domingo, 21 de dezembro de 2014

A Música em 2014: Os Melhores e Os Piores

Os álbuns que marcaram o ano - seja para bem ou para mal

Por Guilherme Umeda

Caríssimo leitor,

O ano de 2014 se aproxima de seu inevitável e já esperado fim. Sendo assim, para não deixa-lo passar seus últimos momentos sem uma devida homenagem, lhe fiz este breve especial.
A ideia: Separei 16 álbuns lançados em 2014 em duas listas: os “Acima da média 2014” e os “Abaixo da média 2014”. NÃO se trata de uma ultimate selection dos melhores e piores álbuns do ano (embora alguns dos que figuram nas listas abaixo também estariam em ultimate selections mundo afora).
Obviamente, alguns de vocês, queridos leitores, talvez sintam falta de um ou outro. Talvez até se revoltem. Entretanto, eu não ligo pra o que vocês acham. A lista é minha. Se não gostarem, desliguem o computador e vão ler um livro.
Sem mais delongas, vamos às listas.

(E antes que eu me esqueça, feliz Natal e próspero ano novo pra todos vocês desocupados que gastam seu tempo lendo meus textos.)

Acima da Média 2014

A espera foi grande, a atmosfera de expectativa foi maior ainda e, no final, o Foo Fighters não decepcionou. Sonic Highways é o tipo de álbum que ganha pelo conjunto. Não tem tantas faixas com cara de single de sucesso absoluto, mas, por ser um álbum extremamente conceitual, têm seu sucesso garantido pelo retrato da música americana que ele pinta. Retrato (brilhante) que só pode ser compreendido quando se ouve o álbum inteiro.
  • Royal Blood (Royal Blood)
Muito bom mesmo. O álbum de estreia do Royal Blood foi uma das melhores, senão a melhor surpresa de 2014. De fato, “surpreendente” é a melhor palavra para descrever o álbum. Surpreendente o quão pesado na medida certa e com alta qualidade é o som. E mais surpreendente ainda que tudo isso seja feito por apenas duas pessoas: um baixista e um baterista. Um dos melhores do ano.
  • Nheengatu (Titãs)
A clássica fúria criativa dos Titãs está de volta. Talvez a sina seja cair na mesma demanda que têm os fãs de ACDC: todo ano esperam que a banda lance um disco que soe exatamente da mesma forma que o anterior; o lançamento de Nheengatu,  porém, não deve ser comemorado apenas pelos fãs da banda, mas também por todos os fãs de rock brasileiro. Ainda que seja mais um disco “Titãs sendo Titãs”, se trata de uma sonoridade que estava perdida há algum tempo. Em dias que o rock volta à moda no Brasil, o som que a banda traz em Nheengatu fazia falta para servir, talvez, como modelo. Ainda bem que veio.
  • Turn Blue (The Black Keys)
