sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Crítica: Aliança do Crime

Whitey Bulger faz o arco clássico dos filmes de gângster, mas nada acrescenta a este.

Embora abandone em Aliança do Crime a temática da cultura country e redneck dos Estados Unidos (tema de seus dois primeiros trabalhos, Coração Louco e Tudo por Justiça), o diretor Scott Cooper continua disposto a humanizar figuras de ojeriza da sociedade. Depois do bêbado e do ex-presidiário, chegou a vez do gângster convicto, aqui o violento criminoso James "Whitey" Bulger, responsável por inúmeras mortes e uma ampla rede de tráfico de drogas no sul de Boston nos anos 70.
Com base no livro escrito por Dick Lehr e Gerard O'Neill, o roteiro de Mark Mallouk e Jez Butterworth acompanha a rápida ascensão e queda do criminoso, que aproveitou-se de uma parceria feita com o FBI para agir descontroladamente em seu território e derrubar uma família mafiosa. A história é feita nos moldes clássicos e tem poucas novidades aqui: Bulger (Johnny Depp) é retratado como um homem carinhoso e dedicado aos parentes e agressivo e violento nos negócios, começando a misturar as coisas conforme o tempo passa e as mortes se acumulam. Seu relacionamento com o irmão Billy (Benedict Cumberbatch) é o que melhor demonstra isso, tratado por Cooper com todos os tiques de amor fraternal e mostrando sucessivas vezes como o gângster não permite que sua reputação manche a carreira do senador do Massachusetts.
Central à história, essa tarefa de fazer de Whitey um "gente como a gente" se transforma em um arco de manutenção das tradições pela ótica familiar, ancorado pelos atos do protagonista em relação às outras unidades familiares que encontra. Ao passo que seus relacionamentos mais íntimos são perdidos - o filho, a mãe, a esposa (Dakota Johnson) - James se torna mais amargo, incapaz de encontrar algo que substitua em peso e com satisfação o contrapeso para a violência de seu trabalho. Sua agressividade, assim, surge como uma tentativa de manter a ordem das coisas, seja no crime ou no lar, e as cenas na casa do agente e seu contato no FBI John Connolly (Joel Edgerton) são o melhor exemplo disso.
Esse desenvolvimento da trama acaba por não ser suficiente para conduzir sozinha a obra, que no fundo se comporta como o típico filme de atuação. Mas mesmo que possua um elenco gigantesco e extremamente bem qualificado em mãos (além do trio masculino citado e Johnson, a produção conta com nomes como Kevin Bacon, Peter Sarsgaard, Corey Stoll, Juno Temple e Adam Scott), Aliança do Crime mostra dificuldades em empregá-lo da melhor maneira, pondo ótimos atores em posições coadjuvantes - só resta o sotaque a Cumberbatch no papel de Billy - e mais fracos nos papéis principais - Edgerton, por exemplo, faz muito pouco do processo de corrompimento vivido por Connolly e entrega uma atuação próxima do caricato.
Todo o filme, entretanto, é dedicado mesmo a construir Bulger e a atuação de Depp, vendida ao máximo pela produção como seu retorno ao topo depois de uma série de erros. O ator, que surge ameaçador no papel do gângster, entrega uma composição bastante diferente do seu arquétipo de Jack Sparrow que veio entregando nos últimos anos, mas na realidade é ainda uma caricatura tão grande quanto sua maquiagem com toques de Drácula. Algo que, a exceção da comparação com o vampiro, parece repercutir em toda a estrutura e narrativa da obra.

Nota: 5/10

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