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domingo, 27 de julho de 2014

Crítica: A Era de Ultron

Muito futuro e pouco presente na história de viagem no tempo

Por Pedro Strazza

Apesar de já terem enfrentado e vencido inimigos de poderes quase divinos, os Vingadores (seja qual fosse a formação) sempre temeram a ameaça de Ultron. Mesmo não sendo a criatura mais poderosa do Universo Marvel, a inteligência artificial maléfica criada pelo cientista Hank Pym é capaz de fazer de tudo para aniquilar a espécie humana e se vingar da super-equipe, tornando-o um adversário perigoso e imprevisível. Seu objetivo, afinal, não encontra um obstáculo no grupo fundado por Tony Stark e seus amigos; eles são de fato o alvo dos planos do robô.
Mas se a meta de um indivíduo é a vitória sobre outro, o que acontece a seguir? É sob este aspecto que o roteirista Brian Michael Bendis dá o pontapé inicial para a saga A Era de Ultron: Depois de anos de derrotas consecutivas, o vilão finalmente conseguiu subjugar os maiores heróis da Terra e dominou o planeta, iniciando um apocalipse tecnológico por consequência. Acuados e procurados pela I.A., os integrantes remanescentes dos Vingadores procuram na viagem do tempo uma solução capaz de anular o antagonista de uma vez por todas, mas desencadeiam com isso um processo que pode mudar as leis do universo para todo o sempre (de novo).
Ainda que seja experiente em roteiros de grandes sagas na Marvel (das quais destacam-se as ótimas Dinastia M, O Cerco e a ainda recente Vingadores vs. X-Men), Bendis falha bruscamente em A Era de Ultron por focar seus esforços criativos na maneira como os acontecimentos mostrados aqui afetarão o universo da editora - e não em como contar uma boa história. Assim, à cada edição, a trama minimiza progressivamente Ultron e suas maquinações em prol da viagem no tempo, que, mesmo sendo parte essencial no plano dos mocinhos, não teve seus princípios e conceitos básicos bem utilizados pelo autor e os próprios personagens - Algo que fica evidente na segunda parte da saga, onde Wolverine e a Mulher Invisível resolvem mexer na linha temporal com um jeito semelhante ao de um elefante agitado em uma vidraçaria.
Mesmo que sendo mal utilizada pelo roteirista, a viagem no tempo é ainda responsável pelos poucos melhores momentos de A Era de Ultron por justamente mostrar os efeitos das passagens de Logan e Sue pelo passado - E quando na nona edição bota em discussão este processo, proporciona à sua trama um salto de qualidade visível. As duas realidades alternativas apresentadas na história podem não apresentar aqui os seus motivos para existirem (principalmente na Era de Le Fay, que mostra um universo onde magia e tecnologia se confrontam) ou características suficientemente aprofundadas, mas impressionam o leitor por sua complexidade e suas diferenças com o universo original.
Independente da qualidade narrativa, a saga também traz pontos positivos no uso de seus desenhistas ao longo das edições. Enquanto Bryan Hitch reproduz em seu traço um pouco da opressão tecnológica proporcionada por Ultron no futuro distópico das primeiras cinco edições, Brandon Peterson e Carlos Pacheco carregam visualmente bem a trama nas outras cinco, tornando a mudança de ilustrações suave e sem incômodos. E a última edição, por mais confusa e anti-climática que seja - além de servir como propaganda descarada, claro -, apresenta, graças ao elenco de ilustradores convidados, desenhos claros e esclarecedores (na medida do possível) da situação que se desenrola ali.
Pesando demais as suas consequências para o futuro do universo Marvel em detrimento do roteiro, A Era de Ultron oferece mais promessas do que acontecimentos relevantes em sua premissa confusa e em muitos momentos cansativa, fatores facilmente desapontadores para qualquer leitor de quadrinhos. Ultron, pelo visto, vai ter que esperar mais um tempo para desempenhar sua vingança contra a humanidade.