Logo na primeira faixa (“Weight Of Love”), Turn Blue foge da curva; se mostra fora de série. Guitarras mais ousadas, unidas à sintetizadores de leve e metais ao fundo, dão o tom mais blues das 11 faixas do álbum. No entanto, algo irônico tende a acontecer: as duas mais interessantes músicas no disco não deverão ser lançadas como singles. Motivo? Muito longas. “Weight Of Love” tem quase 7 minutos e “In Time” tem quase 6. Uma pena, mas já que esta é uma relação de álbuns (não de singles), nos atenhamos ao fato principal: Turn Blue é genial.
  • Education, Education, Education and War (Kaiser Chiefs)
Quem virou fã da banda por causa de “Ruby” não vai se decepcionar com o novo álbum do Kaiser Chiefs, mas também vai notar algumas diferenças dos tempos mais antigos.
A pegada mais rock pop que dominava “Ruby” e alguns outros sons da banda no inicio ainda está presente, mas não tão forte. Agora, divide bastante de seu espaço com o indie rock. Vide, por exemplo, “Coming Home” ou “Bows and Arrows”.
Não é um álbum impecável, mas é, na falta de melhores palavras para florear, bom.
  • Lazaretto (Jack White)
Segundo álbum de estúdio do ex-White Stripes, Lazaretto veio para explicitar ainda mais a genialidade que parecia estar um tanto adormecida desde o fim da parceria com Meg White. Dessa vez, no entanto, o brilhantismo veio em uma embalagem nova. O som do compositor em Lazaretto é semelhante ao de seu primeiro álbum (embora muito melhor), mas bem diferente dos tempos de White Stripes.
Com uma sonoridade bem americana (alguém talvez diga “blues”, mas não sei se encaixa perfeitamente) e letras ousadas e até divertidas, Jack entrega um rock canastrão, agradável de se ouvir e que destoa da enorme maioria dos lançamentos do ano (no bom sentido).
  • Xscape (Michael Jackson)
Michael Jackson não era chamado de “Rei do Pop” à toa. Basta analisar Xscape e compará-lo aos outros lançamentos do mesmo segmento em 2014. A diferença é gritante. Michael apresenta músicas – como sempre – bem vendáveis, mas que, ao contrário da enorme maioria dos artistas do pop atual, tem alma. As letras são cantadas com uma interpretação vocal brilhante e a parte musical traz um R&B que não deixa as faixas caírem no formato cru, genérico e cansado que as Nicki Minaj e Jennifer Lopez da vida usam para encher seus álbuns ano após ano.
Michael, mesmo no além-túmulo, foi capaz de lançar um dos melhores álbuns do ano.
  • El Pintor (Interpol)
Foram quatro anos de hiato e a última dose para os fãs antes dessa pausa, com certeza, foi uma daquelas que desceu pelo buraco errado da garganta. O homônimo Interpol, lançado em 2010, era bem fraco. Porém, o retorno esse ano com El Pintor foi triunfal. Retornando à sonoridade de seus melhores dias, a banda entrega um álbum com sons que parecem uma fusão de Franz Ferdinand com Arctic Monkeys (talvez).

