tag:blogger.com,1999:blog-58731263238395816932024-03-12T17:54:33.742-07:00O Nerd Contra-AtacaPedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.comBlogger982125tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-90295961613926322502019-07-06T09:11:00.002-07:002019-07-06T09:11:59.673-07:00Era uma vez um blog<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh8CjD4mbsR4_dIDRU_YLj_r1vumsCUL7i22BVfQ1sDU0k8KFifk2xRUUQhjAZXg-Z20fCL0jbeuW5HPqMMYHKhb_4jO3fX5Ztjz7ZBK753Cch2KveZLKNBN-2kda4ATpVnswt65hosKY/s1600/lastjediluke.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="576" data-original-width="1364" height="270" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjh8CjD4mbsR4_dIDRU_YLj_r1vumsCUL7i22BVfQ1sDU0k8KFifk2xRUUQhjAZXg-Z20fCL0jbeuW5HPqMMYHKhb_4jO3fX5Ztjz7ZBK753Cch2KveZLKNBN-2kda4ATpVnswt65hosKY/s640/lastjediluke.jpg" width="640" /></a></div>
<h3>
Por Pedro Strazza.</h3>
Eu admito que gostaria que este momento tivesse chegado um pouco mais tarde. Alguns meses mais tarde, pelo menos. Mas não há mais como postergar o inevitável.<br />
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A verdade é que ando cansado. Já faz algum tempo que as palavras não parecem sair com a mesma facilidade de antes. As frases encurtaram.<br />
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Talvez seja o desgaste, uma dessas síndromes de burnout que agora estão tanto na moda no palavreado cotidiano. Ou mais um destes desencantos naturais com o meio. Uma perda de gana, de força de vontade?<br />
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O que precisa ser dito de fato, porém, é que o ciclo de vida deste blog enfim está chegando ao seu fim.<br />
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É difícil se abrir desta forma a você, caro leitor. Quem me acompanha, por aqui ou pelo trabalho, muito provavelmente já percebeu que meu ponto de conforto na escrita mora numa visão mais distanciada; são raras as vezes em que assumo a primeira pessoa em meus textos, especialmente os críticos. E já que estamos nessa posição, acho válido fazer essa digressão e falar sobre o meu método alguns segundos.<br />
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Esse procedimento (ou se preferir, essa metodologia de escrita) não se dá por timidez, mas por opção. É verdade que a abordagem pessoal na crítica é um processo possível e que já rendeu milhões de maravilhas, como colegas já provaram de novo e de novo, mas no meu caso específico eu nunca consegui ver um retorno efetivo no ato de expor meu ponto de vista pessoal dentro do campo da análise. Talvez exista um pezinho de síndrome de impostor em meio a tudo isso (sempre há, por sinal), mas não vejo minha perspectiva em si adicionando muito ao debate que constantemente busco movimentar em minhas críticas.<br />
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Caso você esteja se perguntando, é claro que eu percebo as vantagens e desvantagens em tomar este caminho. Além de não serem poucas as vezes em que classificaram minha escrita como empolada, também sinto que a distância ajuda quem lê a criar uma imagem de mim que é diferente da verdadeira, de um "monstro" que não gosta de nada ao invés de alguém que efetivamente segue a piada do "meu pecado foi amar demais" um pouco à risca demais. Ao mesmo tempo, este método de escrita me permite criar o ambiente de respeito com todos a quem me dirijo: sempre creditei à crítica o esforço absurdo de tentar se direcionar simultaneamente ao espectador e ao realizador com honestidade, sem tentativas de acariciamento de ego ou de conforto de mundo; a análise crítica não é sobre certos e errados, mas sobre questionamentos, pontos de crise e, de vez em quando (e com um pouco de sorte), sobre traduzir a emoção, este conjunto tão complexo de reações.<br />
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Além disso, ao optar pela terceira pessoa eu pelo menos não uso tanto o possessivo "meu" e "minha" como faço agora, de forma tão desapercebida.<br />
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Acho necessário esclarecer de novo que a decisão pelo fim se refere especificamente ao blog, não a minha escrita. Minha carreira continua, e até onde for possível continuarei a desenvolver a carreira de crítico, <a href="https://www.b9.com.br/autor/pstrazza/" target="_blank">seja no B9</a> ou onde quer que a vida me leve.<br />
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Mas e o <b>O Nerd Contra-Ataca</b>? É engraçado, meu desejo com este site sempre foi de chegar à marca dos dez anos de vida, num esforço de provação meio banal, meio glorioso de se assistir. Aqui é o lugar onde tudo começou, afinal: foi neste blog que fiz minhas primeiras incursões pela escrita, foi ele quem me ajudou a definir a opção pela carreira do jornalismo (ao invés da medicina, um sonho que hoje é mais uma piada recorrente que um pesadelo de uma vida passada), foi nele que minha escrita se desenvolveu ao status de hoje, um tanto desengonçada mas decente o suficiente para ser acompanhada por outros.<br />
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(Deus, o exercício de ego desta última oração.)<br />
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Esta jornada, porém, tem mostrado seus sinais de esgotamento nos últimos meses. O leitor mais atento (e sedento, se é que ele existe?) deve ter percebido, mas já faz algum tempo que não retorno a estes cantos com a mesma empolgação de antes: as incursões diminuíram, os textos reduziram-se, as opiniões perderam o vigor afirmativo de outrora - e o engraçado é que apesar de estar chegando há tempos a constatação do fim só me veio ontem a noite, em mais uma destes casos de insônia que rondam meu descanso de vez em quando.<br />
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Eu poderia ter deixado este blog se esvair silenciosamente, é claro; seria a saída mais fácil e talvez respeitosa com todo o trabalho que foi feito aqui. Mas eu não tive coragem de fazer isso.<br />
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Faço uma segunda interrupção porque acho necessário fazer o comentário sobre a entidade "nerd" que habita não apenas o nome como as fundações deste blog desde o início, até porque ele tenha algo a ver com o fim deste site. Este texto pede uma reflexão sobre o assunto, mesmo que uma muito breve.<br />
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A trajetória do nerd ao longo desta última década foi marcada por uma ascensão no cenário da cultura pop, mas ao mesmo tempo passou por uma crise evidente de valores que não passou desapercebida. Se sua figura popularizou-se e alcançou o mainstream como aspiração dominante graças à expansão da cultura de fã ao nível do culto nos circuitos de Hollywood, este deslocamento permitiu a quem antes era satirizado ocupar o centro das atenções e portanto desempenhar papel importante nos meios comerciais. É uma conquista de poder perigosa e que obviamente não foi bem lidada, a ver não apenas no boom de casos de ataques de ódio nas redes sociais dos anos 2010 mas no esvaziamento de relações que a suposta "cultura nerd" tinha com seus itens de grande admiração, um conservadorismo banal trajado de gatekeeping imbecilizado.<br />
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Este parágrafo anterior soa como (e é) uma grande bobagem analítica, mas tem um pouco a ver com a perda de significado deste blog. Não apenas porque o conceito de um "nerd contra-atacando" hoje não faz o menor sentido, mas na questão por trás deste ato: afinal, a quem este site hoje se dirige? Com certeza não à comunidade nerd, até porque este não busca nenhuma discussão além da permanência de "velhos valores" trajados de um sentimento nostálgico esvaziado.<br />
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É exatamente esta falta de direção que me afeta e me afasta não apenas do blog, mas da definição "nerd" nos dias de hoje. E é por estar despido deste manto que chegamos ao momento de agora.<br />
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O que acontece a partir de agora é que o O Nerd Contra-Ataca como conhecemos deixa de existir definitivamente na atual configuração. O meu caminho e o caminho do blog estão se separando de vez em termos de uma rotina de escrita, de um repositório de textos onde as pessoas podem esperar que ora ou outra eu apareça para fazer novas contribuições.<br />
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Ok, minto: ainda será por este lugar que lançarei todo fim de dezembro o Melhores do Ano. Não porque a tradição precise ser respeitada ou coisa do tipo, mas porque me dá um pouco de vergonha abrir um outro sítio só pra fazer isso. Além do mais, eu sei que não vou conseguir parar tão cedo de escrever estes listões; por mais cansativo que seja, admito que me dá um prazer imenso parar no fim de ano para relembrar e refletir sobre tudo o que aconteceu ao longo dos últimos doze meses em termos de sétima arte.<br />
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Mas o resto, bem, o resto vai para outros lugares. Além do trabalho (que é onde já dedico e passo a dedicar todo meu trabalho de crítico de fato), quem ainda tiver interesse em ler minhas opiniões sobre cinema pode fazer como as crianças descoladas e acessar meu perfil no <a href="https://letterboxd.com/pedrosazevedo/" target="_blank">Letterboxd</a>, local onde além dos lançamentos ora ou outra comento sobre os trabalhos de garimpo cinéfilo.<br />
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Admito que tinha pensado em palavras mais bonitas ontem a noite, quando decidi escrever este fim. Algo sobre agradecer todos que de alguma forma se envolveram com este blog ao longo da última década, desde quem contribuiu com textos e ajudou no layout do site até quem parou a vida em algum momentos dos últimos dez anos para ler qualquer publicação; algo sobre o fim dos blogs e como a permanência insistente deste veículo muito depois da queda serviu como homenagem tardia a toda uma comunidade que nunca integrei, mas sempre vi com admiração; e também algo sobre <a href="http://onerdcontrataca.blogspot.com/2009/12/como-comecar-ser-um-cinefilo.html" target="_blank">o primeiro post que escrevi aqui</a>, há uma vida inteira atrás, e como o que começou com um local de respostas juvenis a questões impossíveis termina (como tudo na vã filosofia) sobre o embalo carinhoso da ausência de definições e amadurecido pelo alento da dúvida. Obviamente eu esqueci todos estes pormenores, mas acho que o que eu quero dizer no fim mesmo é:<br />
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Era uma vez um blog.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcmdXjuFDsvFuXZM1culKTYd6eX7cpCmHVwtvl6a9oPNjPPby65j4HBQkgD6x4QOVubZI7K3Pli3kqlaEQ09ZtAlE7Oo9RUKmFuk_aySgdWWOfzlG0zdzyw9Pt87KRe1nnT33vP-l4HsY/s1600/lastjediluke2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="570" data-original-width="1366" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcmdXjuFDsvFuXZM1culKTYd6eX7cpCmHVwtvl6a9oPNjPPby65j4HBQkgD6x4QOVubZI7K3Pli3kqlaEQ09ZtAlE7Oo9RUKmFuk_aySgdWWOfzlG0zdzyw9Pt87KRe1nnT33vP-l4HsY/s640/lastjediluke2.jpg" width="640" /></a></div>
<br />Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-4429659200796542602019-05-19T16:27:00.000-07:002019-05-19T16:27:42.795-07:00Crítica: John Wick 3 - Parabellum<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkQl_p9Ryh6h_D6redDQzJhQxiwkiMAFE38N3Nan-6iOZGSdDpo-eufYRzgbUo9H2XIrG5MQB8DBcQY54d22tqFbl_IUy4Yir99x0-FusqGj0eeqY7Q2iHmsWbnPu6tXD1fAcrda7HE94/s1600/JW3_D15_04929_R.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkQl_p9Ryh6h_D6redDQzJhQxiwkiMAFE38N3Nan-6iOZGSdDpo-eufYRzgbUo9H2XIrG5MQB8DBcQY54d22tqFbl_IUy4Yir99x0-FusqGj0eeqY7Q2iHmsWbnPu6tXD1fAcrda7HE94/s640/JW3_D15_04929_R.jpg" width="640" /></a></div>
<h3>
A grande comédia da luta entre o caos e a ordem. </h3>
<span style="font-size: x-small;">Por Pedro Strazza.</span><br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlOLlGE_8U5mvF4gNkCs8dxipKAH3lxai2WbKacUu3_QhQkEWgv8VZYmZccaMQnO374yQWLaWzWbcYcqXkBtQF2i2R1SMk71ikLxNHIGvlPLywy2vepFoLCSZacIHRu4fBQ11r1ANyN1c/s1600/P%25C3%25B4ster+Personagens+05+-+John+Wick+3.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1095" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlOLlGE_8U5mvF4gNkCs8dxipKAH3lxai2WbKacUu3_QhQkEWgv8VZYmZccaMQnO374yQWLaWzWbcYcqXkBtQF2i2R1SMk71ikLxNHIGvlPLywy2vepFoLCSZacIHRu4fBQ11r1ANyN1c/s400/P%25C3%25B4ster+Personagens+05+-+John+Wick+3.jpg" width="273" /></a></div>
Para um filme que é movido acima de tudo pela frontalidade de seus atos e a movimentação de seus personagens dentro do espaço de ação, chega a ser um pouco surpreendente de início que <b>John Wick 3 - Parabellum</b> recorra com tanta frequência à comédia. Não que este uso seja uma nova tendência dentro de uma franquia nascida com pé na paródia - estamos falando de uma história cuja premissa inicial era a vingança pela morte de um cachorro, é sempre bom lembrar - mas é difícil não reparar na presença mais assertiva do elemento cômico na narrativa, especialmente pela centralidade que ele ocupa nas peças maiores de uma obra ditada acima de tudo pelo combate e o movimento.<br />
<br />
Corpos que são enchidos de facas, cavalos cujo coice é "recarregado", cachorros que miram as partes íntimas dos inimigos para abatê-los, lutas com inimigos que reconhecem e agradecem o protagonista por honrá-los com a oportunidade... não são muitos os momentos climáticos da produção que escapam desta reiteração do humor, seja na gag física ou mesmo pelo recurso da fala.<br />
<br />
Esta inclusão também pega de surpresa o público dado o caráter decisivo que este capítulo da franquia aparentemente promete, não só em relação aos seus antecessores como também ao cenário hollywoodiano no qual se situa. Como qualquer terceiro episódio de trilogia que se preze (mesmo em um mundo onde o conceito "trilogia" em si se mostre cada vez mais ultrapassado pelo mercado), Parabellum sugere ao contrário dos outros John Wick uma sensação de fechamento, de grande clímax final criado a partir do gancho deixado por <a href="http://onerdcontrataca.blogspot.com/2017/02/critica-john-wick-2-um-novo-dia-para.html" target="_blank">Um Novo Dia Para Matar</a> que coloca o protagonista do título contra o mundo do qual habita, mas se em teoria todos os elementos apontam para um desfecho o filme de Chad Stahelski segue na via contrária, prolongando a existência da história quase como um acompanhamento dos esforços de seu protagonista para escapar da cilada na qual se encontra.<br />
<br />
É uma subversão de expectativas que carrega sua cota de frustrações, é claro, até porque o longa (como em todo o resto da estrutura) não esconde o caráter episódico de sua história, que dá voltas e voltas apenas para terminar quase no exato mesmo lugar - seja na relação de desestabilização do sistema ou no drama de luto, o arco de Wick (Keanu Reeves) visivelmente é posto on hold pelo roteirista Derek Kolstad. Em um cenário tradicional, esta seria a típica decisão fatal a qualquer franquia que se preze, muito porque esta interrupção a princípio deslocaria Parabellum enquanto elo de uma corrente narrativa maior e levaria os seus próprios propósitos a um ponto perigoso. Afinal, se uma franquia subexiste na jornada de seus personagens, por que alguém se interessaria numa produção que renega esta função de forma tão clara? O truque de John Wick 3, neste momento, é de definir sua estrutura justamente como uma que ocupa este vácuo com a ação, uma decisão nem tão difícil dado o grau de intensidade sob o qual a produção afilia todas as suas dinâmicas em cima da porradaria generalizada.<br />
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Assim, o filme que começa na promessa de uma conclusão se torna o típico caso de "um contra todos" adequado aos pormenores de uma narrativa de três atos reformados como grandes set pieces. Enquanto ao roteiro cabe fazer as devidas ligações da maneira que pode (o que talvez incorra na repetição escancarada e um pouco porca da escalada atordoante de maleabilização de espaços), resta ao espectador decidir se a troca em si é compensatória, uma questão que explica parte do caráter divisivo deste terceiro episódio.<br />
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Não que Stahelski não aproveite esta mudança, é bom ressaltar. Beneficiado por um claro aumento de orçamento, o diretor aqui aperfeiçoa a dinâmica de ação da franquia ao ponto da perfeição, repetindo com Keanu Reeves e do diretor de fotografia Dan Lautsen todo o grande pastiche do antecessor com maior tendência ao caos, conferindo a cada grande set piece o seu próprio adereço de destaque. Tudo amarrado pelas vias da gag física, o que só reforça a configuração do humor ancorado nos movimentos dos conflitos (e não o contrário) e o estreitamento dos laços da franquia com os longas de Buster Keaton, eleito a partir do segundo filme como sua maior influência.<br />
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É desta forma, então, que Parebellum efetivamente se converte em uma verdadeira comédia de caos, no mesmo viés que Um Novo Dia Para Matar se erigia como grande musical pautado por tiros e socos. O filme destila referências (o teatro apropriadamente chamado Tarkovsky) na mesma intensidade com a qual seus personagens vociferam pérolas de grande sabedoria barata e o diretor reforça suas metáforas visuais (como os atiradores que substituem as bailarinas), e em meio a tudo isso o ambiente é efetivado por Stahelski à posição de ferramenta que transforma os combates e ordena o caos, do corredor munido de armas brancas que só agiliza e restringe os movimentos dos combatentes ao clímax que repete o desfecho no museu de Um Novo Dia Para Matar substituindo os espelhos por vidros na tarefa de modelar o espaço de cena da luta de Wick contra o mercenário de Mark Dacascos e seus subalternos. Há espaço até mesmo para outros personagens ocuparem o protagonismo dos "números", a exemplo da gerente vivida por Halle Berry que transforma um mero mercado de Casablanca num imenso campo de tiro onde sua movimentação junto da câmera é quase idêntica ao gameplay de um jogo de tiro em primeira pessoa. Para uma produção que cita Dante logo nos primeiros minutos, a concepção de "divina comédia" talvez seja levada ao pé da letra demais, confundindo a epopeia dramática com a imagem de um comediante que tem no físico sua maior ferramenta de humor.<br />
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Mas se o balé se deixar ser guiado pela comédia física e uma lógica de caos até onde for preciso, em meio a tantas viradas, traições e mortos Stahelski nunca deixa de estipular suas bases em uma narrativa que se revela no fim guiada pelo desmantelamento da ordem frente à figura destrutiva de Wick. E isso não fica claro apenas em falas como "Arte é dor, a vida é sofrimento" que a chefona russa de Anjelica Huston em determinado momento repete ao protagonista, mas nos próprios atos da trama, no eixo que vai da liberdade de poder ter maior poder de fogo à punição final que é ser restrito fisicamente de certos movimentos, oriundos de práticas como furar as mãos e amputar um dedo. Apesar dos mil e tantos mortos, o mundo de John Wick subexiste de verdade na liberdade dos corpos, mesmo que seja apenas a liberdade de matar quem quiser.<br />
<h3>
Nota: 7/10</h3>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-53566499426277277192019-04-13T07:57:00.000-07:002019-04-13T07:57:26.542-07:00Crítica: Em Trânsito<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga25kN7FTyAyMjahpmTQQz4xFzd84_epyyRMsTjqlPzy0PJsk6-XR-jOftErWrzrMbazi3QBI0mFJAoR-Ze5YbpP2zIN4mPoERrUvlhN-eZFNy0LTv-Xwwph-27PLMcaw1KtsTmgInfEc/s1600/transit2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga25kN7FTyAyMjahpmTQQz4xFzd84_epyyRMsTjqlPzy0PJsk6-XR-jOftErWrzrMbazi3QBI0mFJAoR-Ze5YbpP2zIN4mPoERrUvlhN-eZFNy0LTv-Xwwph-27PLMcaw1KtsTmgInfEc/s640/transit2.jpg" width="640" /></a></div>
<h3>
A Europa enquanto terra dos amaldiçoados.</h3>
<span style="font-size: x-small;">Por Pedro Strazza.</span><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj32yQuOgWbVSfYKLY1f1TvDVHen9u7YdrhWPHR0ZtwD9vxkQMotCL4XeiJIMGuu6L9QUPU_c2YBW1ZhPpqy9QhzMBSkN8m7_N0Ee6luyZxZnSppt6qmlIotwE1sT_zAgiLehi7X2ogah8/s1600/EmTransito_Alta.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1084" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj32yQuOgWbVSfYKLY1f1TvDVHen9u7YdrhWPHR0ZtwD9vxkQMotCL4XeiJIMGuu6L9QUPU_c2YBW1ZhPpqy9QhzMBSkN8m7_N0Ee6luyZxZnSppt6qmlIotwE1sT_zAgiLehi7X2ogah8/s400/EmTransito_Alta.jpg" width="270" /></a></div>
Embora seja em teoria passado nos anos da Segunda Guerra (e, de forma mais específica, os meses seguintes à ocupação alemã na França), a Marselha de <b>Em Trânsito</b> não poderia ser mais contraditória em termos de contextualização histórica. Se o interior dos prédios é "vestido" de acordo com a época, as ruas da cidade denotam o mundo contemporâneo que cerca os personagens, das fachadas dos edifícios a - principalmente - os carros que habitam os fundos de cena, passando pelas forças policiais que se vestem como verdadeiras tropas de choque.<br />
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A sensação de estranhamento é imediata, mas não despida de propósito. Em um mundo onde movimentos de extrema-direita ensaiam (e realizam) um retorno às instituições de poder, interessa ao diretor alemão Christian Petzold deslocar o espectador dos confortos do passado oferecido pelo cinema de época, ainda mais quando este novo projeto trata de uma situação de oprimidos em fuga. Adaptação do livro de mesmo nome da escritora Anna Seghers, o longa acompanha um jovem (Franz Rogowski) que busca sair do país antes que as tropas nazistas fechem as fronteiras, o que o força a assumir a identidade de um escritor morto com o qual dividiu um trem e cujas chances de migração parecem maiores. Preso no porto de Marselha devido a questões burocráticas governamentais, o protagonista começa a entrar em contato com a vida do morto e de outras pessoas em igual situação, incluindo de uma mulher que ele descobre ser a ex-esposa (Paula Beer) do autor.<br />
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Se a premissa alinhada com as disrupções visuais sugere em teoria um drama pautado nas justaposições históricas das duas épocas e que chamem a atenção para os problemas do mundo atual, o filme aos poucos se revela direcionado à via contrária, mas não pelas vias do isolamento do cenário. Como em seu trabalho anterior, Phoenix, Petzold invoca o passado aqui para promover uma espécie de erupção de traumas enterrados fundo na identidade nacional alemã - ou, talvez agora, da própria Europa como um todo - sem exatamente buscar soluções para tal. A diferença é o timing das duas situações: o que em Phoenix se mostrava um amargor consumado e a ser carregado, em Em Trânsito o processo ainda está em movimento, dado que a meta de todos em Marselha é mesmo de escapar da morte.<br />
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É neste ponto que os anacronismos da produção se manifestam como sua narrativa central, reconfigurando todos os arcos do livro de Seghers a uma questão de maldição. Assim, o que nas vias tradicionais se adequaria às estruturas de um épico histórico localizado se torna no filme de Petzold uma coalizão de histórias condenadas a se repetir <i>ad eternum</i>, incapazes de serem resolvidas por conta da própria natureza do sistema - este por sua vez tragicamente confundido com a História do continente europeu. Que a jornada dos protagonistas e dos coadjuvantes more nos meandros da burocracia da imigração só torna esta proposição mais evidente em sua crueldade, além de aos poucos desesperadora dado as consequências mortais do jogo.<br />
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Mas se o labirinto percorrido é insolúvel, o que resta aos corredores? Deste questionamento nasce o objetivo maior de Petzold com a trama, o qual além de reforçar o caráter de espírito de seus personagens presos neste Casablanca dos infernos ainda se encarrega de potencializar a força dos diversos "encontros desencontrados" como única escapatória emocional a um mundo tão perdido. O que para o protagonista é um música da infância cantarolada à partir de um rádio de pilha, por exemplo se torna para uma mãe despida de fala o alento necessário para continuar tentando; o que para um casal nunca mostrado são cães a serem transportados para fora do país e dentro de seus lares é a única razão de sobrevivência de uma mulher sem qualquer chance de escapatória; e enfim aos dois amantes, o que é uma ilusão alimentada por um é a busca de uma vida do outro.<br />
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Neste sentido - um que alimenta acima de tudo o poder do encontro e da identificação entre dilemas - a resposta do protagonista ao questionamento do autor a quem assume a identidade (o tal do "Quem esquece primeiro: quem abandona ou quem é abandonado?") ilustra o que é a grande potência de Em Trânsito e, talvez, do cinema de Petzold: o de dar corpo e alma àqueles que deixaram a vida para trás, condenados para sempre à fuga sem propósito.<br />
<h3>
Nota: 8/10</h3>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-20940057469677669952019-04-11T15:49:00.000-07:002019-04-11T15:51:06.844-07:00Crítica: Suspíria - A Dança do Medo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgS8lZGezMt5SuuXiZgTixxQE1eE0m4LeDmH3nZvkjvXySUI4Kb-gEXogf41MkPti62jUyfnWGXZISu-l3ESS8UBZghG9iOOuLQ16h-uPszZS32NWryoZJxvxACozVl2sSHRD1I-_gWrhM/s1600/unreel-suspiria-film-stills-2-1.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="858" data-original-width="1600" height="342" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgS8lZGezMt5SuuXiZgTixxQE1eE0m4LeDmH3nZvkjvXySUI4Kb-gEXogf41MkPti62jUyfnWGXZISu-l3ESS8UBZghG9iOOuLQ16h-uPszZS32NWryoZJxvxACozVl2sSHRD1I-_gWrhM/s640/unreel-suspiria-film-stills-2-1.png" width="640" /></a></div>
<h3>
Aproximação sensorial de Luca Guadagnino sobre filme de Dario Argento se perde no próprio jogo simbólico.</h3>
