adotada. Se em alguns momentos sobra tempo para o desenvolvimento de Quentin, por exemplo, em outros ela some por completo para abrir espaço à sua relação com Ben e Radar ou para somente os dois amigos, sendo que os três casos tem objetivos muito distintos entre si.
Não ajuda também o fato do filme querer brincar com estereótipos adolescentes enquanto entrega uma história de fim de ciclo sobre os mesmos, e é aí que aparece o erro maior da produção. O contraste entre superficial e profundo transparece demais e ajuda o espectador a entender muito antes o destino dos personagens e aonde eles se encaixam no discurso jovial de Green, algo mortal para o macguffin que é a compreensão da real figura de Margo - neste ponto, o uso de um corporativo "Lady in Red" logo no meio do primeiro ato é precipitado, pois funciona tanto como realçador de seu caráter imagético quanto alerta não-intencionado da estrutura adotada pelo longa.
O que impede que tudo desabe, entretanto, é a capacidade de Green em conceber personagens simpáticos o suficiente para o público, e como o diretor Jake Schreier e o elenco consegue trazer essa característica para a telona. Independente do nível de atuação individual, não há dúvidas de que há uma ótima química entre os atores e atrizes mirins, e isso pode ser comprovado pela já antológica cena do pokémon, sozinha uma aproximação muito maior com o jovem contemporâneo que o filme inteiro.
No mais, Cidades de Papel vem para atestar a improbabilidade de termos um novo Goonies na atualidade. Não só os jovens tem no celular todas as respostas para suas perguntas, o seu despertar para a liberdade aqui é controlado, com a figura de autoridade - os pais ou mesmo a namorada - sabendo aonde eles vão do início ou já conformados com a rotina escapatória. E nada dói mais que uma mãe tranquila com a filha e seu inevitável retorno.

Nota: 5/10

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Crítica: O Exterminador do Futuro - Gênesis

Quinto filme retorna ao passado em busca de nostalgia, mas se perde no caminho.

Por Pedro Strazza.

Em linhas bem gerais, O Exterminador do Futuro e sua continuação circulam toda a sua história e ação em torno da questão das relações humanas em meio ao medo do futuro do avanço tecnológico. No primeiro filme, Sarah Connor e Kyle Reese buscavam encontrar o amor enquanto fugiam da extinção, representada de forma literal por um robô assassino e auto-consciente; já em O Julgamento Final, uma versão masculinizada de Sarah tentava se reconectar com seu filho ao mesmo tempo em que ambos procuravam evitar o apocalipse nuclear. Depois disso, as duas próximas sequências, A Rebelião das Máquinas e A Salvação, não conseguiram entender o conceito por trás de seus antecessores e deram prosseguimento à trama com o único objetivo de fazer "maior e mais", levando a série a um rápido esgotamento e um inevitável fim.
O mais curioso desse processo é que, enquanto o terceiro e quarto capítulos fracassaram na tentativa de se igualar aos dois primeiros por irem atrás de novos caminhos, o quinto episódio obtém um resultado pior que estes por justamente fazer o caminho inverso. Similar à proposta de Jurassic World, O Exterminador do Futuro - Gênesis volta ao passado da franquia para criar o futuro, atualizando temas e repetindo eventos e situações dos filmes dirigidos por James Cameron em uma colagem impressionante de tão pouco eficaz.
Dessa vez, os grandes inimigos a serem enfrentados pelos Connor não são a bomba ou o automatismo, mas sim a hiperconectividade e a integração homem-máquina, representada pela figura imponente de uma Skynet humanizada, e sua forma de combate é a discussão. Afinal, quando Kyle Reese (Jai Courtney) é mandado pelo líder da resistência John Connor (Jason Clarke) para salvar sua mãe Sarah (Emilia Clarke) e encontra uma situação completamente inversa da esperada - e que inclui uma versão envelhecida do T-800 de Arnold Schwarzenegger, chamada aqui de "Pops" -, resta a ele e à mãe da resistência tentar entender como os dois se encaixam no mundo e todas as suas mudanças, sem ter ninguém além deles mesmo para poder encontrar a solução para tal questão.
Os problemas começam, porém, quando o relacionamento dos protagonistas humanos é desenvolvido de forma confusa e sem raciocínio lógico algum. Na mão dos roteiristas Laeta Kalogridis e Patrick Lussier, o núcleo do filme logo se transforma numa embolada discussão familiar, digna de um episódio dos Casos de Família se este tivesse um orçamento maior e mais propenso a explosões. Discussões sobre paternidade e evolução dos filhos não faltam, atropelando-se umas as outras na disputa pela atenção do público em longas duas horas de projeção.
Mas não basta isso para confundir o espectador. Acima de tudo, Gênesis se faz uma verdadeira salada do tempo, perdida em meio ao caos de linhas cronológicas que tenta explicar com muita dificuldade, tudo para gerar um fio de trama para conduzir seus acontecimentos. E buscar coerência nesse caso prova-se uma péssima decisão, visto que além de insuficientes para responder todos os furos elas ainda evidenciam a falta de importância e nexo da grande maioria dos personagens coadjuvantes. Como esclarecer a função do detetive policial interpretado por J.K. Simmons se este é apenas um alívio cômico forçado? E as súbitas viradas de roteiro, acumuladas aos montes (são dez, pelo menos) com o único intuito de manter o público atento à cadeia de eventos? E o T-1000 (Byung-hun Lee), posto no primeiro ato da história apenas para trazer uma ameaça a esta e nada, absolutamente nada mais?
Para piorar, o longa também sai prejudicado naquilo que é considerado por muitos a marca principal da franquia: a ação. O diretor Alan Taylor, atrás do sucesso dos trabalhos de Cameron, refaz situações dos dois primeiros capítulos com um tom maior de exagero, mas se perde na hora de coordenar o que está acontecendo em cena, abusando das aproximações nos momentos mais explosivos. O resultado disso é a mais pura confusão, com muitos movimentos incompreensíveis de personagens em brigas e atos inteiros arruinados pela artificialidade pulsante - como a perseguição dos helicópteros, que sozinha não explica seu deslocamento ou sua sequencia de ações.
Em meio a todo o desastre, porém, a produção encontra em Schwarzenegger um pilar de sustentação importante. Preso em um personagem-guia dos mais óbvios, o ator de 67 anos consegue trazer humor e imposição ao modelo T-800 que tão bem faz desde o primeiro filme. O mais interessante, entretanto, é pensar que mesmo este sendo o seu quarto personagem na série Arnold ainda é capaz de trazer ao personagem um perfil diferente o suficiente para diferenciá-lo dos outros, com salpicos aqui e ali das outras versões enviadas ao passado. Uma qualidade que a produção não encontra no restante do elenco principal, seja os canastrões Jason Clarke e Jai Courtney ou Emilia Clarke, aqui sem espaço para manobra em uma Sarah Connor reduzida a estereótipos como o da "libertação pelo amor".
Embora respeite o legado da franquia e use desta para criar sua trama, O Exterminador do Futuro - Gênesis acaba por demolir as mesmas em seu esforço quase hercúleo de tentar continuar uma história que claramente já provou estar encerrada. Ao optar pelo valor nostálgico da franquia, o quinto capítulo esquece que este processo criativo também necessita de uma construção própria para se auto-sustentar de forma satisfatória, e seu desabamento é prova cabal desta problemática.

