Os álbuns que marcaram o ano - seja para bem ou para mal
Por Guilherme Umeda
Caríssimo leitor,
O ano de 2014 se aproxima de seu inevitável e já esperado
fim. Sendo assim, para não deixa-lo passar seus últimos momentos sem uma devida
homenagem, lhe fiz este breve especial.
A ideia: Separei 16 álbuns lançados em 2014 em duas
listas: os “Acima da média 2014” e os “Abaixo da média 2014”. NÃO se trata de
uma ultimate selection dos melhores e piores álbuns do ano (embora alguns dos
que figuram nas listas abaixo também estariam em ultimate selections mundo
afora).
Obviamente, alguns de vocês, queridos leitores, talvez
sintam falta de um ou outro. Talvez até se revoltem. Entretanto, eu não ligo
pra o que vocês acham. A lista é minha. Se não gostarem, desliguem o computador
e vão ler um livro.
Sem mais delongas, vamos às listas.
(E antes que eu me esqueça, feliz Natal e próspero ano
novo pra todos vocês desocupados que gastam seu tempo lendo meus textos.)
Acima da Média 2014
A espera foi grande, a atmosfera de expectativa foi maior
ainda e, no final, o Foo Fighters não decepcionou. Sonic Highways é o tipo de álbum que ganha pelo conjunto. Não tem
tantas faixas com cara de single de sucesso absoluto, mas, por ser um álbum
extremamente conceitual, têm seu sucesso garantido pelo retrato da música
americana que ele pinta. Retrato (brilhante) que só pode ser compreendido
quando se ouve o álbum inteiro.
- Royal Blood (Royal Blood)
Muito bom mesmo. O
álbum de estreia do Royal Blood foi uma das melhores, senão a melhor surpresa
de 2014. De fato, “surpreendente” é a melhor palavra para descrever o álbum.
Surpreendente o quão pesado na medida certa e com alta qualidade é o som. E
mais surpreendente ainda que tudo isso seja feito por apenas duas pessoas: um
baixista e um baterista. Um dos melhores do ano.
- Nheengatu (Titãs)
A clássica fúria criativa dos Titãs está de volta. Talvez a sina seja cair na mesma demanda que têm os fãs de ACDC: todo ano esperam que a banda
lance um disco que soe exatamente da mesma forma que o anterior; o
lançamento de Nheengatu, porém, não deve ser
comemorado apenas pelos fãs da banda, mas também por todos os fãs de rock
brasileiro. Ainda que seja mais um disco “Titãs sendo Titãs”, se trata de uma
sonoridade que estava perdida há algum tempo. Em dias que o rock volta à moda
no Brasil, o som que a banda traz em Nheengatu fazia falta para servir, talvez,
como modelo. Ainda bem que veio.
- Turn Blue (The Black Keys)
Logo na primeira faixa (“Weight Of Love”), Turn Blue foge da curva; se mostra fora
de série. Guitarras mais ousadas, unidas à sintetizadores de leve e metais ao
fundo, dão o tom mais blues das 11 faixas do álbum. No entanto, algo irônico
tende a acontecer: as duas mais interessantes músicas no disco não deverão ser
lançadas como singles. Motivo? Muito longas. “Weight Of Love” tem quase 7
minutos e “In Time” tem quase 6. Uma pena, mas já que esta é uma relação de
álbuns (não de singles), nos atenhamos ao fato principal: Turn Blue é genial.
- Education, Education, Education and War (Kaiser Chiefs)
Quem virou fã da banda por causa de “Ruby” não vai
se decepcionar com o novo álbum do Kaiser Chiefs, mas também vai notar
algumas diferenças dos tempos mais antigos.
A pegada mais rock pop que dominava “Ruby” e alguns
outros sons da banda no inicio ainda está presente, mas não tão forte. Agora,
divide bastante de seu espaço com o indie rock. Vide, por exemplo, “Coming
Home” ou “Bows and Arrows”.
