domingo, 15 de março de 2015

Crítica: Para Sempre Alice

Atuação de Julianne Moore é único atrativo em filme sobre Alzheimer.

Por Pedro Strazza.

Adoecer de maneira terminal é um processo natural, mas muito dolorido da vida humana, principalmente quando este demora bastante tempo para agir. Não apenas por acabar com a passagem de alguém no mundo, a morte arrastada é a pior de todas por também afetar todo o núcleo de familiares e amizades que circunda a vítima, levando ao limite da dor qualquer um dos envolvidos. Não há quem escape ileso, seja qual for o culpado.
No caso de Alice Howland (Julianne Moore), o responsável por colocá-la nesse caminho desolador é o Mal de Alzheimer, doença neuro-degenerativa que a cada dia deixa a pessoa em um estado maior de demência. Jovem e acadêmica, ela tem os sintomas do quadro acelerados, e em questão de poucos meses o que era apenas dificuldade de lembrar algumas palavras torna-se um apagão geral, capaz de deixá-la fora da realidade por longos períodos de tempo.
Baseado no livro escrito por Lisa Genova, Para Sempre Alice dedica-se inteiramente a mostrar esse arco de decadência que ocorre com sua protagonista. Da esperta fotografia de desfoques e vazios de cenários ao uso dos coadjuvantes, o longa roteirizado e dirigido por Wash Westmoreland e o falecido Richard Glatzer não esconde sua intenção de apenas mostrar a evolução da doença e seus efeitos cruéis, e em muitas passagens lembra mais um panfleto médico que um filme em si.
A razão disso não poderia ser mais simples: A atenção é tanta em cima da personagem principal e seu quadro clínico que esquece-se de desenvolver o mundo em torno dela. Na narrativa desenvolvida pelos dois diretores, são poucas as ocasiões onde se dá espaço para outros assuntos senão o Alzheimer de Alice, e isso prejudica bastante a própria maneira como a obra lida a enfermidade. Um exemplo claro dessa problemática é a família de Howland, minimizada a tipos simples e ausente de dramas mais complexos que possam aprofundar os danos infligidos pela doença - algo fatal para o trabalho dos bons atores Alec Baldwin e Kristen Stewart.
O que alivia esse excesso de foco - e até torna o lado panfletário da produção suportável, de certa maneira - é a atuação de Julianne Moore. Sutil, a atriz de início encarna a protagonista com confiança e astúcia para progressivamente levá-la ao definhamento, tornando-a menos adulta e mais assustada e ingênua. O grande trunfo de Moore, entretanto, é o jeito desapercebido com que realiza essa transformação, e o atestado maior dessa genialidade ocorre quando o filme confronta as duas Alices da história em uma única cena.
Ademais, o longa é convencional e óbvio. Com uma delicada defesa à eutanásia e um ou dois momentos interessantes (todos, óbvio, gerados pelo trabalho de Moore), Para Sempre Alice gira exageradamente em torno de um quadro clínico fatal e terrível, compondo uma trama sem surpresas ou maiores reflexões. É um alerta médico, vazio como uma reportagem sobre o assunto que busca apenas a conscientização de seu público em um final de domingo.

Nota: 5/10

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