sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Crítica: November Man - Um Espião Nunca Morre

Filme procura separar protagonista de James Bond, mas cai em roteiro clichê

Por Pedro Strazza

É inegável a afirmação de que a carreira de Pierce Brosnan nunca decolou de fato. Dono de um charme britânico quase estereotipado, o ator construiu sua reputação à partir de várias participações em pequenas e médias produções até ser escolhido nos 90 para viver a quinta encarnação do agente 007 nos cinemas, que viveu em quatro filmes. O estrelato proporcionado pelo papel, porém, não se refletiu da mesma maneira em sua trajetória profissional, marcada de forma profunda pela ligação feita com James Bond e arruinada após o fim desta e uma sequência de personagens superficiais e muito fracos.
Agora, mais de doze anos depois de sua última aparição como o célebre espião britânico, Brosnan retorna ao gênero que o levou à fama, mas na pele de outro agente secreto baseado na literatura: Peter Devereaux, o protagonista do livro There Are No Spies, cuja história foi adaptada para as telonas sob o nome de November Man - Um Espião Nunca Morre. Dirigido por Roger Donaldson, o longa traz a Pierce um cenário bem similar aos filmes de Bond: Uma trama internacional, uma mocinha bem bonita a ser salva (interpretada pela -surpresa! - ex-bond-girl Olga Kurylenko), muitas reviravoltas, traições, pancadaria e, claro, espionagem.
Seria o caminho perfeito para o ator fazer o que mais sabe fazer de melhor e quiçá progredir enfim em sua carreira, se não fosse por um pequeno e grave problema central da própria produção. Consciente dos riscos de parecer uma cópia descarada das aventuras do personagem criado por Ian Fleming, a obra cinematográfica tenta a todo custo tornar seu herói em um alguém completamente distinto de 007, mas no processo esquece-se de contornar na história os clichês do gênero. E o resultado obtido desta tentativa é doloroso, pois November Man torna-se uma sequência inacreditável de clichês sem graça e óbvios, arruinando assim qualquer curiosidade do espectador em acompanhar a trama e seus desenrolamentos.
O desinteresse do público já se inicia à partir da maneira como é apresentado ao protagonista. Buscando afastar o personagem de seu próprio passado, Brosnan é obrigado a compor em sua atuação um Devereaux ríspido, sarcástico e arrogante, e torna impossível as chances do espectador se conectar com ele. Sobra no espião da vez frieza e até(!) crueldade sem sentido, e falta a ele emoção e humanidade.
A necessidade injustificável e os esforços de Brosnan em tentar tornar real essa distinção, porém, não se refletem em quase todos os outros aspectos do longa, que leva a cartilha do gênero de espionagem inadvertidamente ao pé da letra. Situações previsíveis acontecem, personagens superficiais se revelam ainda mais rasos, surpresas nada surpreendentes acontecem... tudo tenta soar como novo, mas é reciclado de inúmeras obras. Mesmo os principais coadjuvantes, interpretados com diferentes níveis de engajamento por Luke Bracey e Kurylenko, se perdem na obviedade - e nesse quesito é inacreditável ver como Olga trabalha aqui com um papel IDÊNTICO ao que fez em Quantum of Solace.
Pautado ainda por um roteiro repleto de erros de continuidade (que inclusive são apontados em cena, como o emblemático "É sério que você vai fazer isso com apenas seis agentes?") e cenas de ação pessimamente orquestradas, November Man se espatifa na tentativa superficial e mal-feita de não trazer uma identificação imediata com outro produto. Para o espectador, um filme genérica; para Brosnan, mais um erro em sua carreira.

Nota: 3/10

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