segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Crítica: Convoque Seu Buda (Criolo)

Convoque Seu Buda marca a entrada de Criolo na música brasileira

Por Vinícius Lima

Criolo é de outro planeta. Não que ele seja uma espécie de alienígena do rap nacional, mas ele é gênio, e sua cabeça compõe letras que estão anos luz na nossa frente. Desde seu primeiro CD, o “Ainda Há Tempo”, produzido sem recurso algum, o reconhecido “Nó Na Orelha”, que o revelou para fora do Grajaú com a produção ilustríssima de Daniel Ganjaman e Marcelo Cabral, e agora com seu mais novo disco, o “Convoque Seu Buda”, que conta com a mesma produção.
Se você ouvir o novo CD do Criolo de maneira descompromissada no ônibus ou na linha vermelha lotada, as letras como “Cartão De Visita”, “Esquiva Da Esgrima”, “Fermento Pra Massa” e “Pegue Pra Ela” soarão simples e superficiais, porém suas linhas e suas palavras carregam um duplo sentido crítico, digno de ser comparado a qualquer letra de um Chico Buarque ou Milton Nascimento na época da ditadura militar. Criolo usa e abusa de suas referências diversas como Sabotage, Ogi, Black Alien, Nietzsche, Ferréz e Perrenoud para fazer críticas a violência e preconceito como em “Esquiva Da Esgrima”; cita os podres da classe média camuflado numa batida animada e num refrão com a linda voz de Tulipa Ruiz dizendo “parcela no cartão essa gente indigesta”; em Fermento pra Massa, num samba Criolo, explicou como a população é apenas massa de manobra do governo, fazendo comparação a uma padaria; e pra fechar as letras que mais me chamaram atenção, em “Pegue Pra Ela”, Criolo faz uma forte critica a indústria cultural que domina e molda os artistas em padrões para o lucro das empresas de comunicação e de eventos, como se pode ver em frases como “toda indústria tem no comércio o seu ponto de reprodução” ou “toda cultura vira comércio, é o ponto de degradação.”.
Criolo não revolucionou em seu novo trabalho, e sim apenas o reformou. Mas fez uma bela reforma. Manteve a mesma formula do último CD “Nó Na Orelha” (talvez pela mesma produção de Ganjaman e Cabral), com alternância de estilos, samba, rap, rock; o que não é ruim, apenas um comentário. Talvez seja essa sua marca como artista. Nesse álbum, porém, ele convida artistas talentosíssimos para também compartilhar essa alegria com ele: Kiku Dinnuci, Rodrigo Campos e a já citada Tulipa Ruiz nos arranjos, Juçara Marçal e o próximo gênio do RAP nacional, Neto (guardem esse nome) do Síntese.

Enfim, Criolo mostra nesse CD um amadurecimento musical enorme e não acho exagerado dizer que talvez seja o seu mergulho na história da música brasileira ao lado de grandes mestres. Assim como Emicida em “O Glorioso Retorno De Quem Nunca Esteve Aqui”, creio que Criolo com “Convoque Seu Buda”, quis dizer “não sou só rapper, não sei só fazer rima em batida eletrônica, sou artista, e o rap é arte sim.”.

Nota: 10/10

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