domingo, 8 de fevereiro de 2015

Crítica: Corações de Ferro

Faroeste de desumanização.

Por Pedro Strazza.

Em um terreno baldio e sem vida, o vulto de um homem montado em um cavalo surge no horizonte esfumaçado. Cambaleante, mas buscando manter a postura de oficial, o cavaleiro faz seu animal andar em uma marcha lenta, como se quisesse encontrar alguma coisa no local. Ele dá uma guinada à direita e logo entra em uma espécie de cemitério metálico, onde corpos se acumulam em proporção semelhante a de máquinas de combate destruídos, formando juntos um silêncio interrompido somente pelo estalar das labaredas de fogo. E quando o cavaleiro julga estar sozinho nesse sepulcro, eis que um soldado pula de uma das tumbas de metal para assassiná-lo de surpresa.

Descrito acima, o plano que abre Corações de Ferro apresenta ao espectador de imediato duas características importantes do filme: sua brutalidade e seu quê de faroeste. Em seu décimo trabalho como diretor, David Ayer refaz os passos de longas como O Resgate do Soldado Ryan e Bastardos Inglórios e usa os violentos dias finais da Segunda Guerra Mundial para ambientar uma história que remete às aventuras de cowboys no Velho Oeste cinematográfico de John Wayne.

Escrita por Ayer, a trama acompanha o tanque Fury e seus cinco tripulantes, que além de morarem dentro do blindado vivem uma rotina diária de pequenos embates cheios de tensão dentro do território alemão. Com uma baixa do último conflito, Don (Brad Pitt), Bible (Shia LaBeouf), Gordo (Michael Peña) e Coon-Ass (Jon Bernthal) recebem como reposição o inexperiente Norman (Logan Lerman) e em seguida são mandados com soldados remanescentes de outras tropas para combater o inimigo em outro campo de batalha.

Usando da claustrofobia presente dentro do tanque para criar a atmosfera do longa ("só existe na vida a próxima batalha" diz um dos soldados em certo momento), Ayer aproveita o cenário de desolação para homenagear os bangue-bangues clássicos. De seus personagens, cujos apelidos resumem seus perfis e fazem referência direta a figuras típicas, à fotografia de Roman Vasyanov, que feita em película conta com todos os enquadramentos vistos em praticamente todos os longas do gênero, Corações de Ferro é uma elegia ao faroeste, feita em uma época onde não há heróis ou sequer humanos para enfrentar os vilões em decadência.

A desumanização inclusive tem grande participação na guerra propiciada pelo filme. A grandiosidade mórbida das máquinas de guerra e a violência fria batem ponto na narrativa constantemente, quase como se avisassem que o que vemos ali em cena não são pessoas, mas sim animais prontos para matar o inimigo a todo custo. A bestialidade humana, porém, é combatida por alguns com a procura da normalidade nos poucos momentos de alívio, e Ayer busca retratar isso com a maior amplitude possível - não à toa, a cena protagonizada por Norman e Don (o John Wayne concebido pelo diretor com o que tem em mãos) no apartamento de uma família alemã ganha um destaque maior para atender a esses fins.

É de sujeira, sangue e tensão que Corações de Ferro é feito, e Ayer não nega essa realidade a ele. O mundo da guerra nunca foi ou será um lugar bonito, e é capaz de tornar o homem (mesmo o mais inofensivo deles) numa verdadeira máquina sem alma. Assim como a trajetória de Norman, essa jornada não é inédita no cinema, mas ganhou aqui toques interessantes na visão de seu cineasta.

Nota: 8/10

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1 comentários :

Devo confessar que eu achei um filme em alguns momentos chatos, claro que a distribuição é muito vale, mas, ser Sniper Americano, outro filme do drama ,é a guerra, eu agradño mais. Eu consultado sobre a HBO estréia e ir ainda é um filme que eu gostava, o resultado é muito a pena, em todos os momentos Fique atento, eu recomendo o mesmo.

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