terça-feira, 12 de maio de 2015

Crítica: Wilder Mind (Mumford and Sons)

Após 6 anos, quarteto britânico aposenta os banjos e veste a costumeira emoção com guitarras e sintetizadores.

Por Guilherme Umeda.

"This is never gonna go our way if i'm gonna have to guess what's on your mind..."
Quando o Mumford and Sons surgiu, foi um refresco. Era o que de maior qualidade havia surgido até então para representar esse eixo do novo folk rock (vertente do indie? Talvez?): usava dedos rápidos no banjo, e batidas às vezes mais comedidas, às vezes em compasso menos espaçado, porém sempre firmes e mais fortes em momentos quase sempre inesperados, mas toda vez milimetricamente calculados para agarrar o ouvinte pelo colarinho e fazê-lo ouvir uma música atrás da outra na esperança de sentir os pelos da nuca arrepiar. E, deve-se dizer, essa esperança era quase sempre atendida.
Depois de seguir esse script para lançar com sucesso estrondoso Sigh no More (2009) e Babel (2012), seria muito fácil e conveniente para os caras simplesmente fazer mais do mesmo e lançar um terceiro disco de folk rock guiado pelo banjo, violino, sanfona... Levando em conta o talento para a composição que fica claro nos primeiros álbuns, pode-se dizer que o disco seria um sucesso.
Mas, para a alegria da nação (e, principalmente, deste rapaz que vos fala), "Believe", primeira faixa do novo disco, Wilder Mind (WM), a ser divulgada, anunciou que não seria bem assim. Os instrumentos foram trocados: banjo, violino e sanfona deram lugar às guitarras e sintetizadores.
Por que a alegria? Porque, ao arriscar e reconhecer que era hora de mudar de fase, o Mumford and Sons provou - pelo menos por enquanto - que não será uma maravilha efêmera.
Se fizesse mais do mesmo no novo álbum, faria sucesso por mais algum tempo, mas logo cairia no esquecimento. E isso, dado, por exemplo, a capacidade que o grupo tem de escrever músicas com um clímax longo e que emocionam, seria uma pena.
Felizmente, Marcus Mumford (vocalista) e seus amigos nos deram, ainda antes do lançamento do álbum, mais um motivo para aumentar o otimismo e alimentar as expectativas em relação a WM. O segundo single “The Wolf” veio para cumprir muito bem a tarefa de consolidar nas mentes dos fãs que a mudança de sonoridade não foi feita de qualquer jeito e não estava presente só em uma faixa. De forma curiosa, “The Wolf”, apesar de ter em segundos a mesma duração de “Believe”, parece ser mais conciso, se arrastar menos e, até por isso, acaba sendo mais eficiente na missão de apresentar as novas nuances da banda.
Ambas as faixas vieram para serem os carros chefe de WM, e não pense aqui, caro leitor, que estou subjugando uma à outra. As duas seguem uma mesma receita, porém de formas diferentes. A “fórmula” consiste em momentos de serenidade seguidos de um estouro para surpreender o ouvinte. O toque final da “fórmula” é o toque especial do chef: a capacidade que a Mumford & Sons sempre mostrou de fazer com que aquele arregalar de olhos vindo da surpresa se mantenha por muito tempo dentro da música (suspiros – másculos – de admiração). Jon Nolan, da Rolling Stone, definiu bem: "Mesmo em meio a toda essa nova sonoridade em Wilder Mind, o fervor apaixonado que fez Mumford & Sons brilhar ainda é a sua força motora".
Mas, enfim... onde estávamos mesmo? Ah, sim! Comparando “Believe” e “The Wolf”.
A receita, como dito antes, é a mesma para as duas. No entanto, elas diferem no tempo que o “estouro” leva para aparecer e também na intensidade dos momentos mais serenos. “Believe” é levada desde o começo apenas pelo vocal de Marcus enquadrado ao fundo pelo som de sintetizadores e guarda seu ponto alto para o final; enquanto que “The Wolf” já começa com um curto período de “barulheira”, seguido pela parte mais serena. Nesta segunda faixa, porém, mesmo as partes mais serenas têm ao seu fundo uma marcação leve da bateria e – talvez esse seja o fator mais determinante no diferencial das duas – há mais de um estouro na música.
