Retrato de Martin Luther King Jr. supera questão do racismo.
Por Pedro Strazza.
A essa longa lista de produções estadunidenses com o racismo em pauta se junta agora Selma, que inclusive já traz no subtítulo a luta pela igualdade promovida pela absoluta maioria de tais obras. O palco da discussão agora é a cidade-título do filme dirigido por Ava DuVernay, e o debate gira em torno do voto negro, que mesmo presente na Constituição dos EUA ainda enfrentava oposição no sul do país, o lar dos confederados e ex-escravistas. Para tentar acabar com isso, o então líder do movimento Martin Luther King Jr. (David Oyelowo) inicia no local uma verdadeira guerra de conscientização para a causa, enfrentando tanto o governador do Alabama (Tim Roth) quanto o presidente Lyndon B. Johnson (Tom Wilkinson).
A maneira como o filme lida com o preconceito racial não difere muito do que já foi visto em outras obras. Afora o curioso tom ameaçador que a cor branca ganha nas mãos de DuVernay nos cenários (a cortina de fumaça, o necrotério e a própria tribuna da cidade são bons exemplos disso), Selma repete conceitos e discussões sem muita criatividade, como a opressão subjetiva dos caucasianos com os afrodescendentes ou o discurso de violência presente a todo instante nos dois lados. Mesmo a relação da mídia com a questão, ponto central na estratégia de MLK para alcançar seu objetivo, soa em muitos momentos como cíclica, e os próprios personagens apontam isso várias vezes.
O grande diferencial da produção, na verdade, reside no retrato feito de seu protagonista. Influente e decisivo para a união dos negros e a derrocada de diversos preconceitos, Martin Luther King Jr. tem sua pessoa desconstruída pelo roteiro de Paul Webb, que enaltece ao mesmo tempo sua confiança como líder nos discursos para o povo e humano quando fora de reuniões e igrejas, ressaltando suas falhas e limitações. E para esse aprofundamento se concretizar, é necessário não só a atuação eficiente de Oyelowo (preciso na incorporação dos trejeitos de seu papel), mas também a de Carmen Ejogo como a esposa Coretta, que serve de âncora familiar e amorosa para o pastor e protagoniza com ele um dos melhores diálogos do filme.
De caráter excessivamente novelesco (são muitos os personagens que entram e saem a todo instante), Selma - Uma Luta Pela Igualdade não chega a inovar no debate que procura se inserir, mas é interessante no jeito como retrata uma das figuras mais importantes da história estadunidense. Como o encerramento bem esclarece, a batalha pelo fim do racismo deixou muitos fantasmas, mas seus feitos reverberarão pela História por um bom tempo.
Nota: 7/10
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