Após 6 anos, quarteto britânico aposenta os banjos e veste a costumeira emoção com guitarras e sintetizadores.
Por Guilherme Umeda.
"This is never gonna go our way if i'm gonna have to guess what's on your mind..."
Quando o Mumford and Sons surgiu, foi um refresco. Era o
que de maior qualidade havia surgido até então para representar esse eixo do
novo folk rock (vertente do indie? Talvez?): usava dedos rápidos no banjo, e
batidas às vezes mais comedidas, às vezes em compasso menos espaçado, porém
sempre firmes e mais fortes em momentos quase sempre inesperados, mas toda vez
milimetricamente calculados para agarrar o ouvinte pelo colarinho e fazê-lo
ouvir uma música atrás da outra na esperança de sentir os pelos da nuca
arrepiar. E, deve-se dizer, essa esperança era quase sempre atendida.
Depois de seguir esse script para lançar com sucesso
estrondoso Sigh no More (2009) e Babel (2012), seria muito fácil e
conveniente para os caras simplesmente fazer mais do mesmo e lançar um terceiro
disco de folk rock guiado pelo banjo, violino, sanfona... Levando em conta o
talento para a composição que fica claro nos primeiros álbuns, pode-se dizer
que o disco seria um sucesso.
Mas, para a alegria da nação (e, principalmente, deste
rapaz que vos fala), "Believe", primeira faixa do novo disco, Wilder Mind (WM), a ser divulgada, anunciou
que não seria bem assim. Os instrumentos foram trocados: banjo, violino e
sanfona deram lugar às guitarras e sintetizadores.
Por que a alegria? Porque, ao arriscar e reconhecer que
era hora de mudar de fase, o Mumford and Sons provou - pelo menos por enquanto
- que não será uma maravilha efêmera.
Se fizesse mais do mesmo no novo álbum, faria sucesso por
mais algum tempo, mas logo cairia no esquecimento. E isso, dado, por exemplo, a
capacidade que o grupo tem de escrever músicas com um clímax longo e que
emocionam, seria uma pena.
Felizmente, Marcus Mumford (vocalista) e seus amigos nos
deram, ainda antes do lançamento do álbum, mais um motivo para aumentar o
otimismo e alimentar as expectativas em relação a WM. O segundo single “The Wolf” veio para cumprir muito bem a
tarefa de consolidar nas mentes dos fãs que a mudança de sonoridade não foi
feita de qualquer jeito e não estava presente só em uma faixa. De forma
curiosa, “The Wolf”, apesar de ter em segundos a mesma duração de “Believe”,
parece ser mais conciso, se arrastar menos e, até por isso, acaba sendo mais eficiente
na missão de apresentar as novas nuances da banda.
Ambas as faixas vieram para serem os carros chefe de WM, e não pense aqui, caro leitor, que
estou subjugando uma à outra. As duas seguem uma mesma receita, porém de formas
diferentes. A “fórmula” consiste em momentos de serenidade seguidos de um
estouro para surpreender o ouvinte. O toque final da “fórmula” é o toque
especial do chef: a capacidade que a Mumford & Sons sempre mostrou de fazer
com que aquele arregalar de olhos vindo da surpresa se mantenha por muito tempo
dentro da música (suspiros – másculos – de admiração). Jon Nolan, da Rolling
Stone, definiu bem: "Mesmo em meio a toda essa nova sonoridade em Wilder
Mind, o fervor apaixonado que fez Mumford & Sons brilhar ainda é a sua
força motora".
Mas, enfim... onde estávamos mesmo? Ah, sim! Comparando
“Believe” e “The Wolf”.
A receita, como dito antes, é a mesma para as duas. No
entanto, elas diferem no tempo que o “estouro” leva para aparecer e também na
intensidade dos momentos mais serenos. “Believe” é levada desde o começo apenas
pelo vocal de Marcus enquadrado ao fundo pelo som de sintetizadores e guarda
seu ponto alto para o final; enquanto que “The Wolf” já começa com um curto
período de “barulheira”, seguido pela parte mais serena. Nesta segunda faixa,
porém, mesmo as partes mais serenas têm ao seu fundo uma marcação leve da
bateria e – talvez esse seja o fator mais determinante no diferencial das duas
– há mais de um estouro na música.
