quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Crítica: As Aventuras de Paddington

Primeira incursão de personagem no cinema carece de coragem narrativa

Por Pedro Strazza

Na extensa galeria de protagonistas emblemáticos da literatura infanto-juvenil britânica, o urso Paddington tem certo destaque. Criado no final dos anos 50 pelo escritor Michael Bond, o imigrante peruano atrapalhado que vive com a família Brown é a estrela de uma série de livros que até hoje tem novos volumes publicados e público interessado. A fama é tão boa que o personagem ganhou nos cinemas um filme em live-action, contando com um elenco invejável e efeitos visuais para recriá-lo na telona.
Por ser a primeira incursão do urso no formato, As Aventuras de Paddington tem por objetivo principal introduzir o protagonista, sua história e as pessoas com que relaciona para os espectadores, e faz isso sem muitos problemas. Na trama, após uma sequência trágica de acontecimentos, Paddington (Ben Wishaw) se vê obrigado a se mudar sozinho da floresta onde vivia com o tio (Michael Gambon) e a tia (Imelda Staunton) para a Inglaterra. Em um país estranho e totalmente diferente de sua rotina, ele busca encontrar um lar com um explorador que há muitos anos visitou seus parentes, e para isso conta com a ajuda da família Brown.
Como longa infantil, o filme encanta pela diversão simples que proporciona. Das peripécias de Paddington - que muitas vezes remetem às loucuras visuais de As Aventuras de Tintin - aos exageros das atuações do elenco muito bem montado, a aventura escrita por Paul King (também diretor aqui) e Hamish McColl possui em seu âmago um humor leve e descompromissado, típico das produções do gênero, mas muito bem aplicado graças à simpatia do protagonista. E isso não se restringe apenas ao núcleo principal, como bem pode-se ver nas gags periféricas recorrentes ou no vizinho mal-humorado vivido por Peter Capaldi.
O clima de comédia "rasa mas gostosa", porém, não oculta do filme a sua falta de coragem para explorar de forma simples assuntos ousados. O drama do imigrante vivido por Paddington, por exemplo, é usado pelo roteiro apenas para unir o urso com os Brown e dar o pontapé à história, mas com poucos movimentos na narrativa poderia ser um dos grandes temas a guiar os rumos do protagonista. E se no enredo é ausente essa maior audácia, na direção King é bastante procedural e óbvio, experimentando planos holandeses sem nenhum sucesso em um ou dois momentos.
Afim apenas de apostar no garantido para apresentar um clássico personagem da literatura, As Aventuras de Paddington de certa maneira é um acerto por conseguir realizar na tela seus objetivos iniciais. A falta do algo a mais em suas intenções, entretanto, o impede de deixar a categoria de produção para passar o tempo e ser algo mais marcante e de valor para seu público, tanto para crianças quanto para adultos.

Nota: 7/10

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