terça-feira, 21 de maio de 2013

Crítica: Random Access Memories (Daft Punk)

Duo francês investiga as origens da eletrônica em seu quarto disco de estúdio

Sinônimo de inovador, o Daft Punk sempre tentou buscar novas maneiras de inovar o cenário musical à sua volta, o que implicava mudanças em seu estilo. Se em Homework o duo francês abusava de experimentalismos tão fortes como o de bandas como Pink Floyd, em Discovery houve a mistura entre elementos da eletrônica e o pop para explorar a infância dos músicos, e em Human After All uma maior dedicação ao som em comparação às palavras. Agora, oito anos depois do lançamento do último álbum (Tirando a trilha de Tron - O Legado, lançada em 2010), a dupla formada por Guy-Manuel de Homem-Cristo e Thomas Bangalter entrega seu quarto disco de estúdio, Random Access Memories, que se propõe a fazer um retorno às raízes da eletrônica.
Essa viagem no tempo já é perceptível no grande número de colaborações nas treze faixas que compõem o álbum (são nove no total, entre elas Giorgio Moroder e o vocalista do The Strokes, Julian Casablancas), todos nascidos e criados na música dos anos 70, e no maior equilíbrio entre arranjos instrumentais e elementos da eletrônica. Essa combinação gera um caráter retrô com refinamento da tecnologia atual ao disco, criando vários ritmos dançantes com refrões pegajosos e a assinatura do grupo, que possivelmente cairão no gosto do público.
Dois grandes destaques nessa receita criada pela dupla para Random Access Memories são Get Lucky e Fragments of Time, que além de proporcionarem o mesmo retorno ao passado visto em Give Life Back to Music, Instant Crush, Lose Yourself to Dance e Doin't Right, lembram o ritmo contagiante e alegre do segundo disco do Daft Punk, Discovery, mesmo sendo as duas faixas que menos trazem o estilo deles. Principalmente Get Lucky, suportada pela guitarra de Niles Rodgers e os vocais de Pharrell Williams na maioria de sua duração.
Por outro lado, sobra espaço para Homem-Cristo e Bangalter imprimirem sua marca no próprio disco em duas das melhores músicas de Random Access Memories. Enquanto que em Giorgio by Moroder a dupla brilha na experimentação para, junto com a narração do próprio Giorgio Moroder, mostrar a evolução da eletrônica, Contact emana a conquista da Lua, evento de passagem dos anos 60 para os 70, e acaba criando um paralelo até inusitado entre a corrida espacial e a música. A criatividade da dupla também pode ser vista em Beyond, uma das mais épicas do álbum com auxílio de uma orquestra, e Motherboard, onde é possível enxergar um pouco do improviso de Human After All.
O Daft Punk perde o ritmo, porém, ao quebrar o equilíbrio estabelecido entre instrumentação e sintetizador com composições que tentam sobrepor uma das duas correntes. Isso ocorre em The Game of Love e Within, que pecam ao transformar o clima retrô em uma balada romântica genérica, e Touch, experimental demais para um disco cujo objetivo é lembrar o ritmo dos anos 70.
Com Random Access Memories o Daft Punk realiza um processo contrário ao de seus discos anteriores. Ao invés de reformular o cenário musical atual, procura reformar o seu próprio estilo, investigando os pilares que os tornaram tão famosos e influentes e lhes fazendo uma justa homenagem. Essa decisão pode até ser interpretada por alguns como enfraquecimento ou envelhecimento da dupla, tentando se ajustar aos novos tempos. Não poderiam estar mais errados: O Daft Punk ainda cria tendências em Random Access Memories, mas prefere se dedicar ao auto-descobrimento para continuar o processo.
Nota: 9/10

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