<span style="font-size: x-small;">Por Pedro Strazza.</span><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIcqZSaCAB3NWIbg25YrSo8P9ujMetr1yGTg9B2rNBNlTpK-Djqn7HIHph6VXdX5pHgVAZ6AngvI01GV3Rvbc4jDHELG8Q1MwFnnwJseNq4EDhmM-hGP-CgT2v8zmf5TPmsCr5UiBttF4/s1600/suspiriaposter.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1090" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhIcqZSaCAB3NWIbg25YrSo8P9ujMetr1yGTg9B2rNBNlTpK-Djqn7HIHph6VXdX5pHgVAZ6AngvI01GV3Rvbc4jDHELG8Q1MwFnnwJseNq4EDhmM-hGP-CgT2v8zmf5TPmsCr5UiBttF4/s400/suspiriaposter.jpg" width="271" /></a></div>
Desde seu anúncio o remake de Suspiria tem gerado todo tipo de debate sobre o porquê de Luca Guadagnino querer refazer o tão cultuado terror de Dario Argento, mas talvez a melhor forma de entender o filme e (principalmente) suas intenções comece em outro questionamento: o que leva Luca Guadagnino a Suspiria?<br />
<br />
Tal qual a resposta, esta pergunta não é exatamente simples de se fazer, ainda mais se considerar a obra que o cineasta italiano concebe à partir desta premissa. De semelhanças, afinal, <b>Suspíria - A Dança do Medo</b> não pode sequer afirmar que mantém a premissa do original, expandindo e alterando o filme compacto de 1977 a toda uma epopeia sinfônica de seis atos e um epílogo passados na Alemanha dos tempos da Guerra Fria - uma expansão, aliás, cuja própria existência já contradiz por completo os mecanismos do cinema de Argento, um diretor que apesar do caráter operístico ainda não deixa de ser uma cria do giallo e de todas as suas limitações orçamentárias. Preserva-se o básico: uma garota chamada Susie (Dakota Johnson) chega a uma prestigiada escola de dança alemã pouco depois do desaparecimento de outra bailarina, passando a experimentar todo tipo de fenômeno inexplicável enquanto outros ao seu redor são submetidos a mortes escabrosas.<br />
<br />
Posto desta maneira, é inegável que apesar dos rumos estéticos e narrativos distintos as duas obras dividem um mesmo propósito de existência, e é a partir deste ponto que os motivos da atração de Guadagnino pela história começam a ficar um pouco mais claros. Isso porque tanto o Suspiria de 77 quanto o Suspíria de 2018 carregam em seu âmago uma intenção de sobrecarregar os sentidos, um exercício de transbordamento o qual aos olhos de um diretor que em tempos recentes dirigiu filmes tão centrados em narrativas sensoriais como Me Chame Pelo Seu Nome e Um Mergulho no Passado (este também um remake, do thriller francês A Piscina) se mostra dos mais intrigantes de ser feito.<br />
<br />
Assim, o cineasta refaz os caminhos do original a seu próprio jeito, "atualizando" o frenesi de cores de Argento com as ferramentas à mão. Ao invés do excesso sonoro e visual, Guadagnino se aventura pelo campo do simbólico, multiplicando frentes pelas vias da arte (a dança, que toma de forma evidente o campo central da narrativa de horror) e do contexto histórico, da Berlim ocupada, dividida e destroçada pelo caos político de grupos radicais e o mundo pós-Segunda Guerra à representação do feminino enclausurado e oprimido dentro de relações maternas. O diretor não parece querer se restringir em nenhum ponto desta trajetória, o que se por um lado liberta o longa para abraçar o horror à potência que julgar necessário - seja no som dos objetos aterrissando subitamente em outras superfícies, seja no bem vindo clímax explosivo - também contribui para encorpar a narrativa, pesando-a até o limite do possível.<br />
<br />
Esta metodologia sem dúvida é uma das grandes responsáveis por trás do caráter divisivo do remake - até porque há quem queira e há quem não queira se perder em mares simbólicos cada vez mais complexos, e por este ângulo específico o filme é muito bem sucedido em seus propósitos - mas é também a partir dela que o novo Suspíria começa a se perder no próprio jogo. Se o transbordamento de significações sugere que o remake mira algo mais profundo na essência, seu desenrolar não hesita muito de encarregar o espectador de preencher as lacunas de seu mistério, dotando do público a tarefa um tanto ingrata de buscar justificativas e ligações às suas várias vertentes. É uma medida feita para estimular o destrinchamento da obra, é claro, mas na prática só contribui para alimentar um paradoxo, o do filme de múltiplos sentidos que se esvazia de significado.<br />
<br />
Não que esta vontade de traduzir dores da Alemanha da época do muro e da ocupação renda algo tão valioso, porém. No curso de suas longas duas horas e meia, o Suspíria de Guadagnino se prova muito mais sólido quando se aventura pelo horror, o qual se equilibra entre a brutalidade e a leveza para promover todo tipo de estranhamento, mas se nem esta proposta se revela estável o suficiente para conduzir o todo - o que num sacrifício por traição sai bizarro e propositalmente desconfortável soa redundante e, por que não, bobo numa configuração complexa, a exemplo da grande dança preparada pela academia - é sinal de que esta nova versão se mostra muito mais aprisionada nos próprios propósitos do que aparenta ou mesmo gostaria.<br />
<h3>
Nota: 4/10</h3>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-58845642061070243922019-02-24T10:45:00.001-08:002019-02-24T13:49:04.785-08:00Oscar 2019, em um mundo ideal<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhM-RLvqYAvnBt4xXELc7H4nPoASa348VfRnYlrEE2mMJcLC1jk_CjMrJmIanpujjFyEa3CAXjQRWdNeTdJ1EWVRmlDoLP-aFxLT07_vC3oCDS8YW-xG-wqxShp8-leBrhOfXjpLvlrGDc/s1600/476425867-7289.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="989" data-original-width="1484" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhM-RLvqYAvnBt4xXELc7H4nPoASa348VfRnYlrEE2mMJcLC1jk_CjMrJmIanpujjFyEa3CAXjQRWdNeTdJ1EWVRmlDoLP-aFxLT07_vC3oCDS8YW-xG-wqxShp8-leBrhOfXjpLvlrGDc/s640/476425867-7289.jpg" width="640" /></a></div>
<h3>
Os indicados e vencedores pessoais da edição deste ano.</h3>
<span style="font-size: x-small;">Por Pedro Strazza.</span><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
Todo ano criticamos o Oscar e a Academia pela lista de filmes indicados ao grande prêmio do cinema estadunidense, mas poucas vezes temos a chance de vocalizar nossas preferências caso fôssemos votantes da entidade. Seguindo <a href="https://filmesdochico.com.br/o-oscar-dos-meus-sonhos-versao-2019/?fbclid=IwAR1KA3HU8mKmC9TPezjb1mlcY_XnmRc_3OuPoMFnh0HE-gKknrX28JrgLD0" target="_blank">uma ideia proposta pelo Filmes do Chico</a> do querido colega Chico Fireman, este ano decidi me submeter ao experimento de fazer uma lista de indicados de acordo com minhas preferências, escolhendo os longas, cineastas, atores, atrizes e tantos outros membros da indústria que gostaria de honrar. Adotando uma postura egocêntrica, seria um "Oscar do mundo ideal", longe de politicagens e focado em contemplar os melhores do último ano.<br />
<br />
O critério é simples e segue <a href="https://www.oscars.org/sites/oscars/files/91st_reminder_list.pdf" target="_blank">o longo recordatório</a> postado pela Academia em seu site com as produções elegíveis à edição deste ano, um recorte que embora exclua alguns ótimos trabalhos é ideal para ninguém pirar no processo. Além disso, em categorias técnicas como Documentário e Filme Estrangeiro eu procurei a lista completa de obras submetidas à avaliação dos "branches" da entidade, tentando pular na medida do possível quaisquer fases de seleção para assumir (pelo menos até onde for possível) o controle total do processo de escolha. Os únicos filmes considerados por minha pessoa, aliás, são aqueles que eu tive a oportunidade de assistir ao longo do último ano.<br />
<br />
Como era de se esperar de ser, a lista final está longe da verdadeira e criada pelo corpo de votantes do Oscar, ainda que muitas coincidências aconteçam. Entre as semelhanças, a mais interessante é a permanência ou crescimento de Nasce Uma Estrela e Pantera Negra no número de indicações, que junto de Fé Corrompida lideram a "classe" com meras sete nomeações cada um. Embora quase todos os indicados a Melhor Filme este ano permaneçam na lista de um jeito ou de outro (Green Book e A Favorita são os dois únicos que saem fora de todos os páreos), a maioria perde espaço na minha versão pessoal do prêmio, especialmente nas categorias principais.<br />
<br />
Só para registro, segue abaixo a lista com todos os filmes com mais de duas indicações neste "Oscar ideal":<br />
<br />
7 indicações: Fé Corrompida, Nasce Uma Estrela, Pantera Negra<br />
5 indicações: Sem Rastros<br />
4 indicações: A Mula, Infiltrado na Klan, Minding the Gap, O Passageiro, Roma, Se a Rua Beale Falasse, Support the Girls<br />
3 indicações: Em Chamas, Homem-Aranha no Aranhaverso, Zama<br />
<br />
Enfim, segue a lista na íntegra abaixo, com os vencedores de cada categoria colados. Bom Oscar a todos.<br />
<br />
<b>Melhor Filme</b><br />
<br />
Fé Corrompida<br />
Infiltrado na Klan<br />
Minding the Gap<br />
A Mula<br />
Nasce Uma Estrela<br />
O Outro Lado do Vento<br />
O Passageiro<br />
Roma<br />
Sem Rastros<br />
Support the Girls<br />
<br />
Levaria: Fé Corrompida<br />
<br />
<b>Melhor Diretor</b><br />
<br />
Paul Schrader (Fé Corrompida)<br />
Spike Lee (Infiltrado na Klan)<br />
Clint Eastwood (A Mula)<br />
Jaume Collet-Serra (O Passageiro)<br />
Debra Granik (Sem Rastros)<br />
<br />
Levaria: Spike Lee<br />
<br />
<b>Melhor Ator</b><br />
<br />
John Cho (Buscando...)<br />
Ethan Hawke (Fé Corrompida)<br />
Clint Eastwood (A Mula)<br />
Bradley Cooper (Nasce Uma Estrela)<br />
Ben Foster (Sem Rastros)<br />
<br />
Levaria: Clint Eastwood<br />
<br />
<b>Melhor Atriz</b><br />
<br />
Rachel McAdams (A Noite do Jogo)<br />
Elsie Fisher (Oitava Série)<br />
Kathryn Hahn (Mais Uma Chance)<br />
Thomasin McKenzie (Sem Rastros)<br />
Regina Hall (Support the Girls)<br />
<br />
Levaria: Regina Hall<br />
<br />
<b>Melhor Atriz Coadjuvante</b><br />
<br />
Amanda Seyfried (Fé Corrompida)<br />
Dianne Wiest (A Mula)<br />
Sally Hawkins (Paddington 2)<br />
Regina King (Se a Rua Beale Falasse)<br />
Haley Lu Richardson (Support the Girls)<br />
<br />
Levaria: Amanda Seyfried<br />
<br />
<b>Melhor Ator Coadjuvante</b><br />
<br />
Mark Rylance (Jogador N° 1)<br />
Sam Elliott (Nasce Uma Estrela)<br />
Michael B. Jordan (Pantera Negra)<br />
Rafael Casal (Ponto Cego)<br />
Brian Tyree Henry (Se a Rua Beale Falasse)<br />
<br />
Levaria: Michael B. Jordan<br />
<br />
<b>Melhor Roteiro Original</b><br />
<br />
Fé Corrompida<br />
Mais Uma Chance<br />
Minding the Gap<br />
Ponto Cego<br />
Support the Girls<br />
<br />
Levaria: Fé Corrompida<br />
<br />
<b>Melhor Roteiro Adaptado</b><br />
<br />
Em Chamas<br />
Homem-Aranha no Aranhaverso<br />
Infiltrado na Klan<br />
Nasce Uma Estrela<br />
Sem Rastros<br />
<br />
Levaria: Sem Rastros<br />
<br />
<b>Melhor Filme Estrangeiro</b><br />
<br />
Assunto de Família (Japão)<br />
Eu Não Me Importo Se Entrarmos Para a História Como Bárbaros (Romênia)<br />
Em Chamas (Coréia do Sul)<br />
Roma (México)<br />
A Valsa de Waldheim (Áustria)<br />
<br />
Levaria: Eu Não Me Importo Se Entrarmos Para a História Como Bárbaros<br />
<br />
<b>Melhor Documentário</b><br />
<br />
A Valsa de Waldheim<br />
Hale County This Morning, This Evening<br />
John McEnroe: No Império da Perfeição<br />
Minding the Gap<br />
Serei Amado Quando Morrer<br />
<br />
Levaria: A Valsa de Waldheim<br />
<br />
<b>Melhor Animação</b><br />
<br />
Homem-Aranha no Aranhaverso<br />
Incríveis 2<br />
Mirai<br />
<br />
Levaria: Homem-Aranha no Aranhaverso<br />
<br />
<b>Melhor Fotografia</b><br />
<br />
Em Chamas<br />
Fé Corrompida<br />
Guerra Fria<br />
Mid90s<br />
O Passageiro<br />
<br />
Levaria: Em Chamas<br />
<br />
<b>Melhor Montagem</b><br />
<br />
Fé Corrompida<br />
John McEnroe: No Império da Perfeição<br />
Minding the Gap<br />
O Outro Lado do Vento<br />
O Passageiro<br />
<br />
Levaria: O Outro Lado do Vento<br />
<br />
<b>Melhor Trilha Sonora</b><br />
<br />
Aniquilação<br />
Pantera Negra<br />
Infiltrado Na Klan<br />
Mid90s<br />
Se a Rua Beale Falasse<br />
<br />
Levaria: Se a Rua Beale Falasse<br />
<br />
<b>Melhor Canção Original</b><br />
<br />
"All the Stars" (Pantera Negra)<br />
"When a Cowboy Trades His Spurs For Wings" (A Balada de Buster Scruggs)<br />
"Trip a Little Fantastic" (O Retorno de Mary Poppins)<br />
"Maybe It's Time" (Nasce Uma Estrela)<br />
"Shallow" (Nasce Uma Estrela)<br />
<br />
Levaria: Shallow<br />
<br />
<b>Melhor Design de Produção</b><br />
<br />
Maus Momentos no Hotel Royale<br />
Pantera Negra<br />
Roma<br />
Se a Rua Beale Falasse<br />
Zama<br />
<br />
Levaria: Pantera Negra<br />
<br />
<b>Melhor Figurino</b><br />
<br />
A Balada de Buster Scruggs<br />
Pantera Negra<br />
O Retorno de Mary Poppins<br />
Um Pequeno Favor<br />
Zama<br />
<br />
Levaria: Zama<br />
<br />
<b>Melhor Maquiagem e Penteados</b><br />
<br />
Bohemian Rhapsody<br />
Pantera Negra<br />
Vice<br />
<br />
Levaria: Vice<br />
<br />
<b>Melhor Edição de Som</b><br />
<br />
Hereditário<br />
Homem-Aranha no Aranhaverso<br />
Pantera Negra<br />
Roma<br />
Zama<br />
<br />
Levaria: Roma<br />
<br />
<b>Melhor Mixagem de Som</b><br />
<br />
Legítimo Rei<br />
Missão: Impossível - Efeito Fallout<br />
Nasce Uma Estrela<br />
O Primeiro Homem<br />
Você Nunca Esteve Realmente Aqui<br />
<br />
Levaria: Missão: Impossível - Efeito Fallout<br />
<br />
<b>Melhores Efeitos Visuais</b><br />
<br />
Aniquilação<br />
Homem-Formiga e a Vespa<br />
Jogador N° 1<br />
O Primeiro Homem<br />
Vingadores: Guerra Infinita<br />
<br />
Levaria: Jogador N° 1Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-64995039386256572622019-02-23T14:17:00.003-08:002019-02-23T14:17:46.702-08:00Crítica: A Mula<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdM23DuujdxPbndLz-GOoeCmEH2DgxiTy4_AAueUKtPPWA8jXkLqChK6HqNFFqnHWPfwbfknwJsn45yLhXoCSpMq-6_QY7wbP9i6PBhQfWpJathBDb0nB5nU9NlA57GxTNg46uz6LsFrA/s1600/rev-1-MUL-03511r_High_Res_JPEG.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhdM23DuujdxPbndLz-GOoeCmEH2DgxiTy4_AAueUKtPPWA8jXkLqChK6HqNFFqnHWPfwbfknwJsn45yLhXoCSpMq-6_QY7wbP9i6PBhQfWpJathBDb0nB5nU9NlA57GxTNg46uz6LsFrA/s640/rev-1-MUL-03511r_High_Res_JPEG.jpeg" width="640" /></a></div>
<h3>
Despido de pose, Clint Eastwood revisita o arquétipo que definiu sua carreira em filme regado a frontalidades.</h3>
<div>
<span style="font-size: x-small;">Por Pedro Strazza.</span></div>
<div>
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdUng6eEnMVUsESk95r0C4DjyXeFuodj839KCAT8x67KpBNH23rLFCxQT0MUfPPO5esS3bh7DR2NdyK7BFHc3-jU1tYgHdYS__mB4nLrbCUq8DMHzg6HMxWJysn55HqlpZvL__yyzmrU4/s1600/MV5BMTc1OTc5NzA4OF5BMl5BanBnXkFtZTgwOTAzMzE2NjM%2540._V1_.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1080" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdUng6eEnMVUsESk95r0C4DjyXeFuodj839KCAT8x67KpBNH23rLFCxQT0MUfPPO5esS3bh7DR2NdyK7BFHc3-jU1tYgHdYS__mB4nLrbCUq8DMHzg6HMxWJysn55HqlpZvL__yyzmrU4/s400/MV5BMTc1OTc5NzA4OF5BMl5BanBnXkFtZTgwOTAzMzE2NjM%2540._V1_.jpg" width="270" /></a></div>
Em determinada altura de <b>A Mula</b>, pouco depois do primeiro encontro do protagonista Earl Stone (Clint Eastwood) com o agente do DEA Colin Bates (Bradley Cooper) em um restaurante de beira de estrada, o próprio Bates sai do estabelecimento buscando o senhor de idade para lhe devolver uma garrafa térmica que havia esquecido no local. Após o que é uma segunda breve conversa sobre amenidades, a câmera no minuto seguinte ao fim do encontro registra o alívio de Earl de saber que não foi pego pelo policial, mas menos por uma questão de relaxo e mais de temor; o longa enquadra pela primeira vez o nonagenário de maneira encolhida perante a picape gigantesca - agora quase uma criatura, com vida própria e ameaçadora - que se encontra no primeiro plano.<br />
<br />
Por mais trivial que pareça e tardio que esteja dentro da narrativa, este momento é um ponto de virada importante aos rumos do filme por sacramentar uma mudança de perspectiva brutal na visão de seu protagonista, que começa a história fazendo uma opção sem volta pelo trabalho em detrimento da família. Item fundamental na realização do tal do sonho americano, o carro também é naturalmente um elemento dramático central nos caminhos do road movie no qual A Mula se estrutura: os veículos dirigidos por Earl ocupam espaço considerável em seu arco dramático, refletindo parte de suas transformações tanto no campo financeiro quanto no espiritual, o qual desemboca neste cenário onde a picape deixa de ser um membro do personagem para de algum jeito confrontá-lo e assustá-lo.<br />
<br />
A grande questão é: por que um carro intimidaria tanto o protagonista?<br />
<br />
A resposta é tola mas ao mesmo tempo exige uma certa complexidade contextual, uma que ilustra em parte o jogo narrativo curioso que nutre as ambições e frutos do longa que marca um novo retorno de Eastwood da aposentadoria como ator e mais uma vez o submete ao exercício da própria direção. A volta é curiosa dado o cenário da coisa: oficialmente longe da frente das câmeras desde Gran Torino, o filme não só é a primeira ocasião no qual o artista contorna a própria declaração para trabalhar de novo consigo mesmo (o ator já havia voltado atrás antes com o drama esportivo Curvas da Vida) mas também é o seu segundo projeto com o roteirista Nick Schenk, com o qual havia trabalhado justo na produção de 2008 sobre um idoso sendo forçado a reconhecer que seu tempo havia passado. E embora o Gran Torino do título não esteja presente, a premissa da última colaboração de Schenk com o cineasta aparece aqui novamente, agora baseada na história real de um senhor de oitenta anos pego traficando noventa quilos de cocaína.<br />
<br />
O mais curioso de se observar em termos de contexto, porém, é como este novo trabalho de Eastwood se relaciona com seus antecessores no campo temático, mesmo mostrando distância clara em vários aspectos cruciais. Isso porque A Mula no fundo não deixa de servir de continuidade ao processo de desconstrução que o diretor vem exercendo aos próprios valores desde <a href="https://onerdcontrataca.blogspot.com/2015/02/critica-sniper-americano.html" target="_blank">Sniper Americano</a>, levantando contradições cada vez maiores - e desestabilizadoras - dentro do mito de formação dos supostos "heróis americanos" através de histórias reais e ocorridas no século XXI. Se Sniper, <a href="https://onerdcontrataca.blogspot.com/2016/12/critica-sully-o-heroi-do-rio-hudson.html" target="_blank">Sully</a> e o recente 15h17: Trem Para Paris vieram para formar uma espécie de grande trilogia sobre a fragilidade e a maldição de tal arquétipo dentro deste novo século, faz sentido que agora Eastwood decida redirecionar este processo à própria imagem, ainda mais porque ele já abraça há tempos esta figura do "homem sem nome" que é síntese dos valores de um Estados Unidos passado.<br />
<br />
Se esta ideia sugere de início uma auto-homenagem explícita e enaltecedora, o procedimento que guia as quase duas horas da produção revela o contrário. Do alto de seus quase 89 anos, o diretor-ator encarna um personagem claramente frágil, desde o físico "caído" e longe do auge da musculatura até a composição do papel, que denota a mente mais fraca e fadada à falha a qualquer instante, para dar voz a uma atuação que já nos minutos iniciais traça conexões íntimas com a figura de Eastwood; se o flashback para meados dos anos 2000 do prólogo serve para estabelecer a raiz de todos os conflitos morais de Earl no retrato simbólico do abandono de sua família em prol da carreira, ela também resgata uma imagem do passado do diretor, a de cineasta reconhecido e popularizado pela indústria.<br />
<br />
O tempo sem dúvida passou para Earl e Eastwood, porém, e esta constatação circunda todos os movimentos da narrativa como uma maldição nunca verbalizada mas bastante presente na residência prestes a ser retomada pelo governo ou o conflito escancarado com a família - somente a neta (Taissa Farmiga), coitada, ainda nutre algum carinho pelo protagonista, talvez apenas pela imagem de avô que ele carregue de maneira inerente. O diretor, enquanto isso, nunca deixa de manter alimentado esta chama que alimenta o espelho para com seu papel, em movimentos que incluem atos drásticos como os de escalar a filha Alison Eastwood para o papel da filha do floricultor e Cooper (com o qual trabalhou em Sniper Americano e depois passou o comando do remake de Nasce Uma Estrela) na função de seu captor, o agente do DEA que depois nutre uma relação quase parental de aconselhamento.<br />
<br />
Nestes momentos, o que impera na narrativa é acima de tudo o desmonte, em especial da relação que o protagonista nutre com o trabalho a ponto de levá-lo a traficar para a máfia, e é aí que o filme deslancha pra valer em seus propósitos. Todos os meandros da história se revelam aos poucos convertidos para uma questão de status; ela começa no desejo semi-automático de Earl por "mais" (mesmo quando em certo ponto ele já acumulou o suficiente para viver uma boa vida), mas também passa por outros como o chefe da operação (Andy Garcia), o Julio (Ignacio Serricchio) que acompanha o senhor de idade depois dele se tornar uma das principais "mulas" (e é o "segundo em comando" quem melhor representa os perigos desta ambição pela reputação tratadas pela produção, depois de Earl) ou mesmo os agentes federais cuja sede maior na trama é o "valor midiático" de uma grande apreensão. A Mula, enquanto isso, filma todos estes arcos como um grande ciclo fadado à destruição - o momento da morte do mafioso vivido por Garcia, por exemplo, não esconde a intenção na confusão visual dos tiros disparados "simultaneamente", ainda mais quando eles sucedem uma salva de palmas artificial.<br />
<br />
É também esta sensação de frontalidade na representação, aliás, que comanda o longa de forma tão clara quanto seus movimentos. É uma artificialidade aparente que Eastwood carrega de seu Trem Para Paris e que aqui não só reforça a estruturação do projeto mas lhe amplifica sua potência pela banalidade, pois é ela quem despe o cineasta de qualquer postura maior e o mergulha sem hesitação na posição de "alvo". Isto fica claro nas interações com seus membros familiares mais próximos - em especial nos diálogos com a ex-esposa, vivida com muito cuidado por Dianne Wiest no equilíbrio dramático e cômico - mas ganha virulência quando Earl se encontra na estrada e, portanto, em contato com o mundo: suas interações com pessoas como a gangue de motoqueiras lésbicas, o casal negro e o policial de beira de estrada ajudam a acentuar o deslocamento antes não percebido pelo personagem da realidade à sua volta, além de ressaltar os limites e os absurdos de sua própria posição em relação a outros - algo evidente na cena no qual os acompanhantes da "mula" são parados com suspeita pelo oficial, que não repete o mesmo tratamento para o idoso.<br />
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O mais curioso deste processo narrativo, porém, é como A Mula admite o tom cômico em meio a tudo isso. Por mais trágicas e dolorosas que suas resoluções sejam (e o último plano não mente nesta condenação literal), a performance e a direção de Eastwood saem leves até onde é possível, num bom humor que talvez reflita a real aceitação de quem produza uma obra destas em um estágio de vida tão avançado. Se Clint entende que sua imagem já se encontra cristalizada na História a ponto de servir de tema de debate, ele aproveita sua "queda" não apenas para (de algum jeito) acertar as contas deixadas em sua trajetória como refletir se sua jornada no fim valeu a pena - uma noção que só poderia estar presente em sua última conversa com o personagem de Cooper, óbvio.<br />
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Nota: 9/10</h3>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-84523216881078578762019-02-17T08:49:00.000-08:002019-02-17T08:49:05.083-08:00Crítica: Alita - Anjo de Combate<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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Adaptação é apenas Robert Rodriguez com orçamento e um grande estúdio por trás.</h3>
<span style="font-size: x-small;">Por Alexandre Dias.</span><br />
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O cenário pós-apocalíptico devastado pela guerra e a sociedade disforme. Sejam quais forem as pequenas diferenças dos filmes que possuem esse pano de fundo, dos ciborgues aos desertos, é difícil não ter um pouco de preguiça do tema. O desgaste é claro, tanto pela imensa quantidade de projetos assim nos últimos anos – muito disso se deve à invasão juvenil de adaptações literárias -, como pela falta de criatividade nas histórias; os roteiros parecem reciclados de tão similares, recorrendo a pequenas reviravoltas “diferentes” para mudar.<br />
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Não que o assunto em pauta não seja legal, basta ver quantos clássicos e sub-clássicos advindos dessa linha fílmica já foram lançados. É redundante comentar sobre Mad Max, porém O Livro de Eli é uma ótima prova de produção totalmente derivada do gênero e que sabe ser inventiva dentro dele, ainda que com os seus escorregões. Se não um novo expoente que siga esse caminho, talvez uma das únicas opções para uma reinvenção seria a desconstrução, a exemplo de Os Imperdoáveis e Logan, no faroeste e com os super-heróis, respectivamente. <b>Alita: Anjo de Combate</b> não flerta com nenhum desses rumos.<br />
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Depois de ser adiado algumas vezes, o longa dirigido pelo veterano Robert Rodriguez e que tem a mão de James Cameron na produção e no roteiro, traz o contexto mais clichê possível do pós-apocalipse. Humanos cada vez mais com partes mecânicas, uma terra dividida entre ricos no céu e pobres no solo e um passado de guerras. Elysium, Blade Runner e Ghost in the Shell são apenas algumas das reproduções temáticas que podem ser identificadas na obra. E não há problema nisso, sendo o verdadeiro demérito a maneira como esse mundo e os seus integrantes são desenvolvidos.<br />
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Comecemos pelos personagens. O único deles que é realmente digno de nota é a protagonista, encarnada por Rosa Salazar. Na verdade, o papel em si é muito fraco e todos os mistérios que cercam a jovem guerreira são óbvios, contudo a inocência de Alita mesclada a sua perseverança geram um carisma que a atriz segura bem ao longo da produção. Os outros ao seu redor são absolutamente mal construídos. Hugo (Keean Johnson), por exemplo, começa como o clássico interesse amoroso juvenil, mas a importância desenfreada que ele ganha na trama torna-se bizarra, a ponto do espectador se perguntar se aquilo é burrice ou só piegas mesmo.<br />
