segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Crítica: Gravidade

Longa aprofunda-se no drama de viver enquanto aflige seu espectador

Por Pedro Strazza

A criação de tensão pode ser algo complicado em um filme. Tentando atingir o espectador no seu psicológico, muitos filmes de suspense ou terror geralmente procuram, com sucesso ou não, construir o tempo todo em suas histórias uma expectativa em seu público acerca do destino dos personagens em determinadas cenas, quebrando-as propositalmente logo em seguida para causar o susto e assim conseguir "pregar" o pagante à seu assento do cinema. Essa lógica do gênero, entretanto, nem sempre é seguida, havendo aqueles que tentem fazer em seus longas novas maneiras de deixar aflito quem quer que esteja vendo o resultado final.
Essa criatividade pode ser enxergada claramente em Gravidade, um filme de suspense cuja tensão não é formada pela presença de um assassino em série ou o crescimento de uma música, e sim da própria situação ali mostrada pela lente da câmera. Contando a história de dois astronautas que se veem presos no espaço após sua nave ser destruída, o diretor Alfonso Cuarón nos dá uma verdadeira aula de como fazer cinema em sua nova produção.
A começar pelo próprio roteiro. Extremamente simples, a trama escrita por Cuarón e seu filho Jonás não tenta ser em momento algum apelativa, utilizando flash-backs para ilustrar o passado dos astronautas Matt Kowalski (George Clooney) e Ryan Stone (Sandra Bullock) na Terra antes dos eventos ocorridos ou coisa do gênero. A história aqui é sobre o momento vivido naquele momento pelos personagens, e serve posteriormente como uma alegoria para a superação de um trauma vivido por um dos protagonistas.
Esse interessante desenvolvimento realizado por Cuarón ocorre conjuntamente à cenas de suspense brilhantemente elaboradas. Usando de caríssimos efeitos visuais, toda a tensão gerada pela chuva de destroços, a grande ameaça do longa, acontece quase que com a ausência total de som - afinal, estamos no espaço, onde o som não se propaga -, à exceção das vozes dos atores, proporcionando ao espectador assim uma interessante sensação de angústia pelo silêncio. Prova disso é o excelente plano-sequência inicial, que com 30 minutos de duração vai da tranquilidade ao desespero.
Nesse ambiente gerado, a atuação da dupla protagonista se faz essencial para o sucesso do filme, e Cuarón sabe perfeitamente disso. Não é à toa, portanto, a escalação de dois atores prestigiados e excelentes como Clooney e Bullock, que dão o tom certo a seus papéis. Principalmente a última, trabalhando sozinha em grande parte da produção.
Esse conjunto de fatores são somados o grande trunfo de Gravidade. Com uma estrutura simples e deixando a pretensão dramática melosa de lado em prol da tensão, Cuarón se aprofunda na filosofia existencial do ser humano enquanto usa todo o poder de seu pequeno elenco em um pequeno conto sobre o "siga em frente" de uma pessoa. Pois a pior parte de uma queda não é o tombo em si, mas sim a hora de se levantar.
Nota: 10/10

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