segunda-feira, 20 de abril de 2015

Crítica: Chappie

Buscando estilo pessoal, Neill Blokamp se repete mais uma vez nos temas e se choca com a própria história.

Por Pedro Strazza.

Enquanto diretor, Neill Blomkamp é um cineasta que não sabe delinear com exatidão o limite entre estilo do realizador e repetição de ideias. Se em Distrito 9, seu debute nos cinemas, o sul-africano trouxe novas ideias e conceitos para o gênero da ficção-científica, em seus dois trabalhos posteriores ele força em histórias bastante distintas suas concepções visuais e narrativas, como se impusesse a um livro de horror e um conto-de-fadas os mesmos temas e análises sobre a sociedade contemporânea.
Mas se com Elysium a vontade de Blomkamp fez submergir os vícios de seus roteiros, em Chappie ela só prova o dano que ele inflige às suas próprias histórias. Ainda que se encaixe em algum grau ao plano crítico da sociedade, o conto infantil escrito por Neill e Terri Tatchell não consegue trazer qualquer novidade ao ensaio do diretor sobre a humanidade, e se basta a refazer o mesmo caminho traçado em suas obras anteriores.
A distopia da vez criada pelo diretor é similar à proposta por Robocop, mostrando uma Johanessburgo onde as forças policiais humanas vão sendo progressivamente substituídas por robôs criados em uma empresa privada, a Tetravaal. Inventor do modelo de maior sucesso da firma, o engenheiro Deon Wilson (Dev Patel) quer dar maior autonomia de julgamento às máquinas, e concebe a primeira inteligência artificial para atingir esses fins. Sua criação, porém, é tomada por um trio de criminosos (Jose Pablo Cantillo e os rappers Yo-Landi Visser e Ninja), que começam a introduzir a criatura - chamada por eles de Chappie (Sharlto Copley) - em seu estilo de vida desde seu nascimento.
Essa trama com quê de Pinóquio possui naturalmente características e trajetórias próprias, mas é forçada por Blomkamp a trilhar o mesmo caminho de seus outros trabalhos. Dos protagonistas marginalizados pela sociedade ao sacrifício final em prol da causa contra o sistema opressor, ele se repete estruturalmente e acrescenta nada à sua tese, orgulhoso de sua própria "genialidade" para considerar tal equívoco cometido. Quem sai perdendo é a jornada de maturidade do protagonista robótico, cuja centralidade dá espaço para o arco de transformação do sul-africano.
Por outro lado, o filme ainda consegue ser interessante quando tem esse seu viés conto-de-fadas explorado, mesmo que de forma superficial. O crescimento de Chappie pode não atingir seu potencial e afetar o mundo e as pessoas a seu redor em qualquer sentido, mas é suficiente para fazer o espectador acompanhar a história com um mínimo de interesse.
É essa visão infantil da história que, se fosse o foco da produção, poderia tornar Chappie naquilo que Blomkamp tanto almeja. As necessidades do cineasta, porém, em adaptar o filme em seus maneirismos e torná-lo parte de sua dissertação, além de querer entregar um clímax explosivo mesmo sem coerência, fazem a trajetória do robô ir em direção oposta, e contribuem para tornar cada vez mais evidente a queda vertiginosa do diretor.

Nota: 5/10

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