sábado, 13 de dezembro de 2014

Crítica: Homens, Mulheres e Filhos

Novo trabalho de Jason Reitman encanta pelos personagens, e não pelo tema

Por Pedro Strazza

De uma forma (bem) geral, a reflexão no cinema acontece em três fases. Na primeira, a obra apresenta ao público uma história a ser seguida, com personagens e um mundo estabelecidos logo em seu início. Na segunda, o longa começa a mostrar eventos que de algum jeito alterem o status quo das pessoas ou do universo (pequeno ou grande) onde vivem, fazendo assim com que sua rotina mude drasticamente. Por fim, o filme gera durante ou ao final da jornada traçada pelos indivíduos envolvidos um desenvolvimento sobre um tema (abstrato ou concreto, político ou emocional...) presente na sociedade, e esta elaboração transforma em caráter decisivo o(s) personagem(s).
Se a produção segue à risca essa linha de raciocínio e trabalha bem esses três momentos, as chances de seu sucesso aumentam de maneira considerável. E se o comando do longa estiver a cargo de um bom cineasta, o procedimento é simples e de fácil execução.
Considerando tudo isso, é duro ver que Homens, Mulheres e Filhos, o novo trabalho do ótimo diretor Jason Reitman, se perca justamente no terceiro momento de sua reflexão acerca da relação entre a humanidade e a tecnologia. O filme, afinal, elabora muito bem seus personagens e os desdobra em situações que englobem o assunto proposto de forma natural, mas não consegue levar tudo isso a uma ponderação mais interessante e profunda.
Baseado no livro escrito por Chad Kultgen, o roteiro escrito por Reitman e Erin Cressida Wilson acompanha a história de cinco jovens e suas respectivas famílias, cada um representando algum tipo de vício na internet e suas redes sociais. Estão lá os viciados em pornografia online (Travis Tope), os que querem fama a qualquer custo (Olivia Crocicchia), os desejosos de escapar da realidade dura e cruel (Ansel Elgort), o casal atrás de emoções fora do casamento (Adam Sandler, Rosemarie DeWitt), a mãe ultra protetora de seu filho quanto a todo perigo oferecido pelo mundo lá fora (Jennifer Garner)... são personagens de dramas bastante reais, e o diretor filma seus desejos e aflições buscando aproximá-los do espectador.
E isso ele faz muito bem. Como já havia mostrado nos excelentes Juno e Amor Sem Escalas, Reitman é excelente para desenvolver os indivíduos que acompanha em seus filmes, dotando-os de uma sensibilidade característica e apaixonante. Não à toa, a maior força de Homens, Mulheres e Filhos reside nesse ponto: Todos as pessoas apresentadas são interessantes ao público, que por sua vez os acompanha de maneira voluntária e sem precisar de maiores informações.
Mas toda a boa composição inicial dos personagens parece ter sido feita para nada na hora de abordar o tema da produção. Mesmo suficientemente cativantes, seus caminhos trilhados não evocam uma reflexão maior sobre seus vícios tecnológicos, e quando eles o fazem (de forma pontual), soam tão rasos quanto as redes sociais que se utilizam. Só observar, como exemplo, a adolescente obcecada com a fama interpretado por Crocicchia, cuja preocupação com o sucesso virtual não consegue ser explorado pelo diretor em cena para discutir os efeitos da popularidade sem motivo e do excesso de confiança no ser humano - algo que só é arranhado com muita leveza (e aqui aviso que há pequenos SPOILERS do longa) quando ela tenta transar com o viciado em pornografia e não consegue (e repare como Reitman enquadra, somente por um segundo, sua reação ao ver o garoto tentando se estimular sem sua ajuda).
Não deixa de ser interessante o fato de que Homens, Mulheres e Filhos possua uma profundidade similar aos sites de relacionamento que aborda. Ao invés de se enveredar por um tema tão difícil e complexo, o filme busca apenas a diversão proporcionada pelas histórias que conta, e isso seria o bastante para uma produção sem muitas ambições. O problema aqui, porém, é que há ambições na direção de Jason Reitman. Elas só não se concretizam.

Nota: 6/10

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