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A impressão destas consequências é de que o roteiro foi remendado devido à produção atribulada, especialmente na virada do segundo para o terceiro ato. A trama começa a perder sentido, como no momento em que do absoluto nada Alita participa de uma competição logo após uma série de acontecimentos estranhos. Isso sem falar nas atitudes de personagens similares a de Hugo; Chiren (Jennifer Connely) e Zapan (Ed Skrein) são os que mais sofrem com ações esquisitas ou incoerentes nos seus pontos decisivos.<br />
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Entretanto, é engraçado como essa confusão narrativa acaba beneficiando os clichês da história por um lado, mesmo que não chegue nem perto de salvá-la. Com certeza o responsável é Robert Rodriguez, que faz o seu Pequenos Espiões com orçamento. O jogo citado acima é divertido, ainda que surja abruptamente e é algo que pode ser esperado do cineasta. Inclusive, o visual como um todo transmite essa sensação, pois é extremamente digitalizado e difícil de engolir em determinadas horas – leva tempo para se acostumar com o rosto de Alita -, porém o excesso do caricato em cima disso promove uma imersão curiosa no universo, que entre uma cena e outra é bonito de se ver.<br />
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A maioria delas acontece na ação. Rodriguez ativa totalmente a sua caracterização de videogame, o que deixa a habilidade de Alita, por exemplo, um tanto inverossímil, mas agradável. O confronto dela com Grewishka (Jackie Earle Haley) é literalmente a incorporação desse exagero benéfico. Não se pode dizer que estamos diante de um filme empolgante e que a pancadaria enche os olhos, mas há uma escolha oferecida ao público de ter um pequeno deleite naquele estilo.<br />
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Para um projeto clichê e destrambelhado é uma vitória ter esses momentos. É o melhor que Alita tem a disponibilizar, mais nada. Muito menos uma franquia, a qual foi pensada antes mesmo do nascimento deste longa por si só. Há um gancho enorme no final, que só realça a falta de potencial para uma nova marca hollywoodiana. Pelo menos a figura que dá as caras nos últimos minutos é interessante. Um pouco...<br />
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Nota: 3/10</h3>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-36356272058043324012019-02-10T05:20:00.004-08:002019-02-10T05:20:58.601-08:00Crítica: Vice<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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Adam McKay confunde sátira com escárnio em cinebiografia tomada pela ira.</h3>
<span style="font-size: x-small;">Por Pedro Strazza.</span><br />
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A política dos Estados Unidos nunca deixou de pautar as comédias de Adam McKay, mesmo quando seus projetos descambavam para o completo besteirol. Por mais "inocentes" que fossem na superfície de sua escatologia e ridículo, longas como Quase Irmãos, Ricky Bobby e os dois O Âncora carregavam nas entrelinhas críticas ácidas a modelos de conduta dos norte-americanos, num jogo que servia ao diretor para ressaltar a hipocrisia por trás do conservadorismo de uma sociedade disposta a colocar no poder pessoas que pregavam a família e o divino acima de tudo. É um procedimento, vale acrescentar, que o cineasta nunca executou com sutileza, a exemplo de Quase Irmãos cuja abertura é literalmente uma fala do então presidente George W. Bush sobre núcleos familiares.<br />
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Mas depois de passar quase duas décadas dedicando este esforço de sátira por segundas vias, McKay enfim tem em <b>Vice</b> a chance de direcionar seu cinema aos republicanos do governo Bush e, claro, o vice-presidente Dick Cheney, em sua visão responsáveis pela preservação de tal lógica no início do século XXI e por isso mesmo (e pelo menos até a administração Trump) seus maiores vilões. E é uma frontalidade que o diretor abraça sem o maior medo, graças a toda uma "reputação" de autor que conquistou com o sucesso de <a href="http://onerdcontrataca.blogspot.com/2016/01/critica-grande-aposta.html" target="_blank">A Grande Aposta</a>: o filme logo nos primeiros momentos faz questão de retratar Cheney (Christian Bale) em uma posição humilhante, sendo parado pela polícia por dirigir tão bêbado a ponto de ser incapaz de se levantar da cadeira de motorista.<br />
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É exatamente este viés de humilhação, de oferecer poucos espaços para qualquer tipo de humanização que toca a narrativa do longa. Enquanto o roteiro de McKay busca organizar a história de vida de Cheney intercalando o processo político que o levou ao poder com relances do monstro que ele se tornaria enquanto vice-presidente do país, sua direção não hesita em ressaltar o quão patético era a pessoa por trás da figura do monstro. É uma condição a se tornar mais clara nos golpes fáceis a exemplo de todo o retrato da juventude delinquente do político - e cujo clímax óbvio é a cena da bronca da esposa Lynne (Amy Adams) -, mas até em cenários onde Cheney poderia ganhar pontos com o público o filme parece se divertir em ressaltar as hipocrisias do personagem pelo humor: no momento em que a filha Mary (Alison Pill) revela aos pais ser lésbica, por exemplo, a câmera de McKay parece se concentrar na dinâmica entre Dick e a esposa, enfocando a maneira como a última julga o marido por trair ideais ao aceitar a sexualidade da cria.<br />
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O principal objetivo de Vice, porém, é o ato de jogar os holofotes sobre o político e os republicanos que comandou para expor na telona todos os seus atos vis enquanto vice-presidente, especialmente seu assalto ao poder em meio ao caos do 11 de setembro e tendo em vista a posição de banana do então presidente Bush (retratado como verdadeira caricatura nas mãos de Sam Rockwell). Para tanto, McKay não economiza na metáfora e exposição para dispor ao espectador todos os motivos e elementos que levam Cheney a conseguir colocar em prática na política americana a tal da teoria do poder executivo unitário, que o permitiria ter controle total sobre o sistema do país e executar a máquina direcionada a seus interesses - e é esta ira do diretor perante o mal uso das instituições pelo oficial quem no fundo move a produção a todo instante, até porque são estes atos vis retratados que viriam a pautar todos os rumos da próxima década de uma sociedade da qual ele e o público se inserem.<br />
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Esta postura raivosa do filme sobre os fatos relatados em teoria seria suficiente dado o nível das consequências dos atos de Cheney em sua manipulação dos mecanismos políticos do país, mas no fim é também ela quem leva o longa à lona mesmo antes da luta começar. Se McKay tem toda uma irritação para converter na produção, esta por sua vez parece ser acometida por uma condição de momento no qual a cada passo dado se faz necessário criar um tom jocoso próprio para expor a farsa em andamento, uma metodologia que na montagem estilizada de Hank Corwin só contribui para tornar o projeto desencontrado. Não ajuda também, claro, o fato de que ao contrário de A Grande Aposta o diretor aqui assina o roteiro sem tomar qualquer material (um livro, uma pesquisa) como base, um fator que talvez explique o porquê de Vice soar tanto como um exercício reacionário - algo em si contraditório, dado a clara postura liberal de McKay - quanto cafona e bobo nas metáforas e alegorias propostas.<br />
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Assim, o que começa como vingança aos poucos descamba para uma explosão emocional sem direcionamento, um stand-up de ira que não sabe diferir a sátira do escárnio. Vestidos de versões mais fidedignas de celebridades parodiadas pelo SNL, Bale e Adams só tem como dar voz a este jogo perverso pela consciente aceitação do desastre em andamento, equilibrando-se a passos trôpegos entre o humor sádico e o que quer que reste de sobriedade ao projeto para viver cenas patéticas como o solilóquio shakespeareano (é difícil não revirar os olhos ao paralelo com Macbeth) e manter a produção longe da ofensa pura e simples. Não há espaço para personagens ou uma trama no filme, mas sim uma sequência de comentários irônicos mal costurados.<br />
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O que mais entristece em meio a tudo isso, porém, não é apenas a oportunidade perdida de se fazer uma investigação a uma das figuras políticas mais nefastas e importantes do cenário político estadunidense moderno, mas também a aparente ingratidão de McKay com as origens de seu próprio cinema e mesmo seu público. Além do aceno à desatenção do público com a realidade à sua volta feito por A Grande Aposta se converter aqui em moral condenatória - o discurso de Cheney ao espectador, com seu "Eu apenas os servi", é o momento em que Vice efetivamente assume e escancara a chacota para o próprio público -, a cena pós-créditos ainda vem para confirmar esta tendência e ampliá-la ao escopo do "sistema", apontando o dedo a tudo e todos como um velho louco e paranoico que só brada aos quatro ventos que é tudo uma grande piada de mal gosto - algo que não deixa de ser uma grande ironia se considerar o locutor da vez, veja bem.<br />
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Nota: 3/10</h3>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-89042483244386053842019-01-26T05:17:00.000-08:002019-01-26T05:17:08.340-08:00Crítica: Creed II<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGGUiWdLKsykVwsq_FR8rjiCJRHpcI6HPDwaIw_aspuiqZR7QAT8vv9Cuglo5Ovlhsm4xNMKox-FLvWoadvXcpzuzvXDVEm084yxf-6Z3lI_QTSjtArXSyISNYQYnWvxpuurci2B2aGHo/s1600/C2-17815-RC.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGGUiWdLKsykVwsq_FR8rjiCJRHpcI6HPDwaIw_aspuiqZR7QAT8vv9Cuglo5Ovlhsm4xNMKox-FLvWoadvXcpzuzvXDVEm084yxf-6Z3lI_QTSjtArXSyISNYQYnWvxpuurci2B2aGHo/s640/C2-17815-RC.jpg" width="640" /></a></div>
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Adonis mais uma vez relembra o legado de Rocky e constrói o seu próprio.</h3>
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<span style="font-size: x-small;">Por Alexandre Dias.</span></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsGwpfiHzUupejiPt2QX0NJutaFQ-jH57CbA2N8jkTuQcjd_-H76KKzUuwaCTO7uJvoA7hSWFhzOqr0L32swtwZZkAI6ksKOvd-rOWXAqdBYbbBjn81P4bi1vnvlwVKCk-fGG5jfusSSw/s1600/CRD2+-+Arte+Alt_2764x4096.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1080" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsGwpfiHzUupejiPt2QX0NJutaFQ-jH57CbA2N8jkTuQcjd_-H76KKzUuwaCTO7uJvoA7hSWFhzOqr0L32swtwZZkAI6ksKOvd-rOWXAqdBYbbBjn81P4bi1vnvlwVKCk-fGG5jfusSSw/s400/CRD2+-+Arte+Alt_2764x4096.jpg" width="270" /></a></div>
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Da leva de franquias gigantes restauradas nos últimos anos, <a href="https://onerdcontrataca.blogspot.com/2016/01/critica-creed-nascido-para-lutar.html" target="_blank">Creed</a> é a que mais sabe se aproveitar dos elementos clássicos dos seus antecedentes. A nostalgia, os personagens originais e novos e a modernização dos pontos técnicos são fatores que, apesar de bem sucedidos no geral em marcas como <a href="https://onerdcontrataca.blogspot.com/2015/12/critica-star-wars-o-despertar-da-forca.html" target="_blank">Star Wars</a> e <a href="https://onerdcontrataca.blogspot.com/2015/06/critica-jurassic-world-o-mundo-dos.html" target="_blank">Jurassic Park</a>, não foram tão bem esquematizados como nos derivados de Rocky Balboa.</div>
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Em 2015, Ryan Coogler conseguiu imprimir uma identidade urbana e visual muito contundente na primeira jornada do filho de Apollo Creed. A junção com o carisma habitual de Sylvester Stallone na pele do Garanhão Italiano terminou por garantir o retorno desse universo cinematográfico ao mercado, com uma sequência já esperada sendo confirmada pouco tempo depois.</div>
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Não era muito difícil de imaginar a volta de Dolph Lundgreen como Ivan Drago. A questão era fazer um confronto plausível entre o seu pupilo, o próprio filho, contra Adonis (Michael B. Jordan) sem parecer piegas. De fato, é isso que <b>Creed II</b> faz. Uma grande costura. Porém, a ligação entre os eventos premeditados não é fútil e o diretor Steven Caple Jr. promove, por meio do roteiro de Stallone e Juel Taylor, um filme saudosista e que olha para frente.</div>
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O longa é previsível, mas tira proveito disso. Há situações que replicam sem rodeios os acontecimentos passados, principalmente de Rocky 3 e Rocky 4. E o mais impressionante é que o efeito impactante delas ainda está lá, justamente pelo timing preciso de Caple. Ele sabe, por exemplo, em que momento utilizar o tema clássico e um rap motivacional. São pequenos ajustes de tom como esse que “modernizaram” a breguice da franquia, aceitável para a época, ao mesmo tempo em que há a manutenção de sua essência.</div>
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A trajetória de Balboa tornou-se cada vez mais pipoca ao longo de sua vida. Desafios maiores e até habilidades quase que especiais – o treinamento dele na Rússia e o resultado físico em comparação ao primeiro filme já falam por si só – atribuíram uma faceta divertida ao lutador e não eliminaram o grande trunfo dele, que é a superação e força de vontade. Na jornada de Adonis isso permanece. Ele está mais musculoso nesta sequência e enfrenta um adversário mais poderoso, que, inclusive, tem um treinamento cômico e empolgante simultaneamente. </div>
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As próprias lutas merecem ser evidenciadas. Coogler já havia caracterizado as batalhas com maestria, por meio da movimentação de câmera ímpar. Caple consegue replicar a atualização que o diretor de <a href="https://onerdcontrataca.blogspot.com/2018/02/critica-pantera-negra.html" target="_blank">Pantera Negra</a> fez nos combates, contudo dá a sua cara, deixando-as mais cruas. A pancadaria é surreal de certa forma, porque todos apanham muito mais do que poderiam, mas não há a impressão que estamos vendo algo programado e distante. Todas as vezes que os oponentes sobem no ringue há tensão e euforia.</div>
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Os personagens também são muito bem trabalhados e se desenvolvem na medida certa. Michael B. Jordan firma o seu guerreiro impulsivo e em constante amadurecimento, muito por causa de Bianca. O roteiro é sagaz em colocar o alter ego de Tessa Thompson (ótima, por sinal) como parte essencial do crescimento de Adonis, porém com pontos pessoais igualmente importantes e que sustentam o papel – um dos números musicais da atriz é simplesmente espetacular. </div>
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O maior ídolo da Filadélfia é outro que é bem utilizado. Seu desafio principal nesse longa é a relação com o filho, algo bem puxado dos anos 80. O que realmente o coloca em uma posição confortável é a interação com o filho do Doutrinador e Bianca, que o permitem deslanchar frases de efeito e emocionantes. A grande surpresa é a dupla Drago, que ressurge em um contexto bem clichê e segue assim durante toda a produção, até comprovar a sua verdadeira profundidade no terceiro ato. Viktor (Florian Munteanu) mal fala e é um dos melhores personagens do projeto.</div>
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Por que Adonis Creed está lutando? É a pergunta que ele se faz o filme inteiro e que é respondida sem ser respondida. Isso é Creed II. Uma obra que existe para deleitar completamente os fãs de Rocky Balboa, mas que entende esse fato, não se deixando, portanto, a cair em armadilhas batidas. E é por não subestimar o espectador que alcança um patamar significativo na história do Garanhão Italiano e também cria a sua própria.</div>
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Nota: 8/10</h3>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-7415386026635616642019-01-19T12:33:00.000-08:002019-01-19T12:33:06.723-08:00Livrai-nos do mal<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibH9wb6T8sZoXlb0OzfYJoNkVFGekP-ypowM06290iR0kBbG_HCXzH2xdt-g862d0qMxbT49Icic2eRgHzniMQy4tfPKjDlnESIQXPQeBdWoQTY507p5-Hg7LgcTQi4IGfWsYEY6nbS5o/s1600/A+Esposa+10.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1029" data-original-width="1600" height="410" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibH9wb6T8sZoXlb0OzfYJoNkVFGekP-ypowM06290iR0kBbG_HCXzH2xdt-g862d0qMxbT49Icic2eRgHzniMQy4tfPKjDlnESIQXPQeBdWoQTY507p5-Hg7LgcTQi4IGfWsYEY6nbS5o/s640/A+Esposa+10.jpg" width="640" /></a></div>
<h3>
Ou como Colette e A Esposa são em essência o mesmo filme.</h3>
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<span style="font-size: x-small;">Por Pedro Strazza.</span></div>
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<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
Só pode ser uma coincidência irônica do destino que <b>A Esposa</b> e <b>Colette</b> tenham sido produzidos e lançados para a mesma temporada de premiações. Para quem assistiu os dois filmes - o que é uma probabilidade, dado que o primeiro foi lançado nos cinemas praticamente um mês depois do segundo - a sensação de déjà vu é clara mesmo que envolta em uma neblina de sentimentos conflitantes, já que ambas as obras em teoria compartilham apenas uma ou duas características imediatas.<br />
<br />
Dado, é válido notar a princípio que ambas surgem de premissas diferentes em contextos diferentes. Enquanto A Esposa é baseado em um livro de ficção ambientado nos tempos atuais, Colette é uma cinebiografia da escritora francesa homônima que viveu entre o fim do século XIX e o começo do XX. Mesmo em suas formatações as duas obras não se assemelham: o primeiro, dirigido pelo sueco Björn Runge e estrelado pelos veteranos Glenn Close e Jonathan Pryce, conduz sua narrativa aproveitando o máximo das predisposições teatrais de seu elenco; o segundo, de autoria de Wash Westmoreland e encabeçado por Keira Knightley, segue o padrão convencional do gênero com alguns poucos twists para manter a história em rotação diferente de outras tantas biografias da telona, sem tirar o espectador do terreno conhecido no meio do caminho.<br />
<br />
Ao mesmo tempo, porém, os dois filmes não deixam de possuir os pontos de contato superficiais citados acima, especialmente na questão da relação dos casais principais. Isso porque a grande reviravolta de A Esposa é o ponto de partida de Colette: o marido que toma a autoria (e por consequência, a fama) da esposa. No primeiro, isso é um segredo a ser desvendado pelo espectador, conforme vai ficando clara na condução da história que a relação entre os personagens de Close e Pryce são assombradas de alguma forma por erros do passado - que serão devidamente ilustrados em flashbacks nada discretos. Já o segundo usa isso como base para explorar o relacionamento "atípico" de Colette com o primeiro marido Henry Gauthier-Villars (Dominic West), cujo casamento emulou de certa forma os livros picantes escritos por ela e publicados no nome dele.<br />
<br />
Mas se esta coincidência de roteiros de início é, bem, uma mera coincidência, a maneira como tanto Runge quanto Westmoreland lidam com o desenrolar deste fato acaba por converter ambos os projetos a um assustador mesmo ponto de encontro.<br />
<br />
O mais bizarro, porém, é como os dois longas cometem os mesmos erros na hora de lidar com uma relação mais ou menos similar. Tanto A Esposa quanto (e em especial) Colette faltam em maleabilidade e, talvez, maldade na hora de lidar com relacionamentos que aos olhos de hoje são vistos - de forma correta, vale acrescentar - como tóxicos. Tanto Runge quanto Westmoreland adotam posturas conservadoras e de julgamento perante a relação de seus respectivos casais, jogando o marido na posição de grande vilão a ser derrubado e privilegiando o drama da esposa que se vê intimada a se submeter a tamanho vil esquema.<br />
<br />
É uma narrativa correta e que certamente há de agradar o olhar do público de hoje - que, pelo menos espero, já aprendeu a identificar estas dinâmicas e adotar a devida postura crítica a elas. Ao mesmo tempo, esta decisão pelo julgamento contemporâneo do passado não deixa de carregar um olhar anacrônico de relações: aos olhos do público e do cineasta, é fácil olhar para eventos do passado dos personagens e julgá-los como certos ou errados de sua posição no presente, diagnosticando os momentos - seja em flashback, seja no presente narrativo mesmo - que levaram estes relacionamentos a uma posição tão maléfica.<br />
<br />
O mais difícil (e, portanto, mais interessante) nestas horas seria abraçar esta aparente toxicidade declarada pelos olhos de hoje para entender seus mecanismos, algo que nem é tão inédito assim. Só no ano passado, por exemplo, tivemos na mesma época de Oscar o Trama Fantasma de Paul Thomas Anderson que tinha numa toxicidade de relações o seu mote de existência, mas que ao invés de dar o passo para trás e criar uma esfera de julgamento sobre cada um dos personagens fazia este mergulho; havia a constatação de que tanto o marido quanto a esposa tinham suas próprias motivações perturbadoras para viver aquele amor vil, o que só potencializava o drama em torno dos personagens.<br />
<br />
É inevitável, então, que ambos os filmes terminem num mesmo poço, mergulhados em problemas parecidos. Enquanto o esposo há de pagar por seus pecados, de um jeito ou de outro sendo despido do amor de sua vida sem perceber a própria tragédia, a mulher liberta-se na confissão ao público - ou, pelo menos, na promessa de que a verdade há de ser revelada, como é o caso de A Esposa.<br />
<br />
Não deixa de ser um bom espaço às atrizes envolvidas, que cada uma a seu jeito são obrigadas a carregar estas sinas das produções nas costas. No caso de Close, talvez tenha chamado a atenção dos votantes do Oscar o fato da atriz praticamente ter que fabricar o próprio drama no longa, já que toda a dramaturgia que move sua personagem mora na sua versão mais jovem - que claramente não consegue dar voz à tragédia, vide o caráter funcional que os relances do passado assumem na narrativa.<br />
<br />
Em outros tempos (e caso Colette não fosse baseado em fatos, é bom lembrar), seria bem capaz de haver um mote religioso embutido nesta confissão, com direito a "livrai-nos do mal", bíblia e até padre no meio. Uma pena, dada a dedicação dos respectivos elencos protagonistas e dado que o pérfido sempre rende filmes no mínimo curiosos de serem vistos.Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-12922259891804266872019-01-07T09:20:00.002-08:002019-01-07T09:25:43.088-08:00Vecchiali, cinema e divagações<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOYhzhKTU56PZbFiqeGLbQMyiUvhDC-tvaEf1V55Mryb1jkG38LbU2tNGRaaWjuZp5mh517-Af_0uxFbOblwARbzDPpGVo7wZ_DbMLIec-Sw9yLdVRR_ESoQl9wkBjIp2OyZPDLjmNzt0/s1600/Paul-Vecchiali-presente-volontiers-comme-chercheur-realisera-cinquantaine-films-trente-longs-metrages_1_1398_931.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="931" data-original-width="1398" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOYhzhKTU56PZbFiqeGLbQMyiUvhDC-tvaEf1V55Mryb1jkG38LbU2tNGRaaWjuZp5mh517-Af_0uxFbOblwARbzDPpGVo7wZ_DbMLIec-Sw9yLdVRR_ESoQl9wkBjIp2OyZPDLjmNzt0/s640/Paul-Vecchiali-presente-volontiers-comme-chercheur-realisera-cinquantaine-films-trente-longs-metrages_1_1398_931.jpg" width="640" /></a></div>
<h3>
Ou também "acertando as contas com o passado".</h3>
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<span style="font-size: x-small;">Por Pedro Strazza.</span></div>
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<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
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2019 é um ano relativamente importante para O Nerd Contra-Ataca: no próximo dia 14 de dezembro, este blog completa nada menos que dez anos de vida.</div>
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Dez anos.</div>
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É uma data que certamente exige algum tipo de comemoração, embora por aqui o que aconteça no fundo vá passar mais por fins de demarcação. Os trabalhos devem continuar ativos por aqui no atual esquema das coisas - difuso, irregular, porém presente - mas até chegarmos ao fatídico aniversário devo (e quero) fazer maiores experimentações com este blog, algo que talvez tenha começado agora com esta escrita em primeira pessoa tão atípica e improvisada.</div>
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Antes de tratarmos do futuro, entretanto, é preciso acertar contas com o passado - ou, no caso, o meu passado. Faz pouco mais de um ano que, durante a 41° Mostra de Cinema de São Paulo, eu tive a oportunidade de entrevistar o <b>Paul Vecchiali</b>, grande diretor francês que na época estava sendo homenageado pelo evento com uma retrospectiva de sua carreira e o prêmio Leon Cakoff. Admito que para mim foi um momento de grande felicidade profissional, pois na época já era fã de seu cinema e estar frente a frente com um cineasta do qual se admira é sem dúvida daqueles momentos inenarráveis da vida.</div>
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O problema é que, bem, o material nunca foi publicado por erros meus. A matéria deveria ter saído no B9 durante a época do festival, mas como estava em meio às turbulências do fim de ano e do fim de ciclo universitário eu só consegui ter tempo de aprontar a transcrição da entrevista quase uma semana depois do fim da Mostra - e como não havia sinal (ou houve também, dado que ele permanece inédito) de que o filme que Vecchiali lançava no evento ia chegar ao circuito, acabei me vendo obrigado a arquivar a conversa.</div>
