segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Crítica: Morte da Família

Quase um clássico, saga é novo capítulo para embate entre Coringa e Batman

Por Pedro Strazza

Além de criar uma história memorável, um dos grandes sonhos de grande parte dos roteiristas de quadrinhos é escrever uma trama inesquecível para seu personagem favorito. Parâmetro difícil de ser alcançado, essa meta tende a ficar ainda mais complicada na área dos super-heróis consagrados historicamente, que já possuem vários excelentes arcos eternizados pela História. Mas isso não impede, obviamente, a chegada de novas tentativas e sensacionais enredos para esses personagens.
O exemplo mais claro dessa tendência à grandeza é Morte da Família, a segunda grande saga de Scott Snyder para o Batverso que aborda mais um confronto entre Batman e Coringa. Publicada em cinco edições (não contando os desdobramentos para outras bat-séries), a trama aborda o retorno de um Palhaço do Crime ainda mais ensandecido a Gotham City, que após passar quase um ano desaparecido da cidade põe em prática um plano deveras sinistro e diabólico para arruinar de vez a vida do vigilante.

Afinando o tom e acertando os desenhos

Como já havia mostrado nas outras edições do Morcego em que assinou o roteiro, Snyder mostra novamente aqui um uso interessante de elementos do terror e do suspense para compor o novo capítulo do embate entre os dois antagonistas, adicionando ao conto uma dimensão mais pesada e tensa. Da cena inicial na sede da polícia de Gotham ao encontros do herói com o vilão, Morte da Família consegue deixar seu leitor em estado de ansiedade e medo do que pode vir a encontrar na página seguinte, dado ao estado de loucura máxima promovida no Coringa.
O design deste é inclusive um ponto bastante positivo à trama. Com o rosto removido cirurgicamente, o Coringa usa este como uma "máscara" o tempo todo na obra, se tornando cada vez mais podre conforme os capítulos vão passando. Esse apodrecimento pode ser observado, do crescente número de moscas aos detalhes dos músculos descobertos, pelos belos desenhos de Greg Capullo, cujas escolhas na diagramação e enquadramento acentuam suas figuras cartunescas e sombrias.

Desenrolando os fatos com exatidão, derrapando na conclusão

Se na parte visual e psicológica a saga se acerta muito bem, o desenvolvimento dos fatos ocorridos é feito de maneira estupenda. No estado de máxima malevolência e genialidade, o plano do Coringa é uma verdadeira sucessão de surpresas e revelações, e aos poucos o herói precisa ficar mais e mais atento a deslizes próprios para não botar a vida de outros em perigo. O clímax final na Batcaverna consolida bem esse crescimento de ambos os personagens.
Há porém fortes e claros problemas no encerramento de Morte da Família. Apesar de sedimentar a evolução de seus dois protagonistas, o fim não escapa de uma sucessão horrorosa de clichês, tirando do leitor aquela sensação de surpresa criada ao longo da trama e substituindo-a por um "Putz, era isso no final?". Essa deficiência já havia sido vista nos roteiros de Snyder na Noite das Corujas, mas aqui é visto com maior visibilidade.
Esse mal fechamento das ações ocorridas impede a Morte da Família um maior sucesso em sua meta principal de ser um novo clássico duelo Coringa X Batman. Se tivesse talvez pensado em melhores soluções para o encerramento e abusado menos dos desfechos óbvios, a história de Snyder e Capullo com certeza poderia almejar um lugar no hall de grandes mestres do Homem-Morcego e disputar com grandes como A Piada Mortal e O Cavaleiro das Trevas. Mesmo que faltando pouco, ainda existe uma distância a ser batida pela dupla.
Nota: 8/10

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