Nota: 4/10

terça-feira, 22 de julho de 2014

Crítica: Transformers - A Era da Extinção

A Era do Exagero, segundo Michael Bay

Por Pedro Strazza

O processo pelo qual o ser humano aprende a contar histórias é sempre o mesmo. Quando crianças, gostamos de partir logo para o que interessa e criar cenários de brigas épicas ou romances melosos, mas sem pensar muito em como essas situações foram geradas e satisfazendo apenas a si mesmo. À medida que crescemos, no entanto, essa tendência ao imediatismo é substituída pelas noções básicas da narrativa, e aprendemos progressivamente o quão bom é construir um enredo para gerar a catarse coletiva que buscávamos quando pequenos. E no fundo é isso o que a grande maioria das equipes criativas do universo do entretenimento querem: reproduzir no outro (o público) a mesma sensação que obtiveram com aquilo.
Esse desenvolvimento, porém, parou ainda na primeira parte para Michael Bay. Amado por alguns e odiado por muitos (mesmo!), o diretor, como uma criança mimada de cinco anos, sempre coloca a satisfação pessoal antes da dos outros em suas produções, mas tenta apresentar um mínimo de coerência nestas para que o público volte aos cinemas para arcar com suas caríssimas despesas - Um de seus filmes mais baratos, Sem Dor, Sem Ganho, custou 26 milhões, por exemplo.
Esta particular relação diretor-espectador, entretanto, não é a mesma com Transformers. Sucesso de bilheteria e constantemente bombardeada pela crítica, a franquia baseada nos bonecos da Hasbro tornou-se com o tempo para Bay uma espécie de playground milionário onde ele poderia exercer seus desejos cinematográficos superficiais sem qualquer risco de fracasso. E a cada novo capítulo da saga de combates entre robôs esta tendência só cresceu, culminando agora neste A Era da Extinção, que serve como uma espécie de recomeço para a série.
Passado cinco anos depois dos acontecimentos de O Lado Oculto da Lua, o quarto capítulo da franquia toma como ponto de partida a batalha de Chicago do último filme, usada como justificativa pelo departamento de segurança clandestina do governo estadunidense para caçar os alienígenas, sejam eles Autobots ou Decepticons. Procurado pelas autoridades e severamente ferido, o líder Optimus Prime (Peter Cullen) acaba sendo encontrado e acolhido pelo fracassado cientista Cade Yager (Mark Wahlberg) e sua família. A calmaria não dura muito tempo, porém, e logo Optimus, Yager e suas respectivas famílias estão sendo perseguidos pelo governo e por Lockdown (Mark Ryan), um Transformer caçador de recompensas.
O simples início de enredo de Transformers 4, entretanto, logo se envereda por uma série de conspirações - que incluem até inteligências artificiais, um assunto recorrente em Hollywood ultimamente -, que revelam uma trama ainda mais... simples. Ao contrário de seu último trabalho na franquia, Bay e o roteirista Ehren Kruger não procuram (apesar de conseguirem em alguns momentos) complicar demais a história de A Era da Extinção para evitar maiores (e complicadas) explicações. Como crianças, a dupla quer aqui é emendar cenas de ação em cima de mais cenas de ação, fazendo com que suas criaturas digitalmente caiam na porrada enquanto proferem frases de efeito.
Neste ponto é até possível enxergar algum progresso na franquia. Ao contrário dos outros três filmes da franquia - que privilegiavam os protagonistas Optimus e Bumblebee em detrimento de seus companheiros -, houve em A Era da Extinção um maior cuidado na concepção visual dos Autobots secundários. Ainda que apresentem perfis estereotipados, os designs robóticos e a maior presença de tela de Hound (John Goodman), Drift (Ken Watanabe) e Crosshairs (John DiMaggio), além do trabalho de voz de seus respectivos dubladores, possuem diferenças entre si suficientes para que o espectador os diferencie nos sucessivos combates.
A necessidade pungente de Bay em só filmar ação, porém, paga o preço em A Era da Extinção justamente pelo exagero usado na película. Interessado exclusivamente por agradar a si mesmo, o cineasta leva ao extremo aqui todas as suas características e maneirismos, distribuindo-os em 165 minutos de intensidade altíssima e, erroneamente, constante - algo que rapidamente desprende o espectador dos acontecimentos e torna a experiência cinematográfica do filme em algo um tanto chato. E como não trabalha um pouco as situações apresentadas ou sequer cria pausas para respiro, nem mesmo a tardia aparição dos Dinobots (sem dúvida o grande chamariz da produção) consegue mais chamar a atenção do público, exausto de tantas cenas de ação mal filmadas e alívios cômicos irritantes.
Outro erro gravíssimo (são vários, mas alguns se destacam) de Bay é o núcleo humano. Esperto em não trazer novamente os dramas repetitivos do Sam Witwicky de Shia LaBeouf, o diretor nem se dá ao trabalho de apresentar um protagonista humano interessante na figura de Yager, tornando os dramas que envolvem ele, sua filha Tessa (Nicola Peltz) e o "futuro" genro Shane (Jack Reynor) desinteressantes e incômodos - Além de incoerentes, como é possível identificar em vários momentos do longa. E se nem nos protagonistas humanos houve algum cuidado, o que dizer do restante, dominado pelos estereótipos mais preconceituosos possíveis (e que incluem até um Steve Jobs genérico personificado por Stanley Tucci???)?
Previsível em sua trama, genérico em suas lições de moral, cansativo por essência, Transformers - A Era da Extinção é um verdadeiro festival de erros e exageros, orquestrados por um Michael Bay infantil que se orgulha de conseguir a divertir a si mesmo. A grande pergunta que se chega após o fim da sessão, contudo, não é como ele ainda consegue alcançar altas bilheterias com uma franquia de qualidade questionável (pessoalmente, vou apenas pela diversão gerada pelos seus erros), mas sim a que ponto ele terá de chegar para que as pessoas parem de ir no cinema para vê-lo brincar.

