O cinema de obviedades aplicado a uma pessoa brilhante.
Por Pedro Strazza.
No caso, a figura mencionada logo acima é Alan Turing, matemático inglês que além de patrono das ciências da computação foi responsável por quebrar o código criptográfico dos alemães (intitulado Enigma) na Segunda Guerra Mundial, acelerando o fim do conflito. A genialidade de Turing e suas conquistas científicas, entretanto, de nada significaram alguns anos depois, quando foi condenado por sua homossexualidade (um crime na época) e se suicidou dois anos após ser sentenciado a um tratamento hormonal obrigatório, feito para "acabar com tal obscenidade".
A personalidade do matemático daria uma interessante análise, mas o roteiro escrito por Graham Moore não dá conta disso. Adaptado do livro "Alan Turing: O Enigma", de Andrew Hodges, o filme dividi-se em três épocas distintas - a infância do protagonista, durante a Segunda Guerra e nos dias de sua condenação, todas trabalhadas sem nenhuma distinção visual entre si pelo design de produção de Maria Djurkovic - para se aprofundar no perfil de Turing, concebendo-o no início como um mistério a ser desvendado.
Mas essa elaboração inicial parece não existir na narrativa: Em nenhum momento Moore e Tyldum se esforçam em fazer de Alan um enigma, e isso se deve principalmente à ausência de profundidade em todos os personagens, postos em uma trama das mais convencionais. Está lá o protagonista de perfil esquisito, cercado por todos lados de coadjuvantes de única função e arcos previsíveis ao extremo (nem mesmo a protofeminista interpretada por Keira Knightley escapa), executados por atores que sabem muito bem o fazê-los (Matthew Goode é o gênio antagonista, Charles Dance faz o homem da lei, Mark Strong repete o tipo misterioso). As situações, conflitos, vitórias revigorantes e derrotas arrasadoras se enfileiram prontas para acontecerem na ordem esperada, causando surpresa e descontentamento no público nos momentos habituais - e se há alguma revelação, usa-se de imediato do flashback para lembrar o espectador do porquê aquilo ser surpreendente.
Dito isso, é importante ressaltar a maneira como Benedict Cumberbatch é eficaz em sua incorporação de Turing. Ainda que seu papel seja de total unidimensionalidade, o ator consegue dar ao espectador uma falsa sensação de profundidade ao matemático, graças à adaptação de determinados toques de sua postura habitualmente confiante para a fragilidade do personagem, como a voz falha e gaguejante ou a figura franzina. É um trabalho, claro, sem muito destaque se pensarmos na carreira de Cumberbatch, mas é suficiente para tirar a produção de seu marasmo criativo.
Pontuado também por um humor feito para o público se apegar à detestável pessoa de Turing e uma trilha sonora de Alexandre Desplat que não arrisca nem petisca, O Jogo da Imitação surge como mais um filme mediano sobre uma pessoa fantástica, que subjuga todo o potencial contido nesta para entregar o óbvio. Há quem curta? Sem dúvida. Mas não poderia ser algo a mais?
Nota: 6/10
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