terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

HEY, Eu Quero uma Segunda Opinião!: Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

Um filme de Riggan Thomson, o Birdman... ou Michael Keaton, o Batman.

Por Alexandre Dias.

Quando falamos de Birdman, certamente o que pode ser afirmado é que foi produzido na melhor época possível, a que os blockbusters reinam no cinema e os atores são substituídos por celebridades. É justamente esse diálogo com a realidade que o diretor mexicano Alejandro González Iñarritu construiu de forma muito eficiente, com o auxílio de um belo elenco e por meio da alternância entre o drama e o humor.
A metalinguagem existente se inicia com a própria escolha do protagonista: Michael Keaton, que atuou como Batman em 1989 e 1992, interpreta Riggan Thomson, que foi o super-herói Birdman nos anos 90 e agora procura fazer sucesso com uma peça na Broadway.
E se longa é uma oportunidade única para Keaton “renascer”, ele não a desperdiça. Sua atuação é excelente, tanto nos momentos em que ele se perde no seu psicológico como nas suas relações sociais. O restante do elenco corresponde à altura.
O resultado disso são ótimas interações entre os personagens nas partes cômicas- em especial, as piadas referentes a outros atores- e naquelas mais dramáticas, sendo estas últimas exploradas de maneira interessante na exposição da identidade dos envolvidos; as cenas entre Mike Shiner (Edward Norton) e Sam (Emma Stone), por exemplo, apesar de serem leves por um lado, desvendam muito bem os traços de pensamento do astro de cinema contratado e da filha de Riggan.
Porém, méritos devem ser atribuídos a Iñarritu por aplicar o falso plano-sequência eterno, pois assim a ideia de entender quem os intérpretes são dentro e fora da peça fica mais clara, como se o espectador sempre estivesse nos bastidores e na plateia. Consequentemente, a principal questão do filme vem à tona: quem são estes indivíduos? Atores ou celebridades?
Birdman triunfa ao estabelecer esta indagação afinal, estamos vivendo o tempo das celebridades no entretenimento. Tempo em que uma trama qualquer, um galã, um vilão canastrão e algumas explosões podem compor um projeto cinematográfico. Assim, o limite entre o que é arte ou não estaria sendo questionado, porque apesar de Tabitha (Lindsay Duncan), uma moça que trabalha escrevendo críticas de peças para certo veículo de comunicação, por em dúvida a legitimidade de Thomson como ator, o mesmo fez sucesso por interpretar um homem-pássaro.
A “situação” de Keaton pode ter sido um grande impulso para a realização de Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância). Contudo não há como negar que o resultado foi muito positivo, não só por dialogar com a realidade do antigo Bruce Wayne, mas também com a indústria cultural presente nos dias atuais.

Nota: 10/10

0 comentários :

Postar um comentário