Reinício dos quelônios no cinema é marcado por erros
Por Pedro Strazza
Após este período, porém, as tartarugas não encontraram mais tanto espaço na cultura pop, tentando sucessivamente alcançar o mesmo posto de antes. E depois de dois desenhos animados e uma animação para os cinemas, os "filhos" de Mestre Splinter procuram voltar à luz dos holofotes com a ajuda de Michael Bay, o produtor deste remake live-action da franquia. Mas apesar estarem visualmente reinventadas e contarem com algumas estrelas na produção, os quelônios não escapam dos maneirismos e problemas da "síndrome de Bay", exponenciados por um diretor que, não sendo o responsável pela franquia Transformers, procura copiá-lo de maneira porca e genérica (se isto é possível!!!).
E esses defeitos mostram-se visíveis já na primeira parte do roteiro de As Tartarugas Ninja. Depois de realizar uma introdução elaborada e eficiente em informar as origens dos quelônios e as propostas básicas da trama, a história prefere, na primeira meia hora, focar suas atenções na desinteressante (e irritante em vários momentos) April O'Neil (Megan Fox, novamente ineficiente em quesitos de atuação) a seguir acompanhando seus protagonistas. A intrépida jornalista do casaco amarelo, por sinal, ganha aqui o seu maior destaque em toda sua existência, tornando-se precariamente o ponto central de uma narrativa em que tudo está conectado - formato este bastante similar a de filmes como os recentes O Espetacular Homem-Aranha e Batman Begins.
A centralidade do papel de Fox na trama não é, porém, o maior erro do roteiro do remake, mas sim sua necessidade em procurar explicar a todo momento o que está acontecendo. De cinco em cinco minutos, a história parece estacionar seu ritmo no intuito de deixar claro ao espectador quais são as intenções dos mocinhos e dos bandidos, mesmo que para isso tenha que criar incoerências claras em sua continuidade, defasada também na fotografia.
A direção de Liebesman é também outro ponto bastante negativo neste retorno do quarteto aos cinemas. Novamente empregando em demasia sua preferência por travellings e planos holandeses, o diretor parece não conseguir tanto encontrar aqui o melhor ângulo e recurso possível para filmar as frenéticas cenas de ação (que Bay talvez tenha imposto) como entender o espaço onde elas ocorrem, tornando-as essas sequências confusas e chatas - à exceção, talvez, do clímax no alto da torre, onde a liberdade espacial permite um uso razoável da câmera. E se na pancadaria Jonathan fracassa repetidas vezes, o que dizer então dos momentos de humor, em que literalmente denota o tempo aonde o público deveria rir?
Apesar de errar demais em vários aspectos técnicos, contudo, o filme encontra relativo sucesso em seu próprio chamariz. Além de estarem visualmente fantásticas - aplausos pela ousadia em diferenciar o quarteto entre si pelos objetos que carregam e seus formatos -, Leonardo (Pete Ploszek na captura de movimentos, Johnny Knoxville na dublagem), Michelangelo (Noel Fisher), Rafael (Alan Ritchson) e Donatello (Jeremy Howard) apresentam a mesma química invejável e amabilidade que possuem desde o desenho animado dos anos 80, e criam no filme os pouquíssimos momentos genuinamente divertidos (como a curta cena no elevador).
Contando ainda com alívios cômicos sofríveis e vilões de planos nada coerentes, As Tartarugas Ninja realiza mais erros grotescos que acertos calibrados em seu recomeço nas telonas. Estas escolhas precárias, porém, não são feitas nas pedras fundamentais da nova franquia e podem ser repensadas na já confirmada sequência. A esperança pelo menos é esta.
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