quarta-feira, 17 de julho de 2013

Crítica: Antes de Watchmen - Espectral

Relação mãe-e-filha é subaproveitada em prol de uma trama fraca e desconexa de Watchmen

Crescer pode ser uma tarefa difícil quando os próprios pais são famosos. Talvez pela pressão familiar em trilhar os próprios passos ou pela grande cobertura da mídia, muitos filhos de celebridades acabam nas drogas ou no álcool, criando números assustadores e crescentes. E se já são inúmeros os casos, imagine se os super-herois entram nessa equação.
Essa é a grande questão de Antes de Watchmen: Espectral, que explora a relação mãe-e-filha das duas Espectrais e as dificuldades de assumir o legado com responsabilidade. A minissérie escrita por Darwyn Cooke e Amanda Conner acompanha Laurie Juspeczyk em uma fuga de casa, onde sua mãe Sally Jupiter treina-a constantemente para assumir seu manto de Espectral. Esse treinamento cria uma crise de identidade em Laurie, e após brigar com sua genitora ela embarca em uma kombi para a São Francisco dos anos 60 - e dos hippies.

Novos ambientes

Um dos grandes atrativos desse prelúdio é a própria cidade. Apesar de sempre tomar o lado do povo em usas obras, Alan Moore, criador de Watchmen, nunca se interessou em mostrar muito as reinvindicações da população e seus sofrimentos. O cotidiano dessas pessoas, porém, torna-se agora fundamental, e o roteiro escrito por Cooke e Conner nessa parte cumpre bem seu papel.
O contexto em que se passa a história também merece destaque. Situando a trama no berço da cultura hippie, a dupla conseguiu superar os riscos da superficialidade histórica e cria aqui uma representação interessante de São Francisco. Seja nas festas, nos protestos ou no próprio dia-a-dia, a cidade está viva e nas ruas protestando.
Exemplo claro disso são os desenhos de Conner para a minissérie. Apesar de parecerem saídos de um estudante de faculdade em vários momentos, o traço acerta o passo quando Laurie sofre alucinações com drogas, tornando seus delírios coloridos e vibrantes.

Paz, amor e furos

A história de Antes de Watchmen: Espectral, porém, apresenta vários problemas. Apesar de focados em desenvolverem a relação familiar, a fuga de Laurie prejudica essa tênue ligação, fazendo sua mãe sumir por uma edição inteira (lembrando que são quatro) e retornar apoiada em outros personagens, como o Comediante, em uma aparição dispensável, e o primeiro Coruja. A aparição de Hollis Mason, aqui uma figura paternal para Laurie, é desnecessária e incoerente, visto que ele desempenha essa função apenas com Dan Dreiberg (como visto no prelúdio do Coruja).
Os vilões também não fazem efeito. Fracos e com motivações idiotas (motivar as vendas usando drogas? Sério?), o maligno empresário e seu assistente em nenhum momento convencem, sendo difícil até lembrar o nome deles ao final. Subaproveitados, ambos acabam tendo finais péssimos e praticamente nulos para a continuidade da obra.
Mas o pior problema dessa minissérie é com certeza seu encerramento claramente apressado. Apesar de já se perceber com o tempo que a história ali contada não levará a nada, o fim de Laurie antes de Watchmen acaba levando a uma impressão errada de não haver escapatória de seu destino pré-determinado. Essa noção de destino acaba gerando incoerência com a trama (Mas ela não tinha fugido de casa para criar seu próprio legado?) e a própria graphic novel de Alan Moore, onde têm-se uma Espectral com saudades de seus tempos de heroína e consciente de seus atos. E se não era pra criar uma origem concisa com a obra original, qual o sentido de sua existência?
Nota: 4/10

0 comentários :

Postar um comentário