sábado, 1 de agosto de 2015

Review: Wet Hot American Summer - First Day of Camp - 1° Temporada

Prelúdio a cultuada comédia de 2001 encontra na auto-referência e na TV um maior espaço para trabalhar.

Por Pedro Strazza.

Existem dois momentos distintos de Wet Hot American Summer - First Day of Camp que definem bem tanto o seu tipo de humor quanto a sua auto-consciência do quão absurdo é sua existência. No primeiro, a jornalista Lindsay (Elizabeth Banks), de 24 anos, consegue provar à redação aonde trabalha que é capaz de se passar por uma adolescente de 16 anos apenas prendendo uma parte do cabelo para trás; no segundo, uma garotinha chamada Abby corre para um banheiro por estar tendo a primeira menstruação e, quando sai do box, a atriz infantil que a representava é substituída por uma adulta (Marisa Ryan) pessimamente disfarçada de criança somente porque ela é agora "uma mulher", nas palavras das monitoras que a recebem.

Além de trazerem mulheres em situações cômicas que cheiram à naftalina dos anos 80, esses dois esquetes ressaltam ao espectador o ridículo que é a situação de fazer um prelúdio sobre uma comédia adolescente feito há quase 15 anos com um elenco agora envelhecido. Mesmo que atrizes como Ryan e Banks continuem estonteantes depois de tanto tempo - especialmente a última, ainda capaz de fazer o papel de jovem com 41 anos-, a série anterior aos eventos do inexplicável filme cult Mais um Verão Americano tem em mãos um paradoxo temporal exagerado, impossível de ser solucionado até pelas mãos do roteirista mais brilhante. Um luxo que, óbvio, ela não tem aqui.

Resta então aos criadores David Wain e Michael Showalter abraçar o descompromisso com a realidade, algo muito fácil se considerar que a base é um besteirol dos mais enlouquecidos. A diferença, porém, é que se no longa-metragem o humor desconectado da dupla com velocidade se tornava tedioso de assistir, no formato Netflix de seriado - onde temporadas inteiras são liberadas de uma vez e, assim, agrupa os episódios em filmes de mais de 5 horas - eles encontram uma espécie de "consagração" para sua história.

O problema é que essa glória não chega a ser real porque, no fundo, o prelúdio só é superior ao filme por ter mais tempo para realizar o mesmo tipo de comédia. Como uma metralhadora, o roteiro dos oito episódios escritos por Wain e Showalter dispara para todos lados afim de em algum momento acertar o espectador e fazê-lo rir, e em vários momentos eles alcançam seu objetivo. Mas para chegar a uma boa piada First Day of Camp precisa fazer pelo menos umas cinco ruins, e dessas cinco pelo menos uma sai como uma crítica política antiquada (o próprio Showalter interpreta um vilanesco presidente Reagan, afinal) e outras duas soam mais como ofensa que qualquer outra coisa.

A sorte da série é que o elenco, ao contrário de seus criadores, evoluiu bastante desde 2001 e conta com ótimas adições. Com maior tempo de tela, o time de estrelas liderados por Paul Rudd (sem explicação plausível o novo protagonista da trama) e que conta com nomes como Amy Poehler, Bradley Cooper, Jason Schwartzman, Christopher Meloni - talvez o melhor em cena, pois quase sempre tira de seu cozinheiro/ex-militar paranoico as melhores piadas - e a própria Banks é capaz de envolver o seu público com seus personagens caricatos, mais adequados ao formato televisivo por justamente terem o perfil de figuras escrachadas de uma típica sitcom. Mais exagerados e também hilários são as participações que pipocam ao longo da história, como o agente assassino interpretado por Jon Hamm (que, como em Unbreakable Kimmy Schimdt, prova mais uma vez ter um timing cômico invejável) ou Weird Al Yankovic, apenas mais uma dessas figuras vindas de um passado quase fantasmagórico para assombrar o seriado.

É da auto-referência, porém, que Wet Hot American Summer - First Day of Camp tira seus melhores momentos. Seu escárnio com a diferença claras de idade do elenco para seus papéis ("Sua liderança vai ser tão boa que até o fim do verão todos nós teremos rejuvenescido 15 anos" diz alguém no fim de um dos episódios) e os absurdos cometidos durante a sequência de eventos (a cena envolvendo os personagens de Hamm, Meloni e Janeane Garofalo no finale, por exemplo) provam que Wain e Showalter estão sabendo da baixa qualidade do material que criaram, mas isso não os impede de se divertir na mediocridade.

Rir de si mesmo, entretanto, não necessariamente esconde a própria mediocridade do produto.

Nota: 5/10

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