quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Crítica: Arqueiro Verde (#17 a #21)

Sem recursos, Oliver Queen torna-se um personagem muito mais interessante na mão de Jeff Lemire

Por Pedro Strazza

Oliver Queen nunca foi um herói de primeira linha na DC Comics. Desde sua estréia na revista More Fun Comics #73, o personagem criado por Mort Weisinger e George Papp passou por altos e baixos na editora de Superman e Batman, indo a momentos de glória - como a fase na estrada com o Lanterna Verde de Neal Adams e Denis O'Neil, nos anos 70 e começo dos 80 - ao total esquecimento. O herói, afinal, era apenas mais uma cópia descarada do Cavaleiro das Trevas.
Mas nos últimos tempos o Arqueiro Verde começou a ganhar mais destaque no universo pop com a chegada de sua série, Arrow, que mudou vários aspectos do personagem para torná-lo mais interessante e se tornou uma espécie de bastião da nova fase da DC em outras mídias. E com o sucesso desta, não demorou muito para a editora realizar uma espécie de mudança nos quadrinhos do justiceiro, até então enfrentando uma péssima fase no início dos Novos 52 nas mãos de diversos roteiristas que simplesmente não conseguiam se entender com o perfil de um personagem que, novamente, fora criado para ser um Batman de arco-e-flecha. A solução encontrada pela DC foi trazer o experiente Jeff Lemire, importante escritor na editora, e o desenhista-sensação Andrea Sorrentino para o título, incumbindo os dois da missão de melhorar a qualidade da revista e assim torná-la mais popular.
E nas cinco primeiras edições dessa nova fase já se percebem as mudanças empreendidas pela dupla na série, seja no visual ou na história. O traço de Sorrentino, já bastante dinâmico em Eu, Vampiro, ganha ainda mais movimento em Arqueiro Verde, graças aos pequenos quadros cinematográficos no meio de seus desenhos e ao excelente trabalho do colorista Marcelo Maiolo, que em alguns momentos pinta apenas alguns elementos do cenário - ou ressalta sua cor. Essa parceria apresenta maiores resultados na edição #20, onde o clímax do arco ocorre e os participantes do confronto se destacam em meio à chuva.
O roteiro de Lemire, por sua vez, tem inúmeros acertos e apenas alguns erros. Procurando tornar Oliver Queen um personagem mais humano, o roteirista tira do herói um de seus principais atributos, a gigantesca fortuna herdada da família que é as Indústrias Queen, e coloca-o numa trama gato-e-rato com Komodo, antagonista inédito e arqueiro tão ou mais competente que o protagonista. É ele que explode o Núcleo-Q, projeto pessoal de Oliver, e sequestra seus amigos Jax e Naomi, matando sem piedade o primeiro. E é nesse ambiente mais desfavorável que emula-se no Arqueiro Verde um clima de maior sobrevivência e menos conforto, aproximando-o do perfil de um justiceiro sem recursos.
Os problemas começam, entretanto, no momento em que o escritor começar a relacionar o conflito do Arqueiro Verde e Komodo com a origem do herói e um maior embate lendário e antigo. Já provado sem sucesso em inúmeros outros super-heróis, mexer em elementos tão básicos da cronologia como o acidente de Oliver, sua estadia na ilha e a morte de seu pai para encaixá-los numa trama de conspiração tiram força das motivações do protagonista. Outra coisa que também não funciona como deveria é Magus, o misterioso homem sem olhos que é usado por Lemire para introduzir a grande trama, envolvendo aqui um grande confronto entre Clãs de sei-lá-quantas-armas-de-guerra.
Mas nada tira desse reinício do Arqueiro Verde nos quadrinhos o seu merecido elogio. Mais realista e limitado, esse novo Oliver Queen de Lemire, Sorrentino e Maiolo está sendo muito mais interessante e original que sua versão anterior, e deixa de lado assim a ingrata imagem milionária de sua criação.

Nota: 8/10

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