Em seu primeiro ano, derivado de Breaking Bad equilibra desenvolvimento original e dependente de sua série-mãe para estabelecer as próprias bases.
Por Pedro Strazza.As séries de televisão já geraram muitos produtos de qualidade, mas foram raras as vezes em que conseguiram algo a mais depois do fim de suas histórias. Enquanto o cinema está cada vez mais interessado em criar produtos derivados de suas franquias mais poderosas, o universo televisivo ainda teme em criar seriados baseados em seus programas de maior sucesso, motivado talvez pelos maiores riscos financeiros e o passado de erros.
É na contramão do mercado, portanto, que Better Call Saul faz sua estreia na programação estadunidense. Derivado da consagrada por público e crítica Breaking Bad e que serve como prelúdio ao programa, a série criada por Vince Gilligan e Peter Gould abandona a saga de Walter White para focar em seu advogado e sua jornada de ascensão profissional. Assim, somos transportados ao começo dos anos 2000 e acompanhamos o jovem advogado Jimmy McGill (Bob Odenkirk) no processo de transformação na figura de Saul Goodman.
O grande trunfo criado para o sucesso do spin-off é a preservação e aprimoramento das características da história anterior na nova. Além da fotografia extremamente perfeccionista (a dupla criadora leva ao limite os ângulos inesperados e a simbologia das cenas), Better Call Saul traz no fundo os mesmos caminhos egocêntricos tomados por Walter em Breaking Bad, agora aplicados em um contexto de sucesso profissional mais legitimado e menos criminal, afora o conhecimento do público do fim que levará Jimmy na história. E embora sejam pessoas muito diferentes, Mcgill e White carregam consigo a mesma dor da inferioridade na sociedade integrante, que, catapultada pela inveja, motiva-os a recorrer a caminhos desonestos para alcançar a glória pessoal - e é a maneira como esse ciúme funciona para despertar esse processo que serve como mote dessa primeira temporada.
A repetição de valores, porém, não é o único atrativo do seriado. Gilligan e Gould foram inteligentes em tornar Albuquerque mais uma vez palco de um mundo novo e repleto de personagens interessantes (o irmão Chuck, desempenhado por Michael McKean, é uma adição divertida à galeria de birutas das duas séries), que em conjunto da própria personalidade inédita de seu protagonista - Jimmy prova em vários momentos dos dez episódios ser oposto a Saul em alguns aspectos - separa a cria de sua mãe o suficiente em conteúdo. As referências setentistas, feitas tanto na narrativa quanto nas falas de Mcgill, e o desenvolvimento paralelo e excelente de Mike (Jonathan Banks) - outro personagem provindo do produto original - completam muito bem o pacote de novidades.
Esperta em se distanciar de Breaking Bad para criar seus próprios valores, mas não o bastante para perder seus principais pontos acertados, Better Call Saul traçou em sua primeira passagem pela televisão uma base sólida para seu crescimento. E a julgar pelos diversos elementos apresentados e pouco utilizados (é de se esperar uma maior participação de Hamilton nos próximos anos) e pela própria condução dos eventos, a saga de Jimmy McGill tomará rumos próprios em um futuro próximo.
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