segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Crítica: Saga (Volume 1)

Brian K. Vaughan e Fiona Staples concebem início de epopeia fantástica com simplicidade

Por Pedro Strazza

Criar um universo fantástico já é uma tarefa difícil, mas pode ficar ainda mais complicada se o autor quiser apresentar ao público algo nunca antes visto. Conceber criaturas novas e planetas completamente diferentes do habitual, afinal, requer do criador uma habilidade quase natural de anunciar sua prodigiosa imaginação sem enrolar seu leitor com inúmeras e chatíssimas explicações.
Exige-se deste tipo de obra, portanto, uma simplicidade para expor esse seu mundo, e é exatamente isso que o escritor Brian K. Vaughan faz em Saga, sua multipremiada série publicada pela Image Comics. Mistura ambiciosa da narrativa de ficção-científica com elementos de fantasia mitológica, a obra em quadrinhos traz um universo lotado de seres chocantes por causa de sua composição visual quase surreal e de difícil compreensão (alguns desses são inclusive capazes de fazer o público parar a leitura para admirar sua complexa e curiosa anatomia), mas que conseguem ser bem assimilados graças à maneira como o autor os introduz com naturalidade impressionante.
Para conseguir alcançar esse feito, Vaughan se utiliza primeiro de uma trama simples, gerada pela típica situação de "Capuletos e Montecchios" em escala galáctica. Membros de dois lados antagonistas entre si (o planeta Aterro e seu sátelite Grinalda), que guerreiam há séculos por motivos de dominação de raça, Marko e Alana, os grandes protagonistas da história, são um casal proibido de existir, e logo são caçados incessantemente pelos mercenários contratados dos dois governos - que ainda por cima querem o filho dos dois, a pequena mestiça Hazel. É um gato-e-rato fácil e bastante divertido de se ler, e o roteirista o guia com toques de humor visando apresentar as suas criaturas.
A simplicidade é também um ponto que a artista Fiona Staples parece almejar em Saga. Feitas em traços descomplicados, suas ilustrações buscam sempre estontear o leitor mais pelo design dos seres que pelo desenho em si, e isto, além de casar com as intenções do autor, torna acessível a leitura visual da história a qualquer pessoa, mesmo sendo esta a maior iniciante em quadrinhos.
Capaz ainda de apresentar personagens interessantes e de disfarçar dramas complexos e pesados em sua narrativa fluida (o vivido pelo mercenário O Querer no capítulo cinco chama bastante atenção nesse ponto), Saga mostra já em seu primeiro volume o quão interessante pode ser. O casamento de sua ousada proposta visual com uma trama inicialmente comum oferecem ao público não só uma leitura agradável como também abrem uma porta de entrada para uma obra que com facilidade poderá se tornar um dos grandes épicos do quadrinho moderno. E isso é excelente.

Nota: 10/10

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