Comédia romântica com Daniel Radcliffe prefere o riso ao amor, mas não escapa deste como gostaria
Por Pedro Strazza
No caso de Será Que?, há um certo tom bem disfarçado de ironia à essa característica incômoda do gênero. Baseado na peça "Toothpaste and Cigars", a comédia romântica dirigida por Michael Dowse procura se focar principalmente no humor das situações proporcionadas pelo peculiar relacionamento entre os jovens Wallace (Daniel Radcliffe) e Chantry (Zoe Kazan) que para a sua questão principal, justamente o "drama" dos dois em compreender seus respectivos posicionamentos nesta amizade com tendências ao romance.
Para alcançar esse objetivo, o roteiro dispõe de vários alívios cômicos que, dispersos e bem utilizados, desempenham suas funções humorísticas e conseguem manter a trama na grande maioria do tempo fora de sua tendência ao óbvio. E ainda que desapareçam e apareçam de forma abrupta - as irmãs da dupla protagonista, por exemplo, em quase nada contribuem senão para fazer rir e servir ocasionalmente de âncora emocional a seus parentes mais próximos -, isto não prejudica de forma visível o ritmo do filme e sua comicidade fofa e inerente.
O elenco, porém, é o elemento vital para o sucesso destes alívios e do próprio longa. Adotando com naturalidade a velocidade e o sarcasmo dos diálogos escritos por Elan Mastai, os atores protagonistas e coadjuvantes cumprem suas incumbências e ao mesmo tempo facilitam a aproximação sentimental do público com seus personagens, que mesmo planos encantam por sua falsa profundidade. Uma comprovação clara desta última tendência é o rumo tomado pelo casal formado por Allan (Adam Driver, com a melhor atuação da produção) e Nicole (Mackenzie Davis), que ao invés de ser encarado com estranheza pelo espectador é visto por este com um olhar compreensível.
Os esforços de Será Que? em esconder de sua trama os clichês do gênero através da comédia, entretanto, parecem desaparecer no terceiro ato de sua história, onde ele diminui seu humor e entrega-se aos acontecimentos óbvios. Feita para obviamente encerrar o roteiro no tom romântico obrigatório, esta súbita mudança de comportamento narrativo acaba sofrendo da própria artificialidade imposta, e contribui de forma decisiva para enfraquecer o final previsível e bobo.
Pautado ainda por uma metáfora visual que, feita a partir da projeção dos desenhos de Chantry em prédios da cidade de Toronto, se constrõe a seu tempo e de forma sutil, Será Que? usa muito bem do humor rápido e sarcástico para encantar a trama contada. O riso tirado do "drama" dos relacionamentos mostrados, porém, é sabotado pelos próprios clichês do qual faz pouco caso, desperdiçando por consequência toda a elaboração textual da história. Uma decepção dolorida, claro, mas pelo menos houve um bom meio do caminho.
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