sábado, 20 de dezembro de 2014

O Cinema em 2014: As Boas Surpresas

Os 11 filmes que mandaram bem, apesar de tudo

Por Pedro Strazza

Pois é, senhoras e senhores, 2014 está acabando! Depois de 365 dias de muita loucura, felicidade, tristeza e, claro, filmes, o ano conhecido como "matador de famosos" termina na tradicional festança de ano-novo.
Mas antes de acabarmos com os restos da ceia de Natal, pormos nossas roupas brancas, acendermos os fogos de artifício e cair na gandaia, vamos voltar um pouco a fita e analisar o que aconteceu no local favorito de todo cinéfilo nesse último ciclo. Assim como em todos os outros anos, 2014 teve muito filme excelente, ótimo, bom, razoável, mediano, ruim, péssimo e "Gente, como isso foi feito?", e todos merecem uma recordação nesse último mês - sim, mesmo até os pertencentes às três últimas categorias mencionadas.
Para isso, O Nerd Contra Ataca realiza um pequeno apanhado do que aconteceu no último ano em termos de cinema, dividindo-os em três partes. Nesta primeira, relembramos as boas surpresas de 2014, os longa-metragens que, mesmo não estando entre os 14 melhores e tendo alguns problemas, merecem algum tipo de reconhecimento pelo que entregaram ao público em sua exibição. Aqui, não importa se a obra foi avaliada em nove ou seis, mas sim aquele "algo mais" tão difícil de se conceber em palavras.
As regras são simples. Para entrar nessa lista, o filme não pode ter sido mencionado no preview do começo do ano, não pode estar entre os 14 melhores de 2014, precisa ter sido avaliado em pelo menos 6/10 pela equipe do O Nerd Contra Ataca e, claro, tem que ter estreado neste ano no circuito comercial brasileiro.
Vamos a eles?

2014 foi um ano para se testar tabus, e prova disso foi a quebra do ditado "toda comédia excelente tem uma sequência horrorosa". Isso porque as continuações de O Âncora, Anjos da Lei e Débi e Lóide conseguiram, cada uma à sua maneira, honrar a qualidade do original, apelando diretamente para um acertado humor desenfreado mas não apelativo (na maioria das vezes). Houveram problemas particulares a todos os casos, mas dá pra dizer que essa trinca cômica não passou batida. Por sinal, quem foi o maluco que disse que voltar com o passado era problema?

Com algumas (merecidas) indicações na área de som neste último Oscar, o novo trabalho do diretor Peter Berg foi pouco incisivo em sua abordagem analítica sobre a guerra e seus efeitos, mas funcionou quando para recriar o conflito em si. A imersão ao qual o espectador é submetido aos tiroteios em O Grande Herói é bastante diferente do habitual, filmando os danos infligidos aos soldados envolvidos e como isso os afeta no combate. Eficiente no lado prático, apesar dos erros no resto.

Provocante, estranho e curioso são alguns dos adjetivos usados pela imprensa e o público para descrever o filme de Jonathan Glazer sobre uma alienígena que "devora" homens. Protagonizado pela competente e bela Scarlett Johansson (com certeza uma das pessoas que mais cresceu em 2014), Sob a Pele talvez seria muito melhor se demorasse mais sobre seus temas, mas seu roteiro cheio de nuances e mistérios é suficiente para guiar o público em sua jornada aterrorizante pela humanidade e seus defeitos. 

Quem também conversou sobre a personalidade falha do ser humano foi este O Lobo Atrás da Porta. Estréia de Fernando Coimbra em longa-metragens, o brasileiro traz envolto no personagem brilhantemente interpretado por Leandra Leal uma visão bastante pessimista sobre a sociedade e o indivíduo, ressaltando no caminho toda a maleficência que vive em nossos interiores. É um filme poderoso e ao mesmo tempo desolador, dotado de uma análise elaborada de sua complexa protagonista. 

  • No Limite do Amanhã

Sim, o roteiro careceu (e muito!) de um maior cuidado em seu terceiro e derradeiro ato, mas ainda assim esta ficção-científica protagonizada pelo maratonista cinematográfico Tom Cruise é ótima! O recurso temporal repetido à exaustão é eficiente tanto para divertir o público quanto para desenvolver o protagonista e o trauma da guerra, tema central à produção. É um Feitiço do Tempo com ação e alienígenas que de forma inacreditável dá certo, e isso já basta.

Em seu oitavo longa-metragem, o cineasta Wes Anderson está mais Wes Anderson do que nunca. Perfeccionista em todos os aspectos visuais (até no formato da tela!), O Grande Hotel Budapeste traz um elenco primoroso em uma história divertida e de personagens apaixonantes, elaborados com o humor típico de seu diretor. Faltou um pouco de maior cuidado no roteiro? Claro, mas nada muito prejudicial ao resultado final desta obra deliciosa.

Trazendo atuações maduras de Guy Pearce e Robert Pattinson, o western pós-apocalíptico do diretor David Michôd lembra em diversas passagens o Mad Max do conterrâneo George Miller, mas mais sóbrio e centrado no drama da perda. A trama simples desempenha bem o papel de guiar espectador pelos perfis duros e alquebrados dos protagonistas, que tem seus passados descobertos pouco a pouco na narrativa.

Com problemas visíveis em aspectos básicos como direção e roteiro, o novo filme de John Carney impressiona por conseguir encantar o público por outras características - e também por revelar a voz delicada e bela de Keira Knightley. Em meio a recursos narrativos utilizados em formatos nada usuais e gostosas canções compostas pela produção, Mesmo Se Nada Der Certo acerta por sua singularidade meiga ao tratar do mundo dos relacionamentos e suas diversas fases, principalmente as mais duras e trabalhosas de se lidar com.


Até onde o ser humano pode ir quando violento? Em Relatos Selvagens, Damián Szifrón traz uma antologia de histórias que levam ao limite o estresse do dia a dia, gerando contos sobre a natureza vingativa da sociedade. O trunfo do diretor argentino, porém, é de transformar isso tudo numa comédia de humor negro das mais engraçadas, cuja força provém justamente de tirar o riso do absurdo retratado.

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