sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Crítica: Trinta

Cinebiografia de Joãosinho Trinta privilegia preparação que protagonista e espetáculo

Por Pedro Strazza

O carnaval é uma festividade importante no calendário brasileiro. Apesar do grande número de pessoas que odeiem o evento e todas as suas características, a grande festa de fevereiro é capaz de proporcionar uma alegria contagiante no povo através de aspectos muito simples, como o samba, a dança e as fantasias, todas muitas vezes espontâneas. Esta simplicidade da "celebração", porém, não impede o carnaval de produzir grandes estruturas e coreografias milimetricamente planejadas, e o desfile das escolas de samba é um exemplo claro disso.
Em Trinta, a cinebiografia do falecido carnavalesco João Clemente Jorge Trinta - mais conhecido pelo apelido de Joãosinho Trinta -, a montagem do desfile é o tema central da história. Os esforços de Trinta (Matheus Nachtergaele, excelente) em preparar a comunidade do Salgueiro para a Sapucaí em seu primeiro ano na liderança, afinal, são utilizados pelo diretor Paulo Machline para explorar a sua personalidade e sua vida, que sofreu em muitos momentos por causa de suas escolhas nada óbvias - a saída da cidade natal, a incursão no balé, o ingresso no mundo do carnaval, etc.
O perfil do protagonista, entretanto, acaba sendo explorado por Machline e sua equipe de forma um pouco equivocada ao ter sua trajetória trabalhada em uma trama que segue toda a cartilha dos filmes biográficos. Estão lá o opositor a ser enfrentado (Tião, o chefe do barracão da Salgueiro interpretado pelo sempre ótimo Milhem Cortaz), o chefe corrupto mas de boas intenções (Germano, presidente da escola representado por Ernani Moraes), o amigo em crise com o personagem principal (O também carnavalesco Fernando Pamplona, que ganha as telas pela mão de Paulo Tiefenthaler) e outros, todos desenvolvidos de forma plana e submissa a Trinta e seus problemas. Falta maior elaboração na relação de Joãosinho com aqueles que o cercam, e o filme acaba soando genérico.
O roteiro é outro que danifica a obra. Escrito por Claudio Galperin, Felipe Sholl, Mauricio Zacharias e o próprio Machline, ele muitas vezes esconde dramas potencialmente interessantes da vida de João Clemente para privilegiar os preparativos do desfile, cuja imponência nunca é mostrada pela fotografia de Lito Mendes da Rocha - observe como a câmera foca apenas na reação de Trinta no momento em que este entra em contato pela primeira vez com o carnaval. E quando não os omite, o longa traz soluções rápidas e muitas vezes não satisfatórias (a frustração do carnavalesco com o balé, por exemplo), erro crasso para uma produção disposta a realizar a análise de um personagem.
Salvo por grandes atuações de um elenco muito bem escolhido, Trinta é um filme que falha em suas pretensões ao tentar simplificar ao máximo o protagonista e o mundo que vive por meio de clichês aplicados sem parcialidade. Mas o trabalho de Machline aqui só não dá em samba pois falta a ele mostrar o carnaval e sua alegria, elemento principal desse rico universo.

Nota: 5/10

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