Elenco sustenta filme convencional de tribunal a duras penas
Por Pedro Strazza
Ano a ano, a pré-temporada do Oscar oferece, além dos
longas maiores que dominam a competição, filmes focados apenas em alguns
aspectos técnicos para conseguir uma vaga na premiação, reconhecida como a mais
famosa no mundo. Dentre estas produções, há um grupo que procura encaixar
indicações principalmente nas categorias de atuação, onde o destaque é maior
devido à fama dos atores.
O Juiz é o mais recente trabalho cinematográfico a
fazer parte deste conjunto, e em nenhum momento disfarça suas pretensões com a
Academia. Repleto de estrelas em seu elenco, o filme acompanha Hank Palmer
(Robert Downey Jr.), um advogado conhecido por inocentar criminosos nos
tribunais que certo dia recebe a notícia do falecimento de sua mãe. Em respeito
à morta, Palmer viaja até sua cidade natal e reencontra o pai, o juiz Joseph
(Robert Duvall), cujo relacionamento não é dos mais amigáveis. Mas quando está
prestes a deixar a cidade, Hank acaba tendo que voltar, pois o pai é acusado de
um homicídio e o caso será levado ao tribunal da região.
Daí em diante a
história segue sem nenhuma surpresa. Escrito por Nick Schenk e Bill Dubuque, o
roteiro nunca parece disposto a tomar qualquer tipo de rumo mais desafiador,
preferindo empregar momentos fáceis e sem criatividade. Dessa forma, não demora
muito para que o espectador comece a adivinhar cada passo tomado pela
narrativa, incluindo suas viradas, suas cenas dramáticas e até seus alívios
cômicos.
A atitude “descriativa” no roteiro reflete-se também em todos os
outros aspectos técnicos da produção. A direção de David Dobkin, por exemplo,
restringe-se a planos e angulamentos que privilegiem o trabalho dos atores,
enquanto o trabalho de Janusz Kaminski na fotografia procura composições óbvias
– a oposição claro-escuro no tribunal chega a irritar de tão repetitiva e sem
imaginação. A trilha sonora de Thomas Newman, por outro lado, surge apenas para
ajudar o espectador em suas reações, como quando ele deve dar uma risada ou
derramar algumas lágrimas.
Toda esta sensação de repetição, porém, é aliviada
pelo trabalho de seu elenco muito bem escalado. Apesar dos papéis medíocres, as
atuações de Downey Jr. e Duvall como protagonistas são fortes o suficiente para
que o espectador consiga encontrar algum tipo de conexão mínima com os
personagens, tornando suportáveis os eventos em tela. Neste meio tempo, as
performances de atores de talento como Billy Bob Thornton e Vera Farmiga dão
apoio suficiente, mesmo sendo mínimas devido ao tamanho de suas participações,
para que os dois principais trabalhem com calma e paciência.
É justamente por
esses trabalhos performáticos que o filme consegue render alguma coisa em suas
longas duas horas de projeção. Dominado pelo óbvio e a zero criatividade, O
Juiz é uma obra que lembra muito a telenovela, arriscando-se tanto quanto esta
na concepção de sua história e narrativa. Uma comparação bastante infeliz, vide
o objetivo preterido pela produção e seus envolvidos.
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