sábado, 18 de outubro de 2014

Crítica: O Juiz

Elenco sustenta filme convencional de tribunal a duras penas

Por Pedro Strazza

Ano a ano, a pré-temporada do Oscar oferece, além dos longas maiores que dominam a competição, filmes focados apenas em alguns aspectos técnicos para conseguir uma vaga na premiação, reconhecida como a mais famosa no mundo. Dentre estas produções, há um grupo que procura encaixar indicações principalmente nas categorias de atuação, onde o destaque é maior devido à fama dos atores. 
O Juiz é o mais recente trabalho cinematográfico a fazer parte deste conjunto, e em nenhum momento disfarça suas pretensões com a Academia. Repleto de estrelas em seu elenco, o filme acompanha Hank Palmer (Robert Downey Jr.), um advogado conhecido por inocentar criminosos nos tribunais que certo dia recebe a notícia do falecimento de sua mãe. Em respeito à morta, Palmer viaja até sua cidade natal e reencontra o pai, o juiz Joseph (Robert Duvall), cujo relacionamento não é dos mais amigáveis. Mas quando está prestes a deixar a cidade, Hank acaba tendo que voltar, pois o pai é acusado de um homicídio e o caso será levado ao tribunal da região.
Daí em diante a história segue sem nenhuma surpresa. Escrito por Nick Schenk e Bill Dubuque, o roteiro nunca parece disposto a tomar qualquer tipo de rumo mais desafiador, preferindo empregar momentos fáceis e sem criatividade. Dessa forma, não demora muito para que o espectador comece a adivinhar cada passo tomado pela narrativa, incluindo suas viradas, suas cenas dramáticas e até seus alívios cômicos.
A atitude “descriativa” no roteiro reflete-se também em todos os outros aspectos técnicos da produção. A direção de David Dobkin, por exemplo, restringe-se a planos e angulamentos que privilegiem o trabalho dos atores, enquanto o trabalho de Janusz Kaminski na fotografia procura composições óbvias – a oposição claro-escuro no tribunal chega a irritar de tão repetitiva e sem imaginação. A trilha sonora de Thomas Newman, por outro lado, surge apenas para ajudar o espectador em suas reações, como quando ele deve dar uma risada ou derramar algumas lágrimas.
Toda esta sensação de repetição, porém, é aliviada pelo trabalho de seu elenco muito bem escalado. Apesar dos papéis medíocres, as atuações de Downey Jr. e Duvall como protagonistas são fortes o suficiente para que o espectador consiga encontrar algum tipo de conexão mínima com os personagens, tornando suportáveis os eventos em tela. Neste meio tempo, as performances de atores de talento como Billy Bob Thornton e Vera Farmiga dão apoio suficiente, mesmo sendo mínimas devido ao tamanho de suas participações, para que os dois principais trabalhem com calma e paciência.
É justamente por esses trabalhos performáticos que o filme consegue render alguma coisa em suas longas duas horas de projeção. Dominado pelo óbvio e a zero criatividade, O Juiz é uma obra que lembra muito a telenovela, arriscando-se tanto quanto esta na concepção de sua história e narrativa. Uma comparação bastante infeliz, vide o objetivo preterido pela produção e seus envolvidos.

Nota: 5/10

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