sábado, 27 de setembro de 2014

Crítica: Sin City - A Dama Fatal

Em baixa, Frank Miller e Robert Rodriguez repetem fórmula na continuação sem a mesma criatividade

Por Pedro Strazza

De visual arrojado e com um elenco estrelado, Sin City - A Cidade do Pecado foi um filme que atraiu muitas atenções quando lançado. A adaptação das graphic novels de mesmo nome pelas mãos do diretor Robert Rodriguez, afinal, serviu tanto como uma bela homenagem às antigas produções noir quanto para mostrar a Hollywood que o consagrado quadrinista Frank Miller, co-diretor da obra, poderia também comandar um longa de grande orçamento, mesmo com os fracassos que foram Robocop 2 e 3 em sua bagagem. E ainda que tenha tido um resultado ameno nas bilheterias, uma continuação foi logo anunciada pela dupla.
Mas o tempo passou, as coisas mudaram e o segundo capítulo custou a aparecer. Enquanto a produção enrolava-se em boatos de escalação de elenco e datas de estréia no esforço de deixar aquecido o interesse do público pelo filme, Rodriguez se enveredou no trash com seu amigo de longa data Quentin Tarantino pelo projeto Grindhouse, e Miller, encantado pelos holofotes de Hollywood, arriscou-se sozinho na direção de The Spirit - O Filme, sua horrorosa homenagem ao falecido mestre Will Eisner (que acabou por conseguinte com toda a sua reputação conquistada com seu trabalho anterior), e envolveu-se em polêmicas suficientes para reforçar ao mundo sua tendência ao conservadorismo extremo.
Assim, quase dez anos depois do primeiro filme, o segundo Sin City chega às telas já desmoralizado. Longe do auge de sucesso e brilhantismo, Miller e Rodriguez voltam para os contos violentos e eróticos da cidade de Basin City dispostos a tentar voltar à ribalta da indústria cinematográfica com tudo, e para isto dispõem do mesmo elenco talentoso (com algumas mudanças) e as graphic novels do autor de O Cavaleiro das Trevas.
Seus planos, porém, são sabotados por seus próprios vícios e arrogâncias, e o tão esperado Sin City - A Dama Fatal mostra-se ser nada mais que uma repetição de tudo o que foi mostrado em 2005. Estão presentes aqui todos os temas e ideias visuais e narrativas apresentadas por ambos no primeiro longa, como a reverência ao noir e o fatalismo das mulheres - ainda mais sexualizadas nesta continuação graças à bela adição da desinibida Eva Green ao sensual elenco feminino como a "dama fatal" do título -, e isso pode servir de grande agrado para a maioria dos fãs.
O defeito maior da continuação não ocorre por causa desse repeteco, mas sim pelos erros cometidos por dois diretores que visivelmente mostram um desgaste de seus talentos. Rodriguez, por exemplo, não apresenta o mesmo vigor para compor em A Dama Fatal planos e cenas tão estonteantes quanto os do primeiro filme, característica esta de extrema importância visto o teor adaptativo da produção. Salva-se no longa apenas detalhes como o da cor dos olhos da personagem de Green quando esta revela sua real faceta à Dwight (Josh Brolin, substituindo Clive Owen no papel), minimalismos que de forma relativa contribuem para a identidade imagética da sequência.
Miller, por outro lado, evidencia o abismo que separa o seu eu antigo do novo no roteiro. Dividido em três contos, o filme traz adaptado para as telas apenas uma das cultuadas graphic novels do autor (justamente a que dá o título à obra) para mostrar nas outras duas histórias o material inédito escrito pelo próprio. Estas duas novas tramas - intituladas "The Long Bad Night" e "Nancy's Last Dance" - não mostram porém a mesma qualidade e coerência narrativa que "A Dama Fatal", abusando no processo de personagens e temas clichês.
Desgastado pelo tempo de espera e o crescimento negativo de seus diretores, Sin City - A Dama Fatal possui muito pouco da qualidade atingida por seu antecessor em 2005, mesmo repetindo sem dó a fórmula deste e usando de todos os seus elementos. O que faltou à sequência no final não foram as suas características, mas sim a técnica para aplicá-las com sucesso.

Nota: 6/10

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