Nota: 3/10

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Não Perda!: Junho/2015

Da vida íntima aos lugares escuros, os grandes filmes de pouco destaque dos últimos trinta dias.

Por Pedro Strazza.

O mês acabou, e está na hora de ver aqueles lançamentos legais que ninguém viu porque "Não deu tempo..." ou "Não quis me arriscar com isso!" ou até "Ah, deve ser perda de tempo"... mas que deveriam ter sido vistos mesmo assim. No Não Perda! de junho de 2015 - também conhecido como "o mês que causou com Jurassic World e fez chorar com Divertida Mente" - temos:

  • Casadentro

Filme que marca a estreia da diretora peruana Joanna Lombardi, Casadentro parte de uma narrativa intimista para falar de um tema universal. Situado na casa de uma senhora de idade, a obra aproveita de um período curto de tempo (menos de dois dias) para a partir da peculiar relação parental apresentada e dos eventos mostrados explicitar o peso da maternidade na vida das mulheres, seja no começo, meio ou fim de sua relação com os filhos. Casadentro é um filme sutil, que delineia suas problemáticas com paciência o suficiente para demarcar a dor causada por estas a seus indivíduos.

Enquanto Lombardi prefere passar sua mensagem pelo meio subjetivo, Paul Feig é daqueles que joga na cara do público seus objetivos. Depois de Missão Madrinha de Casamento e As Bem Armadas, o diretor aquece seus motores para o novo capítulo dos Caça-Fantasmas com este A Espiã que Sabia de Menos, sátira escrachada de todos os valores masculinizantes da espionagem e que é liderado por uma Melissa McCarthy cada dia mais afiada. E em meio a toda uma tiração de sarro pra cima do subgênero e seus clássicos o questionamento da posição feminina surge, pronto para estraçalhar aqueles que figurem a mulher como vítima ou femme fatale descerebrada.

Um ano depois de ver sua obra mais conhecida tomar as telas de cinema, a autora Gillian Flynn tem mais um de seus livros transformado em filme. Com forte elenco encabeçado por Charlize Theron, Lugares Escuros traz uma gama de temas e estruturas similares à de Garota Exemplar, mas também consegue trazer para a mesa novos olhares e ideias para a desconstrução institucional que realiza. Não se irrite com o desfecho fraco, portanto; o que realmente interessa aqui está nas entrelinhas do mistério a ser desvendado.

  • Sangue Azul

Aproveitando-se da diversidade de mitos e lendas da ilha de Fernando de Noronha e da própria mítica do circo, o diretor Lírio Ferreira concebeu em Sangue Azul uma história com pés nas dores do passado. Do retorno de um homem-bala à cidade ilhada que nasceu e viveu seus primeiros anos e dos efeitos que o lar tem na trupe circense que integra, o filme realiza uma bela jornada de reencontro com o verdadeiro eu, potencializada por uma narrativa fluida e nebulosa que ajuda a configurar o clima mágico do local onde a trama se passa.

Não Perda Também!: Março - Abril - Maio