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Desde então este material me atormenta, pedindo para sair em algum lugar, em algum momento. Por isso, resolvi aproveitar o novo começo de ciclo do calendário para libertá-lo de minhas correntes de insegurança - até porque o material é bom demais para permanecer escondido.</div>
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Antes de ler a entrevista, querido leitor, acho válido atentar e reforçar algumas questões de contexto: esta entrevista foi feita poucos dias depois (senão no dia seguinte, com o perdão da ausência de memória) de Vecchiali ter feito a estreia global de seu então novo trabalho, Os Sete Desertores, durante a 41° Mostra de São Paulo em 2017 - muito antes de seu Trem das Vidas e a Viagem de Anjélique ter sido lançado na 42° edição do mesmo evento. Como o começo da conversa deixa claro, por conta da correria do festival acabei não conseguindo ver o filme na época (e nem até agora, diga-se de passagem), o que abriu margem para que eu pudesse focar em algumas questões específicas da carreira e do cinema do diretor.</div>
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Vale também avisar que, por conta de uma barreira de língua (Vecchiali só fala francês), toda a discussão foi intermediada com uma ajuda divina de uma tradutora, que fez o melhor para transmitir da forma mais fidedigna possível o raciocínio do entrevistado.</div>
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Posto tudo isso, gostaria de comentar que Vecchiali é uma pessoa extremamente fascinante de se conversar. Do alto de seus então 87 anos, ele mantém um apuro estético sobre sua pessoa que era muito evidente em seu echarpe de seda que usava ao mesmo tempo que preserva uma postura muito simpática com todos - algo que imagino, se deva em parte à maior atenção que recebe dos entusiastas cinéfilos de São Paulo, que na época compareceram em massa à sua retrospectiva.</div>
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O resto, bom, está na entrevista abaixo, que passa por todo tipo de tema e reflete muito da figura do entrevistado - além das aparentes inabilidades do entrevistador, se vale o exercício de auto-julgamento.</div>
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Feliz ano-novo a todos.</div>
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<b>Queria começar dizendo que não consegui ver seu novo filme ['Os Sete Desertores'], infelizmente.</b></div>
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Ele é muito bom [risos], mas a cópia não é boa. É um arquivo comprimido que mandaram, é um som estéreo e não 5.1 e a imagem está mexida. Mas a cópia que chegou é em DCP, então as próximas projeções são boas.</div>
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<br /></div>
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<b>Aproveitando o gancho, o filme está tendo sua première internacional na Mostra. Você decidiu lança-lo aqui por algum motivo especial ou foi por janela de oportunidade?</b></div>
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<br /></div>
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Não, na verdade ocorreu porque o filme tinha acabado de ser finalizado e o Rafael do Audiovisual do Consulado disse que ele tinha que ser colocado na Mostra. Esse filme também está em competição no festival de Gijón, na Espanha. Eles protestaram um pouco, eles queriam ter a estreia internacional lá, mas eles acabaram aceitando e disseram que ia ser uma ‘estreia europeia’. Mas a estreia internacional será aqui [risos]. O primeiro público que verá o meu filme são os brasileiros.</div>
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<b>É uma honra, devo dizer.</b></div>
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<br /></div>
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Para mim também. [risos]</div>
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<br /></div>
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<b>Você já sabia desde a infância que queria trabalhar com cinema, mas você chegou a atuar como crítico pela Cahiers du Cinema. O que levou você a trilhar este caminho?</b></div>
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<br /></div>
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Eu fiz tudo ao contrário. Minha mãe queria que eu estudasse, fizesse faculdade, e eu fiz a Escola de Engenheiros de Paris, também conhecida como a Politécnica de Paris, que é muito famosa. Depois eu fui para a Argélia pra fazer a guerra – o que explica o filme Os Sete Desertores, em que um dos personagens me representa. Fazendo um parênteses rápido, eu tenho uma relação de amizade com o Godard e sou anarquista, e o Godard me perguntou na época "Você é anarquista, porque você foi pra guerra na Argélia?". Eu respondi que eu não queria ser responsável pelos atos daquele que ia me substituir, e você vai escutar isso no filme se você for assistir.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Voltando da Argélia, eu vi o ‘Acossado’, de Godard, e o ‘Lola, A Flor Proibida’, de Jacques Demy, e eu pensei na época "Se eles podem fazer isso, eu também posso". Eu fiz um longa-metragem e um curta, depois eu me tornei primeiro-assistente dos diretores e aí sim eu entrei na crítica.</div>
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<br /></div>
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<b>Mas o que te levou à entrar na crítica?</b></div>
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<br /></div>
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Eu assinava a Cahiers du Cinema e não estava de acordo com tudo que a revista dizia. Um dia eu enviei uma carta muito agressiva, e me responderam dizendo que ela não poderia ser publicada. Mas eles acharam que eu tinha razão, então me colocaram para escrever na Cahiers. Eles substituíram Eric Rohmer por Jacques Rivette como editor-chefe da revista, o Rivette leu minha carta e me pediu pra escrever sobre um filme de Sam Peckinpah, ‘Pistoleiros do Entardecer’. Depois disso eu escrevi algumas críticas pra eles, incluindo uma sobre Robert Bresson que ele me agradeceu muito. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um dia o Jacques Rivette não quis um artigo que escrevi e o texto apareceu na íntegra na revista assinado por outra pessoa, e foi aí que eu me despedi de lá. Daí eu fui escrever para outra revista chamada Imagem e Som, e lá eu tenho cerca de 200 críticas escritas. Isso tudo acontecia quando eu já era diretor.</div>
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<br /></div>
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<b>Você se manteve bastante ocupado, devo dizer.</b></div>
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<br /></div>
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Eu posso trabalhar a vida inteira. O cinema é minha vida.</div>
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<br /></div>
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<b>Um de seus trabalhos mais conhecidos é o 'Once More', que foi um dos primeiros filmes a lidar com o tema da AIDS, um assunto que não era muito fácil de se abordar naquele momento. Como você chegou ao tema?</b></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sim, sim, não era fácil. Eu não tenho medo da dificuldade, quando eu tenho vontade de fazer algo eu faço. Eu fazia uma série policial blockbuster muito violenta de sete episódios de uma hora, e na época eu escutei Charles Pasqua [Ministro do Interior entre 1986 e 1988, durante o governo de Jacques Chirac] dizer publicamente que a AIDS era um castigo divino para os homossexuais. Eu fiquei furioso. Teria agido da mesma forma se essa frase tivesse sido dita sobre os judeus ou os negros. Fiquei com tanta raiva que acabei escrevendo o roteiro do filme em dois dias, no fim de semana porque estava trabalhando, filmando a série. Depois disso não mudei uma palavra do roteiro.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Devo admitir, pra mim isso é algum tipo de recorde de velocidade de escrita [risos].</b></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
[risos] Houve vezes em que escrevi mais rápido. ‘Rose la Rose, fille publique’ foi escrito em uma manhã, eu sonhei com o filme durante a noite e quando acordei resolvi colocar no papel. Já ‘En Haut des Marches’ eu demorei cerca de quatro anos para terminar. Não é algo sistemático, tem coisas que vem mais rápido e outras não.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Desviando da minha pergunta por um momento, quando você está concebendo seus filmes você pensa primeiro numa narrativa, em um tema ou em uma história? Seus filmes são tão diferentes entre si, isso me deixa curioso.</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Depende do filme. Eu não posso fazer duas vezes o mesmo filme. Uma vez uma distribuidora, depois de eu ter feito ‘Rose la Rose’, me propôs um contrato com muito dinheiro pra fazer mais um filme sobre uma prostituta, e eu neguei dizendo que já tinha feito um. Os meus dois últimos filmes, ‘Os Sete Desertores’ e um que ainda não foi lançado e que se chama ‘Trem das Vidas’, eu fiz ao mesmo tempo e são completamente diferentes, não tem nada a ver um com o outro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Funciona para você fazer dois filmes diferentes ao mesmo tempo, sob esta perspectiva?</b></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Essa foi uma decisão do produtor e não do realizador, mas eu que sou o produtor, então... [risos]. Ele me disse ‘Faça um filme todo passado em cenários exteriores, no caso Os Sete Desertores, e outro todo passado no interior, que é o Trem de Vida’. Eu sou louco de fazer tudo ao mesmo tempo, mas funciona: se chove enquanto filmo no exterior, vou pra dentro e filmo o interior. São os mesmos atores e os mesmos técnicos, mas acho que isso é óbvio [risos].</div>
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<br /></div>
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<b>Voltando ao Once More, como foi a recepção do público na época?</b></div>
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<br /></div>
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O filme na época saiu primeiro na competição do Festival de Veneza e ele recebeu o prêmio da crítica e do público. Eu tenho uma história interessante sobre esse momento: Eu estava em um restaurante e acabei ficando posicionado de costas para Sergio Leone, que era o presidente do júri daquele ano e não me conhecia na época. Sem saber que eu estava atrás dele, ele disse [sobre o ‘Once More’] "Este filme é uma obra-prima, mas eu não posso permitir que ele ganhe o prêmio".</div>
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<br /></div>
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<b>Ele disse mais alguma coisa depois disso?</b></div>
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<br /></div>
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Não. Eu desprezo ele, e felizmente não gosto dos filmes dele. Essa postura dele estava ligada ao tema da homossexualidade. O meu filme foi o primeiro da competição a passar no festival. No dia seguinte, os jornais italianos registravam catorze críticas, todas registrando cinco estrelas a ele, era o máximo, e depois eu fui obrigado a escutar isso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Depois disso o filme estreou na França e foi mal recebido. Ele foi mal recebido pela população feminina e pelos homossexuais.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Você saberia o porquê disso?</b></div>
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<br /></div>
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Não, mas há dois anos o filme passou de novo no Festival de Cannes, numa sala cheia com mulheres, homossexuais e todo tipo de pessoa, e teve ao final da sessão vinte minutos de ovação. Eu acho que precisava de tempo para que as pessoas entendessem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<b>Entendo. Consigo imaginar a dificuldade que tenha sido tratar desse tema na época.</b></div>
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<br /></div>
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É, ainda mais porque foi o primeiro filme a tratar desse assunto. O que as pessoas mais criticavam na época era que eu estava querendo desdramatizar a situação. Tem uma frase da época que diz que havia milhões de vírus na sombra esperando que o da AIDS passasse de moda, e isso aconteceu. Eles achavam que isso era uma ofensa, mas na verdade foi exatamente o que aconteceu.</div>
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<br /></div>
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O filme foi aplaudido em Veneza, teve críticas excelentes, a Cahiers du Cinema elogiou bastante, mas o público teve uma reação bastante reticente, quase agressiva a ele. Agora, quando ele é exibido novamente, as sessões ficam cheias e as pessoas gostam do filme.</div>
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<br /></div>
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<b>Sinal dos tempos. [risos]</b></div>
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[risos] Sim, sim. Mas agora eu não posso esperar 35 anos pelos filmes que eu faço agora [risos].</div>
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<br /></div>
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<b>Aproveitando que você tocou no tema da sua produção recente, ela se diferencia bastante dos filmes anteriores. O que levou a isso?</b></div>
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<br /></div>
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O que mudou é que, à medida que fui ficando velho, eu quis prestar homenagem aos filmes e cineastas que me fizeram sonhar e que admirava. Há mais citações e referências em meus trabalhos agora, além das técnicas terem se ampliado, mas pra mim a minha narrativa fílmica é a mesma.</div>
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<br /></div>
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<b>Hoje em dia há algum diretor contemporâneo cujo cinema te atraia?</b></div>
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<br /></div>
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O único cineasta que me interessa hoje é Laurent Achard. O que me desagrada no cinema desses últimos anos é que o texto, os diálogos desapareceram; eles são muito comuns. No cinema americano e no cinema francês há uma maneira de interpretar que se diz natural mas é totalmente artificial. Todos os atores e atrizes hoje atuam quase que mecanicamente, é horrível. Falta conteúdo, eles parecem marionetes.</div>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-61048076197098682472018-12-31T08:35:00.000-08:002018-12-31T08:35:58.603-08:00Melhores do Ano 2018<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZVlEcktAweAJ4C-RGXzQw5mEn62s8xUPCbEE9d1NDMrVQvWHSbPOEIxpgcAGzphsZIKnfBVa6QYJ4BnYUntL3Bm6sphlisZoekzN025-prJHktGY59O1fW2FGbfCScFLVZFTQjYWcs-o/s1600/mda18.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="802" data-original-width="1600" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhZVlEcktAweAJ4C-RGXzQw5mEn62s8xUPCbEE9d1NDMrVQvWHSbPOEIxpgcAGzphsZIKnfBVa6QYJ4BnYUntL3Bm6sphlisZoekzN025-prJHktGY59O1fW2FGbfCScFLVZFTQjYWcs-o/s640/mda18.jpg" width="640" /></a></div>
<h3>
O melhor, o pior, o fantástico e o impensável de um ano que nos derrubou de assalto.</h3>
<div>
<span style="font-size: x-small;">Por Pedro Strazza.</span></div>
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<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
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2018 é sem dúvida um ano que muitos gostariam de esquecer. Em meio ao caos de escândalos, tragédias, crimes horrendos e todo tipo de trauma avassalador, não foram poucos os que sentiram que os últimos 365 dias passaram como a sensação de 1095, tamanha a sensação de arrasto e peso que tendeu a afundar todos em direção aos níveis mais baixos - em todos os sentidos possíveis.</div>
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Como toda e qualquer arte, o cinema não deixou de refletir isso, seja no noticiário ou na leva de produções deste e do ano passado que atingiram as telonas do circuito e as telinhas do streaming - que mais que nunca parecem em pé de guerra uma com a outra mesmo não precisando. Além da sensação de temporada de vacas magras (uma que deve ser mais sentida no próximo Oscar, o tal do "pináculo" da indústria hollywoodiana), os filmes mais celebrados no meio este ano abarcaram temas mais difíceis quando não densos (para não dizer pesados), desde conflitos claros com visões de mundo padronizadas e ultrapassadas à depressão que foi repetida como tema de debate até se exaurir no humor das redes sociais. 2018 foi acima de tudo um ano para se lidar com traumas pelas vias mais excruciantes ou de resolução agridoce, sendo que esta última infelizmente pouco teve espaço no clima de confrontação.<br />
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Esta tendência a abordar o trauma é algo que querendo ou não grande parte das listas de melhores produções do ano segue de forma silenciosa, incluindo esta que você, caro leitor, está lendo neste exato momento.<br />
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Em 2018, o Melhores do Ano passou por algumas remodelações estruturais que provavelmente já tenham sido notadas. Vamos a elas:<br />
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1) Ao invés de três publicações dedicadas a cada um dos setores originais (Destaques, Piores e Melhores), todas as listas esta edição estão compiladas em uma mesma publicação - no caso, esta que você acessa neste momento;<br />
2) O nome também passou por uma leve mudança: sai o pretensioso (para não dizer babaca) "O Cinema em 2018" e entra o "Melhores do Ano";<br />
3) Junto das três listas originais e o ranking completo, também adicionei uma lista com produções do ano que assisti e ainda são inéditas ao nosso circuito ou acesso, ranqueados em um agrupamento de 20 títulos.<br />
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As regras também mudaram um pouco. Além de filmes lançados no circuito comercial de cinema e na Netflix, as listas contam com títulos de 2017 e 2018 lançados no restante do grande ecossistema de streamings que atualmente existe em nosso cenário; é uma forma sincera de tentar abarcar todo o volume de trabalhos que desembarcam em nossas praias digitais e físicas ao longo dos últimos doze meses.<br />
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O resto, porém, se mantém inalterado. São 25 filmes destacados no Melhores, 15 no Destaques e 10 no Piores, além do ranking completo e um prêmio hors-concours quando vejo necessidade (o que felizmente aconteceu de novo este ano).<br />
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Sobre a lista principal, alguns pontos:<br />
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- Foi sem dúvida o ano dos duos de diretores: dos 25 títulos elencados, nada menos que cinco foram comandados por duas pessoas;<br />
- Também foi um ano em que mais filmes de diretoras aparecem na lista, pulando dos três nomes do ano passado para as 6 deste ano;<br />
- Há alguns vários nomes que aparecem pela primeira vez no Melhores (incluindo vários que foram marcados no Destaques de anos anteriores, o que pessoalmente acho fantástico), incluindo um bom número de debutes: são seis projetos comandados por pessoas que estrearam na função de diretor.<br />
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Posto tudo isso, vamos às listas. Para começar:</div>
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Hors-Concours: La Flor, de Mariano Llinás</h3>
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La Flor é um filme, vamos colocar assim, atípico. Com inacreditáveis 14 horas de duração e seis longas histórias para se contar à partir da presença de quatro atrizes (Elisa Carricajo, Valeria Correa, Pilar Gamboa e Laura Paredes), o projeto do argentino Mariano Llinás não exatamente se enquadra nos moldes ditos tradicionais de exibição, se adequando a um formato que não só exige que a produção seja dividida em dias mas que também pede que o espectador se submita a uma total imersão para compreender sua extensa narrativa - uma medida que talvez explique o porquê do diretor não querer que o longa seja lançado em versões físicas ou no streaming (onde talvez ganharia ares de minissérie capitular).</div>
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O que Llinás propõe dentro deste verdadeiro épico cinematográfico, porém, é algo que atende e supera todas as demandas esperadas por qualquer um que decida parar a vida para assistir o filme. Com tramas que vão do terror B à grande saga de espionagem, passando por histórias metalinguísticas e uma pequena homenagem ao Um Dia no Campo de Jean Renoir, La Flor é um gigantesco e fascinante estudo sobre a figura da mulher dentro do cinema que parece ir além da mera atestação dos jogos de poder intrínsecos na imagem, disposto a consertar e remendar relações para reconfigurar os signos que o público normalmente associa ao feminino dentro do audiovisual. Tudo isso dentro de uma estrutura que por incrível que pareça não exaure: a narrativa de Llinás realmente mostra precisar de cada um dos minutos usados para fazer valer os esforços de sua ambiciosa análise.</div>
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E é exatamente por esta complexidade temática e estrutural - além, óbvio, do fato da escala impedir qualquer possibilidade de lançamento nos cinemas fora dos festivais - que La Flor merece tamanha honraria do hors concours.</div>
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Sem mais delongas, vamos aos Melhores do Ano:</div>
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25) A Noite do Jogo, de John Francis Daley e Jonathan Goldstein</h3>
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Francis Daley e Goldstein vem fazendo um caminho muito bonito dentro do circuito de produções menores de estúdio. Depois de comandarem um ótimo (mas tristemente ignorado) semi-reboot de Férias Frustradas e servirem de coautores no debute da versão Marvel Studios do Homem-Aranha, a dupla de roteirista e diretores ganharam em 2018 uma oportunidade fora do mercado de marcas cinematográficas com A Noite do Jogo, uma comédia que parte como espécie de paródia do Vidas em Jogo de David Fincher para se tornar mais um olhar apurado (e bastante engraçado) sobre as novas dinâmicas de relacionamento do século XXI. É um jogo de piadas e esquetes de comédia que prefere ganhar distância do improviso para trabalhar a temática dos adultos com síndrome de Peter Pan dentro de uma narrativa muito controlada e que aproveita o melhor da proposta lúdica e de cada um de seus atores no processo - em especial Rachel McAdams, que entrega aqui uma das grandes cenas do ano ao cantar Third Eye Blind em uma arma carregada. Com os dois diretores contratados pela Warner para comandar o filme solo do Flash, fica apenas o desejo de que ambos voltem a dirigir mais projetos do gênero no futuro.</div>
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24) Ponto Cego, de Carlos López Estrada</h3>
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Um dos filmes mais interessantes da seleção do Festival de Sundance deste ano, Ponto Cego joga com provocações mordazes mesmo quando elas são expostas sob um prisma mais didático em alguns vários momentos. Dentro de uma dinâmica narrativa que soa como o encontro bizarro dos cinemas de Spike Lee e Kevin Smith, o longa de Carlos López Estrada trafega entre os temas da gentrificação e do racismo na cidade de Oakland pela compreensão da existência dos dois temas como problemas independentes e ao mesmo tempo profundamente conectados, algo que é muito bem transposto no trabalho dos protagonistas Daveed Riggs e Rafael Casal e no uso do roteiro escrito pelos dois para traçar um caminho ilustrativo dentro dos conflitos sociais que habitam (e dominam) a cidade. Ainda que o filme pareça muitas vezes estar mais interessado em um impacto imediato que num prolongamento do debate sobre suas questões, a urgência com o qual se desenvolve seus conflitos gera no mínimo um exercício narrativo muito forte.</div>
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23) Buscando..., de Aneesh Chaganty</h3>
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2018 foi o ano em que o terror ambientado no meio digital ganhou força e até nome (o tal do "desktop horror"), mas é curioso que tenha sido justo um suspense extremamente bem comportado quem tenha promovido um olhar diferente dentro do gênero. Ainda que procedural em todos os seus movimentos e distante de quaisquer movimentos ousados que já não tenham sido testados antes na forma (o que inclui o Amizade Desfeita que é ainda o grande exemplar desta leva), o Buscando... de Aneesh Chaganty encanta por se aproveitar de uma estrutura contemporânea para trabalhar temas igualmente modernos, usando da procura desesperada de um pai pela filha desaparecida como base para a discussão dos novos gaps geracionais que se multiplicam no século XXI. Ajuda muito no processo que o filme conte com uma performance sólida de John Cho, que dá vazão a estas aflições do contraste entre as gerações X e Z na mesma intensidade em que segura a narrativa quando ela mais periga diluir-se.</div>
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22) Jogador N° 1, de Steven Spielberg</h3>
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Alicerce fundamental da atual Hollywood e quase uma figura messiânica para a atual geração de cineastas que trabalham no circuito de estúdios, Steven Spielberg este ano teve a oportunidade de confrontar o próprio legado com Jogador N° 1. Antecipada por alguns como o novo "Santo Graal" da cultura pop, a adaptação do livro de Ernest Cline acabou pegando de surpresa (e portanto dividindo) a maioria ao mostrar que seu diretor estava menos interessado em celebrar a atual pluralidade de franquias e marcas do imaginário hollywoodiano que no exercício de enquadrar-se na imagem do misterioso bilionário falecido que é o centro de toda a narrativa da aventura passada no mundo fantástico de realidade virtual. Mas por ser uma produção de Spielberg estas duas partes não deixam de coexistir dentro da narrativa, que acalenta quem espera o máximo de cultura nostálgica com uma gigantesca montanha-russa de ação em CGI sem perder de vista este olhar semi-revisionista do cineasta, um que pelo menos ajuda o próprio em sua busca pela ressignificação de certos elementos da verdadeira indústria que fundou.</div>
