sábado, 18 de abril de 2015

Crítica: Frank

Comédia indie situa trajetória para o sucesso do mundo da música na era conectada.

Por Pedro Strazza.

Se houve um campo em que o advento da hiperconectividade realizado pela internet revolucionou de forma drástica a maneira de seu autopromover, esse é o musical. Embora ainda seja em essência a lógica do "hora certa, lugar certo", a repercussão das bandas e dos artistas encontram nos dias de hoje uma dificuldade muito maior no espaço democratizado das redes sociais que nos tempos dominados pelo jornalismo musical. O aumento significativo da concorrência torna difícil o acesso do público ao novo, e os músicos, presos a esse ponto essencial, tem que encontrar diferentes maneiras de atrair seu espectador ao seu trabalho.

Alcançar a fama na era conectada, porém, não envolve mais o fruto dos esforços dos músicos, mas sim a própria propaganda feita em cima deste. Em Frank, essa inversão de objeto com canal é retratada pela trajetória dos Soronprfbs, grupo experimental que chama a atenção pela desproporcional cabeça de papel-machê utilizado pelo vocalista Frank (Michael Fassbender). Até então despercebidos no mapa, a banda ganha notoriedade pelas mãos de Jon (Domhnall Gleeson), novo tecladista do conjunto que começa a postar nas redes sociais o dia-a-dia dos colegas e em particular de seu curioso integrante.

A partir daí, o caminho trilhado pelo filme não é exatamente inédito. O roteiro de Peter Straughan e Jon Ronson, baseado nas experiências vividas pelo último em um grupo similar, faz a curva tradicional de ascensão e queda no mundo da música, combinados ao desencanto típico de tais produções. A novidade aqui é o contexto ao qual essa fórmula é aplicada, um cenário dinamizado onde vale a regra dos conhecidos "15 minutos de fama" e todas as suas consequências.

O grande atrativo de Frank, a bem da verdade, reside no dilema secular vivido pelo artista - personificado no vocalista que dá nome ao longa - e seu próprio trabalho nesse ambiente novo. Se por um lado o homem da cabeça gigante busca a identidade musical própria, provindo de um experimentalismo extremo e transcendental, ele também almeja o calor das multidões e o reconhecimento superficial do público, criado por músicas fáceis e de gostos mais acessíveis. Essas duas metas, antagônicas e representadas na obra respectivamente pelas figuras do moderno Jon e da irritada Clara (Maggie Gyllenhaal), são danosas ao músico representante de sua profissão e fragmentam por completo sua identidade.

Mesmo que seja um conflito ideológico ultrapassado (a definição do caráter excêntrico como genuísmo do grupo cheira a conservadorismo incômodo em algumas passagens), essa problematização é feita com interesse por Frank, que enquanto não a promove entretém com seus personagens nada habituais e uma trama fácil, apesar de tão óbvia quanto os simbolismos concebidos pelo diretor Lenny Abrahamson. O trunfo maior do filme, de certa forma, é impedir que essa sua previsibilidade irrite pela auto-consciência doída em testemunhar a realidade dura à qual se situa.

Nota: 6/10

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