Nota: 3/10

terça-feira, 8 de julho de 2014

Crítica: O Grande Hotel Budapeste

Uma grande brincadeira de uma criança extremamente perfeccionista

Por Pedro Strazza

Poucos são os diretores que possuam uma obsessão visual tão forte com seus filmes quanto Wes Anderson. Embora soe extremamente repetitiva na carreira do cineasta, a estética "casa de bonecas" utilizada em suas produções é genérica o suficiente para que possa abordar qualquer tema e contexto de seu interesse com uma visão diferente - Algo que pode ser visto na fuga romântica e juvenil de Moonrise Kingdom ou nos esforços de sobrevivência de O Fantástico Sr. Raposo, seus longas mais recentes.
De vez em quando, porém, o maneirismo visual de Anderson consegue encontrar um encaixe perfeito na trama em que é aplicado, como é o caso deste O Grande Hotel Budapeste. O filme, primordialmente sobre as disputas hereditárias sobre as riquezas de uma rica viúva (Tilda Swinton, irreconhecível), usa da aparência mecânica e parada do diretor para complementar a sua posição de escárnio com a etiqueta e os costumes clássicos (ultrapassados já no começo do século XX, onde se passa a história principal) que o concierge Gustave (Ralph Fiennes) segue para comandar o hotel do título.
O tratamento estético do cineasta, por sinal, encontra nesta produção um de seus ápices: Do formato da tela (usado aqui para denotar o momento temporal em que se passa a trama) às maquetes miniaturizadas, passando até pela composição dos personagens e da atuação do elenco, todas as características habituais do diretor encontram-se realçadas e aperfeiçoadas, denotando um comprometimento surpreendente até para os seus padrões. Anderson está mais do que engajado com sua proposta visual de simplificar a realidade e tornar seu principal cenário (o hotel) em um coadjuvante para sua história.
O mais interessante de O Grande Hotel Budapeste ocorre, porém, a partir do momento em que conta essa história - Mais precisamente, na maneira como a banaliza. Adotando um formato narrativo parecido com uma matrioshka (as bonecas russas que cabem uma dentro da outra), o longa se inicia no presente para já alertar, à medida que volta no tempo, da insignificância dos eventos narrados no passado e de suas motivações supérfluas, reforçando esta tendência de forma sutil (um quadro estranhamente fixado na parede da recepção, por exemplo) conforme a trama avance.
O que sobra então de uma história considerada como fútil pelo próprio roteiro? De fato esta é a grande questão trazida pelo filme (e talvez até de nossa própria existência), e sua resposta surge em sua dupla protagonista. Conforme a trama do longa avança, Gustave e Zero (Tony Revolori) realizam uma jornada por algo que representa não só a salvação para o lugar em que vivem e trabalham, como também pela chance de manter aceso o momento feliz vivido inconscientemente. Não por acaso, portanto, que a solução do mistério principal aos poucos perca a importância no decorrer do roteiro, pois sua relevância é zero para os principais personagens.
Ainda que apresente diversos personagens de única função na história (A Sociedade das Chaves Cruzadas, por exemplo, desaparece tão rápido quanto surge) e distancie o espectador dos protagonistas, O Grande Hotel Budapeste traz interessantes propostas narrativas e um perfeccionismo visual surpreendente por parte de seu diretor. O cuidado de Wes Anderson com suas histórias, mesmo que aqui sejam consideradas pelo próprio como irrelevantes, ainda trazem um fascínio pouco visto na História do cinema.

Nota: 8/10