Incompatibilidade de tramas prejudica homenagem de Lee Bermejo.
Por Pedro Strazza.
A maneira como estas adaptações foram feitas, entretanto, sempre prezam por inserir os protagonistas no romance de Dickens, e não o contrário, coisa que o quadrinista Lee Bermejo faz em Batman Noel. Primeiro trabalho escrito e desenhado pelo americano, a graphic novel realiza essa inversão criativa com certa inteligência, trazendo trechos do livro para as ruas de Gotham City para transformá-las em uma narrativa de ação, focada no combate ao crime do Homem-Morcego na noite de Natal.
Nesse processo delicado, Bermejo substitui a mesquinharia pela necessidade de justiça, um motor interno muito mais relacionável as histórias de Bruce Wayne, mas que soa um pouco perdido no roteiro do quadrinho. A temática, além de já muito explorada por outros artistas, é muito característico do personagem e pouco geral para se encaixar como fábula, e torna a jornada de Batman muito difícil de se conectar. E é só ser apresentado para o combustível desse "vício" e ler o desfecho que se percebe a falta de encaixe da base da HQ com a própria.
Independente desta incoerência de adaptação inversa, é divertido ver como Bermejo brinca com o convencional e molda figuras da DC Comics nos papéis da obra de Dickens. Dos fantasmas (interpretados aqui por Mulher-Gato, Superman e Coringa) à cidade (Gotham está mais Londres do que nunca), o autor consegue homenagear os dois lados da moeda, e transporta tanto os quadrinhos para a literatura quanto o contrário. Seu traço realista tradicional e baseado no impacto da luz em ambientes e feições garante essa combinação visual, mesmo com erros aqui e acolá no encadeamento dos fatos.
Batman Noel está longe de ser um clássico conto do Homem-Morcego nos quadrinhos. Mas mesmo com problemas ocasionados por uma ousadia de transposição e modificação, é admirável os esforços do autor em realizar isso como possível e ao mesmo tempo entregar uma história minimamente interessante. Pena que o acerto não seja total.
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