segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Crítica: Annabelle

Derivado imita com relativo sucesso a estrutura do longa original

Por Pedro Strazza

Usando com criatividade os clichês do gênero e mais atento ao uso do espaço e da tensão climática, Invocação do Mal conseguiu em 2013 reinventar o terror e suas convenções desgastadas sem adicionar qualquer elemento novo em sua trama ou em seu lado técnico. Com o sucesso do filme, uma continuação foi rapidamente agendada pelo estúdio, que, junto ao diretor James Wan, também demonstrou interesse em produzir mais longas baseados no universo demonologista de Ed e Lorraine Warren. A solução para este desejo foi a de transformar uma maléfica boneca presente no "museu" do casal e coadjuvante na película em protagonista, tornando-a estrela de sua própria história.

Assim nasceu Annabelle, filme que reconta o processo pelo qual o brinquedo se tornou amaldiçoado e a sua trajetória até a casa dos demonólogos. Roteirizado pelo estreante Gary Dauberman e dirigido por John R. Leonetti, a trama acompanha a gestante Mia (Annabelle Wallis) e seu marido John (Ward Horton), um típico casal suburbano que certo dia acaba sendo atacado por integrantes de uma seita satânica. Saídos ilesos do evento, a mulher começa a testemunhar estranhas ocorrências paranormais na casa, causadas pela presença da boneca amaldiçoada do título.

Da mesma maneira que Invocação do Mal, Annabelle logo se destaca por sua eficiência nos sustos que promove. Responsável pela fotografia do filme original, Leonetti é sagaz em desenvolver com frequência a ação do longa em dois planos, mantendo os personagens protagonistas quase sempre no primeiro para no segundo desenvolver o terror da produção. O mais inteligente desta estratégia empreendida pelo diretor, no entanto, é que somente em alguns momentos algo de fato acontece no fundo das cenas, mas o espectador, tensionado pelo que já ocorreu neste plano, fica constantemente atento à esta camada e seus eventos.

Outro ponto beneficiado pelo terror ao qual se busca atingir na película é o design de produção, que concebe uma Annabelle de visual desde o início apavorante e constrói apartamentos aterrorizantes até em plena luz do dia. Através destes, a fotografia de James Kniest progride sem quaisquer obstáculos na evolução sombria do longa, capaz de tornar até mesmo um antes adorável quarto de bebê em algo assustador, conforme a boneca ganha cada vez maior força.

Dedicado em excesso nessa tarefa de causar o susto pela tensão, o filme perde força porém em seus aspectos mais básicos justamente pela falta de alguém mais experiente no comando. Por mais que emende sequências interessantes de suspense com sucesso - e a passagem de Mia pelo porão é uma prova incontestável disso -, Dauberman e Leonetti tem pouco cuidado quando para, por exemplo, desenvolver o casal protagonista, que aliado às performances fracas de Wallis e Horton não conseguem criar qualquer elo emocional com o público. Este problema também é evidente com os coadjuvantes da história, aqui usados apenas como tapa-buracos de roteiro.

O próprio uso do clichê é também comprometido por esse acúmulo de novatos no controle. Procurando emular o trabalho de Wan, Annabelle acabando pesando a mão no lugar-comum e sua trama se perde em situações sem criatividade e soluções fáceis demais para o contexto apresentado. Dessa forma, o terceiro ato do longa, supostamente o que deveria causar maior medo no espectador, soa redundante e preguiçoso em suas resoluções e em seus sustos, e a experiência cinematográfica é prejudicada.

Por ser um derivado de uma produção de sucesso, é compreensivo que Annabelle paute sua estrutura narrativa - e seus erros e acertos, consequentemente - em torno de sua origem. Este esforço imitativo, porém barra o filme de qualquer criatividade, esvaziando-a de um algo a mais que qualifica as obras clássicas do terror. Em suma, Annabelle falta em profundidade o que sobra em susto.

Nota: 6/10

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