segunda-feira, 9 de março de 2015

Crítica: 118 Dias

Qualidade do texto não omite defeitos de direção na primeira incursão de Jon Stewart em longas-metragens.

Por Pedro Strazza.

Em um mundo cada vez mais conectado, é cada vez mais difícil de viver isolado. O advento da internet e das redes sociais, capazes de tornar acessível o contato entre as regiões mais distantes do globo, obrigou o ser humano a se submeter a um processo de dependência "virtual" da convivência, mesmo que esta na maioria das vezes ocorra sem qualquer tipo de contato físico. De certa maneira, é como um vício esta interação social mundial, e ela se acentua a cada dia passado.
Mas o que acontece quando essa conexão é perdida? Como sobreviver a esta abstinência? São duas questões complexas que o (agora quase ex) apresentador do The Daily Show Jon Stewart aborda em 118 Dias, sua primeira aventura no cinema. Através da história de Maziar Bahari, jornalista iraniano-canadense que foi preso e torturado por 118 dias pelo governo do Irã sob suspeitas de espionagem, Stewart procura entender essa relação de submissão através do jornalismo, o ramo de maior vinculação a ela desde sempre.
Para isso, o diretor e roteirista do projeto realiza um contraste interessante entre os dois extremos: Ele primeiro apresenta Bahari (Gael García Bernal) como um homem extremamente conectado com o mundo, íntimo desde pequeno com a cultura mundial (guiada, clara, pelos Estados Unidos, como prova a coleção de coisas presentes na casa de sua mãe); já no cárcere, Maziar tem tudo tirado dele para ser confrontado com a solidão total e de fácil manipulação. A oposição entre os dois ambientes é exagerada, mas real o suficiente para que o público consiga entender o raciocínio do cineasta com a questão apresentada.
A estrutura narrativa elaborada por Stewart, porém, não esconde do filme os problemas que o circundam. A começar pelo próprio protagonista, que tratado com distância fria pelo diretor para talvez reforçar o sentimento de isolamento social acaba sem momentos para criar conexões com o espectador. García Bernal até tenta esboçar alguma simpatia pelo personagem com sua competência artística, mas seu papel unidimensional fraqueja quaisquer esforços feitos.
Outro problema sério são os próprios 118 dias do título. Mais interessado na filosofia de seu questionamento, o filme equivoca-se em negar aspectos básicos da situação de cárcere a seu protagonista como o arco de loucura (não demora dois dias e Bahari deriva com o pai morto e precisa da luz do Sol para se sentir melhor com a privação do mundo). Tudo soa absurdo e sem qualquer desenvolvimento mínimo, e a produção se enrola com facilidade nesses problemas.
Importante pela reflexão que faz sobre um tema cada vez mais importante na atualidade, 118 Dias sofre com aspectos criativos e mesmo técnicos (chega a ser embaraçoso a família do protagonista ser introduzida pelas "paredes do passado funesto") para chegar à sua totalidade. Mas se Jon Stewart erra a mão pela falta de experiência real com o formato, ele pelo menos tem a esperança de um futuro promissor graças à sua visão autoral da dura realidade que vivemos.

Nota: 6/10

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