Não é um álbum impecável, mas é, na falta de melhores
palavras para florear, bom.
- Lazaretto (Jack White)
Segundo álbum de estúdio do ex-White Stripes, Lazaretto
veio para explicitar ainda mais a genialidade que parecia estar um tanto
adormecida desde o fim da parceria com Meg White. Dessa vez, no entanto, o
brilhantismo veio em uma embalagem nova. O som do compositor em Lazaretto é semelhante ao de seu
primeiro álbum (embora muito melhor), mas bem diferente dos tempos de White
Stripes.
Com uma sonoridade bem americana (alguém talvez diga
“blues”, mas não sei se encaixa perfeitamente) e letras ousadas e até
divertidas, Jack entrega um rock canastrão, agradável de se ouvir e que destoa
da enorme maioria dos lançamentos do ano (no bom sentido).
- Xscape (Michael Jackson)
Michael Jackson não era chamado de “Rei do Pop” à toa.
Basta analisar Xscape e compará-lo
aos outros lançamentos do mesmo segmento em 2014. A diferença é gritante.
Michael apresenta músicas – como sempre – bem vendáveis, mas que, ao contrário
da enorme maioria dos artistas do pop atual, tem alma. As letras são cantadas
com uma interpretação vocal brilhante e a parte musical traz um R&B que não
deixa as faixas caírem no formato cru, genérico e cansado que as Nicki Minaj e Jennifer Lopez da vida usam para encher seus álbuns ano após ano.
Michael, mesmo no além-túmulo, foi capaz de lançar um dos
melhores álbuns do ano.
- El Pintor (Interpol)
Foram quatro anos de hiato e a última dose para os fãs
antes dessa pausa, com certeza, foi uma daquelas que desceu pelo buraco errado
da garganta. O homônimo Interpol,
lançado em 2010, era bem fraco. Porém, o retorno esse ano com El Pintor foi triunfal. Retornando à sonoridade de seus melhores
dias, a banda entrega um álbum com sons que parecem uma fusão de Franz
Ferdinand com Arctic Monkeys (talvez).
Abaixo da Média 2014
- No Fixed Adress (Nickelback)
Não fede nem cheira. Não é possível dizer que é um disco
ruim. Quem é fã de Nickelback não vai ficar com raiva: o som do álbum tem a
cara da banda. Porém, ainda que nenhuma das faixas tenha cara de hit como
“Photograph” ou mesmo “Rockstar” - clássicos da banda -, todas parecem terem
sido compostas com a intenção de fazer surgir um sucesso parecido. No entanto,
nenhuma das 11 faixas de No Fixed Address
chega perto de empolgar tanto como os dois sucessos citados acima. Mais que
isso: a “forçação de barra” para incluir um hit (que não veio) no álbum fez com
que todas as faixas soassem um tanto artificiais… sem significado.
- Ghost Stories (Coldplay)
A primeira tentativa de Chris Martin e seus bluecaps de
se reaproximarem da fórmula que fez o Coldplay ascender ao sucesso (depois da
interrogação que foi Mylo Xyloto (MX))
não foi muito bem sucedida. A impressão que prevalece depois que se ouve Ghost Stories (GS) é que ele é uma fusão
entre Parachutes (primeiro álbum da
banda) e o já citado MX. É a junção
entre o som mais intimista, romântico da fase inicial com o formato pop bem no
estilo parada da Billboard. O resultado não é lá essas coisas. Pode-se ver que
todas as letras têm significado para Chris, mas os fãs do “Coldplay original”
com certeza não vão colocar GS entre
seus favoritos.
- V (Maroon 5)
O que aconteceu com as boas ideias de Songs About Jane?? É triste ver
como o Maroon 5 simplesmente largou mão dos arranjos e sonoridade interessantes
que tinha em seu primeiro álbum (justamente SAJ) e se entregou totalmente ao pop industrial. Nos dois últimos lançamentos da
banda foi assim: Overexposed é de dar
náuseas em qualquer um que tenha se tornado fã ao ouvir “Sunday Morning” e,
dessa vez, com V, não é muito
diferente. Som genérico, feito em computador. Sem mais.
