segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Crítica: No Olho do Tornado

Filme catástrofe encanta pelos tornados, mas erra no roteiro e na direção

Por Pedro Strazza

Em se tratando de filmes de ficção filmados sob estética documental, é importante que tais produções tenham em mente pelo menos uma preocupação: a justificativa da obra estar sendo apresentada de tal maneira. Geralmente mais baratas, longas trabalhados neste estilo precisam apresentar, de forma no mínimo sutil, uma motivação básica para aquele indivíduo realizar suas ações na história a ser contada, pois senão teria-se no mínimo um grave erro de roteiro. Por outro lado, exagerar nas explicações pode gerar ao filme a incômoda sensação de enrolação, um defeito tão profundo quanto o primeiro.
Para No Olho do Tornado, o equívoco se deu no último aspecto. Com tantas câmeras sendo utilizadas por vários personagens ao mesmo tempo e com um evento visualmente interessante a ser mostrado, o filme catástrofe preocupa-se demais em justificar os planos que mostra e o porquê daqueles indivíduos estarem ali que quase se esquece dos tornados, o seu principal atrativo para o público e verdadeiro protagonista de todos os acontecimentos mostrados.
Seja na discussão dentro de uma van, seja no meio da ação, o diretor Steven Quale aparenta uma urgência desnecessária em evidenciar a todo o momento e sob as mais diferentes maneiras que a imagem disposta está sendo captada pela câmera de algum dos personagens. Não basta apenas, por exemplo, apresentar verbalmente o carro-tanque de filmagens; para o diretor, é necessário fazer uma introdução visual do veículo, utilizando-se no processo de todas as máquinas de filmar embutidas neste - além das usadas pela equipe caça-tornado.
A justificativa em demasia, porém, não se limita ao aspecto cenográfico da produção. O roteiro de John Swetnam procura planificar seus personagens como os clássicos filmes catástrofe faziam, mas acaba os superficializando de maneira grotesca, e em consequência enfraquece o desenvolvimento destes em suas respectivas tramas pessoais. Assim, o espectador não consegue se conectar aos dramas vividos por pais e filhos - note como o professor Gary (Richard Armitage) e a analista Allison (Sarah Wayne Callies) tem problemas de conexão com suas crias -, e os esforços de todos em sobreviver aos eventos mostrados não são valorizados de fato pelo público.
Mas se essa falha de desenvolvimento de personagens é grave para a narrativa do filme, ela estranhamente contribui para a catástrofe em si. Com efeitos visuais afiados e abusando de planos aéreos, o longa se diverte sem medo na destruição proporcionada pela "chuva" de tornados que ocorre na pequena cidade de Silverton - e como o espectador não se importa com os indivíduos mostrados, vira uma diversão saber como os fenômenos metereológicos afetarão o caminho desses até seus objetivos ou se eles sequer sairão da situação com vida.
Esse quesito, porém, é o único que agrada na produção. Sem equilíbrio no roteiro e na direção, No Olho do Tornado entretém apenas aqueles que entram no cinema pelo espetáculo visual e de impacto imediato. E isso não chega a ser incoerente, visto o destaque dado no filme aos que fazem de tudo para aparecer na internet e ter seus 15 minutos de fama alimentados pelo mesmo tipo de público que se deslumbra com o poder de uma força da natureza.

Nota: 5/10

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