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21) Histórias que Nosso Cinema (Não) Contava, de Fernanda Pessoa</h3>
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São poucos os filmes que sabem lidar tão bem com uma posição de importância histórica auto-instituída quanto este documentário em forma de colagem sobre as pornochanchadas dos anos 70. O recorte e o olhar de Fernanda Pessoa sobre uma produção considerada por muitos como irrelevante no processo histórico brasileiro serve à diretora como ponto de partida para evidenciar uma visão de Brasil despida de pudor, que dá conta de mostrar todo o mar de contradições que impera no país dentro de um jogo de humor baixo que queria acima de tudo agradar com a exibição do sexo feminino. E dado o atual estado de abandono da História do cinema nacional, esta é uma investigação que só ganha no resgate do passado. </div>
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20) Verão, de Kirill Serebrennikov</h3>
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"Isto nunca aconteceu" é uma fala que se repete constantemente no musical russo de Kirill Serebrennikov sobre o cenário musical russo dos anos 80, quase como um mantra a definir o sentimento de revolução suprimida daqueles anos em que a censura instituída pela União Soviética impedia qualquer avanço de revolta da parte dos artistas. Dentro disto, o longa é sagaz ao conceber uma narrativa relativamente leve e que passeie entre arroubos de criatividade visual e um drama romântico mais tradicional, uma mistura que confere à história o tom de lamento necessário sem mantê-lo refém de um peso histórico que de tempos em tempos insiste em se manter preso ao cinema russo como um todo. Se Verão ora ou outra sofre com uma ou outra gordura, seu olhar sob o clima de frustração de uma geração musical inteira de uma nação nunca deixa de soar fora do lugar ou descabido à realidade vivida por aquelas pessoas na época, cuja busca eterna por brechas num sistema autoritário fomentava este tom de atração e repulsa por tudo e todos.</div>
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19) Um Pequeno Favor, de Paul Feig</h3>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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Já há algum tempo numa sequência de comédias que contemplam o universo feminino enquanto tiram sarro do mundo masculino que oprime este último (o que inclui, claro, o fantástico e polêmico remake de Caça-Fantasmas), Paul Feig este ano voltou a trabalhar estes temas à partir de um gênero diferente - o suspense - sem esquecer deste tom paródico. O resultado é este Um Pequeno Favor, espécie de leve homenagem aos suspenses franceses do passado que aposta numa atualização irônica destas histórias e que volta a apostar no trabalho do elenco - em especial Anna Kendrick e Blake Lively - para funcionar. Se o longa em muitos momentos beira ao descartável, suas fundações resistem e fascinam porque a narrativa de seu diretor brinca exatamente com estas noções de seu espectador sobre um gênero menor, não esquecendo no processo de desenvolver uma narrativa maior que abarque as dores disfarçadas de ser mulher em um cotidiano machista.</div>
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18) Vingança, de Coralie Fargeat</h3>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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Falando em revisionismo de gêneros mal falados, Vingança é um que faz deste exercício um mote de existência quase visceral. O terror da francesa Coralie Fargeat retoma as estruturas dos antigos filmes B e C de vingança para reinterpretar (e canibalizar) os signos misóginos deixados por grande parte desta produção, devolvendo na mesma moeda aos abusadores a violência que conferem às vítimas nestas obras. O lado altamente emocional que é imbuído ao projeto, porém, nunca chega a ser um obstáculo para a direção de Fargeat, que é esperta em reutilizar estruturas e se aproveitar de um tom quase lisérgico para pintar este retrato às avessas sem contradições ou deixar que seu discurso impere de forma exaustiva.</div>
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17) Roma, de Alfonso Cuarón</h3>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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Alfonso Cuarón é um diretor que há anos mantém certa distância de sua terra natal, preferindo encontrar conforto em produções de narrativas cada vez mais mirabolantes, dominadas pela técnica e que pregam mensagens "universais" que para alguns podem se passar por auto-ajuda vazias. Com o tão celebrado Roma, porém, o cineasta mexicano enfim se obriga a conflitar a imensa maioria dos pontos característicos de seu cinema, uma medida que explica não só o "calor" das discussões feitas em cima do filme como também a força de seus momentos de maior catarse emocional. Distante ou próximo, vazio ou cheio, o longa sem dúvida carrega grande impacto em seu grande álbum de memórias familiar.</div>
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16) Visages, Villages, de Agnès Varda e JR</h3>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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Muito provavelmente um dos filmes mais puros dos últimos anos, o projeto colaborativo entre a cineasta Agnès Varda e o artista plástico JR serve como um lembrete do quão transformador a arte pode ser ao indivíduo. Cada peça e imagem criadas pela dupla em sua viagem pelo interior da França reiteram esta potência de forma singela, num esforço que serve para valorizar as camadas "menos importantes" da sociedade francesa que no fundo constituem a parte mais fundamental da permanência da identidade nacional. Em tempos sombrios, este registro sem dúvida é um alívio muito bem vindo.</div>
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15) Homem-Formiga e a Vespa, de Peyton Reed</h3>
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Em um ano em que o Marvel Studios arrecadou bilhões de bilheteria com o gigantismo de épicos como Pantera Negra e Vingadores - Guerra Infinita e que o gênero de super-heróis se arrisca mais em mais em produções de escala ambiciosa, o filme de Peyton Reed talvez tenha sido o projeto mais fundamental para a produção do tipo por lembrar do que faz estas obras tão tocantes ao público. Mas não foi só isso que tornou Homem-Formiga e a Vespa um projeto tão acertado: alinhado a uma história de proporções menores e focada em relações familiares, a comédia de tons hawksiano do diretor encontra aqui um ritmo rápido que sabe como organizar o humor de forma a alcançar os momentos mais emocionais com maior potência. É um essencialismo de atos que hoje soa até raro em sua centralidade, muito porque ele reitera a conciliação e o reencontro como forças fundamentais. Mais do que nunca, talvez esteja na hora de se reconsiderar Reed como diretor. </div>
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14) Lady Bird - É Hora de Voar, de Greta Gerwig</h3>
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Dentre os registros particulares da safra 2017/2018, o Lady Bird de Greta Gerwig é daqueles que se destacou muito por conta do ineditismo do debute de sua diretora, mas ao mesmo tempo as fundações do filme estrelado por Saoirse Ronan e Laurie Metcalf são sólidos o suficiente para mantê-lo vivo na memória. Além de contrapor o cotidiano adocicado de sua protagonista com a crueza do cenário de Sacramento, o longa também dá conta de materializar na tela toda a miríade de sentimentos contraditórios que moram no ato do jovem de sair do ninho para desbravar o mundo, uma proposta que as duas atrizes só aumentam na dinâmica tempestuosa de mãe e filha.</div>
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13) A Câmera de Claire, de Hong Sang-soo</h3>
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Depois de ter abordado as consequências do alarde de seu namoro com a atriz Kim Min-hee na imprensa sul-coreana com imensa acidez e arrependimento em Na Praia à Noite Sozinha e O Dia Depois, o sempre produtivo Hong Sang-soo retornou uma última vez ao tema em A Câmera de Claire para se reconciliar consigo mesmo de vez. Um tanto mais leve que seus "irmãos", o filme que por enquanto encerra esta "trilogia midiática" promove um sentimento de descarrego notável mesmo quando no jogo de comédia típico de Hong, que usa mais uma vez de sua narrativa de planos extensos e regidos por zooms que tiram o melhor de situações de desconforto e acerto de contas emocional.</div>
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12) As Boas Maneiras, de Marco Dutra e Juliana Rojas</h3>
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Depois de se aventurarem em projetos solo nos últimos dois anos, Dutra e Rojas enfim retomaram sua parceria para este As Boas Maneiras, projeto que promove mais um destes intertextos de gêneros que marcam cada vez mais a dupla. Esta característica, afinal, domina as atenções na história de lobisomem que mistura o conto de fadas com o horror dentro da selva urbana de São Paulo, alimentando um olhar apurado sobre a distância e as diferenças das classes sociais brasileiras. Isabel Zuaá e Marjorie Estiano compõem uma das dinâmicas de atuação mais sensíveis deste ano, alimentando um amor que ressalta estas divisões sem maior alarde.</div>
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11) Projeto Flórida, de Sean Baker</h3>
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Depois de surpreender muitos há três anos com Tangerine, Sean Baker ganhou ainda mais admiradores na última temporada do Oscar com este Projeto Flórida que carrega mais uma vez sua habilidade para tratar de populações marginalizadas. A história sobre as comunidades pobres que vivem próximos aos parques de diversão de Orlando encontra leveza em um mundo fadado à tragédia, tomando o ponto de vista de crianças para mostrar como elas sobrevivem neste cenário buscando o mesmo ar adocicado das atrações turísticas em tudo que tocam e passeiam. </div>
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10) A Balada de Buster Scruggs, de Ethan e Joel Coen</h3>
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Depois de terem feito da Hollywood da era de ouro um palco para novas investigações sobre a fé, os irmãos Coen resolveram retornar ao Velho Oeste uma vez mais para encontrar e redefinir os signos do faroeste no momento anterior ao seu fim. Produzido como série de antologia e lançado como filme, A Balada de Buster Scruggs mostra a dupla de cineastas num momento mais reflexivo mesmo que eles não tenham perdido o faro para o humor, sendo um projeto onde eles confrontam a morte enquanto símbolo dentro das relações de um gênero que já há tempos viu seu auge passar. Com seis capítulos que revisitam arquétipos e tramas tradicionais da produção, o longa reforça a potência do faroeste pelo soerguimento de sua elegia, uma canção de despedida lamuriosa que não deixa de abarcar a falsidade do ato - seja pela fotografia digital ou mesmo as notas cômicas imbuídas em cada uma das histórias. E se todos os contos mantém entre si uma coesão distinta e seguram a barra cada um a seu jeito, o quinto episódio é o que mais marca por escancarar este raciocínio da mitologia que nunca morre mesmo quando abandonada.</div>
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9) A Melhor Escolha, de Richard Linklater</h3>
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Depois de erguer arquétipos à uma merecida posição de consagração com Jovens, Loucos e Mais Rebeldes, Linklater fez com A Melhor Escolha um retorno às referências que carrega em seu cinema. Continuação espiritual de A Última Missão de Hal Ashby, o novo filme do diretor reforça sua posição de cronista fadado a revisitar o passado recente de seu país ao retornar ao clima de conflitos e desesperança dos Estados Unidos nos anos imediatamente posteriores ao 11 de setembro, acompanhando militares veteranos enquanto viajam para enterrar o filho falecido de um deles. O viés geracional que o longa força ao incluir um jovem soldado entre o trio idoso dá um tom ainda mais trágico ao retrato que Linklater busca pintar do militarismo norte-americano da década, que se vê preso a ondas de guerras e convocações eternas. Um dos filmes mais dolorosos do cineasta, sem dúvida.</div>
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8) Infiltrado na Klan, de Spike Lee</h3>
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A luta e a militância sempre foram temas caros a Spike Lee, que desde Faça a Coisa Certa mantém vigente a ideia de que o combate à opressão é vital mesmo quando se dando em frente diferentes. Com Infiltrado na Klan, este último ponto é reforçado continuamente graças à urgência da mensagem, em tempos onde o fascismo anuncia um perigoso retorno às principais instituições sociais - e o diretor sabe muito bem disso. A história do policial negro que virou membro da Ku Klux Klan serve a Lee como ponto de partida ideal para a discussão das diferentes perspectivas e significados dentro do ato natural de lutar pela igualdade, um debate cuja ausência de soluções imediatas e simples serve para o cineasta alimentar sua narrativa de choques e conflitos temáticos que só direcionam o espectador ao cerne da mensagem. Embora o diretor esteja para sempre amaldiçoado pelo brilhantismo da obra-prima que o lançou no mercado, este Infiltrado... felizmente mostra que seu cinema ainda se mantém atual e de grande valor.</div>
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7) Sem Rastros, de Debra Granik</h3>
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Sem Rastros de certa forma é uma continuidade das questões que a diretora Debra Granik já tratava com Inverno da Alma (seu inacreditável trabalho anterior, dado a distância entre os dois trabalhos), filme que também abordava relações de trauma em núcleos familiares quebrados. Desta vez, porém, a cineasta conta com um terreno mais fértil para se aprofundar nos temas, dado que a tragédia em mãos é mais perniciosa e dá maior vazão à dinâmica de atração e repulsa entre sociedade e família que ela bem pretende, sem contar o fato de que o trabalho de Ben Foster e Thomasin McKenzie nutre uma dinâmica de personagens que dá vida às dores nos entornos deste processo. É um filme de muita dor para, paradoxalmente, ser muito curativo.</div>
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6) Asako I & II, de Ryûsuke Hamaguchi</h3>
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Enquanto dramas coming of age e comédias românticas dão cabo de ilustrar seguidas vezes e com o mesmo olhar exaustivo as mesmas aflições e prazeres do primeiro amor, são poucas as obras que se interessam nas relações quase sempre intrínsecas entre a primeira paixão ardente e o relacionamentos estáveis que o seguem após seu fim. Um destes trabalhos que sabe muito bem o que faz é este Asako I & II do japonês Ryûsuke Hamaguchi, cuja história de uma moça que tenta levar a vida depois do fim abrupto de um namoro adolescente passa seguidas vezes por este caráter amaldiçoado deste primeiro momento de abertura para o amor.</div>
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5) Nasce Uma Estrela, de Bradley Cooper</h3>
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Viver em um mundo de imagens. É curioso como o filme de Cooper destoa das outras versões de Nasce Uma Estrela em parte por este rearranjo temático que escapa do comentário ressentido sobre a indústria e enquadra o crescente quadro de depressão do protagonista. Não bastasse o assombro que é a qualidade da dinâmica entre o ator e Lady Gaga para viver o casal de músicos, o longa ainda traz este espelhamento entre o real e o falso que divide sua narrativa em dois momentos apenas para mergulhar o espectador na derrocada de Jackson Maine (uma que desta vez preserva a ascensão de Ally, vale acrescentar) à partir de sua perspectiva. É um ego project que de fato prefere a centralidade sobre a imagem do autor apenas para desconstruir sua visão de mundo e processar suas dores, um procedimento narrativo que rende momento genuínos em sua tristeza e beleza.</div>
<h3>
4) O Passageiro, de Jaume Collet-Serra</h3>
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Collet-Serra é hoje um destes grandes diretores que ainda estão para ganhar o merecido reconhecimento, mas enquanto esta consagração moral não chega seu trabalho continua a fascinar dentro de gêneros e tipos de filmes considerados baixos, como este O Passageiro que retoma e reenergiza o tão exaurido suspense do trem. A quarta colaboração do cineasta de origem espanhola com o ator Liam Neeson rendeu em 2018 uma das analogias mais curiosas e intensas sobre a vida no capitalismo selvagem dos Estados Unidos do pós-crise, não só pela profundidade do arranjo temático que ele constrói aqui (a relação do protagonista com seu passado como policial deve render algumas discussões fascinantes sobre o status atual desta instituição social tão problemática) como pela forma como Collet-Serra executa isso dentro de experimentações arrojadas na narrativa, a exemplo do prólogo construído na rotina e o maravilhoso plano-sequência da luta no trem - sem contar a nova tecnologia de foco que o diretor usa e abusa aqui. Um filme tão potente quanto as engrenagens do trem que o impulsionam furioso para frente.</div>
<h3>
3) Arábia, de João Dumans e Affonso Uchoa</h3>
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É apenas triste ironia do destino que Arábia seja lançado no começo de um ano marcado pela ascensão do bolsonarismo, pois a sensação de fim de ciclo político sugerida pelo filme de Dumans e Uchoa apenas fica mais nítida dentro do processo histórico do país. Ancorado por uma atuação desde já mitológica de Aristides de Sousa, o longa sobre um trabalhador que reconta sua vida no papel antes da morte é um dos melhores (se não melhor) retratos do clima de desencanto que toma o país nos anos posteriores ao lulismo, uma profunda reflexão sobre os rumos político-sociais que vê na derrocada econômica rumo à crise um fim de uma era de bonança rumo à tempestade. Se há uma cena que há de marcar o cinema brasileiro destes anos 10, esta com certeza é o monólogo final do protagonista Cristiano no longa.</div>
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2) Trama Fantasma, de Paul Thomas Anderson</h3>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOqOFm5vS0kR3rTHXNnyHean4THbCQQpMtd551IXqr1zNgTKQ5FsJBjSmg1fbrptC8htLloxbmUzpHYya_29BtOu54cj1AHoMnB_pjsogWILhUrhMwG9zqVn1OEQrhUZdkEhC5RM-hqFE/s1600/p5ep0sz62ygX2CHL8rM-o.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="800" data-original-width="1280" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOqOFm5vS0kR3rTHXNnyHean4THbCQQpMtd551IXqr1zNgTKQ5FsJBjSmg1fbrptC8htLloxbmUzpHYya_29BtOu54cj1AHoMnB_pjsogWILhUrhMwG9zqVn1OEQrhUZdkEhC5RM-hqFE/s640/p5ep0sz62ygX2CHL8rM-o.jpg" width="640" /></a></div>
<div>
O amor enquanto vício, enquanto jogo de poder. Tudo bem que é o último filme de Daniel Day-Lewis e que sua dinâmica com a performance magnífica de Vicky Krieps compõe uma maiores forças do filme, mas a condução de Paul Thomas Anderson sobre a relação central da história é o que faz Trama Fantasma ser um objeto de tamanho fascínio, magnitude e assombro. O relacionamento dos protagonistas aos poucos se desenrola como um jogo de gato e rato subjetivo que parece não ter (e nunca tem) um fim, como ciclos de dominação que se alternam entre dois jogadores sedentos pela submissão dos outros. É uma dinâmica doentia que sintetiza a alucinação ególatra por trás da ligação entre musa e artista, criação e criador, imagens que apenas servem de representações a um amor tão hostil e tenro em suas próprias maneiras.<br />
<br />
Mas o que é o amor comparado a...</div>
<h3>
1) O Outro Lado do Vento, de Orson Welles</h3>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGc_IVdUcw90FIY6kL9-PrhXdHHfA7cHqdn8Uq6cUwGv9fcIhyphenhyphen0Dq-Y9E8i-NkZ4nzy4JM-o2w5aBtuX_s-fB1E4KRGXb6YgNlXqpfuNWkMtYOPcOn_TgggLnM1ugdJVTideSxm6vNxs0/s1600/Other-Side-of-the-Wind.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="530" data-original-width="1600" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGc_IVdUcw90FIY6kL9-PrhXdHHfA7cHqdn8Uq6cUwGv9fcIhyphenhyphen0Dq-Y9E8i-NkZ4nzy4JM-o2w5aBtuX_s-fB1E4KRGXb6YgNlXqpfuNWkMtYOPcOn_TgggLnM1ugdJVTideSxm6vNxs0/s640/Other-Side-of-the-Wind.png" width="640" /></a></div>
<div>
Hollywood, a máquina e o monstro voraz. Faz muito sentido que seja Welles (mesmo do além túmulo) o único capaz de criar uma obra-prima deste nível de acidez, um comentário sobre a indústria que se estende muito além da época em que foi concebido a ponto de se manter atual para o cenário contemporâneo de hoje - troque a Nova Hollywood pelos herdeiros de Spielberg e você provavelmente chegará num mesmo cenário de destruição, caos e loucura materializados pelo diretor. Cineasta condenado a ser amaldiçoado pelo Cidadão Kane que o consagrou, ele redireciona no filme todo seu ressentimento para o cinema estadunidense que o alçou à posição de astro apenas para derrubá-lo sem nunca esquecer o fascínio que alimenta esta criatura de nome definido mas nunca intitulado, num retrato que como bem sugere o título promove um olhar desencontrado mas perspicaz e merecidamente caricato a todas as entranhas de um sistema maléfico.<br />
<br />
Mas o fascinante de O Outro Lado do Vento é que ele vai além do mero ódio universalizado, ele também compreende a tragédia anunciada sobre a geração de cineastas da época. Seja a Nova Hollywood ou os diretores internacionais que abarcam nos Estados Unidos em busca de maior reconhecimento (coitados de Antonioni e seu Zabriskie Point), o filme de Welles ironiza e lamenta aqueles que o sucedem na posição de gênio, sabendo que serão esmagados pela máquina sem qualquer traço de piedade e até que a última gota de criatividade se esvaia. Não é à toa que o diretor parece nutrir tanto um desejo de devolver a região aos donos originais; Hollywood, ao seu ver, é uma terra maldita, amaldiçoada por natureza, algo que é sacramentado na última fala do personagem de John Huston que serve a Welles como seu receptáculo final:<br />
<br />
<i>"Todas aquelas garotas e garotos... filme-os até a morte."</i></div>
<h3>
Destaque, Piores, Inéditos e O Ranking</h3>
<div>
<h4>
Destaques do Ano</h4>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQS8sjyfXC7c4tO-Ylz6qDtGO_jIv8q2z-K50hHKBMV_w5hQad68eU26CyL2vx02JBdelbuiv_U1TmGVMv17i05cqdbPQjd8030zhGi9bd4MCBtizEPVf4Ir84m0-HovazakMukcz79tA/s1600/burning_photo_7-2018-pinehousefilm-1440x775.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="775" data-original-width="1440" height="344" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQS8sjyfXC7c4tO-Ylz6qDtGO_jIv8q2z-K50hHKBMV_w5hQad68eU26CyL2vx02JBdelbuiv_U1TmGVMv17i05cqdbPQjd8030zhGi9bd4MCBtizEPVf4Ir84m0-HovazakMukcz79tA/s640/burning_photo_7-2018-pinehousefilm-1440x775.jpg" width="640" /></a></div>
<div>
Os filmes que não chegaram no Melhores do Ano, mas que por motivos particulares merecem algum reconhecimento:</div>
<div>
<ul>
<li>Zama</li>
<li>Confronto no Pavilhão 99</li>
<li>Paddington 2</li>
<li>O Amante de Um Dia</li>
<li>Hereditário</li>
<li>Legítimo Rei</li>
<li>Em Chamas</li>
<li>Os Estranhos - Caçada Noturna</li>
<li>Mais Uma Chance</li>
<li>Vingadores - Guerra Infinita</li>
<li>Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo</li>
<li>Aniquilação</li>
<li>Museu</li>
<li>O Animal Cordial</li>
<li>Upgrade</li>
</ul>
<h4>
Piores do Ano</h4>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhg0hNr731TrSu16Z9OS6Ecpmb7ZmNNTv5yqUTG1vWnwLgnYhOEVQTe919PHqFE3BUoqtMJ8uXNvreXJmJluzBuNGiWIgaabevqIlglrQEIIZZbD1aODV2HGI1slw9Yt12_92QTwBLUaH4/s1600/slanderman1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1000" data-original-width="1498" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhg0hNr731TrSu16Z9OS6Ecpmb7ZmNNTv5yqUTG1vWnwLgnYhOEVQTe919PHqFE3BUoqtMJ8uXNvreXJmJluzBuNGiWIgaabevqIlglrQEIIZZbD1aODV2HGI1slw9Yt12_92QTwBLUaH4/s640/slanderman1.jpg" width="640" /></a></div>
<div>
As grandes bombas de 2018:</div>
<div>
<ol>
<li>Slender Man - Pesadelo Sem Rosto</li>
<li>Robin Hood - A Origem</li>
<li>Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald</li>
<li>Vidas à Deriva</li>
<li>O Insulto</li>
<li>Círculo de Fogo - A Revolta</li>
<li>Venom</li>
<li>Submersão</li>
<li>Happy End</li>
<li>O Diabo e o Padre Amorth</li>
</ol>
</div>
<h4>
Inéditos</h4>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2EvHrXph8ugFyYvZ6zfEMHo6tU6yR7SgcVTxcA2aZuzUaNh_hE8lMKdSQch44MTWdAEf8aGtgoViHfrVxi6kjt2HIeDx82I39o4rUVXc1AI12IyiU9aVM-314c_aEkIbsk5nTlUBw17s/s1600/mcenroe_lead.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2EvHrXph8ugFyYvZ6zfEMHo6tU6yR7SgcVTxcA2aZuzUaNh_hE8lMKdSQch44MTWdAEf8aGtgoViHfrVxi6kjt2HIeDx82I39o4rUVXc1AI12IyiU9aVM-314c_aEkIbsk5nTlUBw17s/s640/mcenroe_lead.jpg" width="640" /></a></div>
<div>
Em 2019, fique de olho nestes filmes:</div>
<div>
<ol>
<li>No Coração da Escuridão, de Paul Schrader</li>
<li>Ash Is Purest White, de Jia Zhangke</li>
<li>A Valsa de Waldheim, de Ruth Beckermann</li>
<li>Support the Girls, de Andrew Bujalski</li>
<li>John McEnroe: In The Realm of Perfection, de Julien Faraut</li>
<li>Homem-Aranha no Aranhaverso, de Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman</li>
<li>I Do Not Care If We Go Down in History as Barbarians, de Radu Jude</li>
<li>Trem das Vidas ou A Viagem de Angélique, de Paul Vecchiali</li>
<li>3 Faces, de Jafar Panahi</li>
<li>Assunto de Família, de Hirokazu Koreeda</li>
<li>O Hotel às Margens do Rio, de Hong Sang-soo</li>
<li>Vidas Duplas, de Olivier Assayas</li>
<li>Uma Terra Imaginada, de Siew Hua Yeo</li>
<li>Temporada, de André Novais Oliveira</li>
<li>Imagem e Palavra, de Jean-Luc Godard</li>
<li>Grass, de Hong Sang-soo</li>
<li>Destination Wedding, de Victor Levin</li>
<li>Vida Selvagem, de Paul Dano</li>
<li>Oitava Série, de Bo Burnham</li>
<li>Guerra Fria, de Pawel Pawlikowski</li>
</ol>
</div>
<div>
Pra encerrar, <b>o ranking completo</b> do Melhores do Ano 2018:</div>
