Bela animação traz valores diferenciados para público infantil
Por Pedro Strazza
O povo mexicano faz parte desta última tendência, e traz até em suas festividade uma data dedicada àqueles que se foram: o Dia dos Mortos, celebrado em 2 de novembro. E é justamente desta comemoração a base para a trama de Festa no Céu, filme dirigido por Jorge R. Gutierrez e produzido por Guillermo del Toro. No longa, a Morte e seu amante Xibalba, os dois guardiões do mundo dos mortos, fazem no dia da celebração dos falecidos uma aposta em cima de Manolo e Joaquin, que disputam arduamente pela mão de Maria. Se Manolo se casar com Maria, ganha a Morte; se for Joaquin, Xibalba vence.
É a partir desta competição entre imortais que a obra começa a se aprofundar pela mitologia indígena mexicana, trabalhando com ardor na tarefa de encantar e educar o público infantil no processo. Neste quesito, o design de produção orquestrado por Paul Sullivan e Simon Valdimir Varela é eficiente ao configurar um tom de cores cada vez mais explosivo conforme vai mudando de mundo. Se na realidade atual vemos uma cidade mais acizentada, na vila palco da fábula temos já um aumento considerável na matiz, e quando se avança para o mundo dos mortos usa-se com equilíbrio de tonalidades berrantes que se harmonizam entre si. Outro acerto é transformar os personagens do conto em criaturas de madeira, configurando à produção uma charmosa infantilidade.
O roteiro de Gutierrez e Douglas Langdale é outro bom aspecto de Festa no Céu. Mesmo que traga traços de didatismo excessivo e tenha um clímax dos mais incoerentes no terceiro ato, a história consegue se guiar bem e é capaz de não ser maniqueísta na forma como configura a maioria de seus personagens. Até Xibalba, por exemplo, que é presumido aqui como grande vilão da trama, age por interesses justificáveis.
Contando ainda com uma trilha sonora bela e bastante pautada na cultura mexicana, Festa no Céu é uma animação que se difere de outras por justamente trazer em seu interior valores diferentes dos que a sociedade está acostumada a ver. Apesar de apelar para estruturas narrativas óbvias, a criatividade da produção em apresentar uma outra visão para o público infantil é algo digno de palmas.
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