segunda-feira, 6 de abril de 2015

Crítica: O Último Ato

Novo filme de Barry Levinson repete mantras do cinema auto-consciente.

Por Pedro Strazza.

Em determinada altura de O Último Ato, chega a ser irresistível para o espectador comparar o protagonista Simon Axler (Al Pacino) com o Riggan Thomson de Birdman ou (A Inesperada Virtude a Ignorância). No fundo, ambos são o mesmo personagem: um ator que, em meio a uma crise existencial, busca com o auxílio de uma segunda voz em seu cérebro sair do marasmo mental que o atordoa para receber os aplausos que sempre desejou.
A bem da verdade, essa "coincidência" não é exclusiva destes trabalhos de Barry Levinson e Alejandro González Iñarritu, mas sim temática a um aglomerado de produções reflexivas do papel do artista na própria arte, cada vez maior e mais popular na indústria cinematográfica. Do Cisne Negro de Aronofsky ao Acima das Nuvens de Assayas, o cinema está cada vez mais interessado em entender os seus próprios mecanismos, questionando o porquê de seus indivíduos se levarem ao limite para entregar ao público grandiosas obras de arte.
O problema dessas produções é que falta a elas uma maior criatividade para trilhar essa auto-reflexão, além de manter demasiado egocêntrica sua própria linha de raciocínio, e o Último Ato chega para ressaltar as problemáticas do subgênero. Baseado no livro homônimo escrito por Philip Roth, o longa faz ao lado de Axler o mesmo caminho feito pelos outros filmes sem trazer qualquer tipo de novidade a ele.
O arco de loucura vivido pelo protagonista, a voz imaginária de interesses próprios, a musa delirante, o sacrifício pessoal e muitos outros elementos do tema batem ponto no roteiro de Buck Henry e Michal Zebede, que repercutem os mesmos questionamentos e ideias já vistos. Enquanto isso, Levinson centra a narrativa em Simon para destacar sua personalidade fragmentada e causar risadas por ela, mas no processo acaba por acentuar excessivamente o tom individualista da trama. Até mesmo o elenco coadjuvante (formado por bons nomes como Greta Gerwig e Dianne Wiest) passa batido, repetindo discussões e situações vistos e revistos em outras obras.
O único elemento que surge para salvar o longa do clichê repetitivo é Al Pacino. Grande trunfo do diretor, o ator de mais de setenta anos emprega todo seu talento para criar um protagonista reconhecível e compreensível ao público, evitando que sua crise torne-se apenas uma ferramenta cômica e sim uma plataforma para uma reflexão maior de sua própria existência... mesmo que esta não venha em sua totalidade.
Se lançado em uma época anterior, O Último Ato poderia ter ganho uma maior visibilidade e se estabelecido como um precursor de um movimento. O seu lançamento em um panorama bastante dominado pelos temas que aborda, porém, torna a contribuição do longa ínfima, reduzida por ser simultaneamente nada inédito e muito óbvio em sua análise.

Nota: 5/10

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