O leitor mais crítico (pra não dizer chato) deve estar nesse momento dizendo: “P#$@, Guilherme! Achei que você fosse falar do álbum todo! Já li um monte e até agora só li sobre duas músicas! Seu lixo!”. Meu querido amigo, tente se acalmar. Concordo que, quiçá, as palavras que dediquei até agora a “Believe” e “The Wolf” tenham sido demasiadas, porém, de forma alguma foram levianas. Estas duas foram tão dissecadas justamente por serem as duas faixas de mais peso no álbum, acompanhadas de talvez mais duas outras canções (sobre as quais falarei a seguir).
Respire fundo, meu caro. Chegou a hora. Vamos ao álbum todo.
A escolha de “Tompkins Square Park” para primeira faixa foi, em parte inteligente, em parte nem tanto. O começo da música é cativante, com ecos de guitarra que, tranquilamente, se encaixariam em qualquer música de El Pintor (2014), brilhante álbum do Interpol. Essa empolgação se mantem, mais ou menos, até os 3:20 min. A partir daí, até o final dos 5:11 min (é a faixa mais longa do álbum), a música não vai a lugar algum. Talvez o erro tenha sido justamente alongar tanto. Se acabasse nos 3:20, essa desorientação poderia não acontecer. “Tompkins” cozinha e cozinha o galo, mas não come.
Sobre as segunda e terceira faixas (“Believe” e “The Wolf”) eu não falarei mais, pois temo pela minha vida. Sigamos em frente.
Vem então a faixa que dá nome ao disco. “Wilder Mind” é uma das boas músicas do álbum, porém, não é nada demais. De forma alguma é ruim, mas nem de longe é tão marcante quanto o quarteto de ferro do álbum – ao qual chegaremos em breve. O início de “Wilder” soa até um pouco estranho para o perfil da banda (uma batidinha talvez um pouco animada demais), mas logo o dedilhar da guitarra e o baixo vêm para conferir mais sobriedade ao som. O melhor momento nesta talvez seja o solo de guitarra no meio: curto, porém interessante.
Senhoras e senhores, eu lhes apresento a terceira integrante do quarteto de ferro de WM: “Just Smoke”. Quinta faixa do álbum, talvez seja o momento em que as sonoridades antiga e nova da banda melhor se fundem. O verso é quase que falado por Marcus, relembrando os melhores momentos de Babel, e seguido por um pré-refrão e refrão ambos marcados pela harmonia de vozes em alto registro (também marca dos primeiros álbuns). Porém, isso tudo enquadrado por uma batida, que apesar de comedida é marcante, e por um dedilhar de guitarra tão marcante quanto. É como se tivessem feito uma versão “plugged” de uma das faixas dos primeiros álbuns.
Neste momento de benevolência, caro leitor, vou quebrar a linearidade da sequencia das faixas e ir a o que interessa: o quarto e último membro do quarteto.
Décima faixa do álbum, “Ditmas” é algo diferente. A letra vai agradar aos que curtem uma “broken hearted song”, não só pela temática, mas também pela forma como é contada. O simples fato de, nos momentos mais calmos e quase falados da música, Marcus incluir um “oh, love” entre os versos, dá um tom de pessoalidade tão grande. É o tipo de música com a qual quase todos que já sofreram por amor se identificam de alguma forma.
Mas não é só isso que há em “Ditmas”. A sonoridade é algo de sensacional, de certa forma hipnotizante e com um final surpreendente. Ficar descrevendo esse aspecto da faixa seria uma crueldade com você, caro leitor. Não quero estragar nenhuma surpresa. Apenas ouça e tire suas conclusões. Porém, algo merece ser dito: “Ditmas” tem tudo para ser o hit com maior longevidade de WM.
Conforme nos encaminhamos para o final do texto, um último destaque merece ser feito. A seção “nostalgia” de WM.
Ainda que a mudança de sonoridade tenha feito muito bem à banda e seja um aspecto fundamental para manter o Mumford & Sons relevante, há fãs e críticos que não tenham gostado dessa metamorfose. Sendo assim, Marcus Mumford e seus amigos, muito inteligentes que são, incluíram em WM duas faixas que tem o estilo “old Mumford”. “Broad-Shouldered Beasts” e “Only Love” (a primeira mais do que a segunda) vão agradar mesmo às viúvas dos banjos que marcaram a fase inicial da banda. Espertos esses meninos...

Wilder Mind, de forma alguma, vem com uma mentalidade como a que dominou a primeira fase do modernismo no Brasil (destruir o velho, dizer que este não presta). Pelo contrário: o álbum mantem vivos os melhores traços da primeira fase da banda e dá ao som uma roupagem nova. Tem falhas (não muitas), mas tem mais acertos do que erros.

Nota: 8/10

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