segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Lixeira Nerd: Tomb Raider

Ou como tornar uma heroína sensual dos games em um completo fetiche

Por Pedro Strazza

Criar uma franquia de ação pode ser bastante complicado nas mãos mais inábeis. Não só precisando de um filme inaugural que com sua qualidade (ou não, na maioria das vezes) interesse ao público de imediato, qualquer película desse gênero precisa do protagonista ideal para carregar a história nas costas, provavelmente escrita por um roteirista diferente a cada capítulo, por vários longas, até que o conceito finalmente se desgaste e a bilheteria fique insuficiente para custear a produção. Mas às vezes esse personagem pode ser encontrado facilmente em outras mídias.
Esse foi o caso de Lara Croft, personagem dos games que em 2001 teve sua história adaptada para os cinemas com Tomb Raider. Produzido pela Paramount, o longa traz Angelina Jolie, a "musa do momento" da época, no papel da aventureira e lady inglesa, envolvida aqui em uma busca megalomaníaca pelo Triângulo da Luz, artefato capaz de controlar o espaço e o tempo. Ela corre, pula, faz caras e bocas, ajuda (?) e atira contra os Illuminati, organização secreta que quer dominar o mundo quando em posse da tão poderosa e milenar relíquia, em uma verdadeira corrida contra o tempo.
Pois é, esse é o roteiro do filme. Mesmo tentando parecer ser épico e cheio de ação, a história de Tomb Raider não convence em momento algum seu espectador graças a sua superficialidade e falta de tensão verdadeira, deixando muitas pontas soltas ao seu final. Além disso, o longa não se compromete a explicar grande parte das ações de sua protagonista, justificando tudo com a mais boba relação pai-e-filha da história do cinema. E olha que eles tinham Jon Voight no elenco.
Não bastasse a trama muitíssimo mal-aproveitada (apesar da franquia dos games também não ser lá essas coisas, convenhamos), há o absurdo nível de sex-appeal "censura 13 anos" usado em cima de Jolie, que com certeza levou mais de 3/4 da bilheteria para os cinemas sozinha. Em ritmo de clipe dos anos 80, a atriz tem apenas sua sensualidade usada pelo diretor Simon West (anos mais tarde comandante de Mercenários 2) durante o longa inteiro, não deixando espaços para ela atuar. Sobram biquinhos nada sexy, falta a interpretação a de Angelina, que já havia provado em 1999 possuir esses dotes quando faturou o Oscar de atriz coadjuvante.
Quem também deixa a desejar, e muito, são as cenas de ação. Sem ritmo, os duelos de Lara com criaturas mágicas ou soldados não empolgam em momento algum, e quando conseguem, por um minuto, criar expectativas no espectador, desapontam logo em seguida. A cena no templo budista é o ápice desse problema de arranjo e direção, mostrando inimigos de computação gráfica mal feitos até para a época. E no clímax final o desastre é completo.
De atuações à produção, falta tudo para Tomb Raider ser um longo digno de ação. O sucesso decorrente desta primeira incursão da exploradora criada pela Core Design pelos cinemas se dá justamente pela atração sexual de Angelina, padrão de beleza naquele momento, com o público, o que garantiu à Paramount uma sequência ainda pior em 2003. Poderia ter sido pior? Infelizmente não, não dá para imaginar uma primeira adaptação de uma franquia dos games mais mal feita que essa.

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