<ol>
<li>O Outro Lado do Vento <b>(10/10)</b></li>
<li>Trama Fantasma <b>(9/10)</b></li>
<li>Arábia <b>(8/10)</b></li>
<li>O Passageiro</li>
<li>Nasce Uma Estrela</li>
<li>Asako I & II</li>
<li>Sem Rastros</li>
<li>Infiltrado na Klan</li>
<li>A Melhor Escolha</li>
<li>A Balada de Buster Scruggs</li>
<li>Projeto Flórida</li>
<li>As Boas Maneiras</li>
<li>A Câmera de Claire</li>
<li>Lady Bird - É Hora de Voar</li>
<li>Homem-Formiga e a Vespa</li>
<li>Visages, Villages</li>
<li>Roma</li>
<li>Vingança</li>
<li>Um Pequeno Favor <b>(7/10)</b></li>
<li>Verão</li>
<li>Histórias que Nosso Cinema (Não) Contava</li>
<li>Jogador N° 1</li>
<li>Buscando...</li>
<li>Ponto Cego</li>
<li>A Noite do Jogo</li>
<li>Zama</li>
<li>Confronto no Pavilhão 99</li>
<li>O Dia Depois</li>
<li>Missão: Impossível - Efeito Fallout</li>
<li>The Post - A Guerra Secreta</li>
<li>Paddington 2</li>
<li>O Amante de Um Dia</li>
<li>Upgrade</li>
<li>Me Chame Pelo Seu Nome</li>
<li>Apóstolo</li>
<li>Hereditário</li>
<li>Para Todos os Garotos que Já Amei</li>
<li>Sicário - Dia do Soldado</li>
<li>Mudbound - Lágrimas Sobre o Mississipi</li>
<li>A Primeira Noite de Crime</li>
<li>Os Fantasmas de Ismael</li>
<li>Os Incríveis 2</li>
<li>Sem Fôlego</li>
<li>Podres de Ricos</li>
<li>A Festa</li>
<li>Legítimo Rei</li>
<li>Vende-se Esta Casa</li>
<li>Em Chamas <b>(6/10)</b></li>
<li>Os Estranhos - Caçada Noturna</li>
<li>Mais Uma Chance</li>
<li>Antes que Tudo Desapareça</li>
<li>Vingadores - Guerra Infinita</li>
<li>Pantera Negra</li>
<li>Popstar: Sem Parar, Sem Limites</li>
<li>Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo</li>
<li>Aniquilação</li>
<li>Museu</li>
<li>Viva - A Vida é uma Festa</li>
<li>O Animal Cordial</li>
<li>O Plano Imperfeito</li>
<li>Gente de Bem</li>
<li>Halloween</li>
<li>Operação Overlord</li>
<li>Cam</li>
<li>Arranha-Céu</li>
<li>O Retorno de Mary Poppins</li>
<li>A Forma da Água</li>
<li>O Mistério do Relógio na Parede</li>
<li>Oito Mulheres e Um Segredo</li>
<li>Todo o Dinheiro do Mundo</li>
<li>Serei Amado Quando Morrer</li>
<li>120 Batimentos Por Minuto</li>
<li>O Artista do Desastre</li>
<li>Sombras da Vida</li>
<li>Roman J. Israel</li>
<li>Cartas Para um Ladrão de Livros</li>
<li>7 Dias em Entebbe</li>
<li>78/52</li>
<li>Sem Amor</li>
<li>O Processo</li>
<li>15h17 - Trem Para Paris <b>(5/10)</b></li>
<li>Não Vai Dar</li>
<li>Café com Canela</li>
<li>Te Peguei!</li>
<li>Medo Profundo</li>
<li>Jumanji - Bem Vindo à Selva</li>
<li>Marshall: Igualdade e Justiça</li>
<li>Desejo de Matar</li>
<li>Você Nunca Esteve Realmente Aqui</li>
<li>Aquaman</li>
<li>Djon África</li>
<li>A Morte de Stálin</li>
<li>Diamantino</li>
<li>Bumblebee</li>
<li>A Noite Devorou o Mundo</li>
<li>Culpa</li>
<li>Um Lugar Silencioso</li>
<li>Estrelas de Cinema Nunca Morrem</li>
<li>O Touro Ferdinando</li>
<li>Distúrbio</li>
<li>Desobediência</li>
<li>Han Solo - Uma História Star Wars</li>
<li>Gnomeu e Julieta - O Segredo do Jardim</li>
<li>Fútil e Inútil</li>
<li>Com Amor, Simon</li>
<li>O Terceiro Assassinato</li>
<li>O Destino de uma Nação</li>
<li>O Segredo da Câmara Escura</li>
<li>Maria Madalena</li>
<li>De Encontro com a Vida</li>
<li>Ella e John</li>
<li>O Primeiro Homem <b>(4/10)</b></li>
<li>Quando Nos Conhecemos</li>
<li>Meu Ex é Um Espião</li>
<li>No Olho do Furacão</li>
<li>Pequena Grande Vida</li>
<li>Colette</li>
<li>Uma Dobra no Tempo</li>
<li>Tully</li>
<li>Crônicas de Natal</li>
<li>Christopher Robin - Um Reencontro Inesquecível</li>
<li>As Viúvas</li>
<li>Mogli: Entre Dois Mundos</li>
<li>Esplendor</li>
<li>Benzinho</li>
<li>Crimes em Happytime</li>
<li>Baseado em Fatos Reais</li>
<li>Millennium: A Garota na Teia de Aranha</li>
<li>A Freira</li>
<li>Deadpool 2</li>
<li>Cinquenta Tons de Liberdade</li>
<li>Excelentíssimos</li>
<li>Bohemian Rhapsody</li>
<li>O Predador</li>
<li>O Orgulho</li>
<li>Tomb Raider</li>
<li>Paradox</li>
<li>Los Territorios</li>
<li>Jurassic World - Reino Ameaçado</li>
<li>Camocim</li>
<li>Verdade ou Desafio</li>
<li>Eu, Tonya</li>
<li>Baronesa</li>
<li>Perda Total</li>
<li>The Square - A Arte da Discórdia</li>
<li>Três Anúncios Para um Crime</li>
<li>O Sacrifício do Cervo Sagrado</li>
<li>Rampage - Destruição Total <b>(3/10)</b></li>
<li>Tinta Bruta</li>
<li>Megatubarão</li>
<li>Gringo - Vivo ou Morto</li>
<li>The Cloverfield Paradox</li>
<li>A Aparição</li>
<li>A Grande Jogada</li>
<li>Bird Box</li>
<li>The Outsider</li>
<li>O Diabo e o Padre Amorth</li>
<li>Happy End</li>
<li>Submersão</li>
<li>Venom <b>(2/10)</b></li>
<li>Círculo de Fogo - A Revolta</li>
<li>O Insulto</li>
<li>Vidas à Deriva</li>
<li>Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald</li>
<li>Robin Hood - A Origem <b>(1/10)</b></li>
<li>Slender Man - Pesadelo Sem Rosto</li>
</ol>
<div>
Tenham um feliz 2019!</div>
</div>
<h4>
Veja também!</h4>
<div>
<ul>
<li><a href="http://onerdcontrataca.blogspot.com/2017/12/o-cinema-em-2017-melhores-do-ano.html" target="_blank">Melhores do Ano 2017</a></li>
<li><a href="http://onerdcontrataca.blogspot.com.br/2016/12/o-cinema-em-2016-melhores-do-ano.html" target="_blank">Melhores do Ano 2016</a></li>
<li><a href="http://onerdcontrataca.blogspot.com.br/2015/12/o-cinema-em-2015-melhores-do-ano.html" target="_blank">Melhores do Ano 2015</a></li>
<li><a href="http://onerdcontrataca.blogspot.com.br/2014/12/o-cinema-em-2014-os-melhores-e-o-ranking.html" target="_blank">Melhores do Ano 2014</a></li>
<li><a href="http://onerdcontrataca.blogspot.com.br/2013/12/retrospectiva-2013-cinema.html" target="_blank">Melhores do Ano 2013</a></li>
<li><a href="http://onerdcontrataca.blogspot.com.br/2012/12/retrospectiva-2012-melhores-do-ano.html" target="_blank">Melhores do Ano 2012</a></li>
</ul>
</div>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-72924084272509543822018-11-23T12:20:00.000-08:002018-11-23T12:20:05.261-08:00Crítica: Refém do Jogo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi46yLEvvq64Cn9IkmJz92DKrqt_nsLnsjpkwsSbhx5ayqEjQ4sxWseaDvxyZ47A0IBrmOvgVIeYYhnPGGRNwimpUoPQNyMyU3dNNEFZeeAa82VFFvAgGBi8q_iy6gjim3Jdd6OTE5YDEo/s1600/final-score-dave-bautista.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="563" data-original-width="1000" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi46yLEvvq64Cn9IkmJz92DKrqt_nsLnsjpkwsSbhx5ayqEjQ4sxWseaDvxyZ47A0IBrmOvgVIeYYhnPGGRNwimpUoPQNyMyU3dNNEFZeeAa82VFFvAgGBi8q_iy6gjim3Jdd6OTE5YDEo/s640/final-score-dave-bautista.jpg" width="640" /></a></div>
<h3>
Dave Bautista estrela ação oitentista que deveria ter ficado no passado (ou nem isso).</h3>
<span style="font-size: x-small;">Por Alexandre Dias.</span><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-4MU9eWb_faSy9EEp0aAs2kEL-OtA4RzT8CLw0-ZoyuDErbMo9RG91jcMWT9dKi7cFqQMOEOcjwpiSZ7VPb9kPJwvDw1NUcnjB5wABZh6VN5ixrt5PJc0rgntCjByf71bQJGQRew3tjo/s1600/FInal-Score-Poster.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="810" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-4MU9eWb_faSy9EEp0aAs2kEL-OtA4RzT8CLw0-ZoyuDErbMo9RG91jcMWT9dKi7cFqQMOEOcjwpiSZ7VPb9kPJwvDw1NUcnjB5wABZh6VN5ixrt5PJc0rgntCjByf71bQJGQRew3tjo/s400/FInal-Score-Poster.jpg" width="270" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Sylvester Stallone ainda é ativo no mercado cinematográfico pelo simples fato de saber utilizar o saudosismo ao seu favor. Os trabalhos e atuações do eterno intérprete de Rocky Balboa não tentam impor as suas características orgânicas ao modelo fílmico atual, mas sim relembrá-las. Assim, o astro continua mantendo a sua presença em projetos como algo requerido, enquanto a evolução do cinema de ação oitentista fica a cargo dos novos brutamontes que entenderam como tirar sarro deles mesmos e se divertirem, sendo os principais Vin Diesel, Jason Statham e Dwayne Johnson.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O próprio Velozes e Furiosos, protagonizado pelos três artistas em questão, prova com o seu show de mentiras e bizarrices a existência de uma vertente do blockbuster moderno, focada totalmente no entretenimento. Não é ultrapassado, ainda que ridículo. <b>Refém do Jogo</b>, no entanto, imprime uma aura que já não funciona mais nos dias de hoje. A parte “ruim” da obra que seria perdoada (e até celebrada) em uma época remota, como ocorreu com Sly, Arnold Schwarzenegger e Jean-Claude Van Damme, é apenas ruim sem aspas atualmente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por falar em Van Damme, há a influência clara de um dos seus filmes no longa do diretor Scott Mann: Morte Súbita, de 1995. A premissa da invasão de um estádio esportivo – antes era hóquei, agora futebol - por “terroristas” permanece. A produção estrelada pelo belga também não era um triunfo da sétima arte, porém foi lançada durante o auge do artista marcial e, mais uma vez, acaba tornando as suas cafonices, vícios e clichês aceitáveis.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Estes pontos são perceptíveis no projeto de Mann principalmente por meio do roteiro de Jonathan Frank, David T. Lynch e Keith Lynch. Há o herói norte-americano atormentado pelo passado que deve voltar à ativa, o vilão russo que ficou louco com os seus ideais, a adolescente rebelde, o amigo árabe do protagonista e dessa forma continua. Sim, os estereótipos são tão batidos quanto parecem, inclusive são explicitados; a “piada” que referencia um possível homem-bomba é o exemplo máximo disso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O texto monótono e antiquado não ajuda Mann, mas ele, do mesmo jeito, não tem nenhuma marca positiva aparente. Na franquia John Wick, Chad Stahelski e David Leitch, trabalharam com uma trama de vingança e máfias russas. Seria um grande clichê se não fosse o modo preciso de abordar o mundo dos mercenários, além de colocar a ação nas telas com a maestria de um espetáculo de dança. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O cineasta de Refém do Jogo passa longe de promover a mesma boa identidade estética que a dupla faz. A pancadaria e os tiroteios são genéricos e não exploram bem Dave Bautista, ex-lutador gigantesco – falam o tempo inteiro sobre o seu tamanho - que teria muito a agregar como um brucutu ao estilo The Rock. Aliás, o seu personagem desajeitado quase sempre tem o benefício da sorte, sem precisar necessariamente demonstrar habilidade. Em ambientes fechados o caos é menos aparente, como é o caso da batalha no elevador, porém quando se trata do aproveitamento do espaço vemos a limitação gritante do realizador, a exemplo da medonha cena da perseguição de motos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Enquanto isso, o bom elenco não tem como exibir o mínimo de talento pelos papéis horrorosos, vide o momento em que Bautista precisa chorar. Há certas carreiras que tem um limite e Dwayne Johnson teve essa compreensão, por isso chegou tão longe. Ele sabe até onde pode ir e que trabalhos estão a sua frente. O intérprete de Drax tem tanto potencial quanto ele e, se aprender com erros como esse, também pode alavancar como um ícone dos blockbusters modernos de ação e aventura. Vale ressaltar que os outros coadjuvantes sofrem igualmente, como o veterano Pierce Brosnan, que mal tem tempo de tela, e Ray Stevenson (o Volstagg, de Thor), ótimo ator sujeito a dar vida a um russo estereotipado. </div>
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<br /></div>
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As referências são importantes em qualquer projeto cultural. Entretanto, elas são argumentos para a formação de algo novo, que seja uma nova referência no futuro. Obviamente, há um certo idealismo nesta afirmação, mas, de fato, não há como reproduzir só uma referência esperando que haja uma simulação de tudo de bom que ela tem. Refém do Jogo tenta reproduzir uma época, com um material de base superficial. Esperemos pelo terceiro capítulo de John Wick.</div>
<h3>
Nota: 3/10</h3>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-10310971298694790822018-11-08T12:00:00.001-08:002018-11-12T06:21:10.060-08:00Crítica: Operação Overlord<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLaFo5ydB5CagjBcaxGUIDFYTtVrKnsn3hb5LDjuGLrZ7P5fMgOd9zDyTlaYpOOuOVrzVuvfDs3ApY1umXrF5EO3BegpxeIzkWweKr5DvoxWLGcH_s6ISbNqNwknmzF-ZO24O5NA0IXE8/s1600/OVL-03625R.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLaFo5ydB5CagjBcaxGUIDFYTtVrKnsn3hb5LDjuGLrZ7P5fMgOd9zDyTlaYpOOuOVrzVuvfDs3ApY1umXrF5EO3BegpxeIzkWweKr5DvoxWLGcH_s6ISbNqNwknmzF-ZO24O5NA0IXE8/s640/OVL-03625R.jpg" width="640" /></a></div>
<h3>
Terror de ação da Bad Robot flerta com o caricato, mas também o teme.</h3>
<span style="font-size: x-small;">Por Alexandre Dias.</span><br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVdp-x5NPUgYgWP1Jse4QOcj3JHt9GWMezVm1EU-hy6Wkew_WChXGpf_1tg9_wa_hFVi5sPfFO22ZVw-qSbdS4dcnayHKlXYuUU3ezNSYshfgjE6g1RHwDRPto1WA0gOGJ2twL_BA4Rv0/s1600/overlordspatterposter2018-1.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1024" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVdp-x5NPUgYgWP1Jse4QOcj3JHt9GWMezVm1EU-hy6Wkew_WChXGpf_1tg9_wa_hFVi5sPfFO22ZVw-qSbdS4dcnayHKlXYuUU3ezNSYshfgjE6g1RHwDRPto1WA0gOGJ2twL_BA4Rv0/s400/overlordspatterposter2018-1.jpg" width="255" /></a></div>
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J.J. Abrams sempre foi uma espécie de elo entre as produções mais independentes e os blockbusters arrasa-quarteirões, principalmente no que se refere ao conteúdo fantástico e aventuresco. A sua produtora, a Bad Robot, é responsável pela franquia Missão: Impossível e ao mesmo tempo lançou a marca Cloverfield que, inclusive, catapultou Matt Reeves - o diretor já contratado para o próximo filme do Batman - a Hollywood. </div>
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Nos casos de projetos com orçamentos reduzidos, especialmente aqueles relacionados ao terror, ação, sci-fi e fantasia, os realizadores em questão têm mais chance de se sobressaírem, pela necessidade de fazer muito com pouco, além da liberdade criativa ser maior, pois há menos pressão de um grande estúdio por trás. Em <b>Operação Overlord</b> esse contexto mesclou-se a um receio de não explosão comercial, sendo essa aspiração de que o longa fosse o próximo Deadpool o seu monstro.</div>
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Zumbis nazistas. Isso resume (e não resume) a obra. Com esta premissa é difícil trabalhar uma quebra de expectativa e fazer algo que rompa barreiras, portanto a execução do gore e da parte trash é essencial, ainda que haja um trabalho mais apurado de roteiro do que circunstâncias assim pedem. Dessa forma, a seriedade e a pseudo profundidade da trama são fatores extremamente limitantes, que criam uma burocracia desnecessária a uma história como essa.</div>
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Talvez o objetivo fosse a realização de um novo Drink no Inferno, em que o seu início segue a estrutura de um filme clássico de Quentin Tarantino e depois Robert Rodriguez dita a explosão do horror bizarro de vampiros. Se era, não ocorreu como planejado por causa da ausência dessa segunda característica, a do exagero, da galhofa. Pode-se contar nos dedos quantos zumbis aparecem. E até poderíamos entender Operação Overlord mais como uma produção de guerra do que como um terror de ação, se não fosse o fato de que há inúmeros clichês do gênero, como jump scares, e a própria insinuação constante de monstruosidades paranormais.</div>
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Mesmo este tom de O Resgate do Soldado Ryan só funciona até certo ponto, mais especificamente no primeiro ato e início do segundo. Os personagens são absolutamente desprovidos de carisma por isso, mas não por falta de potencial. Ford, por exemplo, que é interpretado pelo filho de Kurt Russell, Wyat, é barrado como o líder brucutu – tomara que continue seguindo os passos do pai - pelo moralismo usual do protagonista, Boyce (Jovan Adepo, também bom ator, mas que sofre pelo papel cansativo). Todos os outros sofrem por essas relações previsíveis e automáticas, que, já que não foram incorporadas ao grotesco, deveriam ter sido melhor trabalhadas.</div>
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E como os atores, o diretor Julius Avery demonstrou que tem talento, porém não conseguiu exibí-lo com toda a força, muito pelo roteiro mastigado de Billy Ray e Mark L. Smith. A câmera próxima dos personagens, como na ótima cena de abertura, e a disposição da ação em determinados espaços – o tiroteio noturno na floresta - comprovam que o cineasta tem uma visão de ideias, que podem ser colocadas na telona sem milhões de dólares. Apesar disso, ele se perde nos momentos em que precisa mostrar o horror e o caricato.</div>
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Aliás, o conceito dos zumbis super poderosos é inteligente e cria uma expectativa não atendida também na ação. Há um embate que acontece em um ponto da trama que gera muita empolgação não devolvida na execução. Na verdade, Operação Overlord é uma grande promessa em falso. É frustrante, porque não tinha motivo de um projeto como esse ter medo do público e da indústria, principalmente depois de dar o primeiro passo em direção à ousadia de um filme de baixo orçamento.</div>
<h3>
Nota: 4/10</h3>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-13469925912643697812018-10-26T13:10:00.001-07:002018-10-26T13:10:47.098-07:00Crítica: Podres de Ricos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgieoDjd90ZPppsK-BlR7rHBlJxMssmEKAWWeTQttU5MB6Z5iOjFwrhyJuUrDBIjx5GbvDwu4vp3OR9uqUgemUJnmlY1gIU1xKvMNwPhyPfoNNkuSJ2jUO3oD1ekY3eZjfM2yxUfgSqcJQ/s1600/e344aa77-c499-4d4b-a02e-d273e17b0223-CRA-08100.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="896" data-original-width="1600" height="358" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgieoDjd90ZPppsK-BlR7rHBlJxMssmEKAWWeTQttU5MB6Z5iOjFwrhyJuUrDBIjx5GbvDwu4vp3OR9uqUgemUJnmlY1gIU1xKvMNwPhyPfoNNkuSJ2jUO3oD1ekY3eZjfM2yxUfgSqcJQ/s640/e344aa77-c499-4d4b-a02e-d273e17b0223-CRA-08100.jpg" width="640" /></a></div>
<h3>
Comédia romântica inova clichês do gênero com elenco 100% asiático.</h3>
<span style="font-size: x-small;">Por Isabela Faggiani.</span><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhk_lSknGFdpoAw1QTVTY2qYc3985PdftGb5W4NOUvAPyqNc_GyF94ZBGX4RnUwjFfEbUimAR3bhrLUGTkm16aBy122gttJaonvvH5wTIYuSJetDiZcoQKKYLaD3PVq-_czT4CybcDE_O8/s1600/1000x1407_movie15303posterscrazy_rich_asians-hk_2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1407" data-original-width="1000" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhk_lSknGFdpoAw1QTVTY2qYc3985PdftGb5W4NOUvAPyqNc_GyF94ZBGX4RnUwjFfEbUimAR3bhrLUGTkm16aBy122gttJaonvvH5wTIYuSJetDiZcoQKKYLaD3PVq-_czT4CybcDE_O8/s400/1000x1407_movie15303posterscrazy_rich_asians-hk_2.jpg" width="283" /></a></div>
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<b>Podres de Ricos</b>, que chega essa semana aos cinemas brasileiros, foi um dos filmes mais esperados do ano, e teve um sucesso espetacular nos Estados Unidos. À primeira vista, parece que é apenas mais uma comédia romântica com uma trama conhecida: a garota de classe média baixa que se vê namorando um ricaço e precisa conquistar a aprovação da família dele, mas a história é muito mais que isso. Começando pelo fato de que quase todos os envolvidos são asiáticos ou descendentes de asiáticos, desde o diretor, John M. Chu, até os figurantes. Difícil mesmo, é achar algum caucasiano no longa. </div>
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O filme é claramente feito para o público ocidental, com o roteiro em inglês, baseado no livro Asiáticos Podres De Ricos, de Kevin Kwan. A importância desse longa para os asiáticos que vivem no ocidente pode ser comparada à importância de <a href="http://onerdcontrataca.blogspot.com/2018/02/critica-pantera-negra.html" target="_blank">Pantera Negra</a> para o público negro. Isso ocorre porque a representação asiática nos cinemas ocidentais quase nunca foge de clichês como “o asiático nerd” ou “o lutador de artes marciais”.</div>
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A história acompanha Rachel (Constance Wu), uma professora de economia sino-americana que nunca havia viajado para o seu país de origem, apesar de falar a língua. Ela namora Nick, porém nunca havia conhecido a família dele, que mora em Singapura, até ele a convidar para o casamento de seu melhor amigo. O que ela não esperava, porém, foi a descoberta de que Nick (Henry Golding) faz parte de uma das famílias mais ricas e famosas da Ásia. O título do filme é completamente honesto nesse aspecto: a riqueza da família é imensurável.</div>
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No filme, a prima de Nick, Astrid Young (Gemma Chan), mesmo tendo a própria trama, é secundária, porém é a história dela que mostra a possibilidade de uma sequência. O livro que deu origem ao filme também a tem como personagem central e faz parte de uma trilogia. Astrid tem que lidar com seus próprios problemas e, a cena final envolvendo ela e Charlie Wu (Harry Shum Jr) apontam que podemos ver mais da família Young nas telonas.</div>
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Astrid é uma das poucas personagens que aceita e gosta de Rachel. O resto da família Young e de seus amigos e conhecidos parece não gostar da presença da jovem, principalmente a mãe, de Nick, Eleanor (Michelle Yeoh). Ela não aceita Rachel e quer que o filho volte a morar em Singapura e cuide dos negócios da família. A reprovação se dá ao fato de que Rachel não cresceu inserida na cultura e tradições asiáticas. Isso aborda uma questão importantíssima aos descendentes asiáticos: a sensação de não pertencimento.</div>
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Os descendentes de países do leste da Ásia não são vistos como estadunidenses, brasileiros, britânicos, etc., mas também não são vistos como chineses, japoneses, coreanos… Eles não são “ocidentais” o suficiente, mas ao mesmo tempo, por não terem crescido dentro da sociedade de seus pais e avós, também não são considerados parte daqueles locais.</div>
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Podres de Ricos sabe abordar muito bem o preconceito contra asiáticos de forma clara, mas sem trazer um tom dramático à trama. A primeira cena do filme já mostra isso. Ela se passa em uma noite chuvosa na Inglaterra nos anos 90, com Eleanor e seus filhos entrando em um hotel cinco estrelas e falando que reservaram a suíte mais cara. Os funcionários do hotel se recusam a hospedar a família. Eleanor, porém, não deixa barato e logo liga para o marido, que prontamente compra o hotel, mostrando o poder aquisitivo da família.</div>
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A cultura hollywoodiana quase não admite o estrelato de pessoas que não sejam brancas, e muitas vezes tira papéis dessas minorias para colocar alguém branco no lugar, como foi o caso de <a href="http://onerdcontrataca.blogspot.com/2017/03/critica-vigilante-do-amanha-ghost-in.html" target="_blank">A Vigilante do Amanhã</a>, com Scarlett Johansson no papel de uma personagem japonesa. Por isso, Podres de Ricos, com seu elenco 100% asiático, é um marco na história de minorias no cinema ocidental. Ele se apresenta com uma comédia romântica de qualidade, com personagens complexos e um ótimo roteiro.</div>
<h3 style="text-align: justify;">
Nota: 7/10</h3>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-21696058714542314232018-10-19T04:53:00.000-07:002018-10-19T04:53:20.242-07:00Crítica: Legalize Já! - Amizade Nunca Morre<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT0FInlSz5BEligrF7EfC3LCWbOorV67HMOCXfQahp-nJEZ2OVBoUGz0xTWdlQVv170-ipdP_GnLO5UdBGODz2FNRyDO7g5-e6DRLWqhHawfpyjzioLHS25YDKVloWLn8_zFrzKHm_oiE/s1600/Renato+G%25C3%25B3es+e+%25C3%258Dcaro+Silva+no+palco_Divulga%25C3%25A7%25C3%25A3o.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT0FInlSz5BEligrF7EfC3LCWbOorV67HMOCXfQahp-nJEZ2OVBoUGz0xTWdlQVv170-ipdP_GnLO5UdBGODz2FNRyDO7g5-e6DRLWqhHawfpyjzioLHS25YDKVloWLn8_zFrzKHm_oiE/s640/Renato+G%25C3%25B3es+e+%25C3%258Dcaro+Silva+no+palco_Divulga%25C3%25A7%25C3%25A3o.JPG" width="640" /></a></div>
<h3>
Relação dos fundadores do Planet Hemp é o foco certeiro da cinebiografia da banda carioca.</h3>
<span style="font-size: x-small;">Por Alexandre Dias.</span><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIXIH-wY9aSHRXR4hQA4p7agRT_6M8haIk-JMUCwPGmbC8eJVTFTmf4FKSB-xj4KK30-A_nTENxxesKXzDetjfX-ehi2IeZcM7VNSR-XNIBByLIXT1q9hH72VjkVIBbncTNozneGPFpBA/s1600/Legalize+J%25C3%25A1+-+Cartaz.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1500" data-original-width="1021" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIXIH-wY9aSHRXR4hQA4p7agRT_6M8haIk-JMUCwPGmbC8eJVTFTmf4FKSB-xj4KK30-A_nTENxxesKXzDetjfX-ehi2IeZcM7VNSR-XNIBByLIXT1q9hH72VjkVIBbncTNozneGPFpBA/s400/Legalize+J%25C3%25A1+-+Cartaz.jpg" width="271" /></a></div>
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Straight Outta Compton - A História do N.W.A. tem uma grande história de base, personagens reais fortes e um fundo musical riquíssimo. Por que, então, toda essa qualidade foi limitada no filme de F. Gary Gray? O erro crasso da maior parte das cinebiografias é justamente essa dificuldade de transpor um produto cultural imponente para as telonas. Ou seja, dos realizadores pensarem que a parte cinematográfica em si está em segundo plano e que o tema já é o suficiente para a formação de um longa-metragem.</div>
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O roteiro, o tom, a técnica e o trabalho dos personagens são tão importantes em um projeto assim como em qualquer outro, vide A Rede Social, em que David Fincher fez muito mais do que contar quem é Mark Zuckerberg. Os cineastas Johnny Araújo e Gustavo Bonafé entenderam isso e <b>Legalize Já! – Amizade Nunca Morre</b> não deve receber a alcunha genérica de cinebiografia do Planet Hemp. Há uma boa dose de personalidade, ainda que contida em alguns momentos para se adequar aos padrões comerciais.</div>
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De longe, o ponto de partida do filme foi a decisão mais acertada: focar na relação entre Marcelo D2 (Renato Goés) e Skunk (Ícaro Silva). O núcleo intimista dos primeiros integrantes da banda carioca cria margem para a elaboração de discussões sociais, culturais e políticas, pontos intrínsecos ao grupo desde o seu início, além do tranquilo desenvolvimento dos seus protagonistas, que, apesar de previsível por um lado, demonstra carisma e maturidade por outro.</div>