O leitor mais crítico (pra não dizer chato) deve estar nesse
momento dizendo: “P#$@, Guilherme! Achei que você fosse falar do álbum todo! Já
li um monte e até agora só li sobre duas músicas! Seu lixo!”. Meu querido
amigo, tente se acalmar. Concordo que, quiçá, as palavras que dediquei até
agora a “Believe” e “The Wolf” tenham sido demasiadas, porém, de forma alguma
foram levianas. Estas duas foram tão dissecadas justamente por serem as duas
faixas de mais peso no álbum, acompanhadas de talvez mais duas outras canções
(sobre as quais falarei a seguir).
Respire fundo, meu caro. Chegou a hora. Vamos ao álbum
todo.
A escolha de “Tompkins Square Park” para primeira faixa
foi, em parte inteligente, em parte nem tanto. O começo da música é cativante,
com ecos de guitarra que, tranquilamente, se encaixariam em qualquer música de El Pintor (2014), brilhante álbum do
Interpol. Essa empolgação se mantem, mais ou menos, até os 3:20 min. A partir
daí, até o final dos 5:11 min (é a faixa mais longa do álbum), a música não vai
a lugar algum. Talvez o erro tenha sido justamente alongar tanto. Se acabasse
nos 3:20, essa desorientação poderia não acontecer. “Tompkins” cozinha e
cozinha o galo, mas não come.
Sobre as segunda e terceira faixas (“Believe” e “The
Wolf”) eu não falarei mais, pois temo pela minha vida. Sigamos em frente.
Vem então a faixa que dá nome ao disco. “Wilder Mind” é
uma das boas músicas do álbum, porém, não é nada demais. De forma alguma é
ruim, mas nem de longe é tão marcante quanto o quarteto de ferro do álbum – ao
qual chegaremos em breve. O início de “Wilder” soa até um pouco estranho para o
perfil da banda (uma batidinha talvez um pouco animada demais), mas logo o
dedilhar da guitarra e o baixo vêm para conferir mais sobriedade ao som. O
melhor momento nesta talvez seja o solo de guitarra no meio: curto, porém
interessante.
Senhoras e senhores, eu lhes apresento a terceira
integrante do quarteto de ferro de WM:
“Just Smoke”. Quinta faixa do álbum, talvez seja o momento em que as
sonoridades antiga e nova da banda melhor se fundem. O verso é quase que falado
por Marcus, relembrando os melhores momentos de Babel, e seguido por um pré-refrão e refrão ambos marcados pela
harmonia de vozes em alto registro (também marca dos primeiros álbuns). Porém,
isso tudo enquadrado por uma batida, que apesar de comedida é marcante, e por
um dedilhar de guitarra tão marcante quanto. É como se tivessem feito uma
versão “plugged” de uma das faixas dos primeiros álbuns.
Neste momento de benevolência, caro leitor, vou quebrar a
linearidade da sequencia das faixas e ir a o que interessa: o quarto e último
membro do quarteto.
Décima faixa do álbum, “Ditmas” é algo diferente. A letra
vai agradar aos que curtem uma “broken hearted song”, não só pela temática, mas
também pela forma como é contada. O simples fato de, nos momentos mais calmos e
quase falados da música, Marcus incluir um “oh, love” entre os versos, dá um
tom de pessoalidade tão grande. É o tipo de música com a qual quase todos que
já sofreram por amor se identificam de alguma forma.
Mas não é só isso que há em “Ditmas”. A sonoridade é algo
de sensacional, de certa forma hipnotizante e com um final surpreendente. Ficar
descrevendo esse aspecto da faixa seria uma crueldade com você, caro leitor.
Não quero estragar nenhuma surpresa. Apenas ouça e tire suas conclusões. Porém,
algo merece ser dito: “Ditmas” tem tudo para ser o hit com maior longevidade de
WM.
Conforme nos encaminhamos para o final do texto, um
último destaque merece ser feito. A seção “nostalgia” de WM.
Ainda que a mudança de sonoridade tenha feito muito bem à
banda e seja um aspecto fundamental para manter o Mumford & Sons relevante,
há fãs e críticos que não tenham gostado dessa metamorfose. Sendo assim, Marcus
Mumford e seus amigos, muito inteligentes que são, incluíram em WM duas faixas que tem o estilo “old
Mumford”. “Broad-Shouldered Beasts” e “Only Love” (a primeira mais do que a
segunda) vão agradar mesmo às viúvas dos banjos que marcaram a fase inicial da
banda. Espertos esses meninos...
Wilder
Mind,
de forma alguma, vem com uma mentalidade como a que dominou a primeira fase do
modernismo no Brasil (destruir o velho, dizer que este não presta). Pelo
contrário: o álbum mantem vivos os melhores traços da primeira fase da banda e
dá ao som uma roupagem nova. Tem falhas (não muitas), mas tem mais acertos do que
erros.
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