quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Crítica: Antes de Watchmen - Comediante

Aventura solo de Edward Blake no sudeste asiático é uma verdadeira aula de História da Guerra Fria

Por Pedro Strazza

Das poucas derrotas que os EUA sofreu em sua história, a Guerra do Vietnã é talvez a maior de todas. Com o intuito de parar a expansão das forças comunistas, os americanos resolveram, liderados pelo presidente Kennedy, interferir no conflito que se desenrolava entre os vietnamitas do sul e do norte, mas acabaram se retirando da região após vinte anos de numerosas baixas no exército e protestos de sua própria população. Esses fatores responsáveis pelo fim da guerra foram posteriormente lembrados em inúmeras ocasiões por Hollywood, que na grande maioria das vezes postou-se contra a invasão no sudeste asiático ao mostrar os efeitos psicológicos do conflito nos soldados que lá estiveram.
Essa análise da mente dos integrantes dos batalhões é agora novamente retomada pelo roteirista Brian Azzarello para a história solo de Edward Blake em Antes de Watchmen: Comediante. O prelúdio para o polêmico e violento herói da obra de Alan Moore explora suas relações com a política da época e detalha principalmente a sua amizade com a família Kennedy, além de mostrar parte de sua passagem pelo Vietnã.
Essa maior contextualização do personagem com acontecimentos reais é ao mesmo tempo os pontos forte e fraco da minissérie. Mostrado na graphic novel como importante peça dos EUA no cenário mundial, Blake é um herói que em uma aventura solo precisa necessariamente estar envolvido no jogo político e sua sujeira por baixo dos planos. Sabendo disso, Azzarello o faz interagir com figuras importantes dos anos 60 e 70 como Marylin Monroe (cuja cena abre a primeira edição com um estrondo), Gordon Liddy e os irmãos Kennedy e fatos históricos, a exemplo da invasão da Baía dos Porcos ou a morte do presidente JFK, exibindo ao mesmo tempo os resultados de uma grande pesquisa dos costumes e ambiente da época, muito superior à feita para a aventura solo da Espectral por exemplo.
A estratégia, porém, acaba prejudicando seriamente a leitura para os menos informados. Chegando a níveis de detalhes absurdos, a minissérie obriga o leitor em muitos casos a possuir uma bagagem teórica sobre os eventos ocorridos para entender o que está acontecendo nas páginas, e quase sempre o público não possui estas. E mesmo com as incessantes notas do editor perde-se o fio da meada, exigindo diversas releituras da obra.
A construção do protagonista também é excessivamente precária. Mostrado no original como um verdadeiro babaca, Blake acaba recebendo no prelúdio uma faceta equivocadamente mais sentimental para se adequar aos caminhos tomados na história. Essa mudança de personalidade não só prejudica a conexão da minissérie com Watchmen como também não se encaixa nas mudanças sofridas pelo Comediante no Vietnã (que, por sinal, são ótimas). Prova disso é a última página, que não corresponde ao perfil do herói e sua atitude.
Se em Antes de Watchmen: Rorschach Azzarello preparou com excelência o psicológico de seu protagonista, no prelúdio do Comediante o roteirista americano pisou na bola. Dedicado muito mais ao contexto político e social que marcou a época da guerra do Vietnã, a história perde uma grande oportunidade de explorar um personagem tão denso e misterioso como Edward Blake, retratado aqui como mais uma vítima do conflito, coisa que certamente não o redefiniu e sim o condenou. Pelo menos a obra torna-se uma interessante ilustração do período e de suas consequências.
Nota: 6/10

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