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Goés e Silva têm uma ótima química nos papéis dos músicos, seja na piada, na briga ou no talento. Os trejeitos que os atores atribuem aos artistas dão a impressão de improviso em determinadas ocasiões; tenha sido isso ou não, o espectador fica ávido pelo que ambos têm a dizer. Consequentemente, os outros personagens são completamente dispensáveis. As interações entre Skunk e Brennand (Ernesto Alterio) e Marcelo e Sônia (Marina Provenzzano), com raras exceções, são mecânicas para a trama, mesmo que haja uma ou outra cena nesse meio que arranque um sorriso ou um aperto no coração. Pelo foco da obra estar em outro lugar é compreensível, porém, nem por isso, deixa de ser perceptível.</div>
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<br /></div>
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O roteiro de Felipe Braga e L.G. Bayão é automático como um todo, especialmente para os fãs do Planet Hemp e aqueles já familiares com a sua trajetória. Contudo, esse direcionamento nos fundadores permitiu não só a abertura para a cinematografia de suas vidas, como de suas ideologias e artes. “Não é sobre maconha”, repete Skunk duas ou três vezes no longa. De fato, a descriminalização das drogas não é o centro dos debates nesse projeto e essa ausência é sentida um pouco, mas o encaminhamento da discussão para o tratamento da cultura no Brasil foi certeiro.</div>
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Não é uma pressão absurda nas feridas, porém é jogado um pouco de sal. Fica claro o quanto o nosso Estado não valoriza e não incentiva a música, a arte e as manifestações culturais. Pelo contrário, são vistas com olhos conservadores, dessa maneira os artistas são a linha de frente da resistência. Sem falar na leva de outros assuntos trazidos no meio da criação da banda, que envolvem racismo, desigualdade social e violência policial, por exemplo. Os percalços encontrados pela dupla, principalmente no primeiro ato, reúnem muitas dessas questões, como no momento em que Skunk é abordado pela lei ou na rotina de trabalho D2.</div>
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A fotografia acinzentada realça esse cenário brasileiro representado no Rio de Janeiro, enquanto a trilha sonora, composta pelo próprio D2, carrega o clima da produção, seja com os sucessos do Planet Hemp ou de suas influências. Há realmente um cuidado audiovisual singular em Legalize Já! e a linha tradicional que move essa obra para o mercado não diminui a cortesia com a qual ela foi concebida, a mesma que falta para com a cultura no Brasil.</div>
<h3>
Nota: 8/10</h3>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-2583228805086699262018-10-05T19:55:00.000-07:002018-10-05T19:55:40.091-07:00Crítica: Venom<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFdmf4px8hiRRKC37eGqKLjbvTHpv5MNY0lzOvYTMfOabNxqa3ESkTKqUjAmaZ4lL28B-i14ZVhoA2D06z5j1PochofLcRmfwyhxIsaU51og6d35v5yqpEW14vK-bg92sfTTqoJXaMEmo/s1600/TRB6270_comp_v0007.1121_r_.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="672" data-original-width="1600" height="268" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFdmf4px8hiRRKC37eGqKLjbvTHpv5MNY0lzOvYTMfOabNxqa3ESkTKqUjAmaZ4lL28B-i14ZVhoA2D06z5j1PochofLcRmfwyhxIsaU51og6d35v5yqpEW14vK-bg92sfTTqoJXaMEmo/s640/TRB6270_comp_v0007.1121_r_.jpg" width="640" /></a></div>
<h3>
Venom é tosco, mas, sem hipocrisia, permanece fiel às origens do personagem.</h3>
<span style="font-size: x-small;">Por Alexandre Dias.</span><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRmPLIqBsTfc7T1WCkszDLzoYThNxIfTWhzj1LOfrfe2mrL8yogo8fwWNC_vEiVvC_KIhd2XY9jkUR11cfjBFpRWNHYvhAkUi05gYVPXGcNiLPILVyUoxWTaA6mSyF_5650ubQc14T3ag/s1600/Poster+Venom.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="789" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRmPLIqBsTfc7T1WCkszDLzoYThNxIfTWhzj1LOfrfe2mrL8yogo8fwWNC_vEiVvC_KIhd2XY9jkUR11cfjBFpRWNHYvhAkUi05gYVPXGcNiLPILVyUoxWTaA6mSyF_5650ubQc14T3ag/s400/Poster+Venom.jpg" width="262" /></a></div>
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O mercado do cinema de super-heróis está passando por uma fase semelhante a que os quadrinhos viveram pós Watchmen e O Cavaleiro das Trevas. Não é mais uma novidade, então há uma saturação natural, e o modo de pensar dos produtores se assemelha muito à indústria dos gibis nos anos 90; pensar que características adultas, muito visual ou, como é o caso, foco nos vilões e anti-heróis sejam uma espécie de subversão, sendo assim o caminho, segundo estes sujeitos. </div>
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<br /></div>
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<a href="http://onerdcontrataca.blogspot.com/2016/08/critica-esquadrao-suicida.html" target="_blank">Esquadrão Suicida</a> provou isso ao não apenas colocar vilões na posição de heróis, mudando a essência dos personagens, como por reciclar os vícios e tendências do momento (“Ah vamos fazer o nosso Guardiões da Galáxia”).<b> Venom</b> tem praticamente todos esses aspectos preguiçosos, porém se salva por não ser um projeto hipócrita, criando o mínimo de respeito para com os seus próprios elementos e o espectador, que em nenhum momento é enganado sobre o que está diante dele. </div>
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O motivo da existência do simbionte está totalmente atrelado ao Homem-Aranha, portanto um longa solo dele não teria razão de acontecer. De fato, não tem. E sim, a sua nascença só ocorreu porque a Sony não tem mais como trabalhar com o universo do Cabeça de Teia , ao qual lhe pertence. Estaríamos em paz sem essa produção? Sim. Contudo, já que ela foi concebida, o sentido desse novo mundo está relacionado com a sua proposta e o seu material. Ambos são minimamente bem colocados.</div>
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A química de Eddie Brock (Tom Hardy) com o alienígena justifica tudo com o seu jeito caricato de ser. O ridículo (às vezes além da conta) é proposital, o que acaba por tornar aceitável uma falta de complexidade e até de lógica. É um parasita gigante que encontra o seu hospedeiro ideal em um fracassado. E pronto. Não há rodeios, logo o bizarro que é a zombaria que um faz com o outro, ou mesmo o apego dos dois, passa a se transformar no trunfo do filme, com alguns deslizes exagerados espalhados, é claro.</div>
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<br /></div>
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Vejamos o roteiro de Jeff Pinkner, Scott Rosenberg e Kelly Marcel. É a mesma linha tradicional e clichê da história de origem, sem nada muito significante a ser notado. Entretanto, consegue-se compreender porque Venom escolheu Brock e Riot concentrou-se em Carlton Drake (Riz Ahmed). No final, a bobeira não é cercada de uma bagunça, como ocorreu com os vilões da DC em 2016. Nem por isso a atração principal deixa de ser o simbionte, o resto é mais do que esquecível: a ex que volta à cena – é impossível, até para quem conseguiu aceitar a galhofa, decidir se aquele beijo foi uma boa decisão ou não -, o empresário ganancioso, os coadjuvantes amiguinhos, etc.</div>
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Inclusive, muito deste tom excêntrico se deve ao diretor Ruben Fleischer. Acostumado com a comédia, ao exemplo de Zumbilândia, ele varia entre o sarcasmo e o humor tradicional dos blockbusters. Dessa forma, o cineasta acaba forçando a barra em alguns pontos, mas sem precisar se prestar a uma determinada obrigação, como uma referência a Peter Parker ou algo do tipo. Tom Hardy é igual. O Brock dele é (pasmem) um cara simpático no início, mas é surreal o modo que ele encarna a dupla personalidade com o monstro, tanto pelo bem como pelo mal.</div>
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<br /></div>
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A ação também sofre desse extremismo que depende de uma possível aceitação. Quase inteiramente cercadas de CGI, há uma cara de trash onde o tosco é a salvação. Riot e suas habilidades bizarras são a prova viva disso. Percebe-se que não estamos vendo algo bonito, porém há uma beleza nesse entulho, não observada em <a href="http://onerdcontrataca.blogspot.com/2018/05/critica-deadpool-2.html" target="_blank">Deadpool 2</a>, por exemplo – ver Venom, com todo o seu poder, em ação é muito mais legal do que Cable ou Colossus. </div>
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Um projeto como Venom só poderia dar certo se fosse algo muito ousado e fora dos padrões do gênero. Só o fator de ser PG 13 (classificado como para maiores de 13 anos nos Estados Unidos) já indica um pouco que não é isso. No entanto, mesmo com esse molde genérico, o longa-metragem do simbionte tem uma identidade caricata viva, que já o põe em uma posição interessante como um filme de vilão. A possível sequência com o Carnificina e outros projetos de tal seguimento, como a futura origem do Coringa, dificilmente conseguirão se estabilizar na indústria com ideias que funcionam aos trancos e barrancos dessa maneira, mas, pela primeira vez, acredito que alguma coisa</div>
<div style="text-align: justify;">
possa sair desse mato sem cachorro.</div>
<h3>
Nota: 6/10</h3>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-13903357433932292512018-09-20T12:34:00.000-07:002018-09-20T12:34:20.798-07:00Crítica: 22 Milhas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7v-65YRWLO_GaGYOYqaFIuHMHzLEM8Z-oREExYASYr6h2ybukbSa32QjO_mcBmuqhiwTAUK7nZvQknpLIDyJGqkFOw9E7p5OSq-1FHUIPGhZ5QGBKftgeWdg-y77TCimBN_cANtxuUus/s1600/C%25C3%25B3pia+de+MILE22_Unit_29001R+EMPIRE+EXCLUSIVE.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7v-65YRWLO_GaGYOYqaFIuHMHzLEM8Z-oREExYASYr6h2ybukbSa32QjO_mcBmuqhiwTAUK7nZvQknpLIDyJGqkFOw9E7p5OSq-1FHUIPGhZ5QGBKftgeWdg-y77TCimBN_cANtxuUus/s640/C%25C3%25B3pia+de+MILE22_Unit_29001R+EMPIRE+EXCLUSIVE.jpg" width="640" /></a></div>
<h3>
Iko Uwais e o resto é resto.</h3>
<span style="font-size: x-small;">Por Alexandre Dias.</span><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzNhOQE01IMAYSykwRukw0BGc5XLLSgvTKiqbBpjJSsXzzb4qN0t91UWBTjSQQDtxHRLPj4isiAiRMn1yxUq1ChSisE7usvepp5PZYTJ-aNxEkFWFzJW6Fg2qMjRe9UYkTFMYYRDsg0dI/s1600/Poster_Mile22.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1095" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzNhOQE01IMAYSykwRukw0BGc5XLLSgvTKiqbBpjJSsXzzb4qN0t91UWBTjSQQDtxHRLPj4isiAiRMn1yxUq1ChSisE7usvepp5PZYTJ-aNxEkFWFzJW6Fg2qMjRe9UYkTFMYYRDsg0dI/s400/Poster_Mile22.jpg" width="273" /></a></div>
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Atirador, de 2007, é um dos únicos filmes de Antoine Fuqua realmente bons, fora a sua obra-prima Dia de Treinamento. Não espetacular, mas bom. O principal motivo é por recorrer à fórmula de ação das antigas, dos clássicos de brucutus dos anos 80, em que há uma premissa rasa, porém aceitável, e a pancadaria faz o resto. Um ou outro tema político, ou uma pequena reviravolta ainda se revelam, mas com uma certa moderação justamente porque Fuqua compreende o seu projeto.</div>
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<br /></div>
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Esse é o grande problema de <b>22 Milhas</b>. Não sabemos se estamos vendo um thriller de ação, algo voltado para Jason Bourne, que, de fato, faz mais o estilo do diretor Peter Berg, ou um longa-metragem mais explosivo e menos denso. Apesar disso, pequenas características benéficas são tiradas dessa confusão resultante da quarta parceria entre Berg e Mark Wahlberg. E todas, sem exceção, envolvem uma pessoa: Iko Uwais. </div>
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<br /></div>
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A produção é basicamente uma missão. É um contexto que permite os dois caminhos citados acima, inclusive, já tendo sido utilizado por Berg no passado com O Grande Herói, também com Wahlberg – um trabalho, muitos tiros e pequenos comentários políticos. No entanto, parece que o cineasta filmou às pressas um rascunho do roteiro de Lea Carpenter e Graham Roland. As intromissões de James Silva (Wahlberg) sobre a sua concepção do mundo, as cabeças dos presidentes norte-americanos e as bandeiras evocam todos os aspectos mais superficiais do diretor. Esta “seriedade” temática está lá por estar, não tem função.</div>
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<br /></div>
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É um dos pontos em que a comparação com Atirador vem a calhar novamente. A política patriota estadunidense representada pelo setor militar é muito polêmica para ser debatida desse jeito, assim Fuqua a usou a favor da sua história, só com o objetivo de promover a ação. Portanto, a junção desse traço reflexivo mal desenvolvido com a trama frenética ao modo Busca Implacável de 22 Milhas geram uma bagunça. Contudo, o elo do pouco sentido que é essa confusão, chamado Iko Uwais, garante alguns bons momentos.</div>
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<br /></div>
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O ator indonésio é um dos grandes artistas marciais do cinema desta geração. Ele estourou com a franquia Operação Invasão, de Gareth Evans, e protagonizou outras obras na mesma linha, como Merantau e Headshot. Toda a sua habilidade é uma das atrações à parte do longa, com certeza possuindo sua influência como coordenador por trás das câmeras – imaginem o que ele poderia fazer com Chad Stahelski em John Wick. Aliás, a melhor cena do filme é sem dúvida a sua luta contra uma tentativa de assassinato, que já introduz bem o que percorre o seu personagem. </div>
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Porém, não são só os seus golpes que são bem-sucedidos. Li Noor, o alter ego de Uwais, é o mais desenvolvido de todos os outros papéis. O espectador fica interessado em saber quais são os seus objetivos e a atuação do indonésio, que mistura inteligência e bondade, contribui diretamente para isso. Aliás, a resolução de Noor é outro ponto do projeto que faz valer o ingresso, seja algo previsível ou não. Ele está a anos luz de distância em qualidade dos outros personagens. </div>
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<br /></div>
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A começar por James Silva, que só tem o nome de legal. Parece que Wahlberg pegou o seu estilo bad boy de Os Infiltrados e Quatro Irmãos e injetou anabolizantes. Dessa forma, a sua ótima introdução por meio de fotos e documentos se perde e dá lugar a apenas um chefe babaca. O resto da equipe dos Overwatch é totalmente dispensável. Aliás, literalmente, pois Silva afirma que eles são chamados em situações extremas, mas parecem amadores, ainda que a reviravolta principal justifique isso. Pelo menos John Malkovich tem um ou dois momentos sendo... John Malkovich. </div>
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<br /></div>
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As próprias cenas de ação demonstram a falta de integração do grupo. E o que há no destaque de Uwais distribuindo a pancadaria, falta nos outros agentes. Berg chegou a criar situações legais, como a infiltração no início, a perseguição de carros e o gato e rato no prédio abandonado, cenários parecidos com aqueles presentes em Operação Invasão. Entretanto, a execução em si foi destrambelhada, o que, mais uma vez, dá a impressão de pressa, porque em O Grande Herói ele soube como cadenciar a movimentação. </div>
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<br /></div>
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Já há planos da STX para uma sequência. A cara de season finale dos últimos minutos de 22 Milhas geram curiosidade para essa possível continuação, mas se há tanto potencial visto pelos produtores, que essa nova marca seja melhor pensada do que uma explosão adoidada de vários elementos. E por favor, Stallone, chame Iko Uwais para o próximo Mercenários!</div>
<h3>
Nota: 4/10</h3>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-52102956218768064822018-09-13T13:34:00.000-07:002018-09-13T13:34:46.370-07:00Crítica: Hotel Artemis<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizGQtNZAb2mDlVp_wjt7dLpzUmueSYCIdA-mZIe-g1pbu4mP7l8qbHyPnqlLwbw7IT2ZZ61S5b85hHKdRqTHFNeLL72ux3jxxIdf7484YEBsBv6nZ-1HP-y-_8UgY1wYcUlvwarWgpaAg/s1600/Credito_+Matt+Kennedy+%25252F+Divulga%25C3%25A7%25C3%25A3o+Diamond+Films+HA_02780_CC.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizGQtNZAb2mDlVp_wjt7dLpzUmueSYCIdA-mZIe-g1pbu4mP7l8qbHyPnqlLwbw7IT2ZZ61S5b85hHKdRqTHFNeLL72ux3jxxIdf7484YEBsBv6nZ-1HP-y-_8UgY1wYcUlvwarWgpaAg/s640/Credito_+Matt+Kennedy+%25252F+Divulga%25C3%25A7%25C3%25A3o+Diamond+Films+HA_02780_CC.jpg" width="640" /></a></div>
<h3>
Ideia, elenco e nada mais.</h3>
<span style="font-size: x-small;">Por Alexandre Dias.</span><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQxf3yMDmXLx6CUf1stZSarRs1addXoXvrY3Dm3jnKBVTTcU0zMTCxx0b6WH4XvlQupgYMYhoR9QQzbDa2y7T6Ud7NdNSpPTkTBoLDxHs-YbYCtPFUl_GCmF2aOy414lFNib-vkkiAvR0/s1600/Poster_HotelArtemis.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1417" data-original-width="970" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQxf3yMDmXLx6CUf1stZSarRs1addXoXvrY3Dm3jnKBVTTcU0zMTCxx0b6WH4XvlQupgYMYhoR9QQzbDa2y7T6Ud7NdNSpPTkTBoLDxHs-YbYCtPFUl_GCmF2aOy414lFNib-vkkiAvR0/s400/Poster_HotelArtemis.jpg" width="273" /></a></div>
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Trabalhar com elencos grandes e já estabelecidos no mercado é muito difícil e, normalmente, indica uma insegurança do projeto desde a sua concepção. Quando não é um Quentin Tarantino ou um Terrence Malick, onde os devaneios dos autores tornam o filme “maior” que os seus atores, estamos acostumados com entretenimentos leves. Os Mercenários ou Onze Homens e um Segredo demonstram como essa proposta cria um álibi para o modo de lidar com os seus nomes.</div>
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<b>Hotel Artemis</b>, primeiro longa-metragem do roteirista Drew Pearce, responsável pelos textos de <a href="http://onerdcontrataca.blogspot.com/2015/08/critica-missao-impossivel-nacao-secreta.html" target="_blank">Missão: Impossível – Nação Secreta</a> e <a href="http://onerdcontrataca.blogspot.com/2013/04/critica-homem-de-ferro-3.html" target="_blank">Homem de Ferro 3</a>, segue esta mesma linha de raciocínio. De fato, é um pensamento acertado e funciona até certo ponto. Porém, Pearce sofreu o baque do cargo na direção, em paralelo a uma história repleta de irregularidades, o que acabou deixando o seu trabalho à mercê de uma ideia eficiente e do talento da sua equipe de atuação.</div>
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Um hotel que acolhe criminosos – <a href="http://onerdcontrataca.blogspot.com/2017/02/critica-john-wick-2-um-novo-dia-para.html" target="_blank">Keanu Reeves, cadê você?</a> - em um futuro distópico. É um conceito quase que à prova de erros de tão legal. Além disso, é extremamente inteligente em termos de orçamento. Provavelmente gasto com metade do elenco, o pouco que vemos do mundo exterior convence com armas futurísticas e manifestações caóticas. Portanto, o título da obra realmente é um dos protagonistas, em teoria gerando um ambiente claustrofóbico, misterioso e agressivo. Percebe-se com clareza que o objetivo era misturar suspense com ação. Mais uma vez, isso tem êxito até certo ponto.</div>
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<br /></div>
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A sensação de que as coisas vão explodir a qualquer momento é melhor do que a explosão em si. Com exceção da cena do corredor de Nice (Sofia Boutella), não há nenhum tiroteio ou pancadaria que seja digno de nota. Pode-se dizer que houve um desperdício? Sim, afinal, as oportunidades de realizar isso são mostradas, como na expectativa gerada quando Everest (Dave Bautista) pega um machado e dá a impressão de que teremos um momento ao estilo Leônidas de Esparta.</div>
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Contudo, essa não utilização da ação não é um demérito. A circulação dos personagens pelo Artemis, um lugar desolado, porém com retoques tecnológicos, aumenta a sensibilidade das situações, visto as suas posições de profissionais do crime. A questão é que Pearce é totalmente dependente da cadência em lidar com o ambiente e os integrantes dele, ao invés de desenvolver e explorar as histórias que haviam ali.</div>
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<br /></div>
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O maior exemplo disso é Waikiki (Sterling K. Brown), que é um dos personagens principais do filme, mas não tem muito o que fazer nele, apenas não sendo completamente desinteressante por causa do seu ótimo intérprete. A relação do ladrão com Nice é muito superficial, quanto mais a com a Enfermeira (Jodie Foster), que brota do nada pelo fato dos dois protagonizarem o longa. Aliás, essa última ocorrência torna-se tão estranha justamente pela boa química que Everest teve com a idosa durante toda a produção.</div>
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Esta via de mão dupla do bom elenco com papéis rasos é igualmente clara no tom excessivo. O humor ácido e a violência funcionam em alguns momentos, como na interação entre Nice e o Rei Lobo (Jeff Goldblum, caricato na medida certa). Por outro lado, forçam a barra, esclarecendo a perda de controle de Pearce sobre o que ele tinha em mãos. Os personagens de Charlie Day e Zachary Quinto são a prova cabal disso; enquanto o primeiro, sempre na gritaria, tem muito tempo de tela para ser só um coadjuvante babaca, o segundo é um dos herdeiros mais chatos que eu vi no cinema nos últimos tempos.</div>
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<br /></div>
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Inclusive, é curioso como a obra parece ter noção do que ela é às vezes, pois quando o Rei Lobo dá uma “chamada” no filho é, sem dúvida, o sentimento do espectador se revelando. Entretanto, a participação de Quinto como Crosby também é hiperbólica. Quem sabe em uma possível sequência, sugerida pelo projeto na sua conclusão, haja um pouco mais de competência para o potencial de todas as suas qualidades manifestar-se por completo e sem máscaras.</div>
<h3 style="text-align: justify;">
Nota: 5/10</h3>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-32413894674437493392018-09-08T10:54:00.000-07:002018-09-08T10:55:30.804-07:00Crítica: Marvin<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPavJ6zzYNLtxiKQBnfN4u9yBkDW2RQf_kOtNdaVqdQvUGjPMwLsKlT2mqBzXpBTmiGWAVqDvDU3Wyt2bXTwY6EYAwqtLl8VJa5ZYi9K2yMF3E128UrOoLhN_RbbHUv5GjG2OxdzU0N44/s1600/Marvin+1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="900" data-original-width="1600" height="360" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjPavJ6zzYNLtxiKQBnfN4u9yBkDW2RQf_kOtNdaVqdQvUGjPMwLsKlT2mqBzXpBTmiGWAVqDvDU3Wyt2bXTwY6EYAwqtLl8VJa5ZYi9K2yMF3E128UrOoLhN_RbbHUv5GjG2OxdzU0N44/s640/Marvin+1.jpg" width="640" /></a></div>
<h3 style="text-align: justify;">
Filme francês reúne a luta contra a homofobia com o empoderamento através da arte.</h3>
<span style="font-size: x-small;">Por Letícia Dauer.</span><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFDtvxPPGtJ1NUVnNk3zLbDd6o6Wnv7lcqv6K8MQpMWlzBBFBEEvNEbSOdIqHbr55Urfahs36ou3nWNnwvTnt8epcy-KAmMd0LT6-fOopN42EVYqDJ3PAuzWuMCvr8OpYtt3EdlrGg55A/s1600/Poster+Marvin_Alta.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1089" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFDtvxPPGtJ1NUVnNk3zLbDd6o6Wnv7lcqv6K8MQpMWlzBBFBEEvNEbSOdIqHbr55Urfahs36ou3nWNnwvTnt8epcy-KAmMd0LT6-fOopN42EVYqDJ3PAuzWuMCvr8OpYtt3EdlrGg55A/s400/Poster+Marvin_Alta.jpg" width="271" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Um jovem ruivo de olhos claros com traços femininos se analisa em frente ao espelho, penteia as sobrancelhas com uma pequena escova e dá um suspiro, antes de fazer um breve alongamento. Com o peso de uma vida nas costas, Martin Clement (Finnegan Oldfield), nascido Marvin Bijou, parece se preparar para correr uma maratona e realmente está. Em um teatro lotado, ele apresenta um monólogo sobre sua difícil e sofrida infância. </div>
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<br /></div>
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<b>Marvin</b>, o novo filme de Anne Fontaine - que também dirigiu Coco antes de Chanel - discute as nuances da homofobia a partir da história do pequeno Marvin, criado dentro de uma conservadora comunidade no interior da França. A narrativa não é cronológica e linear, por isso é construída alternando períodos da infância e da juventude do protagonista, quando estudava em um conservatório de teatro. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No decorrer da infância, Marvin sofreu múltiplas violências por diferentes instituições. Tanto na escola quanto em casa, sentia-se como um verdadeiro forasteiro e fugitivo. No ambiente escolar, já era rotina ser perseguido e agredido por colegas por mais que tentasse ser invisível. Enquanto no seio familiar, nunca encontrou de fato um lar. Os pais negligenciavam, ou talvez apenas ignorassem por vergonha e ignorância, a homofobia que o filho sofria. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O pai Dany (Grégory Gadebois), no longa metragem, representa o desejo de seguir a norma, nesse caso a heteronormatividade, e banir aquele que é considerado diferente como o filho. A completa solidão e falta de identificação com o meio em que vive induzem Marvin a tentar se normatizar; ele até se relaciona com uma garota durante a puberdade. Como Marvin tem traços e comportamentos julgados femininos, ele também tenta performar a masculinidade para ser aceito pela comunidade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na sociedade patriarcal, a masculinidade é inerente a violência que é uma demonstração de poder, por isso mesmo sendo vítima de violência, Marvin passa a reproduzi-la em menor escala contra outra minoria, as mulheres. Apresentando um comportamento bruto, por exemplo, há uma cena em que Marvin, enquanto bebe cerveja, xinga uma vizinha de “gorda” e “vagabunda” por reclamar da algazarra que ele e os amigos estão fazendo em frente a sua casa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Durante o processo de aceitação de sua orientação sexual, o teatro é o grande instrumento usado para externar seu sofrimento e para se redescobrir. Essa jornada só é possível com a ajuda de três mentores: a diretora do ensino médio Madeleine Clément (Catherine Mouchet) que lhe apresenta o teatro, o artista homossexual Abel Pinto (Vincent Macaigne) que é modelo e inspiração e a atriz Isabelle Huppert e lhe ajuda a concretizar a peça. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O roteiro de Pierre Trividic e Anne Fontaine explora com êxito as dificuldades em se desconstruir a homofobia e a intersecção com outras opressões. Apesar da família de Marvin viver sob uma cultura conservadora e ignorante, o enredo não peca pelo viés naturalista e apresenta certo otimismo. Dany, no final, consegue reconhecer a identidade do filho e chega a questioná-lo se um dia irá se casar.</div>
