domingo, 30 de novembro de 2014

Crítica: Sétimo

Problemas de roteiro procuram ser disfarçados no desenvolvimento de protagonista

Por Pedro Strazza

Trabalhar uma história em apenas um ambiente é um assunto que o cinema já demonstrou ter bastante perícia sobre, principalmente nos suspenses. Seja ele um prédio (REC), uma casa (Quarto do Pânico) ou um minúsculo vagão de trem (O Incidente), o uso de um único espaço para toda a narrativa do filme proporciona à produção a possibilidade de transformar o recinto em um lugar claustrofóbico, tornando-o estreito e intimidador à medida que a trama avance para sua inevitável conclusão.
Em Sétimo, o diretor catalão Patxi Amezcua realiza esse mesmo processo de tensionamento a partir de um único espaço, iniciando-o com uma premissa bastante típica do gênero. A história acompanha Sebastián (Ricardo Darín), um advogado que no dia que trabalha no caso mais importante de sua vida precisa antes levar seus dois filhos da casa da ex-mulher Delia (Belén Rueda) para a escola onde estudam. Numa brincadeira típica, ele aposta com os pequenos uma corrida do sétimo andar (o do apartamento de Delia) ao térreo, e permite a eles que desçam as escadas sozinhos enquanto vai de elevador. Quando chega à portaria, porém, as crianças desapareceram, e Sebastián parte desesperado à procura deles no prédio.
A grande graça do filme aqui são as próprias teorias criadas pelo protagonista para tentar resolver o mistério, e como todas elas vão sendo descartadas pouco a pouco. Com várias inimizades e antagonismos criados com pessoas de dentro e fora do imóvel, Sebastián (e o espectador, por consequência) tem à sua frente uma gama gigantesca de conspirações que poderiam desencadear no sequestro de seus filhos, e a cada resolução fracassada reparamos o quão enlouquecido ele se torna na busca pelas crianças - isso em parte graças ao trabalho de atuação do sempre eficiente Darín, que traz na postura física e no vestuário cada vez mais bagunçado o abatimento progressivo do personagem. Nesse plano de desenvolvimento, a direção de Amezcua é eficaz por tornar o edifício e seus andares minúsculos e nada receptivos para contribuir no processo de enlouquecimento do advogado.
O problema de Sétimo, entretanto, reside no roteiro escrito pelo diretor e Alejo Flah. Além de não oferecer ao público uma resposta convincente - a conspiração verdadeira soa artificial demais para toda a situação proposta -, a trama busca no final esclarecer a todos o descrito acima, aliando-o de forma equivocada à própria resolução do mistério.
A grande qualidade da produção, assim, vira o seu principal defeito, e a clara falta de tensão no longa fica evidente no terceiro ato. Por alguns momentos, pelo menos, Sétimo consegue iludir o espectador com o caminho trilhado pelo protagonista na busca pelos filhos, mesmo que o frustrando ao não saber resolver isso de forma satisfatória e decente.

Nota: 5/10

0 comentários :

Postar um comentário