História de exorcismo tropeça nos clichês e na combinação de tons narrativos
Por Pedro StrazzaMisturar gêneros cinematográficos é uma tarefa complicada. Inventada há tempos pela indústria, esta opção é usada pelo cineasta para buscar na combinação de dois tons narrativos diferentes algo novo e diferente para contar sua história ao público pagante. Este encontro, porém, depende muito de uma mão habilidosa que saiba como equilibrar ambos os lados a ponto de não deixar um atrapalhar ou ir de encontro às características principais do outro.
Com essa informação em mente, esclarece-se com maior precisão os objetivos de Scott Derrickson em Livrai-nos do Mal, o quarto longa-metragem de sua carreira como diretor. Baseado nos relatos do ex-policial Ralph Sarchie (interpretado aqui por um Eric Bana no piloto automático), o filme busca alinhar elementos clássicos de produções de horror - neste caso o exorcismo - com uma trama investigativa tradicional de obras policiais.
Em teoria, esta preparação resultaria em um terror mais centrado no mistério e que deixasse o suspense em um campo mais concreto da realidade, mas na prática nada disso se vê em cena. Caindo repetidas vezes nos clichês dos dois gêneros (a trilha sonora parece ser feita em ordem apenas de pontuar o susto do espectador), a direção de Derrickson pesa negativamente para a produção e em diversos momentos da narrativa evidencia-se a sua falta de controle em equilibrar os dois lados da balança - repare, por exemplo, no estranho uso do personagem interpretado por Joel McHale, um indevido alívio cômico feito para quebrar o clima de tensão das principais cenas de horror.
Desta problemática o filme se constrói em muitos erros e poucos acertos. Enquanto elabora com algum mínimo de coerência técnica e de roteiro o mistério que guia com interesse a história e seus personagens (mesmo o longa curiosamente se passando num mundo onde a noite é eterna, como indicado pela fotografia escura e confusa), Livrai-nos do Mal parece apostar o tempo todo em soluções rápidas e pouco satisfatórias para resolver o caso. Assim, se nos dois primeiros atos a produção se esforça em criar uma trama intrigante, a terceira e derradeira parte dá ao espectador a infeliz sensação de que a resolução dos acontecimentos ali era fácil demais e (para piorar) boba.
Com problemas estruturais claros e personagens fraquíssimos - observe como o drama pessoal do padre Mendoza (Édgar Ramírez) não tem qualquer fechamento ao final do filme -, Livrai-nos do Mal se revela ao final mais uma colagem mal feita de elementos de gênero que um bom longa de terror. Mesmo que seja uma ideia a princípio interessante, subverter o horror à trama policial precisa de um bom desenvolvimento e um cuidado maior.
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