segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Crítica: Invencível

Segundo trabalho de Jolie na direção é marcado por convencionalismo e frieza.

Por Pedro Strazza.

Não é desconhecido para ninguém o fato de Hollywood gostar de uma filme de superação passado durante um conflito armado. Além de possuir um forte elemento emocional, grande parte dessas histórias traz um protagonista de fácil conexão com o público, graças às forças que precisa encontrar em seu corpo ou mente para superar as dificuldades às quais é submetido. É uma fórmula simples de ser realizada e que em geral apresenta um bom desempenho nas bilheterias de todo o mundo.
A execução de tal receita, porém, pode ser mal feita, e na maioria das vezes isso ocorre devido a um maior peso melodramático dado ao roteiro. Invencível, segundo trabalho de Angelina Jolie na direção, sofre em parte por causa dessa problemática para contar a história de Louis Zamperini (Jack O'Connell), atleta olímpico que durante a Segunda Guerra Mundial sobreviveu 47 dias no mar dentro de um bote e logo em seguida acabou prisioneiro de guerra dos japoneses. Em companhia de outros soldados capturados, ele é obrigado a passar pelas mais diferentes torturas no cativeiro, concebidas principalmente pelo cruel capitão Watanabe (Takamasa Ishihara).
Como bem se pode perceber pela sinopse acima, a vida de Zamperini oferece à produção uma grande variedade de clichês do gênero, sedutores a qualquer diretor iniciante e com bom orçamento. E é exatamente isso que ocorre aqui: Jolie segue sem pensar duas vezes o caminho mais óbvio na história, glorificando os esforços de Louis em se manter vivo, separando em bons e maus os personagens de acordo com o lado que estão na guerra e empregando altas doses de drama para fazer o espectador chorar com o sofrimento de seu protagonista.
Para obter essas lágrimas, a diretora conta com uma boa equipe técnica, mas não a sabe utilizar com propriedade. Enquanto a trilha sonora de Alexandre Desplat é incisiva demais e é levantada sem criatividade nos momentos mais dramáticos (algo bastante similar à trilha conduzida por John Williams em um certo Cavalo de Guerra), a fotografia de Roger Deakins soa genérica e fria ao tentar tirar dos esforços do personagem principal uma grandiosidade eloquente. O roteiro escrito por Richard LaGravanese, William Nicholson e os irmãos Coen, nesse ínterim, equivoca-se ao insistir no melodrama exagerado, empregado de forma infantil ao longo da narrativa.
Todos esses fatores em conjunto não levariam o filme muito longe, mas apenas relegariam o longa a se tornar uma produção mediana. O que de fato enfraquece a produção é a maneira fria com a qual Jolie e os roteiristas desenvolvem seu personagem principal, cuja persistência aparenta não possuir quaisquer objetivos. Invencível, claro, procura apresentar motivações (como a família ou o nacionalismo) para Zamperini continuar a sofrer em silêncio ao longo de sua projeção - e O'Connell decerto faz de tudo para imprimir estas em sua atuação -, mas falta a elas uma elaboração maior para que soem mais convincentes.
Salvo pelo bom trabalho da equipe de som e as cenas em alto-mar (que não chegam a ser geniais, mas pelo menos desempenham bem sua função), Invencível erra ao abordar sua história de maneira convencional e acreditar que pode criar emoção somente através da dor. Sem qualquer tipo de aprofundamento, os esforços de Louis Zamperini tornam-se enfadonhos para o público, que acaba assistindo as provações do protagonista mais por uma curiosidade mórbida e menos por se importar com o personagem.

Nota:4/10

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