Abaixo da Média 2014

  • No Fixed Adress (Nickelback)
Não fede nem cheira. Não é possível dizer que é um disco ruim. Quem é fã de Nickelback não vai ficar com raiva: o som do álbum tem a cara da banda. Porém, ainda que nenhuma das faixas tenha cara de hit como “Photograph” ou mesmo “Rockstar” - clássicos da banda -, todas parecem terem sido compostas com a intenção de fazer surgir um sucesso parecido. No entanto, nenhuma das 11 faixas de No Fixed Address chega perto de empolgar tanto como os dois sucessos citados acima. Mais que isso: a “forçação de barra” para incluir um hit (que não veio) no álbum fez com que todas as faixas soassem um tanto artificiais… sem significado.
  • Ghost Stories (Coldplay)
A primeira tentativa de Chris Martin e seus bluecaps de se reaproximarem da fórmula que fez o Coldplay ascender ao sucesso (depois da interrogação que foi Mylo Xyloto (MX)) não foi muito bem sucedida. A impressão que prevalece depois que se ouve Ghost Stories (GS) é que ele é uma fusão entre Parachutes (primeiro álbum da banda) e o já citado MX. É a junção entre o som mais intimista, romântico da fase inicial com o formato pop bem no estilo parada da Billboard. O resultado não é lá essas coisas. Pode-se ver que todas as letras têm significado para Chris, mas os fãs do “Coldplay original” com certeza não vão colocar GS entre seus favoritos.
  • V (Maroon 5)
O que aconteceu com as boas ideias de Songs About Jane?? É triste ver como o Maroon 5 simplesmente largou mão dos arranjos e sonoridade interessantes que tinha em seu primeiro álbum (justamente SAJ) e se entregou totalmente ao pop industrial. Nos dois últimos lançamentos da banda foi assim: Overexposed é de dar náuseas em qualquer um que tenha se tornado fã ao ouvir “Sunday Morning” e, dessa vez, com V, não é muito diferente. Som genérico, feito em computador. Sem mais.
  • X (Ed Sheeran)
Ed Sheeran é ótimo em escrever músicas fofulechas. Isso é indiscutível. Mas, não é possível viver só disso (a não ser que você seja James Blunt). X é até atraente nas faixas mais explicitamente românticas (como “One”), mas, no geral, a monotonia dá o tom. Mais que isso: algumas das faixas são, genuinamente, irritantes (sim, “Sing” e “Don’t”, estou falando com vocês). De resto, X é a perfeita trilha sonora pro sono pós almoço de domingo.
Nota do Editor: James Blunt é bom sim, não acreditem no contrário (sim, eu defendo os inocentes quando preciso).
  • Endless River (Pink Floyd)
Sim, Pink Floyd está na minha lista de piores do ano (e bem lá embaixo, diga-se de passagem). Não é a toa que Endless River (ER), apesar de ter sido composto décadas atrás, não foi lançado até esse ano. O álbum é ruim. Chato. Irritante.
Não nego: curti a brisa das músicas instrumentais. Mas só até a quarta seguida. Depois disso comecei a ficar angustiado, esperando que algo diferente daquele incessante sintetizador de fundo viesse, mas não veio. Quando chegou na 10ª faixa instrumental seguida, fiquei nervoso. Então, descobri que mais sete viriam antes de alguma voz humana surgir. Fiquei mais irritado.
Então veio a 18ª faixa, a primeira com voz. Mas, para a frustração total do povo, ela não era nada demais. A ideia de incluir várias faixas instrumentais é até boa. Mas é impossível manter a brisa do ouvinte por mais de uma hora ininterrupta.
  • Ultraviolence (Lana Del Rey)
Deve-se reconhecer que Lana Del Rey, ainda apenas em seu segundo álbum, já tem sua marca. Sua voz e a forma como interpreta as letras em suas músicas são inconfundíveis. Até por isso, quando surgiu em 2012, foi abraçada por fãs e pela crítica: ela faz algo diferente da maioria e faz isso bem.
No entanto, em Ultraviolence, talvez ela tenha tentado demais colocar suas maiores qualidades em uso: voz e interpretação. Todas as faixas parecem uma lamentação infinita. O timbre melancólico na voz (belíssimo, mas dessa vez mal dosado), unido ao ritmo lento de praticamente todas as faixas, acabou resultando em um álbum chato de se ouvir. Irritante até. Uma pena.
  • Songs of Innocence (U2)
A estratégia escolhida por Bono e seus amigos para lançar Songs Of Innocence (baixar “de surpresa” em todos os dispositivos Apple) já anunciava como seria a história: o álbum seria bem mais marcado pelo lançamento incomum do que pela música em si.
“Forçar” os usuários da Apple a ouvir o disco acabou rendendo um péssimo merchan para a banda. Quanto ao álbum em si, as impressões também não são muito boas. SOI foi, em parte, uma tentativa fracassada do U2 de inovar seu som e lançar algo mais atual – vide “California (There Is No End To Love)”, terceira faixa do álbum. E, por outro lado, foi mais do mesmo – vide “Song For Someone” – e foi essa a parte do CD que deu menos errado.
  • With a Little Help From My Fwends (The Flaming Lips)
Se você estiver lendo este especial, por favor, ligue para a polícia nesse instante e peça a prisão de todos os membros do Flaming Lips. O que eles fizeram é imperdoável.
With a Little Help From My Fwends é um álbum todo de releituras de músicas dos Beatles. Com ele, os membros do Flaming foram extremamente bem sucedidos em ensinar o mundo a como ofender profundamente a memória de uma grande banda.
O álbum é um lixo. Me recuso a gastar mais linhas dessa belíssima matéria falando disso.
Horrível. Sem mais.

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