Filme de guerra brasileiro busca debater papel do país na Segunda Guerra.
Por Pedro Strazza.
Tão poucos em um confronto tão grande e que pouco lhes cabia responsabilidade, é fácil imaginar os pracinhas muitas vezes se sentindo deslocados nos fronts de batalha estrangeiros ao qual eram mandados para combater o inimigo, uma sensação que o diretor Vicente Ferraz busca reproduzir com fidelidade em A Estrada 47. O Brasil não deveria estar na guerra, como bem diz um coronel alemão a certa altura do filme, e sua presença no inverno italiano é quase desnecessária.
Como contar uma história de Segunda Guerra com brasileiros como protagonistas é então o grande desafio de Ferraz, e sua solução no roteiro para o problema em mãos tanto funciona quanto prejudica. Ao invés de tentar encaixar as tropas tupiniquins no contexto geral, o diretor e roteirista do longa foca suas atenções em uma missão pequena e pouco importante para o conflito, mas fundamental para as pessoas localizadas na região: liberar a estrada 47, única conexão para uma cidade chave no comando de uma área e que se encontra minada por bombas antitanque nazistas. Com o clima rigoroso e o recuo das tropas estadunidenses, resta a um grupo de quatro soldados e um jornalista brasileiros abrir caminho, mesmo que isso signifique a entrega de suas vidas.
A premissa é ideal para tornar os coadjuvantes em protagonistas na narrativa elaborada, mas encontra dificuldades em conciliar isso com a crítica à guerra típica do gênero. Isso porque Ferraz, como bem esclarece na fala dita pelo alemão interpretado por Richard Sammel, busca muitas vezes expor a sensação de deslocamento vivido pelos protagonistas, mas ao mesmo tempo quer tornar os mesmos em heróis. E mesmo esse heroísmo sendo não proposital, os soldados vividos por Daniel de Oliveira, Thogun Teixeira, Francisco Gaspar e Júlio Andrade não conseguem absorver duas figuras tão opostas.
A culpa de tal problemática, porém, não recai nos ombros do elenco, que entrega aqui atuações convincentes e bem preparadas, mas sim da própria configuração de seus personagens, resumidos a tipos conhecidos dos filmes de guerra - o indivíduo enlouquecido pelo combate (Gaspar), o amargurado pelos erros do passado (Oliveira), o líder despreparado (Andrade), o explosivo (Teixeira) - que por natureza não conseguem elaborar a profundidade necessária para tal conflito. Até mesmo o jornalista de Ivo Canelas, cuja participação se resume à de testemunha dos esforços da tropa, é obrigado a passar por tal crivo unidimensional.
Ainda eficaz em sua recriação histórica e equivocado na narração em off (a exposição dos conflitos emocionais dos pracinhas é desnecessária quando a estamos testemunhando), A Estrada 47 surge como um filme de gênero peculiar na produção nacional, graças à própria raridade do tema em terras brasileiras. Sua execução, entretanto, carece de sutileza maior em definir exatamente qual o papel de seus protagonistas na situação única ao qual se situam, e a restrição imposta por seu realizador acaba por dar cabo de uma profundidade quase necessária à produção.
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