<h3>
Nota: 8/10</h3>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-59061085424760871482018-09-01T06:00:00.000-07:002018-09-01T06:00:28.622-07:00Crítica: Nico, 1988<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZX4nrDzfxwe3wVY15SjiF24pIP3QGrSkcqVpZUlBLUXTso8dirUF3S6n7Zlha0aYdOEEJaLNvXwO5BhzdLX3C6PU6ebz_UV8PmeHNa2U4ScY7VkY1LlE2ChyM9wCSDAdrRkCxKLly4ME/s1600/01_Nico1988_FU5A0944.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1068" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZX4nrDzfxwe3wVY15SjiF24pIP3QGrSkcqVpZUlBLUXTso8dirUF3S6n7Zlha0aYdOEEJaLNvXwO5BhzdLX3C6PU6ebz_UV8PmeHNa2U4ScY7VkY1LlE2ChyM9wCSDAdrRkCxKLly4ME/s640/01_Nico1988_FU5A0944.jpg" width="640" /></a></div>
<h3>
Descubra a mulher por trás do ícone Nico do Velvet Underground.</h3>
<span style="font-size: x-small;">Por Letícia Dauer.</span><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMK9k1SB4n2TSmWS0tX6RstiO9tPKpTfz3IzSdPcNGJDfNs_7tLv4WOruuMo1vprKqnVyvOD-0djf0x2Bt3ceZcssLlKR-sknF0MjcmnX5ITpId0ZgXwcVRcwzo07jc5QNYpH4l-CcmyM/s1600/NICO_POSTER_PT.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1085" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMK9k1SB4n2TSmWS0tX6RstiO9tPKpTfz3IzSdPcNGJDfNs_7tLv4WOruuMo1vprKqnVyvOD-0djf0x2Bt3ceZcssLlKR-sknF0MjcmnX5ITpId0ZgXwcVRcwzo07jc5QNYpH4l-CcmyM/s400/NICO_POSTER_PT.jpg" width="270" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Atriz, cantora, compositora, modelo, mãe. Christa Päffgen, mundialmente conhecida pelo pseudônimo Nico, foi um grande ícone e musa da década de 60. Sua imagem e beleza têm sido eternizadas como Femme Fatale, nome em referência a música que cantava com a banda The Velvet Underground. Entretanto, aqueles que entrarem no cinema apenas com essa representação glamourizada da artista certamente serão surpreendidos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Nico, 1988</b>, dirigido e escrito pela italiana Susanna Nicchiarelli, retrata os dois últimos anos da turbulenta vida de Christa (Trine Dyrholm), enquanto realizava turnê por alguns países da Europa. Somos apresentados a uma Nico gótica, instável, cansada, viciada em heroína que ainda carrega muitos traumas de infância. Quando a pequena Nico nasceu, em 1938, em Colônia, a cidade alemã estava imersa na tensão da Segunda Guerra Mundial, sendo posteriormente bombardeada e destruída pelas forças aliadas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vivenciar a guerra tão cedo marcou para sempre a alma da artista, tornando-a inquieta e perturbada. Durante o longa metragem, Christa sempre carrega um gravador para, de acordo com a personagem, tentar capturar o som da derrota da guerra e de Berlim queimando. O barulho do aquecedor de água, das ondas do mar e do equipamento hospitalar são alguns dos sons gravados. Apesar do filme ter várias canções, são esses sons diegéticos que se destacam, demonstrando o belo trabalho do editor de som Marc Bastien.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Embora Christa seja mais conhecida pela participação no Velvet Underground, um dos méritos da biografia é justamente distanciá-la dessa fase e mostrar o trabalho solo e experimental da artista. “Olha, minha vida começou depois da experiência com o Velvet Underground. Eu prefiro falar sobre o presente”, como afirma a personagem. Em consequência, ela detestava quando os jornalistas a questionavam somente sobre o período da banda ou quando era chamada de Nico, anagrama da palavra ICON (ícone), criado por Andy Warhol que era empresário do grupo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No decorrer da turnê pela Europa, Christa é acompanhada pelo empresário Richard (John Gordon Sinclair) e por um grupo de músicos jovens. Como o desenvolvimento dos personagens secundários é superficial, sua utilidade no enredo é restrita a exaltar o temperamento forte de Nico e um certo desdém pela juventude. Diante disso quando o guitarrista da banda, por exemplo, sofre crise de abstinência de heroína e começa a passar mal, é difícil para o público criar alguma empatia. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Outro equívoco do roteiro é deixar passar em branco a morte da artista. Em 1988, ela decidiu tirar férias em Bahamas com o filho. Um dia, enquanto andava de bicicleta, teve um ataque cardíaco e bateu a cabeça na queda. Apesar de um motorista de táxi tê-la socorrido, ele teve dificuldades em encontrar um hospital que a atendesse sem convênio médico. Nico morreu de hemorragia interna, o que pode ser visto como uma ironia do destino, já que finalmente estava largando as drogas e retomando a convivência com o filho. </div>
<h3>
Nota: 7/10</h3>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-32148281291033281692018-08-25T05:37:00.000-07:002018-08-25T05:37:54.240-07:00Crítica: Gauguin - Viagem ao Taiti<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdnV-cXNeke_lXa6Rm1M4l29WeoTQMKq__xUtX3tZ9a5Y1m-slQT3LomtsOpqS3WYXu3eylThoV4COOuHpeLg-SerDOtnqjhll8KzsmWb1glh0FG8_EeVY1SP4gJJL1cyKVvZ2ixLlEbo/s1600/Gauguin_7.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="665" data-original-width="1600" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdnV-cXNeke_lXa6Rm1M4l29WeoTQMKq__xUtX3tZ9a5Y1m-slQT3LomtsOpqS3WYXu3eylThoV4COOuHpeLg-SerDOtnqjhll8KzsmWb1glh0FG8_EeVY1SP4gJJL1cyKVvZ2ixLlEbo/s640/Gauguin_7.jpg" width="640" /></a></div>
<h3>
Cinebiografia de Paul Gauguin reflete vida e obra do artista: bonita, mas problemática.</h3>
<span style="font-size: x-small;">Por Isabela Faggiani.</span><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQh5ND9W110QBSzIWEArQrxJ9q4YJIRzUmqqN9B6Qws3-MHRseT7OVM376PF6b53fdZ4V2DGB_qCLDtEUGF4dPBdtHmz7NXQSXCJHGdu9ZOEZcfLjHHunGHB5jaqNAyhppfnD17PxOaoI/s1600/Poster+Gauguin_Alta.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1089" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQh5ND9W110QBSzIWEArQrxJ9q4YJIRzUmqqN9B6Qws3-MHRseT7OVM376PF6b53fdZ4V2DGB_qCLDtEUGF4dPBdtHmz7NXQSXCJHGdu9ZOEZcfLjHHunGHB5jaqNAyhppfnD17PxOaoI/s400/Poster+Gauguin_Alta.jpg" width="271" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
O diretor e roteirista do longa <b>Gauguin - Viagem ao Taiti</b>, Édouard Deluc, teve a ideia de fazer o filme em homenagem ao pintor Paul Gauguin após ler Noa Noa, o diário de viagem do artista escrito após sua primeira viagem ao Taiti. O filme de Deluc não tem como proposta retratar toda a vida e trajetória de Gauguin (Vincent Cassel); a história contada se passa ao longo de dois anos, entre 1891 e 1893, período em que o pintor produziu 66 obras.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O longa começa com a decisão de Gauguin deixar Paris e ir para a Polinésia sob o pretexto de que a vida urbana já não o agradava mais e ele precisava entrar em contato com a natureza “selvagem” para buscar inspiração. Essa primeira parte do filme se passa de forma crua, rápida e sem muito desenvolvimento. Vemos apenas um Gauguin triste e cansado que não hesita em deixar para trás a esposa e cinco filhos e ir buscar sua musa em outro continente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Chegando em Papeete - a capital da Polinésia Francesa - Gauguin logo é acometido por uma doença. O doutor Henri Vallin (Malik Zidi) trata do pintor e afirma que este teve um problema no coração e tem diabetes em estágio avançado. O filme, porém, não menciona que esses problemas provavelmente estavam ligados à sífilis cardiovascular que o pintor tinha.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao longo dos 102 minutos de filme, o espectador é agraciado com cenas cativantes do novo lar de Gauguin, que explora tanto quanto pinta. A fotografia do filme, cheia de vida e cores, é, junto com a atuação de Cassel, o ponto mais forte da obra. O ator faz um ótimo trabalho passando a delicadeza que Gauguin tinha ao pintar suas obras e ao desbravar o desconhecido. O ator entrou de cabeça no projeto, estudou a vida e obra do pintor que interpretou, leu Noa Noa, perdeu peso para o papel e até fez aulas de pintura, pois, segundo ele “não queria parecer um idiota no set, adicionando cores sem saber como”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A jovem Tuheï Adams também não deixou a desejar no papel de Tehura, a musa e amante do pintor, que foi entregue à ele de bom grado pela sua aldeia e serviu de inspiração para dezenas de seus quadros icônicos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sem uma boa história para contar, Deluc cria um triângulo amoroso entre Gauguin, Tehura e o jovem local Jotépha (Pua-Taï Hikutini), pupilo do artista. Enquanto Gauguin está sofrendo por conta de sua doença e da falta de dinheiro, Tehura e Jotépha, vão cada vez mais se mostrando interessados um no outro. O problema é que nenhum dos personagens é cativante a ponto de prender a atenção do espectador, e mais que isso: o longa não traz à tona um problema alarmante dessa relação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A jovem Tehura de verdade tinha apenas 13 anos de idade quando seus pais a entregaram ao pintor francês, que à época já tinha mais de 40 anos. Além dela, Gauguin também manteve relações com outras duas jovens polinésias, que também tinham entre 13 e 14 anos. No filme, apenas Tehura é mostrada, e Deluc decidiu retratá-la de forma mais adulta, ignorando o fato de que sua inspiração para o filme é um pintor europeu pedófilo que se casou com três adolescentes em sua viagem à “natureza selvagem” e, provavelmente, infectou as garotas com sífilis.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por conta dessa “licença potética”, o filme de Deluc negligencia uma das mais importantes problemáticas da viagem de Gauguin - algo que merecia uma análise cinematográfica muito mais do que as belas paisagens do Taiti e as mais de 60 pinturas de Gauguin. Ao deixar esse importante fato de fora de sua história, Deluc transformou seu filme em uma história de um homem doente e pobre que pinta quadros - o que assemelha Gauguin - Viagem ao Taiti a outras cinebiografias sobre pintores do século XX, com a diferença de que este longa não se passa na Europa.</div>
<h3>
Nota: 4/10</h3>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-20580464293267244912018-08-23T13:47:00.000-07:002018-08-25T10:09:05.179-07:00Crítica: Histórias que o Nosso Cinema (Não) Contava<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgazAW5GNte7ja5PWcTHsf6CD5Yu7QyuvfZB4Mea-EYCNFg1P6W1E98t184Og70OH9O6JMmbVg648arPxD9V0Yn6W8JpqWOrXeNVCpx1wMAvPjfpIU_9PKPReeDxTVdVV796R7xDatuYQ0/s1600/frame_Histo%25E2%2595%25A0%25C3%25BCrias.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1254" data-original-width="1600" height="501" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgazAW5GNte7ja5PWcTHsf6CD5Yu7QyuvfZB4Mea-EYCNFg1P6W1E98t184Og70OH9O6JMmbVg648arPxD9V0Yn6W8JpqWOrXeNVCpx1wMAvPjfpIU_9PKPReeDxTVdVV796R7xDatuYQ0/s640/frame_Histo%25E2%2595%25A0%25C3%25BCrias.png" width="640" /></a></div>
<h3>
Compilação de Fernanda Pessoa é retrato, análise e diálogo.</h3>
<span style="font-size: x-small;">Por Alexandre Dias.</span><br />
<span style="font-size: x-small;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgei57lfiRBjy0YMizY5H9KBgjnvI2OSDssu2GlSL_b9h_5rMCYLayqGSGXTicwTrg3pPC4sYTBKQQfuTG77xjgvx1TMMGwgJaUCnhlK4RAOmUmX5XgZCVBuyiI2AIsLC4orG-b5OBuo5k/s1600/cartaz_historias.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1046" data-original-width="705" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgei57lfiRBjy0YMizY5H9KBgjnvI2OSDssu2GlSL_b9h_5rMCYLayqGSGXTicwTrg3pPC4sYTBKQQfuTG77xjgvx1TMMGwgJaUCnhlK4RAOmUmX5XgZCVBuyiI2AIsLC4orG-b5OBuo5k/s400/cartaz_historias.png" width="268" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Devo revelar, antes de qualquer coisa, que o que tinha em mente sobre as pornochanchadas era basicamente aquele estereótipo clássico: filmes que não abordavam temas densos, orçamentos pífios, produção bizarra e erotismo brega. O conteúdo raso era apenas o "permitido" a ser feito no período da ditadura militar no Brasil, algo que não comprometeria o governo e suas ideias altamente retrógradas. Será que era mesmo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Histórias que Nosso Cinema (Não) Contava</b> é a desconstrução perfeita de como esta vertente do cinema nacional não era tão repleta de ingenuidade assim; ou, pelo menos, mostra que o descompromisso aparente que a cercava tinha - ou poderia vir a ter, como posso utilizar-me de exemplo - um efeito social significativo. Por meio de um conceito baseado na pesquisa e o recorte de informações, da mesma forma que Eduardo Coutinho concebeu Um Dia na Vida, a diretora Fernanda Pessoa consegue fazer um retrato de um ciclo em paralelo a um diálogo com a atualidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O documentário é estruturado pelos trechos das obras, em sua maioria dos anos 70, alinhados por assunto, além de uma introdução rápida do contexto político e uma conclusão. Tortura, aborto, comunismo, machismo e influência externa são apenas alguns dos campos percorridos no longa-metragem. É impressionante ver como quase cinco décadas depois ainda estamos no mesmo ponto de “debate”. O modo debochado como os personagens – grande parte homens – falam sobre isso de uma maneira conservadora – para, na maior parte, mulheres – soa tristemente familiar. Basta ligar a televisão hoje para observar candidatos à presidência que fazem apologia ao estupro e recusam a lei do feminicídio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim, é notável o alcance do trabalho de Fernanda Pessoa, porque a desolação trazida ao comprovar que as coisas não mudaram tanto desde aquele período vem em formato de reflexão. Ou seja, a nossa "democracia" atual tem aspectos semelhantes à da ditadura militar. Isso é muito grave, tornando a função desse filme mais importante ainda. Não é só um produto que conversa sobre política. Ele é político. E isso é bom, ao contrário do que alguns espectadores podem pensar. Não há nenhuma apelação, a exposição de ideias e argumentos são inteligentes e fluidas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A cineasta responsável pelo projeto, que também assina o roteiro, merece grande destaque, porém não há como não trazer à tona o nome de Luiz Cruz, organizador da montagem. Os 80 minutos de duração são perfeitamente bem utilizados, sem cansar quem está assistindo e sempre provocando a curiosidade do que será o próximo tema. Os fragmentos extraídos das obras variam o seu tempo, alguns sendo mais curtos e outros mais longos - há verdadeiras cenas de discussão entre os personagens, assim como pequenos comentários e atos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A propósito, o fato do "gênero" da pornochanchada ser o assunto em questão foi destrinchado com eficiência. O besteirol desses longas conseguem causar risadas pela breguice, o que, por outro lado, auxiliou muito na ironia da produção, algo que Pessoa valorizou para passar alguns de seus pensamentos. Nem por isso não há momentos chocantes e perturbadores. Nunca pensei que um filme assim teria uma cena de tortura, por exemplo, como a que uma mulher é amarrada pelas mãos e os pés e é agredida por homens, ou um momento realmente dramático, representado pela jovem que debate aborto com a sua família católica tradicional. Há, mais uma vez, uma dupla função: gerar uma análise e desfazer um rótulo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Dizer que as pornochanchadas eram trabalhos com uma sabedoria enrustida não é propriamente uma verdade, mas com certeza pode-se afirmar que representaram uma sociedade e os seus pontos diversos, ainda que sem querer. Portanto, é admirável a tarefa que Fernanda Pessoa trouxe para si, de entender como aquele cinema era uma janela do nosso mundo e colocar isso em questão, trazendo uma abertura de diálogo para os dias atuais que é urgentemente necessária.</div>
<h3 style="text-align: justify;">
Nota: 9/10</h3>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-3020331422053015212018-08-10T18:55:00.001-07:002018-08-10T18:55:34.021-07:00Crítica: Você Nunca Esteve Realmente Aqui<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOGpF6wTz_5W6sGzLNiPp9xozB8frXxOV2lRlDsDI7SGtTTMejMDeLwx8D1qGlQq7CzLx14XRTmuv_IxtESykstLpB1KdrDkwiV36DlSFo5OMK7AGDGSRG5TjMG907BtvZbL50oYwRUx8/s1600/160809_Hardware_Baths_00168_YWNRH_WhyNot.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOGpF6wTz_5W6sGzLNiPp9xozB8frXxOV2lRlDsDI7SGtTTMejMDeLwx8D1qGlQq7CzLx14XRTmuv_IxtESykstLpB1KdrDkwiV36DlSFo5OMK7AGDGSRG5TjMG907BtvZbL50oYwRUx8/s640/160809_Hardware_Baths_00168_YWNRH_WhyNot.jpg" width="640" /></a></div>
<h3>
Novo filme de Lynne Ramsay explora nova face da violência.</h3>
<div>
<span style="font-size: x-small;">Por Letícia Dauer.</span></div>
<div>
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9imM3ihsrv6XSgis9h-lUIbSxfuIiBuYLLQq2zmkJ-8sXgp6t8RLijib3vymM6qs-iO85qaLtS3OGNikTLdgWE44hNzOwvZ5i7O6t2_n_IpIyJ2go0r8TSXN6224MOFGU8HlH-AjjAq0/s1600/VNERA_POSTER_BR.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1084" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9imM3ihsrv6XSgis9h-lUIbSxfuIiBuYLLQq2zmkJ-8sXgp6t8RLijib3vymM6qs-iO85qaLtS3OGNikTLdgWE44hNzOwvZ5i7O6t2_n_IpIyJ2go0r8TSXN6224MOFGU8HlH-AjjAq0/s400/VNERA_POSTER_BR.jpg" width="270" /></a>Veteranos de guerra traumatizados e a espetacularização da violência são temas antigos e explorados à exaustão por Hollywood. O thriller <b>Você Nunca Esteve Realmente Aqui</b>, baseado no livro homônimo de Jonathan Ames, apresenta uma narrativa que foge do tradicional maniqueísmo - herói ou assassino - com toques de Táxi Driver e O Profissional.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A diretora escocesa Lynne Ramsey venceu o prêmio de Melhor Roteirista e Joaquin Phoenix de Melhor Ator no Festival de Cannes de 2017, sendo aclamados pela crítica e pelo júri presidido por Pedro Almodóvar. Em seu quarto longa-metragem, Ramsey nos apresenta a história de Joe (Phoenix), veterano de guerra que ganha a vida resgatando garotas desaparecidas. Durante o primeiro ato, o protagonista enfrenta uma rotina mecânica e alienante que se resume a matar criminosos e cuidar de sua senil mãe (Judith Roberts). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A fotografia sombria de Tom Townend, ocasionalmente esverdeada, acompanhada da frenética trilha sonora de Jonny Greenwood, integrante da banda Radiohead, são reflexos da mente perturbada e autodestrutiva de Joe, lembrando o personagem Travis Bickle de Robert De Niro. Breves flashbacks sobre a infância revelam que seu sofrimento vai muito além da experiência militar. Seu pai era extremamente abusivo e agredia a mãe com frequência, por isso encontrou na violência uma forma de extravasar seus traumas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O mérito do roteiro está em trabalhar com a dualidade. Ao mesmo tempo em que Joe é violento, sendo o martelo sua arma favorita, ele também demonstra muita doçura com a mãe ao cantarem juntos ou ao colocá-la na cama para dormir. O público transita entre a repulsa e a empatia, tendendo mais ao segundo sentimento durante a narrativa. Afinal ele se mostra mais uma vítima de uma sociedade violenta e desumana. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"De todos os gêneros, o thriller é o que mais se aproxima da experiência de sonhos, e em que se armazena repertório de medos", diz a jornalista Ana Maria Bahiana. Em Você Nunca Esteve Realmente Aqui, o espectador é convidado a compartilhar os sonhos, ou melhor dizendo os pesadelos, do veterano de guerra, que perpassam por tentativas de suicídio. Como Joe é um personagem extremamente silencioso e antissocial, é função dessas cenas oníricas e os flashbacks revelarem sua verdadeira natureza. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Como o próprio título afirma, Joe nunca esteve realmente ali, sempre viveu de forma automática e anestesiada até aceitar resgatar a filha do senador Albert Votto, que foi raptada por membros de uma rede de prostituição infantil. Após alguns acontecimentos, o desejo de libertar a pequena Nina Votto (Ekaterina Samsonov) desperta Joe de sua alienação e torna-se sua motivação de vida em meio aos ímpetos suicidas, o que talvez seja a única falha do roteiro. É difícil crer na rápida conexão entre esses personagens. Diferente, por exemplo, do relacionamento entre o assassino de aluguel Leon e da pequena Mathilda, em O Profissional, que é desenvolvida ao longo de toda a película. </div>
<h3 style="text-align: justify;">
Nota: 7/10</h3>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5873126323839581693.post-33113960517303122112018-07-22T13:28:00.000-07:002018-07-22T13:39:02.910-07:00Crítica: O Orgulho<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWAhjbgmS_wAJLsPTVBwlw_EWc9MRmvmJpy78yEts8ZVZQfSgjnzngBEOtHAk1gDUus7-OmpJptXwk1tw1hyphenhyphenAycGfwsjk5nN4qmn_g05h0pGVI5ZL-DJD7gWPpr-XC6nqcQk6retYVTX0/s1600/o+orgulho+05.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="426" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWAhjbgmS_wAJLsPTVBwlw_EWc9MRmvmJpy78yEts8ZVZQfSgjnzngBEOtHAk1gDUus7-OmpJptXwk1tw1hyphenhyphenAycGfwsjk5nN4qmn_g05h0pGVI5ZL-DJD7gWPpr-XC6nqcQk6retYVTX0/s640/o+orgulho+05.jpg" width="640" /></a></div>
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Produção francesa embarca no atual conflito ideológico do país por sua via mais discursiva.</h3>
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<span style="font-size: x-small;">Por Pedro Strazza.</span></div>
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Embora a rápida colagem de entrevistas sobre a retórica que serve de prólogo à produção acene para a possibilidade de tornar o discurso um tema de debate, <b>O Orgulho</b> no fundo está menos interessado na construção e metodologia das discussões que se dão ao longo da história que na possibilidade de trabalhar o confronto entre conservadorismo e liberalismo que ocorre na sociedade francesa, um tópico vital aos caminhos do país e da Europa nos dias de hoje. Cada vez mais recorrente no cinema francês por estar presente em quase todas as suas questões político-sociais, o assunto é aproveitado pelo diretor Yvan Attal no filme sob um teor subjetivo, mas presente desde o início nos conflitos entre seus dois protagonistas, uma estudante de direito pobre e descendente de árabes (Camélia Jordana) e seu professor reacionário e de argumentação quase sempre preconceituosa em sala de aula (Daniel Auteuil).</div>
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Se este duelo começa instigante por conta de seu contexto histórico e o verniz discursivo que assume com rapidez - algo inaugurado no longa sob uma discussão tensa em sala de aula por conta de um atraso da aluna e depois tornado recorrente conforme o professor, querendo evitar a demissão, se vê forçado a ensinar à nova pupila sobre os pormenores da retórica - ele também ganha consistência pela fachada que não demora a incorporar no esforço de tocar o debate pelas vias literais deste discurso. Como todo diretor emergido de uma relativa bem-sucedida carreira de atuação, Attal trabalha a narrativa com interesse maior pelas questões de atuação que pela encenação em si, uma medida que se a princípio favorece apenas o trabalho dos dois atores depois se revela feita para privilegiar os diálogos, cuja escrita joga em cima destas duas ideologias antagônicas e em suas consequentes desconstruções conforme o contato entre os dois personagens se prolonga.</div>
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Neste sentido, a produção não demora a lembrar A Trama, outro longa francês que tinha nas discussões o motor principal para promover o choque de pessoas de origens e realidades completamente distintas. É uma comparação também capaz de ajudar a melhor compreender o que impede o trabalho de Attal de obter um resultado similar de qualidade: se o filme de Laurent Cantet via no embate entre a professora esquerdista e o aluno de flerte com a extrema-direita um espaço para discutir o atual clima de extremos do cenário, a relação pouco amigável que norteia os movimentos de O Orgulho aos poucos se revela confortável para fazer a opção pelo drama de relações tradicional e disposto a conciliações, uma medida que sai cara a quaisquer intenções ambicionadas pelo projeto quando ele se vê na incômoda tarefa de fazer a aluna liberal "passar pano" para o professor preconceituoso afim de ter seu final feliz.</div>
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Mas enquanto que os debates entre os dois protagonistas aos poucos vão descambando para as soluções óbvias e novelescas, o filme acaba se mantendo mais ou menos unido graças à dinâmica de Jordana e Autuil, que mesmo preso a papéis clichês sabem como tornar seus embates fluidos. A direção conformada em fazer o trivial e o roteiro escrito a quatro mãos (além de Attal, também colaboram no texto Noé Debré, Victor Saint Macary e Yaël Langmann), porém, ajudam a sedimentar no longa a noção de um projeto com muito pouca vontade de elaborar em cima da boa premissa, disposto (com o perdão do trocadilho) a adotar o chavão do pensamento comum ao invés de plenamente desafiá-lo.</div>
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Nota: 4/10</h3>
Pedro Strazzahttp://www.blogger.com/profile/11396956589123860180noreply@blogger.com0