domingo, 4 de outubro de 2015

Crítica: A Possessão do Mal

Demônio vira efeito do LSD em história prejudicada por erros bobos.

Por Pedro Strazza.

Percebe-se o desgaste de um tema quando este começa a ser visto pelas maneiras mais inusitadas por novos realizadores. Um bom exemplo dessa tendência criativa é A Possessão do Mal, filme de estreia do diretor  e roteirista David Jung que encara a possessão, este ato demoníaco que em tempos recentes voltou a ser bastante explorado pelo cinema de terror estadunidense, como uma verdadeira viagem alucinógena que deu muito errado no processo.
Só isso pode explicar com suficiência os acontecimentos mostrados na obra, que acompanha os esforços de um documentarista (Shane Johnson) em mostrar ao mundo a inexistência do sobrenatural após o falecimento da esposa (Cara Pifko) em decorrência de um acidente de carro. Para provar sua teoria, ele toma um verdadeiro "coquetel" de rituais satânicos - envolvendo (óbvio) a ingestão de drogas pesadas como LSD e uma fórmula literalmente vendida a ele como "capaz de aproximá-lo da sensação de morte" - no intuito de mostrar sua ineficácia, mas logo percebe que cometeu um erro (óbvio) sem volta.
A partir desta premissa, o roteiro de Jung busca passar ao espectador as sensações vividas pelo protagonista, que no fundo constituem os efeitos de uma típica bad trip. Das formigas que aos poucos se tornam mais presentes na casa do personagem às perdas de consciência sucessivas ocorridas durante a noite, ele constrói um clima de paranoia crescente, levado pelo documentarista no arco clichê de crença. O divertido, entretanto, é que o diretor não tem medo de materializar essa viagem no aspecto visual, encontrando ápices deliciosos na sala de consulta da psiquiatra - cujas luzes estroboscópicas soam ideais para a proposta aqui mesmo deslocadas - e na própria atuação de Johnson, sem medo de abraçar a caricatura quando necessário. Até o pós-festa encontra-se presente na narrativa, com direito a vômito, casa destruída e arrependimento das decisões tomadas.
O que o cineasta mostra de promissor em ideias, porém, ele falta na execução. Não somente por não conseguir encaixar com propriedade suficiente o found footage na história (a desculpa inicial dada pelo protagonista no início não é capaz de alimentar as necessidades do subgênero ou a importância dos segmentos no passado), Jung demonstra em sua estreia uma fácil inclinação ao terror de sustos e aos excessos, estes últimos principalmente no terceiro ato que, preocupado em dar algum otimismo final à trama, acaba por se perder na indecisão. Não bastasse isso, o roteiro tem dificuldades para controlar os clichês dos filmes de possessão, que se acumulam em caráter prejudicial e servem apenas para tornar previsível o rumo dos eventos - e nesse ponto me indago quantas vezes mais seremos obrigados a assistir à colisão de um pombo na janela como forma de terror até perceberem a crescente ineficácia do artifício.
São esses erros de principiante que tiram de A Possessão do Mal o fôlego maior para desenvolver o enlouquecimento de seu personagem pelos efeitos alucinógenos, apesar deste resistir bem como fio condutor. E ainda que mostre essa necessidade de aprender mais do arroz-e-feijão do gênero, seu realizador dá motivos suficientes para ser acompanhado de perto em seus próximos trabalhos.

Nota: 5/10

0 comentários :

Postar um comentário