domingo, 7 de setembro de 2014

Crítica: Hércules

Épico acerta quando resolve divertir e fracassa quando procura seriedade

Por Pedro Strazza

Diferente dos outros (muitos) atores de ação desta geração, Dwayne Johnson possui um poderoso carisma junto ao público. Apresentado ao mundo pelo WWE, o anteriormente lutador conhecido como "The Rock" sempre mostra em seus papéis um raro talento para a comédia, que desenvolve na mesma medida que o crescimento de seus músculos a cada nova participação cinematográfica. Seja qual for o personagem a ser interpretado, ele exibe esta veia cômica com precisão tamanha que até nos piores longas o espectador consegue nutrir pelo ator alguma simpatia mínima.
Esse dom de Johnson, porém, surge ao mesmo tempo para ele como uma maldição, pois, aliado ao seu passado nos ringues, o impede de conseguir papéis mais sólidos nas telonas e barra consequentemente seu crescimento como profissional. E mesmo que abandone seu apelido de lutador, ele ainda não consegue sair desta incômoda posição.
Assim posto, não é necessário pensar muito para entender as fortes motivações de Johnson com este Hércules. Primeiro épico que protagoniza, o ator usa de todas as suas habilidades para conceber seu personagem da melhor forma possível, juntando tanto suas inerentes qualidades cômicas quanto as ainda em desenvolvimento características dramáticas, aplicando ambas com notável seriedade. Desta mistura, Dwayne chega a um bom resultado: Além de tão carismático como em todos os seus outros papéis, seu Hércules traz bagagem o suficiente para que o espectador o acompanhe com relativa seriedade em seus dramas pessoais e desafios de sua jornada.
Mas se o protagonista encarna seu papel com muito foco e auto-confiança, o filme não parece o acompanhar sob as mesmas pretensões. Baseado na HQ The Tracian Wars, de Steve Moore, Hércules faz de sua proposta desconstrutiva dos mitos uma verdadeira trama superficial e que procura majoritariamente entreter seu público com humor e pancadaria - aspecto este conhecido da carreira do diretor Brett Ratner. Desta maneira, assuntos potencialmente interessantes como o endeusamento precário da humanidade sob fatos que não entende dão lugar a diálogos expositivos e alívios cômicos sucessivos, e os esforços de Johnson são subjugados a esta construção.
Essa construção estrutural,entretanto, não se faz tão problemática quanto parece. Em sua primeira metade de projeção, Hércules diverte justamente pelo tom mais leve e despreocupado, rendendo momentos e situações risonhas e despretensiosas. A trama, afinal, toma a forma da típica caçada ao ser poderoso e mágico, algo que aqui é contestado e debatido diversas vezes pelo protagonista e sua equipe de mercenários interpretados por Ian Mcshane (bastante à vontade em seus esquetes cômicos), Rufus Sewell, Aksel Hennie, Ingrid Berdal e Reece Ritchie.
É a partir da metade do filme, porém, que Hércules comete o equívoco de achar que pode abordar sua história com seriedade quando já havia posto suas pretensões de lado. Com um mal aplicado plot twist, o roteiro escrito por Evan Spiliotopoulos e o estreante Ryan Condal resolve virar o norte da produção para uma trama repleta de traições e complôs e abraçando inúmeros clichês narrativos e vilões unidimensionalizados no caminho, algo que sem preparação torna o filme num amontoado cansativo de eventos supostamente grandiosos mas na realidade bobos.
Outro problema grave do longa são suas cenas de ação. Contando com sets gigantescos e repleto de figurantes, Brett Ratner não transmite nas batalhas a mesma grandiosidade que procura emular dos clássicos sandália-e-espada, mesmo usando frequentemente de belos planos aéreos que apresentam as formações dos exércitos e do protagonista fisicamente evidente que é Dwayne Johnson. E quando visualiza os combates de um ponto de vista mais terrestre, a pancadaria, tão fundamental para a produção, cae na mesmice, tornando os confrontos chatos e deveras enrolados.
Se não pelo esforço de Dwayne Johnson para construir o protagonista, é bem provável que este Hércules já fosse esquecido pelo público cinco minutos depois do fim da exibição. Desprezando um caminho mais reflexivo em prol do entretenimento, o filme pelo menos faz jus às suas despretensões para contar sua história, aninhando-se confortavelmente entre os possíveis candidatos para futuras sessões da tarde da televisão.

Nota: 6/10

1 comentários :

É muito bom para conviver. Eu percebi que, por causa Hercules é uma lenda, a produção iria se esforçar mais no script, mas vejo apenas a parte visual é impressionante. Um elemento que me impressiona é que Dwayne "The Rock" Johnson e seus múltiplos papéis, que vão desde o "mau muscular" para um "pai divertido, mas eu não sei o amor.

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