quarta-feira, 20 de maio de 2015

Crítica: A Incrível História de Adaline

Juventude eterna e aborrecida.

Por Pedro Strazza.

A imortalidade e suas inevitáveis consequências são um tema bastante recorrente no cinema, principalmente quando o indivíduo envolvido é jovem. Dos arroubos poéticos do primeiro Highlander aos vampiros de questionamentos filosóficos como os de Amantes Eternos, o dom muitas vezes sobrenatural de não conseguir morrer se faz interessante pela gama de possibilidades que traz às suas histórias, sejam estas tramas melodramáticas, existenciais ou mesmo cômicas, como bem lembra o Feitiço do Tempo de Harold Ramis.
No caso de A Incrível História de Adaline, a opção é pelo primeiro caminho. Dirigido por Lee Toland Krieger, o filme conta a história de Adaline (Blake Lively), uma típica mãe dona-de-casa do início da década de XX que certo noite acaba sofrendo um acidente de carro e é atirada com o veículo para uma lagoa próxima. O que era pra ser uma trágica morte, porém, acaba por dar à moça de 29 anos a inexplicável condição de não conseguir mais envelhecer fisicamente, mantendo-a com a mesma aparência para sempre.
Daí em diante, o longa escrito por J. Mills Goodloe e Salvador Paskowitz opta por caminhos fáceis e usa das estruturas narrativas mais simples para estabelecê-la, o que chega a ser uma pena se considerarmos a rara posição na qual a protagonista se localiza. Presa no visual ao passado e incapaz de acompanhar os amigos e familiares, Adaline tem em mãos um problema denso de adequação ao mundo, mas ao primeiro sinal de perigo (representado pelo agente de autoridade mais óbvio e ao mesmo tempo mais incoerente possível, o FBI) ela opta por fugir de sua realidade e ganhar uma nova identidade - que, claro, não difere em nada da outra e só serve para seus fins mais rasos. Várias repetições desse processo depois, surge sem rodeios o interesse amoroso para chocar escapismo com coração, originando o conhecido conflito emocional dos filmes românticos.
A grande verdade é que o filme parece desaperceber o potencial da história que conta ou de sua personagem central, e essa situação piora quando se introduz o personagem interpretado por Harrison Ford, cuja complexidade relacional com Adaline é subaproveitada para fins simples. E isso não seria tão problemático se não fosse tão claro: Do triângulo formado entre Adaline, seu namorado e o papel do ator veterano se aproveita apenas o lado romântico, que busca unir dois personagens depois de uma tensão criada por um terceiro, e deixa-se para trás toda uma teia complexa e até edipiana às avessas de relações.
De resto, A Incrível História de Adaline funciona aos trancos e barrancos. De poucas atuações interessantes - Lively, coitada, tem todo o potencial da transformação gradual da protagonista reduzido aos cortes de cabelo - e com um final desenvolvido com pressa, o filme faz bem aquilo que busca, mas se perde por ter objetivos tão pequenos. Não à toa, a sensação que se dá é que a história seria muito mais intrigante se contada pelo lado de um coadjuvante, e não de sua protagonista.

Nota: 4/10

0 comentários :

Postar um comentário