- X (Ed Sheeran)
Ed Sheeran é ótimo em escrever músicas fofulechas. Isso é
indiscutível. Mas, não é possível viver só disso (a não ser que você seja James
Blunt). X é até atraente nas faixas
mais explicitamente românticas (como “One”), mas, no geral, a monotonia dá o
tom. Mais que isso: algumas das faixas são, genuinamente, irritantes (sim,
“Sing” e “Don’t”, estou falando com vocês). De resto, X é a perfeita trilha sonora pro sono pós almoço de domingo.
Nota do Editor: James Blunt é bom sim, não acreditem no contrário (sim, eu defendo os inocentes quando preciso).
- Endless River (Pink Floyd)
Sim, Pink Floyd está na minha lista de piores do ano (e
bem lá embaixo, diga-se de passagem). Não é a toa que Endless River (ER), apesar de ter sido composto décadas atrás, não
foi lançado até esse ano. O álbum é ruim. Chato. Irritante.
Não nego: curti a brisa das músicas instrumentais. Mas só
até a quarta seguida. Depois disso comecei a ficar angustiado, esperando que
algo diferente daquele incessante sintetizador de fundo viesse, mas não veio.
Quando chegou na 10ª faixa instrumental seguida, fiquei nervoso. Então,
descobri que mais sete viriam antes de alguma voz humana surgir. Fiquei mais
irritado.
Então veio a 18ª faixa, a primeira com voz. Mas, para a
frustração total do povo, ela não era nada demais. A ideia de incluir várias faixas instrumentais é até boa.
Mas é impossível manter a brisa do ouvinte por mais de uma hora ininterrupta.
- Ultraviolence (Lana Del Rey)
Deve-se reconhecer que Lana Del Rey, ainda apenas em seu segundo
álbum, já tem sua marca. Sua voz e a forma como interpreta as letras em
suas músicas são inconfundíveis. Até por isso, quando surgiu em 2012, foi
abraçada por fãs e pela crítica: ela faz algo diferente da maioria e faz isso
bem.
No entanto, em Ultraviolence,
talvez ela tenha tentado demais colocar suas maiores qualidades em uso: voz e
interpretação. Todas as faixas parecem uma lamentação infinita. O timbre
melancólico na voz (belíssimo, mas dessa vez mal dosado), unido ao ritmo
lento de praticamente todas as faixas, acabou resultando em um álbum chato de
se ouvir. Irritante até. Uma pena.
- Songs of Innocence (U2)
A estratégia escolhida por Bono e seus amigos para lançar
Songs Of Innocence (baixar “de
surpresa” em todos os dispositivos Apple) já anunciava como seria a história: o
álbum seria bem mais marcado pelo lançamento incomum do que pela música em si.
“Forçar” os usuários da Apple a ouvir o disco acabou
rendendo um péssimo merchan para a banda. Quanto ao álbum em si, as impressões
também não são muito boas. SOI foi,
em parte, uma tentativa fracassada do U2 de inovar seu som e lançar algo mais
atual – vide “California (There Is No End To Love)”, terceira faixa do álbum.
E, por outro lado, foi mais do mesmo – vide “Song For Someone” – e foi essa a
parte do CD que deu menos errado.
- With a Little Help From My Fwends (The Flaming Lips)
Se você estiver lendo este especial, por favor, ligue
para a polícia nesse instante e peça a prisão de todos os membros do Flaming
Lips. O que eles fizeram é imperdoável.
With
a Little Help From My Fwends é um álbum todo de
releituras de músicas dos Beatles. Com ele, os membros do Flaming foram
extremamente bem sucedidos em ensinar o mundo a como ofender profundamente a
memória de uma grande banda.
O álbum é um lixo. Me recuso a gastar mais linhas dessa
belíssima matéria falando disso.
Horrível. Sem mais.
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